Capítulo LXIX

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Dizem que a vida é cheia de surpresas.

Que nossos sonhos realmente se realizam [...]

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Me espreguicei na cama, sentindo todas as juntas do meu corpo doer, reclamando pelo exercício rigoroso de ontem, com um sorriso preguiçoso nascendo na minha boca. Foi surpreendente perceber que a lua de mel não dura apenas um dia, ou uma noite, e já faziam quase quarenta dias que eu estava casada, mas sempre parecia que eu e Jacob tínhamos acabado de dizer nossos votos.

Suspiro, passando a mão pelo lençol frio ao meu lado, mas me recordo que hoje a patrulha das 4 da manhã era de Jacob. Mesmo sendo um alfa, ele ainda fazia as patrulhas. O bando era grande o suficiente para que ele não precisasse fazer isso, mas a maioria dos garotos estavam desleixando na escola, e os mais velhos tinham que ter um tempo com suas famílias. Paul, mesmo, quase não tinha tempo para fazer rondas, e mesmo com o seu temperamento difícil, ele conversou com Jacob para poder ficar afastado uns meses, tentando ajudar Rachel a cuidar do pequeno Derek.

Sorrio ao lembrar do pequeno pestinha que tinha o rostinho mais bravo do mundo, mas ficava todo manhoso no braço de sua mãe. Realmente, era filho de Paul e não se podia negar. Ergo o corpo na cama, ficando sentada, mas uma vertigem faz com que eu deite novamente, sentindo todo o meu estômago revirar.

Respiro fundo, tentando acalmar aquele rebuliço e tentando me acalmar. Aquilo estava acontecendo há dias, uma semana pelo menos, e desde então eu tenho escondido de todos. Fecho os olhos, lembrando que estava sem me transformar desde o dia do casamento, cansada com as coisas do trabalho, faculdade e a casa. Assim como os assuntos do bando, que mesmo com Jake ficando na liderança, acabavam sendo trazidos para mim por tabela. Era para minha menstruação ter descido, como sempre aconteceu quando pausei as transformações, mas dessa vez ela não veio.

Tento levantar outra vez, devagar, e a tontura passou um pouco, mas o estômago ainda estava estranho e a primeira coisa que faço quando estou de pé, é correr para o banheiro e vomitar. Com a cara enfiada na privada, soltando tudo o que tinha dentro do meu estômago, penso nas possibilidades. Desde que me transformei, nunca fiquei doente. Minha saúde era de ferro, os genes matando qualquer tipo de vírus ou doença que poderiam aparecer. Me encosto na parede, nervosa. Vou engatinhando até a cama, sentindo que se ficasse de pé iria vomitar outra vez, e alcanço o celular na cômoda.

Entro nos contatos e acho o nome de Bella, clico para ligar e o primeiro toque de chamada soa antes de ela atender.

Ada?

— Preciso da sua ajuda, Bells.

Aconteceu alguma coisa? — Ouço de fundo Nessie perguntar sobre mim, mas Bella responde que vai precisar vir em casa rapidinho.

— Acho que sim, Hells Bells, mas não é tão urgente. Venha de carro, está bem? Jake está patrulhando, ele vai estranhar se te ver na divisa e vai querer vir com você.

Tudo bem. Em menos de dez minutos estarei aí. Está tudo bem? — O alarme do carro soa, e posso ouvir ao fundo o ronco do motor e o cantar de pneus quando ela sai com o carro da garagem.

— Sim. Eu acho. Vou esperar você chegar, irmã.

Ela diz um ok breve, e se despede da chamada. Levanto do chão, deitando na cama e sinto que meu mundo virou de cabeça para baixo. Não demora muito para Bella bater na porta de casa e com um "entre" ela logo está no meu quarto, seus olhos dourados me olhando com preocupação. O cheiro doce enjoativo que vem dela faz meu estômago embrulhar outra vez e levanto correndo direto para o banheiro.

Bella me segue e pondo-se atrás de mim, segura meus cabelos para cima, seu silêncio sendo reconfortante.

Quando termino, olho perdida para minha irmã mais velha. O olhar que ela me retribui é de compaixão e preocupação, sabendo exatamente o que estava acontecendo comigo.

— O início é uma merda, não? — Ela ri baixo, ajeitando meu cabelo para trás da orelha. — Se bem que a minha gestação foi uma merda desde o início.

— Realmente. — Rio, segurando o choro. — Você acha que estou grávida?

Bella para por um momento, concentrada, e sorri.

— Bem baixinho, mas existente, tem um coração batendo aqui. — Ela aponta para minha barriga.

Rio, outra vez, emocionada, o riso se transformando em choro. Coloco a mão em minha barriga, olhando para baixo, e sinto todo o meu corpo tremer. Uma gravidez não planejada. Eu estava casada há menos de dois meses... Deuses, eu só tenho 20 anos! Respiro fundo, tentando me acalmar, mas todo o meu corpo parece estar à beira de um ataque de nervos.

Os soluços são audíveis no banheiro e Bella, tentando me consolar da sua maneira desengonçada, apenas me puxa para um abraço.

— Do mesmo jeito que você esteve comigo quando eu estava grávida, eu vou estar com você, Ada. Não se preocupe.

Assinto, tentando me recuperar. Quando era apenas uma dúvida, era mais fácil de lidar, mas agora, confirmado, parece que tudo é mais real. Assim como os medos, que pareciam me sufocar. Como eu conseguiria dar conta de uma criança? Mais calma, converso com Bella, mas ela logo se despede. Enquanto Nessie estaria na escola, ela e Edward iriam caçar nas montanhas, já que os outros Cullen haviam ido na noite passada. E mais tarde Edward daria aulas de piano para Nessie, e prometi que iria mais tarde lá, para visitar.

Respiro fundo vendo a Mercedes se afastar e logo entro em casa, indo me arrumar para o trabalho. A galeria abria às 10h, já eram oito horas e até Port Angeles era quase uma hora de viagem, dependendo da velocidade.

Quando chego na galeria, cumprimento meus colegas de trabalho e vou direto para o estúdio, colocando o avental e aproveitando os tempos que tinha antes de abrir para poder finalizar um quadro que estava fazendo. Me inspirando um pouco em Noite Estrelada, resolvi pintar ao invés da cidade, a praia de La Push durante a noite, com o mar se estendendo no horizonte e o céu salpicado de estrelas.

Involuntariamente, me imagino num futuro não muito distante, deitada na areia, vendo Jacob correndo atrás de uma pequena versão de nós dois, enquanto os risos preenchem o ambiente.

O dia passa tranquilo, com poucas pessoas entrando na galeria. Infelizmente arte não era tão reconhecida quando deveria ser, então eram poucos os que entravam para apreciar as artes e, menos ainda, eram os que compravam os quadros.

Quando entro no carro às 15h, mando uma mensagem rápida para Jacob, pedindo que ele me encontre na casa dos Cullen. Tento não parecer tão diferente, mas era estranho toda aquela situação. Suspiro, ligando o carro e olho para a foto pendurada em um cordão no retrovisor. Mamãe me olhava sorrindo, mas ela ainda não sabia que o meu nascimento seria o motivo de sua morte.

Era inevitável não pensar nisso. Minha mãe morreu ao me dar à luz, e nunca pôde me conhecer. E se isso acontecesse comigo? Mesmo que com os genes de lobo eu fosse uma pessoa saudável, nunca houveram registro de uma mulher lobo antes de mim e de Leah. Quem dirá de uma mulher lobo grávida.

Tento não pensar nisso no caminho para os Cullen, Edward era um maldito enxerido que não conseguia ficar de fora da minha cabea e, nervosa, o meu paredão mental parecia estar instável. Quando chego perto da enorme mansão, Jacob está me esperando na entrada da estrada que dava para a casa de vampiros. Montado em sua moto, com calça jeans e camiseta preta, ele está uma delícia.

Sorrio para ele, as bochechas corando e mando um beijo, mudando a marcha do carro para correr mais. Em uma pequena corrida amistosa, Jacob é o primeiro a chegar. Desço do carro, fazendo beicinho, e tento não pensar em como será sua reação quando souber da novidade.

— Boa tarde, marido.

Ele ri, sem jeito, e abre os braços para me receber.

— Boa tarde, esposa.

Fico nas pontas dos pés e dou um selinho em seus lábios, logo somos recebidos por Nessie, em sua animação contagiante, contando como fora seu dia na escola de humanos que tinha sido matriculada naquele semestre. Como eram ricos, e o caso de Nessie era diferente, Bella e Edward a colocaram em uma escola pequena e particular, tentando não colocar a prova o autocontrole de sua filha, que parecia estar com dez anos. Era temporário, e provavelmente voltariam para os estudos em casa, mas ela precisava interagir com pessoas que não tinham nada com o sobrenatural, já que desde que nasceu, sua vida era repleta de transmorfos e vampiros.

— Está gostando da escola, morceguinha? — A abraço, sentindo seu corpinho quente junto ao meu. Seus olhos verdes me encaram, alegres, e ela assente que sim.

— Sim, tia Ada! Bastante. Tem uma menina na escola, Kimberly, que é um pouco chata. Mas mamãe me disse que não posso bater nela só por ela me incomodar, por que isso a machucaria muito! Então, eu só mando ela calar a boca quando me irrita!

Solto uma gargalhada, junto de Jake.

— Isso também não é muito educado, Renesmee. — Edward diz, sendo o mesmo estraga prazeres de sempre, fazendo Nessie fazer biquinho. — Se ela te irritar, você precisa dizer para a professora.

— São crianças, Edward, se se irritarem uma com a outra é só pregar peças. — Reviro os olhos, me agachando bem pouco para falar no ouvido de Nessie. — Da próxima vez, grude chiclete no cabelo dela.

— Ada! — Bella me repreende, e rio, mas ela me lança um olhar ameaçador.

Um do tipo que diz que vai fazer pior com meu filho.

O riso morre na hora e disfarço, indo cumprimentar Esme e Carlisle, assim como Emmett que também estava lá, junto de sua loira manequim.

Pergunto sobre a prima de Edward, que fugiu da última vez, mas tudo o que Carlisle faz é um erguer de ombros, pesaroso.

— Esperamos que ela entenda que Laurent ameaçou Bella, e a única forma de protegê-la foi matando-o. — Esme diz, triste, e assinto. Não sinto nenhuma compaixão por eles, mas sei que eles devem estar sentindo o ressentimento de Irina com eles, já que sempre foram próximos.

— Era Bella ou ele. — Jacob disse, dando de ombros. — Não me arrependo de tirar a cabeça dele do resto do corpo.

— Você fez o certo, Jacob. — Carlisle disse, de modo simples e apaziguador.

Nossa conversa é interrompida pelo soar do piano, o primeiro acorde da música que Edward fizera para Bella e nos viramos vendo Nessie o acompanhar nas notas mais simples. Bella se encosta no piano, observando sua família e sorrio, vendo que minha irmã finalmente tinha se encontrado.

No ponto alto da música, a nota mais persistente, Alice entra na sala segurando um jarro com flores e, nos assustando, o deixa cair.

Jasper se levanta e em um piscar de olhos está ao lado dela, dando apoio, quando os olhos da vidente se encontram com os de Bella, dizendo a frase que acabaria com meu sono.

— Os Volturi. — Ela faz uma pausa, o olhar perdido, como se ainda estivesse tendo sua visão. — Aro, Caius, Marcus, a Guarda. E Irina. Eles acham que Nessie é uma criança imortal.

Uma criança imortal. Reviso em minha mente todo aquele dia, tudo o que fizemos e a cena de Nessie, pulando metros para alcançar um floco de neve vem a minha mente. Uma criança vampira. Um humano normal não poderia fazer aquilo, ainda mais uma criança. Me apoio no sofá, já que no susto tínhamos todos levantado, e procuro me manter calma.

Respiro, nervosa, pensando em uma nova batalha. Os terrores com os recém-criados voltando a tona, fazendo todo o meu corpo tremer. Eu não poderia me transformar, o que aconteceria com a criança? Sinto minha visão turva e a última coisa que vejo é os olhos preocupados de Jacob em mim, me chamando enquanto sinto minha consciência ir se perdendo. 


[ n o t a s ]

não demorei dessa vez! milagres acontecem, eu acho. obrigada por todas as mensagens de apoio que recebi no capítulo passado, e às felicitações pelo meu casório! prometo que posto uma foto aqui, junto de um capítulo, quando eu casar. vocês fizeram parte de muita coisa na minha vida, acho justo também estarem presente nessa.
amo vocês, do fundo do meu coração.
estou fazendo o possível e o impossível para dar andamento com a história, já que estamos "em reta final".
até o próximo, gente!

(se este capítulo chegar pelo menos aos 200 comentário, prometo tentar soltar outro capítulo ainda essa semana ou na próxima. ❤️)

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