capitulo dezoito.



— sem graça eu te vejo aqui,
pela janela vendo você, partir.





[...]

Quando meu pai finalmente me contou da morte da minha mãe, eu tinha apenas doze anos, todo esse tempo antes, eu sempre acreditei que ela tinha ido embora, que, sei lá, havia me abandonando por não me querer. Eu sempre a julguei, falando que quando a encontrasse, eu nunca a perdoaria por ter me deixando jogada nos braços de quem deveria agir como meu pai, mas que no fundo estava mais perdido do que eu. Mas quando ele me contou que, mamãe morreu por minha culpa, e que a alma dela só se foi porque a minha nasceu. Eu chorei.

Como se nada fosse capaz de acalmar o desespero que se preenchia em meu peito, a única coisa que eu pude fazer foi chorar como um recém nascido, que chora pela primeira vez sentindo o oxigênio entrar em seus pulmões, assustado com aquela nova sensação que te queima a pele interna.

Eu gritei, eu me desesperei, o ar em todo o meu corpo já não funcionava mais automaticamente, e eu entrei em colapso. Foi como uma crise de pânico, eu me sentia mal, enjoada de mim mesmo, a culpa de ter odiado a minha mãe durante a minha infância toda e ter descoberto que ela só não estava ali porque era culpa minha, me assombra.

Então eu jurei, agarrada ao chão gelado do meu corpo que cobria todo o meu corpo mórbido, eu jurei que viveria por ela. Eu até agora, só cheguei a onde estou porque segui fielmente os passos dela, eu suportei todas as descrenças do meu pai e rancor que criei por ele, porque mamãe o amava. E eu sei que ela se lamentaria por vê-lo tão deprimente como ele ficou após sua partida.

Eu também decidi o meu futuro baseado na carreira que minha mãe deixou para trás antes de me ter. Eu tinha acabado com a vida dela, então era justo eu viver por ela. E eu prometi a mim mesma, que naquele dia, seria a última vez que eu choraria e enfrentaria a partir dali os meus problemas de frente. Sem medo de errar ou de assumir a culpa.

Minha mente seguia rigorosamente essa filosofia.

Até ontem, 

Porque naquele dia que Rintarou Suna deixou a sala do diretor, magoado e frustrado comigo, eu nunca me senti tão mal em toda a minha vida, então eu chorei, tanto, que minhas cordas vocais inflamaram de dor e meus pulmões se partiam a cada troca de oxigênio pelo meu corpo.

Eu estava decepcionada comigo mesma, porque eu sabia que, eu já não estava mais vivendo pela minha mãe, e muito menos por mim mesma, eu estava devidamente perdida e avoada. Tudo na minha cabeça havia sido destruído, e no fundo eu nem sabia o por quê. Não sei se, me sentia nervosa por causa daquele maldito beijo, ou por ter caído na lábia de Suna, ou por justamente estar deprimida porquê ele estava magoado comigo, eu não deveria nem ao menos me importa com ele agora, mas era a única coisa que eu conseguia sentir ainda.

É incrível como o nosso corpo consegue passar o sentimento de algo partido ou quebrado dentro da gente quando estamos triste com algo, ou alguém. E essa dor era tão insuportável e intensa que eu nem conseguia compreender o motivo de tanto. Era um sentimento amargo, que eu nunca havia experimentando antes. Eu estava louca, e se isso não parasse logo, eu temia o pior de mim.

Eu andava lentamente pelos corredores do Inarizaki, enquanto meu pai estava em uma reunião com o diretor e o pai de Suna. Eu fui chamada porém não fui permitida entrar, já ele, eu não sabia se viria, mas me peguei várias vezes olhando ao redor em busca de sua sombra, me sentia mais ansiosa em querer olhar nos seus olhos uma última vez do que saber realmente o que acontecia dentro daquela sala. Eu me sentia magoada e infeliz. Eram tantos sentimentos querendo escapar do meu corpo que nem eu mesmo entendia o por quê, era tudo muito intenso, na verdade tudo que me envolvia com Suna era muito intenso, e eu comecei a perceber que eu tinha um grande medo disso tudo, temia ser levada por toda essa vastidão de sentimento e me afogar nela. Me sentia correndo em várias direções para no final acabar no mesmo lugar de onde comecei. Ao lado dele.

[....]



Papai estava sentando na minha frente comendo alguma coisa enquanto eu batucava meus dedos freneticamente no meu queixo. Ele ainda não tinha olhado na minha cara depois que saiu da reunião, estava nitidamente bravo e parecia que a qualquer momento iria brigar comigo.

— Eu tenho aula de química agora. - comentei em busca de um assunto, fazia tempo que não falava pessoalmente com ele.

— Por que não anda atendendo minhas ligações ultimamente? - ele soltou os hashi e cruzou os braços me olhando.

— Estava ocupada, a escola está pesando um pouco no meu dia, me desculpe. - olhei para cima não queria encontrar os olhos dele.

— Bem, estou vendo seus ótimos estudos, até beijou um garoto ontem. - fiquei envergonhada com sua fala.

— Não tenho muito o que falar sobre isso. - mordi minha bochecha internamente.

— Pois deveria, sou o seu pai. - eu ri baixo daquilo.

— Você não é meu pai já tem muito tempo. - cruzei meus braços enquanto olhava para fora.

Ele ficou em silêncio e eu agradeci mentalmente por isso, meu pai sabia que aquilo era verdade. Nunca tivemos realmente uma conexão de pai e filha, ou o mínimo de afeto paternal. Ele nunca conseguiu nem fazer o básico. Desde pequena eu passava mais tempo dentro da escola do que em casa, a pessoa que mais cuidou de mim enquanto eu era ainda mais nova, foi uma professora do fundamental. Ela foi a referência mais próxima que eu tive de um progenitor.

Entretanto eu nunca fui de me importar com isso, eu nunca quis culpar o meu pai por nada, mesmo sentindo mágoas sobre ele, eu ainda o amava. Ele nunca foi uma pessoa ruim, só havia se perdido no caminho, e lá no fundo eu tinha pena dele, pena porquê eu nunca pude conhecer o lado dele que minha mãe um dia tanto amou. Porém pelo menos, o amor que ele tinha por ela eu pude compartilhar, porquê também sinto o mesmo, principalmente por nunca te-lá conhecido, sentia que tínhamos uma conexão de alma, além de um compreensão humana.

— O diretor disse que você precisa passar nessas olimpíadas para não ser expulsa. - sua voz se fez presente me chamando atenção.

— Eu já imaginava - concordei baixo. — E Suna? Vai acontecer alguma coisa com ele? - foi inevitável não perguntar, eu havia passado a madrugada inteira pensando sobre isso.

— O pai dele e o diretor concordaram que ele ficaria fora do time de vôlei por um tempo. - meus olhos se arregalaram.

— O quê? - eu fiquei desesperada em ouvir isso, o vôlei era a única coisa que Suna realmente se importava.

— Não tenho muito o que falar sobre isso [Nome], você deveria agora dar mais atenção nos seus estudos se não quiser ir embora daqui, vocês dois erraram e estão pagando com as consequências. - ele se levantou pronto para ir embora.

— Um beijo merece tudo isso? - minha cabeça caiu delicadamente para o lado.

— O problema não é o beijo filha, e sim quem você beijou. - eu me levantei dessa vez.

— Por que? Eu não tenho culpa. - eu não tinha certo?

— Se afaste de Suna, [Nome], esse vai ser o melhor para você. - ele me abraçou mesmo eu não correspondendo — Se cuide ok? Eu estou tentando dar o meu melhor agora, outra hora eu passo aqui para te ver.

E então ele se foi, eu o vi cruzar os portões de saída, mesmo sem uma resposta eu acenei dando um tchau. Eu estava confusa, sentia que meu pai não tinha me contado nem metade do que aconteceu dentro daquela sala, mas eu sabia que ele não falaria, pelo menos não agora. Enquanto corria para dentro dos corredores do primeiro prédio, precisava conversar com Isabella, eu parei assim que vi o diretor saindo de sua sala, ele estava acompanhado, o homem em específico eu sabia exatamente quem era, o terno nitidamente caro combinando perfeitamente com o ar de arrogância e prepotência que aquele homem exalava, só podia ser o pai de Rintarou. Eu busquei com meu olhar pelo moreno porém ele não estava, eu não sabia para onde ele tinha ido e estava começando a ficar preocupada. No final eu mudei o meu percurso e fui encontrar Atsumu, talvez eu precisasse conversar com ele agora.


[...]




  Estava com Isabella na sala do clube de jornalismo enquanto ela terminava alguma reportagem como matéria extra. Depois que encontrei Atsumu não pude conversar abertamente com ele, pois tinha treino, mas marcamos de nos encontrar mais tarde, pelo resto do dia eu acompanhei a minha amiga em tudo o que ela estava fazendo, não queria ficar sozinha, essa foi uma maneira que encontrei para não ficar pensando nos problemas que eu tinha agora. Estava ignorando meu subconsciente, porquê se não a qualquer momento eu iria me jogar de uma janela.

— O que tanto passa nessa cabecinha? - Bella comentou batendo os dedos no teclado do computador.

— Muita coisa.

Soltei todo o ar dos meus pulmões enquanto cravava a unha na pele quente do meu braço esquerdo. Se eu começasse desabafar agora eu iria chorar. E Isabella não precisa mesmo saber das minhas lamentações, ela já tinha as dela próprias, não queria jogar mais um peso nas costas da morena, porque eu sei que ela se importaria mais comigo do que com ela mesma.

— Você sabe que pode me contar tudo né? - eu acenei breve com a cabeça quando vi sua sobrancelha levantar.

Eu sabia mas no momento não queria.

— Eu sei bem o que você está pensando viu. - ela piscou pra mim e eu a olhei incrédula.

— No que então?

Nele.

Eu bufei e cruzei os braços olhando a janela, dali de cima pude ver Osamu correndo do outro lado, franzi o cenho, ele parecia estar vindo direto pra cá, estranhei um pouco, estava com pressa.

— Osamu está correndo pra cá - apontei pelo vidro.

— Qual é [Nome], não mude de assunto.

— Eu estou falando sério. - ela me olhou surpresa e se levantou indo direto ao meu lado, vimos o gêmeo adentrar o prédio em que estávamos.

Olhamos confusas uma para a outra enquanto Isabella dava de ombros voltando sua atenção para mesa e eu ia indo em direção à porta da sala, mas fui impedida quando o corpo do Miya colidiu com o meu, se não fosse pelo seus braços me segurando firme pela lateral eu teria caído.

— Me desculpe - falamos juntos.

Apenas concordamos e nos afastamos, dei liberdade para que ele pudesse adentrar o local todo. Ele parecia tenso, até um pouco nervoso, tinha algo que ele queria falar e estava bem nítido no modo em que seu corpo reagia ansioso.

— Precisa de algo Osamu? - Foi Isabella que se pronunciou primeiro. Ele concordou lentamente desajeitado enquanto jogou o celular dele na mesa a nossa frente.

Eu cruzei minhas sobrancelhas tentando ver o que era. Uma foto. Aquela foto, eu ainda não tinha visto ela de perto, até agora, e eu me surpreendi um pouco pelo ângulo, estava de cima, não de baixo como imaginei. Pela minha mente tinha algum celular escondido na sala próximo da gente, mas olhando agora, era como se aquele ângulo viesse das câmeras de segurança.

— Isso...é? - eu tentei formar alguma frase mas no momento minha mente estava em branco.

— Sim, é isso mesmo, a foto é um print do que a câmera gravou naquela sala. - Osamu cruzou os braços e eu senti seu olhar me fuzilar.

— Isso é impossível - Isabella chamou a nossa atenção — Aquele laboratório, praticamente ninguém usa, é quase impossível as câmeras daquele corredor ficarem ligadas.

Ela comentou e o gêmeo negou balançando o dedo no ar.

— Soube que o clube de jornalismo tem acesso a várias câmeras da escola, afinal a informática ajuda vocês em partes. - ele apontou para minha amiga e Isabella parecia um tanto confusa.

— Esta dizendo então que foi alguém do clube que tirou essa foto? - suas sobrancelhas levantaram, e no momento senti náuseas. Por apenas um instante se passou na minha cabeça que Isabella poderia ter feito isso, mas a ideia foi embora tão rápido quanto veio, eu conhecia ela suficiente para saber que Bella não era alguém que faria isso, até porquê não teria motivo.

— A pessoa pelo menos teria que ter o acesso de entrar no clube livremente, mas eu tenho alguém em específico. - Osamu pronunciou e minha garganta secou. Foi inevitável não lembrar da briga que tive com Rintarou.

— Quem Osamu? - eu falei desesperada, eu sentia meu coração pular tão forte no peito que doía até minhas costelas.

Sayuri.

A minha mente se escureceu.

Sayuri? A namorada de Isabella? mas por quê diabos ela faria isso?








NOTAS:

Voltei, passei um tempo fora por estar sem criatividade, ainda acho que faltou coisa nesse capítulo mas a gente adiciona ao longo dos capítulos.

Espero que vocês não tenham desistido de mim ou de Fetish!!!

Não tenho muito o que falar, apenas que estou bem e espero que vocês também estejam.


*desculpe erros ortográficos

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