Cap.10 Fragmentos do passado

🚨Alerta de gatilho: tentativa de abuso sexual

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10 - Fragmentos do passado

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Been through some bad shit, I should be a sad bitch
Who woulda thought it'd turn me to a savage?
Rather be tied up with calls and not strings


Por Mirai,

Era inacreditável o quanto meu corpo estava cansado. Assim que entrei no quarto, senti minhas pernas fraquejarem e meu corpo praticamente desabar. A dor no estômago veio logo em seguida, confirmando que o veneno ainda estava em meu organismo.

Sem forças para lutar contra o mal-estar, me arrastei até a cama e fechei os olhos, ignorando tudo ao meu redor.

[...]

Já passava das 18h quando acordei. Abri os olhos e notei uma movimentação constante em meu quarto.

— June, o que está acontecendo? — sussurrei.

— Hikai vai te informar, mas basicamente a mansão vai ficar bem... agitada. — Ela saiu carregando uma caixa com os meus pertences.

Pisquei diversas vezes até que meu corpo despertasse por inteiro, e só assim me levantei. Segui para o banheiro e, sem me importar com mais nada, tomei um banho de banheira.

Ao ensaboar meu corpo e me olhar no enorme espelho de frente para a banheira, notei as marcas de mordida no meu ombro e suspirei. Estava complicado esquecer aquele idiota, e agora era inevitável não recordar da primeira vez que nos beijamos.


Lembrança:

O rosto ardia conforme as lágrimas caíam. Mirai atirava com tanta raiva no alvo, imaginando o rosto do azulado. As lágrimas que derramava vinham de sua profunda frustração. Tinha pouco mais de seis dias desde que completara 17 anos, quando se deu conta da grande bola de neve em que vivia. Para completar, o chefe da Liga era um pulha.

Mirai foi punida por não cumprir uma ordem e, claro, por bater de frente com ele novamente. Agora estava ali, descontando o ódio e ignorando deliberadamente a punição.

O portal formado pela costumeira e densa névoa escura surgiu atrás da garota. Por ele, um azulado completamente despreocupado passou.

— Você não aprende, não é mesmo? — Ele se aproximou.

Ela continuou concentrada em atirar.

— Faz diferença pra você, chefe? — A mira foi certeira enquanto o cargo era praticamente cuspido de seus lábios.

— Não sabe a vontade que eu tenho de te matar aqui mesmo, só por me desafiar desse jeito. — Shigaraki coçou o pescoço.

Ela virou em direção a ele, engatilhando a arma.

— Sinta-se à vontade para tentar. — Os olhos se cruzaram numa conexão profunda, e o azulado sorriu.

— Você vai mesmo atirar em mim, garota? Ou só está blefando, como das outras vezes? — Ele se aproximou mais, até que o cano da arma tocasse seu corpo.

Aos poucos, Mirai tirou o dedo do gatilho.

— Você é um grande babaca, mas, infelizmente, não posso te matar... ainda. Senão o supremo senhor dos idiotas vai ficar bravinho. — Revirou os olhos, sentindo os dedos de Shigaraki rodearem seu pescoço.

— Tenha mais respeito com o mestre. — Ele apertou com um pouco de força, na intenção de machucá-la, mas desistiu, tornando o toque suave.

— Não é porque não vou te matar que não posso te machucar, Shigui... — Sussurrou, colocando o cano da arma contra a barriga dele. — Fora que você, com raiva, fica uma gracinha.

Se havia algo que Mirai desconhecia quando seus sentidos estavam imersos em ódio era o limite. Ela se aproximou cada vez mais de Tomura, até que seus seios encostassem no corpo masculino. Ficando na ponta dos pés, roçou os lábios nos dele. Por reflexo, Shigaraki apertou os dedos ainda mais ao redor de seu pescoço numa tentativa vã de pará-la.

Mirai não cedeu. Com a mão livre, puxou a camisa dele, chocando os lábios de ambos em um beijo roubado. Shigaraki a empurrou com tudo.

— Você é maluca por acaso? — A voz tensa dele deu-lhe a certeza que precisava: ele estava estranhamente corado. — Se me tocar de novo, juro que te mato! Entendeu?

Ela sorriu.

— Você não vai me matar, Shigaraki. Primeiro porque não consegue, e segundo porque precisa de mim. Se não fosse tão arrogante, poderia simplesmente admitir que gostou.

Virando-se de costas, desarmou a pistola. Porém, antes que pudesse sair, foi surpreendida pelo movimento dele.

Shigaraki a puxou para seus braços novamente e, dessa vez, invadiu os lábios femininos num beijo bruto. Mirai tentou sair do aperto das mãos dele, batendo em seu peito com os punhos numa tentativa de escapar. No entanto, ao sentir os dedos de Tomura puxarem os fios de sua nuca, foi como se as pernas amolecessem.

Seus lábios, agora, retribuíam ao beijo dele, cada vez mais sedento. Shigaraki explorava cada canto dos lábios dela. Sua destra desceu até a cintura, apertando-a com firmeza. Mirai arfou. Sem perceber, ele a ergueu e a apoiou na banqueta próxima.

Quando o ar lhes faltou, ele se separou, sorrindo como se tivesse vencido.

— Vou fazer o que quiser com você. Afinal, você é minha ferramenta. E pode ter certeza, isso nunca mais vai acontecer. — Ele se afastou, limpando o canto dos lábios borrado pelo batom.

Ela endireitou os cabelos antes de guardar a arma.

— Por mim, tudo bem. Não foi como se eu precisasse disso. Fora que... existem outras bocas, e você sabe muito bem que sempre consigo o que eu quero. — Piscou.

Mirai não tinha realmente apreço nenhum pela própria vida.


Off


"Pode ter certeza de que isso nunca mais vai acontecer."

Desdenhei. Realmente ultrapassamos o beijo e transamos. Minha primeira vez tinha que ser com um cara que não sente nada por mim além de tesão e ódio. Foi tão bom que repetimos outra vez! Brilhante, duas vezes com o cara que só sabe me usar. Estou de parabéns!

Abracei meus joelhos, desviando o olhar do espelho. Shigaraki realmente me tinha nas mãos, mas nunca o deixarei fazer o que quiser.

Batidas na minha porta me tiraram de meus pensamentos.

— Entra! — gritei. A porta do banheiro foi aberta em uma fresta, o suficiente para escutar a voz.

— Cheguei, amor. Quer companhia? — A voz de Sato ecoou, e tive que rir. Minha vida seria muito mais fácil se eu sentisse algo por ele.

— Não, pode me esperar na cama.

— Beleza, gatinha. — Ele fechou a porta. Terminei meu banho rapidamente, me enxuguei e vesti o roupão de banho. Ao sair do banheiro, encontrei Sato encostado na minha cabeceira com um pote de sorvete em mãos. Só de olhá-lo, sabia que havia algo errado.

— Sorvete? — questionei. — O que foi que aconteceu? Pode desembuchar. — Dei a volta na cama e me encostei ao lado dele.

— Você notou que todas as suas coisas foram movidas do quarto, né? — Concordei. — Um dia de caça, outro de caçador, amor. Parece que uns homens do governo estavam usando as informações fornecidas pelo Hans e não ficaram nada satisfeitos com a morte dele.

— E agora?

— O básico. Dinheiro nas ilhas fiscais. Vamos ficar fora da mansão por um tempo. Aqui vai ser só a casa de uma família tradicional comum e pronto.

— Hum. — Me acomodei ao lado dele enquanto ele abria o pote de sorvete e me entregava uma colher. — É de morango.

— E coloquei confeitos por cima, gatinha. Agora que tal a gente comer pra eu poder fiscalizar o seu corpo? — Mesmo que suas palavras tivessem um duplo sentido, concordei.

Comemos o sorvete entre conversas idiotas e triviais a respeito do mundo do crime ao qual vivemos. Quando estávamos no fim do pote, deixei a colher de lado. Sato colocou o pote na cômoda lateral e me puxou para deitar em seu peito. Assim o fiz. Fechei meus olhos por alguns instantes, sentindo seus dedos deslizarem pelo meu braço. Era como se ele soubesse que eu precisava disso, e, de certa forma, estava correto.

— Sato. — Senti minhas bochechas esquentarem conforme me acomodei da melhor forma possível em seu peito.

— Pode falar.

— Nada... É melhor deixar pra lá. — Ele já tem trabalho o suficiente para se preocupar com os meus questionamentos idiotas.

— Sabe que pode me contar o que for, não sabe? — Assenti, e ele fez carinho no meu cabelo. Respirei fundo mais uma vez.

— Sou apenas uma ferramenta para vocês? — Senti o olhar dele recair sobre mim antes de se afastar e me segurar firme pelos braços.

— Mirai, você nunca foi uma ferramenta para nós. Ouviu bem? NUNCA. Tanto eu quanto Hikai daríamos a vida por você. Mesmo da nossa forma deturpada, somos uma família. — Ele sorriu, roubando-me um beijo. — A não ser que você queira ser mais do que isso. Aí estou completamente disponível pra você. — Arqueou a sobrancelha duas vezes, e tive que sorrir.

— Você não perde uma oportunidade.

— Claro que não, amor. E de onde você tirou essa ideia absurda? — Desviei meu olhar mais uma vez. Detesto me sentir assim, tão... vulnerável.

— De lugar nenhum, apenas me ocorreu. Deve ser porque estou para ficar menstruada, aí fiquei sensível demais. — Menti, em partes.

— Sei... Vou fingir que acredito, já que está mentindo descaradamente. Agora que tal você colocar uma roupa pra eu fazer o meu trabalho? — Revirei os olhos, saindo de seus afagos, e fui até o meu armário.

Tirei de lá um short de tecido mole e uma camiseta preta. Fui até o banheiro para me trocar, e, quando voltei, Sato já estava acomodado na minha cama, como se a mesma lhe pertencesse.

— Abusado! — reclamei, enquanto ele dava tapinhas na cama, indicando que eu me deitasse.

Mal deitei e ele me puxou pela cintura.

— Como você prefere que eu faça, pelo sangue ou por fluídos?

— Sabe que perguntar desse jeito é nojento, né?

— Ok, senhorita fresca. Você prefere transar ou vai me deixar te beber até dizer chega?

Balancei a cabeça algumas vezes e afastei o meu pescoço. Pude ouvi-lo suspirar de frustração antes de lamber as presas e deixar um selar em minha pele. Em seguida, distribuiu carícias pelo meu ombro, minha bochecha e minha nuca.

— Na sua primeira vez, você estava dormindo, então não sentiu nada. Se não aguentar a pressão, me avise. — Concordei com um menear, e logo senti as presas se afundarem no meu pescoço.

A sensação era a mesma que ter o corpo atravessado por um prego. Doía bastante, e, conforme ele sugava, a dor não diminuía; pelo contrário, se intensificava. Suas unhas se alongaram, e ele as correu pela minha barriga, parando na pequena cicatriz que se formara. Seus dedos perfuraram minha pele, e eu gritei de dor.

— Perdão, mas preciso filtrar o veneno.

E assim Sato voltou a me consumir. Em certo momento, senti meus olhos pesarem, e depois disso, apenas minha respiração forte me acompanhava enquanto eu me abandonava nos braços de Morfeu.


[...]


Minha cintura pesava, e, conforme abri os olhos, notei a destra de Sato descansando sobre ela. Ele deveria estar cansado; não duvidava que havia passado grande parte da noite me drenando. Não tive coragem de acordá-lo, então apenas suspirei.

A diferença de idade entre nós não era grande coisa. Faltavam pouco mais de dois meses para os meus dezoito anos, enquanto Sato tinha vinte e cinco. Eu sabia que era errado me envolver com pessoas mais velhas do que eu em outros aspectos que não fossem amizade. Claro que, se comparado ao Shigaraki, Sato era bem mais velho, já que aquele desidratado havia completado vinte e um anos esse ano. Por falar nele, era estranho que ele ainda não tivesse entrado em contato.

Remexi-me no lençol e senti o corpo de Sato corresponder, o que me fez me afastar.

— Te acordei?

— Não, eu já estava para me levantar. Se me der licença... — tentei sorrir antes de me levantar. Fiz o movimento rápido demais e senti a vertigem me invadir.

— Vai com calma, Mirai. Não tem mais veneno no seu sangue, mas você perdeu bastante. — Ele me apoiou com ambas as mãos.

— Não se preocupe. Eu me recupero rápido, só preciso comer. — Caminhei lentamente até o banheiro. Assim que entrei, fiz minhas higienes matinais e tomei outro banho.

Quando voltei para o quarto, Sato já não estava mais lá. Apressei-me em vestir a primeira coisa que peguei no armário: uma lingerie branca com desenhos de florzinhas e um vestido azul-claro de tecido macio com botões na frente. Prendi os cabelos em um coque e desci para tomar café.

— Bom dia, my baby. Espero que o Sato tenha cuidado muito bem de você. — Hikai beijou o topo da minha cabeça antes de se sentar à ponta da mesa.

— Cuidou sim. Agora estou morrendo de fome.

— Essa é a minha garota. Mandei fazer uma torta de morango e uns pães de queijo. Tem suco de laranja fresquinho também, e café. — Meu sorriso se alargou, e não pude deixar de me sentir agraciada por estar ali. Sinto falta dessa dinâmica estranha de família que criamos.

Começamos a conversar aleatoriamente. Hikai fez questão de lembrar das minhas festas horrendas de aniversário, e tanto June quanto Sato gargalhavam.

— Ah, qual é! Não te faço passar essas vergonhas! — emburrei, enquanto comia meus pães.

— Babygirl, você ficou linda em todas elas. — Hikai relaxou na cadeira.

— Vou até pegar o álbum pra gente matar a saudade. Terminem logo com o café pra eu mandar tirar a mesa. — Todos, exceto eu, concordaram.

Terminamos o café tranquilamente. Quando June retornou, trouxe consigo vários álbuns.

— Olhem essa foto. Ela estava tão fofa de Érika. — June praticamente berrou, referindo-se à festa de Barbie: A Princesa e a Plebeia.

— Eu gosto mais dessa. Ela tinha o quê, uns treze anos? — A voz de Sato ecoou enquanto ele observava minha foto vestida de Malévola.

— É, foi aqui que ela começou a despontar. Lembram do primeiro tiro? De quando ela matou pela primeira vez? Babygirl é o meu orgulho! — sorriu, e eu os encarei.

— Gente, eu não morri para vocês ficarem falando de mim dessa forma. E, outra, cadê os outros álbuns? — Desviei meu olhar, constrangida.

Pelo resto da manhã, ficamos conversando sobre o passado. Falar sobre minha primeira morte não me deixou apreensiva, pois levei anos para compreender que não fiz mal algum ao me defender. Talvez por isso eu faça de tudo para não matar, nem mesmo em legítima defesa, sempre procurando agir de forma condizente, mirando nas pernas, ombros e braços. Mas, naquele evento, não tive escolha.

Suspirei ao me dar conta de algo: eu convivia com pessoas que matavam por nada, por objetivos ou simplesmente por motivos esdrúxulos. E, por mais hipócrita que pareça, jamais me senti desconfortável com eles.

Meus pensamentos foram interrompidos por um barulho na porta da sala sendo aberta, indicando que nosso pequeno momento em família havia acabado.

— Olha só, já são onze horas. Tenho um navio cargueiro para pilhar. — Hikai piscou. — Vou mandar todas as fotografias para aquele hotel e, não se preocupe em pagar a diária, my baby, eu comprei ele. — Rindo como se absolutamente nada tivesse acontecido, Hikai nos deixou.

June olhava para nós fixamente, como se quisesse perguntar algo, e no fundo eu sabia exatamente o que era.

— Iremos ao Cais na hora marcada. Deem um jeito de rever a "mercadoria". — Senti repulsa de mim mesma por falar dessa maneira.

— Você sabe que será impossível agir de maneira condizente naquele lugar. — Sato comentou. Desviei meu olhar, tendo a certeza do que faria.

— CZ75 SP01 Shadow CO2 4,5mm, .40 e uma 9mm. São essas que eu quero, mais nove cargas de munição. — June sorria satisfeita. A Hellgirl, como era conhecida no mundo das lutas e por aqueles que cruzaram seu caminho, parecia sentir orgulho da minha decisão.

— Pois muito bem. — Sato espalmou as mãos nas próprias pernas. — Esteja aqui na sexta-feira à noite. Vamos precisar bolar um plano. — Piscou para mim. Concordei e me levantei. Antes de passar pela porta, olhei para June e Sato:

— Façam um favor para todo mundo e se peguem! Ninguém aguenta mais essa tensão. — Nem esperei por uma resposta. Na verdade, saí dali o mais rápido possível antes que June atirasse suas adagas em mim. Ela sempre quis pegar ele mesmo.

No caminho para o meu quarto, acabei por visitar a antiga sala de armas. Dada as circunstâncias, estava praticamente vazia. Alisei o cano da única arma daquele modelo no arsenal. A peça em questão era um revólver .38, modelo Taurus 82S, que comporta seis balas. Depois do incidente, Hikai achou melhor vender todos os modelos e só manteve o que foi usado por mim.

De certa forma, a lembrança da minha primeira morte era dolorosa e até mesmo obscura, mas me lembrava do que sou capaz:

Naquela noite chuvosa, Hikai fora pego de surpresa por uma gangue rival. A quantidade massiva de homens que adentraram a propriedade deixou muitos de nós em desespero, afinal, quem nos traiu sabia que estávamos desprotegidos devido ao trabalho gigantesco que era executado na fronteira de Musutafu.

Eu, como uma criança indefesa, me escondi no quarto de meu pai, pois sabia que tentariam feri-lo de qualquer jeito. E foi dito e feito. Eu tinha doze anos, apenas doze anos, quando entendi o significado de submundo do crime. Minhas lágrimas corriam soltas enquanto o homem, com o dobro do meu tamanho e provavelmente o triplo da minha idade, se dispunha em cima de mim, tocando o meu corpo.

Ele já havia me batido para me desnortear, rasgado boa parte das minhas roupas e ignorava completamente as minhas súplicas para que parasse. E agora, apertava o meu quadril enquanto sua boca asquerosa passava pelo meu corpo.

Naquele dia, tive que me defender sozinha. Nem mesmo Sato estava na casa. Aprendi ali a nunca esperar bondade de seres humanos comuns que, na frente da sociedade, aparentam ser homens de boa índole. Foi só uma facada o que bastou para que ele parasse.

Agradeci a June por ter me dado a peça. Sua individualidade cessou quando, enfim, despertei o último estágio da minha. E, por fim, vieram os tiros. Descarreguei um pente inteiro contra o corpo inerte à minha frente e jurei para mim mesma que jamais deixaria outra pessoa ao meu alcance passar por isso.

Quando Sato chegou junto a Hikai, encontraram o corpo do homem estirado no chão, enquanto eu me encolhia chorando no canto mais escuro do quarto, me culpando por ter desobedecido a ordem dele e ter ido para casa.

Enquanto sentiam o ódio os invadir, eles respeitaram o meu momento, deixando claro que estavam ali. Sato foi o primeiro a se aproximar e, quando o fez, desabei em seus braços.

Hikai abriu um portal, alegando que meus doces olhos não mereciam ver o que aconteceria ali. Olhos esses que, depois daquilo, se tornaram cinzas.

Balancei a cabeça, segurando a arma com força. Hikai me deu os meios para me defender desde os meus dez anos. Também me deu educação, amor e, acima de tudo, uma família. Olhei para o cano da arma mais uma vez, sentindo minha individualidade ressoar, e decidi que ela me pertencia. Era um símbolo da minha força em momentos de dificuldade, pânico ou desespero. Pensando dessa forma, e me concentrando nos momentos bons, não pude deixar de sorrir. Esse lado meu ninguém da Liga jamais viu.

Não sou boa apenas com as finanças. Também sou excelente com as armas.


[...]


Acabei passando na Vingança do Rei mais uma vez. Não havia nada para extravasar, só queria treinar. Depois, segui para o hotel, encarando meu quarto totalmente modificado. Hikai realmente era rápido quando se tratava de me agradar. Me joguei na cama, pensando no que faríamos no sábado, e uma ideia um pouco boba surgiu na minha cabeça: talvez a Toga quisesse participar.

Peguei meu telefone rapidamente e mandei uma mensagem:

— Tá afim de se divertir, minha psicopatinha?

Toga respondeu quase imediatamente:

Toga: Pelo visto tá de bom humor. Fiquei sabendo do show aqui na Liga. Você volta quando?

— Não volto.

Toga: ??

— Baby, você quer se divertir ou não? Prometo que terá bastante sangue e muitos babacas sofrendo.

Toga: Então vai ser um prazer.

— Sábado, às 9h da manhã. Me encontre na pracinha de sempre.

Toga: Vou estar disfarçada. Te mando foto.

Encerramos a conversa, e me levantei. Ainda tinha um trabalho a fazer. Só porque briguei com o desidratado não significa que vou desamparar a Liga.

Caminhei até o cofre do hotel e o abri. Lá estavam os diamantes que faltavam vender. Depois disso, a Liga teria dinheiro suficiente para pagar pelos serviços fornecidos por terceiros — muitos deles conseguidos por mim, com a ajuda de Hikai e Sato, sem que Tomura soubesse.

Abri meu armário, escolhendo o vestido da vez. Sato havia me dado um Valentino San Gallo preto, de tamanho midi e levemente rodado, como presente de aniversário de dezessete anos, alegando que em breve eu o usaria. Mentalmente, o agradeci.

Escolhi um par de scarpins na cor rosa-claro e uma bolsa da mesma tonalidade. Para completar, optei por uma maquiagem bem suave. Com as escolhas prontas, esperei pela hora do almoço e, então, me vesti. Peguei os diamantes e saí do hotel.

Hoje seria o dia em que não me preocuparia com nada além de mim mesma.


Quem disse que dinheiro não resolve seus problemas
Não deve ter dinheiro suficiente para resolvê-los.
Eles dizem: "Qual?" Eu digo: "Nah, eu quero todos eles"
A felicidade é o mesmo preço que fundos vermelhos

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Notas finais: Música ao longo do capítulo: 7rings  Ariana Grande;

Vestidos mencionados no capítulo, o azul no começo e o preto terrível no fim:

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