☠︎︎0.3

não esqueça do seu votinho

- Aqui, pega e suma - Jisung coloca o papel assinado no envelope, quase jogando no colo do homem a frente.

- Que isso, senhor Jeon, esse é o jeito de tratar uma pessoa? Ainda mais uma pessoa que agora tem metade de sua empresa de concessionário? - inexpressivo, o moreno pegou o envelope em mão, ainda se sentindo relaxado sobre a cadeira, observando o homem em sua frente fervendo de raiva.

- Você só tem 50% da empresa, você ainda não é dono! - Park Jisung garantiu.

- Mas já me faz ter uma boa ação dessa porcaria de empresa - abre o envelope, olhando para as folhas toda assinada - Sabe, foi bom fazer negócio com você! - soltou as folhas cuidadosamente, para não amassar.

- Pega e some daqui, Jeon - falou entre-dente, fazendo o de olhos azuis sorri de lado.

- Você apenas me pagou 40% da divina, acho melhor você começar baixando sua bola comigo, Park. Você aparenta ter uma família bonita e eu não quero colocar eles em jogo, então vamos começar primeiro a se policiar pela a forma como você me dirige a palavra. Eu estou sendo muito educado com você ultimamente, não me faça perder minha educação - tombou a cabeça levemente para o lado, demonstrando estar paciente sobre tudo aquilo, fazendo o homem começar abaixar sua postura e suavizar seu rosto de zangado para preocupado.

- Eles não tem nada a ver com isso, Jeon! - diz em cautela.

- Então não faça com que tenham! - disse indiferente - Você ainda tem que me pagar 60% da dívida. Como vai seu filho? - observa o homem a arregalar os olhos.

- Como você conheceu meu filho? Não coloque ele nisso! - o desespero do homem ia aumentando à medida que olhava para Jungkook.

- Claro que não troco meu dinheiro por pessoa, pois simplesmente posso ter as duas coisas. Mas é bom lembrar que você tem um filho muito bonito e bem atraente para qualquer olhar, GoEun também é uma mulher muito bonita para a sua idade, o corpo magnífico.

- Presta atenção, Jeon - senhor Park volta com sua fúria. O moreno trincou o maxilar por ter sido interrompido.

- Preste atenção você, Jisung! É bom começar a saber com quem está lidando. Eu não costumo ter paciência fora do prazo, mas por você eu estou dando exceções, então espero que você comece a se explicar em dar um jeito de erguer meu dinheiro, assim ninguém sairá ferido. A diferença entre eu e um banco, é que o banco suja o nome, eu costumo sujar tapetes de sala com sangue. É apenas um recado, senhor Park - Jeon o ameaçou.

Jisung sabia que Jungkook não chegava a tamanha situação, já que suas próprias palavras temeriam qualquer pessoa, afinal ele era um criminoso, poderia esperar qualquer coisa vinda de uma pessoa assim. O senhor Park começou a baixar sua guarda, fazendo assim o moreno sorrir largamente pela postura do homem começar a cair. Sabia que não tinha o que falar, apenas se calar  e pensar de um jeito em pagar de vez essa dívida que parecia nunca ter fim.

Ter feito um empréstimo milionário com Jeon  não era o certo, mas para sua empresa arriscou. Agora não tinha dinheiro de volta, lutou por três anos para erguer, mas era muito dinheiro e mesmo que trabalhasse por mais três anos não conseguiria ter o dinheiro completo.  Sua preocupação aumentava, fazendo seu desespero vir à tona. Não era o momento, ele tinha que se controlar.

Jungkook observava o homem em sua frente tentando se acalmar. Seu rosto estava paciente, apenas encarando inexpressivo, como se estivesse apenas olhando para qualquer ponto, não para um cara que estava prestes a explodir pela sua furiosa e agonia. Jeon não se sentia culpado por ter feito tal emoção com o homem, ele apenas o alertou, já que não costumava cobrar pessoalmente.

- Mais quantos prazos você me dá? - Jeon sorriu ao ouvir sair um fio de voz de Jisung. Ele adorava quando mostrava soberbo para qualquer um, principalmente para uma pessoa que ele achava como um filho da puta.

- Você ainda quer prazo? - perguntou incrédulo, mas não tardou e suavizou sua expressão - Ok. O prazo é de quinze dias. Sem mais e sem menos. Espero que você consiga arrumar meus 60% da dívida - se levantou, fazendo o homem arregalar os olhos.

Era pouco tempo, nem se trabalhasse dia e noite conseguiria erguer todo o dinheiro, ainda mais em 15 dias. Ele precisava de mais tempo, talvez um ou dois anos.

- Mas isso é pouco tempo! - Jungkook deu de ombro.

- Isso já não é mais problema meu. Você não acha que te dei tempo o suficiente? Foram porra de cinco anos esperando, caralho, ainda quer mais tempo? Você acha que sou relógio?- tentou controlar sua voz, não querendo se alterar ali. Podia sentir seus dentes roçando um no outro tentando manter a voz baixa - Se vira, Jisung! Vende a sua casa, vende a sua mulher, vende o seu filho, se vira! - cuspiu as palavras.

Jungkook podia ver o desespero do homem contorcer dentro de si. Ele não estava brincando, aquilo tudo não era brincadeira na qual depois ri e diz: "te peguei." Ele queria o que era dele por direito, mesmo sendo da ilegalidade. Ele prestou o dinheiro sem enrolar, por tanto, do mesmo modo que emprestou, queria de volta, cada centavo. Ele sabia que era um prazo muito curto, mas queria ver até onde Jisung seria capaz de ir para conseguir. Sim, Jeon já estava esperando o pior do homem.

Certamente senhor Park não foi o único que enrolou em pagar sua dívida com Jungkook, mas era o primeiro que estava o confrontando dizendo com moral. Jeon achava engraçado, pois além do homem deve uma quantia absurda, ainda queria estar no direito de argumentar alguma coisa e ainda querer erguer o tom de voz. Era muito cara de pau da parte de Jisung.

- Em 15 dias entrarei em contato com você. Espero que você tenha um ótimo final de tarde - acenou com a cabeça, não estenderia a mão pois sabia que não haveria resposta.

Park entretanto ficou quieto, apenas observando. Sua mente estava trabalhando a todo vapor no que poderia fazer durante quinze dias. Não sabia por onde começar ou como começar. Jungkook praticamente já tinha a única coisa valiosa do homem, sua empresa, não sabia o que mais oferecer.

Talvez fugir seria sua melhor alternativa, mas sabia que o moreno iria atrás dele até o inferno. Ele não tinha escapatória além de pagar sua dívida.

Já do lado de fora, Jungkook viu seu carro se aproximar. Tirou algumas notas de dinheiro em seu bolso e entregou para o manobrista em forma de agradecimento por ter cuidado de seu carro. Adentrou colocando o envelope de lado. Sua vontade era rasgar aquelas folhas em mil pedaços e jogá-los tudo no fogo. Sua raiva cresceu em menos de segundos, pensando que teria que esperar por mais tempo, ele sentia um absurdo, mas tinha que saber lidar com a situação. Se Jisung se sentia esperto, é porque não conhecia Jeon Jungkook suficientemente. Esses quinze dias teriam um preço, mas não sabia qual. Arrancou o carro dali, partindo para outra etapa.

[...]

Estacionou em frente ao orfanato, o orfanato que morou há anos e agora os ajudava. Já podia ouvir os gritos das crianças brincando no parque. Guardou sua chave logo saindo do veículo. Ali era o seu refúgio diário, a calmaria que achou no meio de toda tempestade. As mesmas mulheres que cuidaram dele quando criança, ainda estavam lá, com o mesmo sorriso de sempre.

Joy, funcionária que quase adotou Jungkook, ainda estava lá. Com os cabelos brancos e o rosto mais envelhecido, mas estava. Ali era sua segunda família, já que a primeira perdeu em um terrível massacre dentro de sua casa. Sentiu sua mente pesar quando recordou, era horrível lembrar os motivos que aconteceu para chegar a conhecer pessoas incríveis como Joy. Aproximou do portão logo se abrindo, o porteiro já o conhecia há anos. Nada tinha mudado, sempre as mesmas decorações e pessoas.

As risadas e gritos das crianças iam aumentando à medida que Jeon se aproximava. Seu sorriso enriqueceu ao ver algumas crianças correndo pelo pátio. Ainda era horário de almoço e provavelmente daqui a pouco elas iriam dormir, as outras metades tinham ido para a escolinha. Ouviu algumas crianças gritarem seu nome. Olhou rapidamente sentindo seu pescoço ficar um pouco dolorido pela velocidade. Sorriu ao ver um pequeno grupo de crianças correr em sua direção. Se agachou, abrindo os braços, recebendo todos em um abraço só.

- Achávamos que você não iria vir mais - uma garotinha em tom de pele escura falou se aconchegando mais em seu abraço.

- Claro que eu iria vir, eu sempre venho, Nany- os abraçou mais forte, sentindo todos se esmagar.

- Tio Jeon, você vai acabar nos matando sufocados - Jihyun diz sufocado. Jungkook riu e os soltaram.

Analisou as crianças em sua frente

- Percebo que vocês estão de roupas diferentes, quem andou dando para vocês? - fez cara de desconfiado.

- Tia Joy falou que foi presente de um admirador muito próximo - uma garota branquinha de cabelos negros falou baixinho, fazendo todos concordarem.

- Ok, tio Jeon ficou com ciúmes! Então vamos fazer assim, quero que todos vocês escrevam num papelzinho que brinquedo quer tanto ganhar. Nany, vou deixar essa responsabilidade com você, quero que pegue todos os papeizinhos de todos e me entrega, você dá conta? - ela assentiu firme.

Nany era um pouco mais velha que a maioria das crianças e a inteligência dela deixava Jeon surpreendido. Gostava da garota, ela lembrava a esperteza de sua mãe. A menina foi deixada no orfanato ainda um bebê, até o que se sabe era mestiça, nascida na Coréia, mas com pais brasileiros.

- Irei pegar de todos - ela garantiu, tirando um sorriso do maior.

- Irei confiar em você. Então não esqueçam de escrever no papel. Tio Jungkook vai dar qualquer brinquedo - se animaram - Então vão já ir escrevendo - todos saíram correndo, deixando o moreno sozinho.

Levantou acompanhando com o olhar a correria das crianças em pegar um papel e começa a escrever. Andou para dentro, querendo ir para o berçário. Estava sentindo falta de ver os pequenos rostinhos gordinhos dos bebês, além de que aquele lugar trazia uma paz grande quando estavam dormindo, pois acordado Jeon não conseguia ficar um segundo ali dentro, era muito choro. Avistou a porta fechada da sala, deduziu que eles estivessem dormindo já que não ouvia-se barulho nenhum.

Abriu a porta vagarosamente para não fazer barulho algum, não queria ser responsável pela qual acordou alguma criança. O silêncio era ensurdecedor, não ouvia sequer um único barulho. A sala estava clara, mas não ao ponto de incomodar os bebês dormindo. Entrou mais na sala, fechando a porta com cuidado. Virou seu corpo para frente a fim de querer ver eles dormindo, mas quase tomou um susto ao ver a figura de Joy num canto lendo um livro, que agora o encarava com um sorriso no rosto.

A mulher se levantou e foi em sua direção, abrindo os braços e o abraçou fortemente. Jungkook correspondeu. Se afastaram e a mulher, através dos óculos, o analisou, checando se nada tinha acontecido com ele. Ele parecia estar bem, sem nenhum machucado.

- Você está bem? Como foi a viagem? Chegou há muito tempo? - o bombardeou com perguntas.

- Sim, eu estou bem. A viagem foi com sucesso. E não, não faz muito tempo que cheguei, apenas quatro dias - a tranquilizou.

- Eu fico tão preocupada com você com essa aventura sua. Você sempre me diz que não são nada importante, mas eu sei que são e isso é o que mais me preocupam - Jeon passou sua mão no braço da mulher, tentando mostrar calmaria para a mesma.

- Apenas foi para resolver alguns negócios pendentes que já fazia há alguns meses que eu tinha que resolver, não era nada de mais - mentiu, pois sabia que aquele negócio valia a sua vida, mas para não preocupar Joy, preferiu manter-se calado.

A mulher não sabia todos os lados escuros de Jungkook, ela só sabia as coisas que o maior achava que ela tinha que saber. Não queria preocupá-la em nada, uma vez que ela já era uma pessoa de idade e não queria colocá-la em situações de risco. Ele já a via como da família, por tanto não queria compartilhar seus negócios sujos com a pessoa que ele se importava.

- E como estão as crianças? - perguntou, ouvindo a mulher suspirar.

- Estão bem, dois foram adotados - Jeon sorriu feliz em saber dessa notícia, agora duas crianças teriam uma família.

- Percebi que as crianças estão com roupas novas, elas me falaram que um admirador deu. Quem foi? - indagou vendo Joy dar de ombro.

- Lee Chaeyon. Também disse que te conhece- o moreno suspirou calmamente. Sabia quem era - Você a conhece? - assentiu a contragosto.

- Eu a conheci em um evento - falou em um pequeno murmúrio.

Lee Chaeyon, esposa de Lee Taeyong. O cara que desgraçou a sua vida e Jungkook desgraçou com a dele. Não entendeu o motivo por ela ter feito tal ato e não sabia como ela descobriu que o homem frequentava o orfanato. Certamente ela estava atrás dele e ele não iria se esconder. Sua preocupação aumentou pensando nas crianças ali dentro, jurando não acontecer nada com eles. Ali era um espaço consagrado de apenas pessoas inocentes, não um campo de guerra e conflitos sobre o passado e dinheiro.

Tudo que Jeon almejava era viver em paz e vendo que Chaeyon apareceu, o fez questionar muitas coisas, ainda mais de uma mulher que é esposa de um homem que acabou com seu passado jogando tudo na merda. Sentiu seu braço ser tocado, olhou para frente vendo Marie o encarar confusa.

- Você está bem? - franziu a sobrancelha. Assentiu afastando seus devaneios.

- Sim. Faz muito tempo que não a vejo, acho que irei fazer uma visita para ela e agradecer pelas roupas - sorriu doce, fazendo a mulher em sua frente suavizar a expressão.

- Você é tão bom, Jungkook. Nós te amamos e sempre - voltou o abraçar, o maior cedeu o abraço, sentindo os braços quente de Joy rodear seu corpo.

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