﹙⠀XIX.⠀﹚ Crazy hate

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★ ۫ ݂﹙DAG TORRANCE ﹚ㅤׅ ۫ㅤ݂ ५
𝐂αpítulo: "ódio louco."

DEPOIS DE  UM dia cansativo e sem Astrella, cheguei ao Cove. A música alta explodia, quase ensurdecedora, e havia pessoas por toda parte, dentro e fora. O lugar parecia vivo, mas havia algo vazio naquilo tudo. Entrei enquanto "Into It" da Chase Atlantic estourava nos alto-falantes, a batida se misturando à minha exaustão.

De longe, vi meu irmão, Fane. Ele me avistou quase no mesmo instante e veio direto até mim, cortando a multidão como se soubesse que eu estava precisando dele.

Fane encontrou meu olhar ao cruzar a pista e, com um gesto discreto, me chamou para um canto mais reservado do Cove. Na sua mão, ele segurava uma máscara, sua superfície lisa como a neve, marcada por um desenho sombrio e assombroso. A máscara era feita de um material cerâmico frio ao toque, pintada em preto e branco com uma precisão artística que dava vida à representação de um crânio distorcido pela agonia.

A parte superior estava banhada em branco, com manchas pretas que escorriam como lágrimas de tinta, delineando cavidades oculares profundas e vazias que pareciam olhar direto para a alma. A parte inferior era uma extensão da tormenta, com traços pretos grossos que delineavam uma mandíbula partida e dentes irregulares, como se tivessem sido esculpidos por mãos trêmulas durante um pesadelo.

- Pare de deixar a Astrella te impedir de fazer parte disso.

- Fane - o repreendi, mantendo a calma - a Vaughn nunca me forçou a recusar essa máscara; fui eu que escolhi não aceitá-la. E, segundo: essa é nossa primeira Devil's Night. Não fale como se fosse uma tradição antiga.

- É uma tradição antiga que nos foi passada, e...

- Não - eu o interrompi, elevando a voz -, foi passada para o Athos! Quando nossa irmã Octavia foi sequestrada, nossa família decidiu suprimir esse legado! Eles simplesmente tiraram tudo de nós, como se ela nunca tivesse existido!

Ele soltou um suspiro profundo, a irritação se misturando com um ar de desprezo.

- Então, vai assumir seu papel de cavalheiro ou vai mais uma vez negar seu próprio nome? - sua voz ressoou na penumbra, como um eco de desafios não resolvidos.

Meus olhos se fixaram na máscara que repousava nas mãos do meu irmão. O objeto era uma criação imponente, decorada com símbolos que pareciam contar histórias de dor e engano. Ela parecia me convocar, não como uma promessa de liberdade, mas como um convite ao poder que sempre desejei - um poder que me permitia mergulhar ainda mais na escuridão que já habitava meu ser.

A ideia de usar a máscara não me trazia temor; na verdade, despertava um prazer sutil. Eu não tinha interesse em me esconder atrás dela. Eu era horrível o suficiente para não precisar de um disfarce. No entanto, algo naquelas sombras e naquelas formas intricadas me fascinava. Seria um rito de passagem, um marco em minha descida ao abismo que sempre imaginei como meu lar.

O silêncio entre nós se tornava opressivo, cada batida de meu coração ecoando em minha mente. Meu irmão me observava, os olhos brilhando com uma mistura de expectativa e desespero. Ele acreditava que, ao usar a máscara, eu encontraria alguma forma de redenção ou transformação. Mal sabia ele que eu já havia aceitado a escuridão que me envolvia.

Senti a máscara pulsar em minhas mãos, como se estivesse viva, como se soubesse que sua hora havia chegado. Com um movimento quase instintivo, aproximei-a do meu rosto. O que eu estava prestes a fazer não era apenas colocar uma máscara; era aceitar a monstruosidade que sempre esteve em mim, abraçar a parte de mim que desejava a dor e o caos.

Quando finalmente a coloquei, o mundo ao meu redor se desfez. A sensação era eletrizante, como se eu estivesse sendo consumido pela própria essência da maldade. A máscara não ocultava quem eu era; ela revelava a verdade que sempre estivera escondida sob a superfície. No instante em que o tecido gelado tocou minha pele, percebi que não havia mais volta.

A música se intensificou, vibrando pelo meu corpo, e eu me deixei levar pela energia que emanava do Cove. Era como se a própria noite estivesse me chamando, e, ao me unir ao caos, uma nova vida pulsava sob a máscara. Fane sorriu, um sorriso cúmplice, e nós dois nos deixamos levar pela atmosfera frenética.

Meus olhos se adaptaram à escuridão iluminada apenas pelas luzes estroboscópicas que dançavam ao redor. Então, avistei Jett em cima de uma mesa, dançando com uma liberdade exuberante. A música parecia guiá-la, e sua energia era contagiante. Ela pulava, rindo e atraindo olhares de todos ao redor, sua máscara prateada refletindo a luz de uma forma que tornava tudo mais hipnotizante.

- Olha isso! - disse Fane, puxando-me para mais perto. A cada movimento de Jett, a multidão se unia em torno dela, formando um círculo de admiradores. Era como se ela fosse o centro do universo naquela noite, e, por um momento, eu me deixei seduzir pela ideia de estar no mesmo nível que ela, de compartilhar essa liberdade.

Jett começou a fazer passos de dança ousados, sua postura desafiadora fazendo com que todos gritassem e rissessem. Ela girou, balançou os quadris e jogou os braços para o alto, enquanto as luzes piscavam como se estivessem aplaudindo sua performance. Fane e eu trocamos olhares cúmplices; a exaustão que eu sentia havia desaparecido, substituída por uma sensação de adrenalina e libertação.

Quando Jett finalmente saltou para a borda da mesa, parecendo voar, uma onda de aplausos explodiu. Ela olhou para nós e fez um gesto exagerado, como se nos convidasse a subir também. O impulso era irresistível. Em um momento de pura impulsividade, eu me lancei para cima, e Fane me seguiu, pulando na mesa ao lado de Jett.

A multidão rugiu, e eu não pude deixar de sentir uma onda de euforia percorrer meu corpo. A música pulsava em meus ouvidos, e, ao dançar, era como se a máscara se tornasse uma extensão de mim, moldando meu ser à sua vontade. O rosto de Jett estava iluminado por um sorriso, e juntas nós dançamos como se fôssemos as únicas na sala.

Foi um momento de pura liberdade, onde a pressão da vida cotidiana, as expectativas e os fantasmas do passado se dissiparam em meio à música. A mesa balançava sob nossos pés, e, ao olhar para os rostos de quem nos rodeava, vi alegria, festa e, acima de tudo, uma fuga temporária das sombras que assombravam nossas vidas.

Então, no ápice da dança, Jett se virou para mim e gritou sobre o barulho da música:

- É assim que se vive a Devil's Night!

Enquanto a música pulsava e nós aproveitavamos a musica em cima da mesa, a euforia foi rapidamente misturada com um toque de receio. Athos subiu ao nosso lado, dançando em seu próprio ritmo.

- Você sabe que nossos pais vão se contorcer de ódio quando souberem que fizemos uma Devil's Night sem ser no Halloween, né? - ela gritou, sua voz quase perdida na batida alta.

Eu ri, consciente da verdade por trás de suas palavras. - Sim, mas quem se importa? Ninguém mandou o Kai ser preso no meio do ano! A gente merecia uma noite assim!

No entanto, enquanto a música nos envolvia e a energia do Cove parecia nos consumir, algo chamou minha atenção e me fez desviar o olhar de Jett. No canto da sala, iluminada por uma luz suave que dançava ao ritmo da música, estava Astrella, envolta em uma conversa animada com Madden.

A expressão dela era de pura alegria, os olhos brilhando enquanto ela ria de algo que ele dissera. Madden, sempre com aquele jeito despreocupado, estava inclinado para frente, como se estivesse contando um segredo que só existia entre eles. A visão deles juntos me fez sentir uma onda de ciúmes, uma faísca de raiva que eu não podia ignorar. Eu tentava disfarçar, manter a máscara como um escudo, mas era difícil.

- Olha isso - murmurei para Fane, tentando manter a voz casual, mas a tensão estava claramente presente. - O que ela está fazendo com ele?

Fane seguiu meu olhar e franziu a testa. - Pode ser só uma conversa. Não precisa ser algo mais.

- Claro que não - retruquei, a irritação crescendo. - Como se eles não estivessem se conhecendo melhor a cada momento.

Astra, com seu vestido que parecia brilhar na escuridão do Cove, me lembrava de como ela sempre estava rodeada por uma luz própria. Não importava onde estivesse, as pessoas a atraíam. E ali estava ela, dando toda sua atenção a Madden. Eu sabia que não deveria me importar tanto, mas a ideia de vê-la se divertindo com alguém que não era eu era como um soco no estômago.

Respirei fundo, tentando canalizar essa raiva em algo mais construtivo. Mandei um sorriso forçado para Fane e voltei a aproveitar, mas meu olhar não se afastava de Astrella. O tempo parecia se arrastar enquanto eu a observava. Cada risada dela soava como um golpe, e cada gesto de Madden, uma provocação silenciosa. A raiva e a frustração se entrelaçavam dentro de mim, fazendo com que eu quisesse interromper aquela cena.

- Você precisa relaxar - Fane insistiu, embora suas palavras não fizessem diferença. - Isso não é sobre você.

- Não é? - retruquei, a voz mais alta do que o esperado, chamando a atenção de algumas pessoas ao nosso redor. Fane olhou para mim, um aviso silencioso em seus olhos.

A música mudava, tornando-se mais intensa, e eu aproveitei isso para me perder na batida, mas a cena entre Astrella e Madden ainda persistia em minha mente.

A Devil's Night se desenrolava em meio a um caos vibrante e uma euforia incontrolável. As luzes piscavam de forma quase hipnótica, e o calor humano se misturava ao cheiro de álcool que pairava no ar. Pessoas se pegavam em cantos escuros, rindo e sussurrando promessas de paixão fugaz, enquanto outras pareciam tão bêbadas que mal conseguiam se manter em pé. Ivarsen, como sempre, estava em sua essência - um verdadeiro conquistador - lançando olhares sedutores a cada rosto que cruzava seu caminho, uma onda constante de charme e irreverência.

Fane me puxou de volta à realidade com seu olhar crítico, mas eu estava longe de lá. As músicas mudavam e a atmosfera se tornava cada vez mais frenética. "Into It" havia sido substituída por uma batida eletrônica pesada que fazia o piso vibrar sob nossos pés. Eu me deixava levar pela corrente de energia, mas minha mente ainda vagava entre a dança e a cena no canto do bar.

Astra ainda conversava com Madden, o sorriso dela iluminando a penumbra como uma chama em uma noite sem lua. Cada gesto dela era como uma provocação; ela estava tão envolvida na conversa, e aquilo parecia tirar o chão dos meus pés. Não havia como evitar a sensação de que eu deveria estar ali, não apenas como observador, mas como parte daquele momento. A máscara em meu rosto, que antes me oferecia um novo senso de liberdade, agora se tornava um peso, um lembrete da ausência de Astrella ao meu lado. Poder e anonimato, agora parecia uma prisão. O peso dela aumentava com cada risada de Astrella, me lembrando da distância que se abria entre nós.

A raiva borbulhava dentro de mim, crescendo a cada segundo em que os dois continuavam juntos. Gunnar, ao meu lado, notou meu estado, mas não disse nada. Ele sabia que qualquer palavra agora só aumentaria minha frustração. O som da música, a multidão ao meu redor, o caos da Devil's Night, tudo isso se fundia em um turbilhão de emoções que eu mal conseguia controlar.

E então, sem pensar duas vezes, me movi.

Desci da mesa com um salto, atravessando o mar de corpos até chegar ao bar. Madden estava inclinado, falando algo no ouvido de Astrella, e a proximidade entre eles era insuportável. Senti um calor percorrer meu corpo, e, antes que eu pudesse parar para pensar, interrompi a conversa, batendo no balcão com força.

- Desculpe interromper - minha voz saiu dura, quase uma ordem.

Astrella ergueu o olhar, surpresa, enquanto Madden apenas sorriu, como se estivesse esperando essa reação. Ele sabia exatamente o que estava fazendo, e isso me deixou ainda mais furioso.

- Estávamos no meio de uma conversa - ele disse com um tom despreocupado, olhando de mim para Astrella.

- Agora ela acabou - retruquei, sem desviar o olhar de Madden.

Astrella levantou-se, sua expressão de surpresa se transformando em algo mais desafiador. Ela cruzou os braços, inclinando-se levemente para mim.

- Você acha que pode simplesmente mandar em mim agora? - perguntou ela, sua voz calma, mas carregada de uma tensão que só aumentava a eletricidade entre nós.

- Acho que não preciso deixar você se divertir tanto com... ele - soltei, lançando um olhar carregado de desprezo para Madden.

Astrella riu, mas não era um riso de diversão. Era um riso seco, cínico.

- Você acha que pode controlar quem eu falo ou com quem me divirto?

Fiquei em silêncio por um momento, as palavras presas na minha garganta. Eu sabia que ela estava certa, mas isso não diminuía o sentimento. Não se tratava de controle, se tratava de algo muito mais profundo, algo que eu ainda não conseguia expressar.

Madden deu um passo para trás, levantando as mãos em rendição exagerada.

- Não quero causar problemas, só estava sendo amigável - disse ele, claramente se divertindo com a situação.

- Você já causou - respondi, a voz baixa, mas afiada.

Astrella olhou de mim para Madden e depois suspirou.

- Vou sair daqui - disse ela, virando-se para ir embora. Mas antes de sair, lançou um último olhar para mim, seus olhos fixos nos meus, transmitindo uma mistura de frustração e algo mais. - Espero que você decida o que quer antes de continuar agindo assim.

Ela desapareceu na multidão, deixando-me com Madden, que ainda exibia aquele sorriso irritante. Não esperei para ouvir o que ele teria a dizer. Virei as costas e voltei para a mesa onde Fane e Jett ainda estavam dançando.

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