chapter two, ben hanscom.

CHAPTER
TWO !

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        APÓS DAREM UM BREVE "TCHAU" a escola, Jane e seus mais novos amigos, por assim dizer, passaram por suas respectivas casas para pegarem suas bicicletas. A garota não fazia ideia do que eles iriam fazer no lugar mais fedido de Derry, mas ficar em casa, entediada e vendo as horas se passarem enquanto o verão chegava não era sequer uma opção. O grupo pedalava rumo a onde, supostamente, Georgie poderia estar (ou o que havia sobrado dele). Na cabeça das crianças, se um serial killer queria dar fim a um corpo, jogaria ele no esgoto.

      Deixaram as bicicletas à alguns metros do lugar e atravessaram o pequeno lago que os separava do túnel. Mesmo de longe, os 5 podiam sentir o fedor insuportável do lixo e fezes de Derry. A Tozier quase vomitou, mas seguiu o primo e os amigos. Se fosse pra encontrar Georgie (ou qualquer outro corpo), que fosse rápido antes que eles morressem de passar mal.

— Essa aí é hera venenosa! — Stanley alertou Eddie, que estava prestes a pegar uma planta logo que chegaram ao túnel. — E essa também. — O Uris apontou com o queixo.

— Onde? Cadê a hera venenosa? — Curiosamente, Eddie inquiriu.

— Em lugar nenhum! Nem todas as plantas são hera venenosas, Stanley! — Richie vozeou, impaciente.

      Bill, ignorando qualquer voz exterior ao túnel, ligou a lanterna e entrou no espaço. Visivelmente, apenas havia lixo e água por todo lado. Mas ele não desistiria de encontrar o irmão. Lhe custava acreditar que Georgie estava morto, e ele ainda tinha esperanças de reencontrar o irmão vivo e bem. Tudo doía, mesmo que ele ainda brincasse com os amigos e fizesse piadas. A falta do irmão e a culpa que o preenchia lhe matava de dentro para fora.

— Eu já tô começando a me coçar e tenho certeza que isso não é bom! — Dramatizou Eddie, ainda sem entrar no esgoto.

— Você usa o mesmo banheiro que a sua mãe? — Indagou Richie, entrando logo atrás de Jane.

— Às vezes. — Respondeu o Kaspbrak.

— Então com certeza você tem chagas. — Richie disse com indiferença. Jane revirou os olhos ouvindo o que eles discutiam. Eles estavam ali para procurar um garoto desaparecido, não fazer piada o tempo todo.

— Muito sem graça. — Eddie riu sem humor, se colocando ao lado de Stanley do lado de fora do esgoto. Ambos hesitavam em colocar o pé naquele lugar.

     Jane apontou a luz da lanterna na cara dos dois, colocando uma mão na cintura e tombou a cabeça para o lado de uma forma fofa, com um quê de dúvida. Silenciosamente, ela esperava que eles entrassem também. Mas a resposta dos dois não veio.

— Vocês não vão entrar? — Jane perguntou. Eddie balançou a cabeça negativamente.

— É água cinza. — Afirmou o mais novo.

— E qual é o problema? — Foi a vez de Richie se pronunciar. Eddie o olhou com revolta.

— É basicamente xixi e cocô! Eu só tô dizendo que vocês três estão andando em milhares de galões de xixi de Derry. — Eddie balançou os braços no ar, deixando explícita sua inquietação de só chegar perto da sujeira. — Vocês estão falando sério...

— Não sinto cheiro de cocô, senhor. — Richie o interrompeu, engrossando a voz em um claro tom de ironia enquanto segurava um galho molhado por aquela água nojenta. Eddie o olhou boquiaberto.

— Eu tô sentindo daqui! — O garoto apontou para o próprio nariz.

— Deve ser seu mau hálito querendo voltar pra sua boca! — Richie respondeu. E Jane se segurou pra não rir. Algumas vezes o primo fazia comentários muito desnecessários, mas a maioria das piadas que ele fazia, quase a matavam de rir. Tinha certeza que, quando Richie crescesse, ele divertiria pessoas com o seu humor.

— Já ouviram falar em Staphylococcus? — Eddie tentava colocar consciência na cabeça de Jane, Bill e Richie.

— Eu vou te mostrar os Staphylococcus! — Brincou Richie, balançando o galho na mão, em seguida empurrando todo o lixo na direção de Eddie e Stan.

— Que nojo! Sabiam que vocês estão nadando em uma privada? — Eddie inquiriu o óbvio. Richie pegou um pedaço de tecido com o galho e o jogou no Kaspbrak. — Para com isso!

     Enquanto os dois discutiam sobre bactérias, privadas e cocô, Bill e Jane procuravam por algo que pudesse os levar até Georgie. Uma roupa, um sapato, talvez a capa de chuva que ele usava no dia de seu desaparecimento. Com o pé, a morena afastou um pedaço de madeira e Bill se abaixou o suficiente para pegar um sapato amarelo. Apontou a luz para ele, estudando o calçado com atenção. Engoliu em seco e se virou na direção de Eddie, Richie e Stanley.

— Galera! — Bill gritou, fazendo um eco no esgoto e chamando a atenção de todos. Os três restantes miraram os olhos na direção do sapato que Denbrough segurava.

— Não me diga que isso é...? — Stanley deixou a pergunta subentendida.

— Não... O G-Georgie estava usando g-galochas. — Explicou, ainda com o sapato amarelo na mão. Jane sequer sabia o que falar. Não sabia se ficava aliviada por aquele sapato não ser do irmão de Bill ou triste por não terem achado nada que pudesse os levar até o garoto.

— De quem é esse sapato? — Eddie falou alto o suficiente para que os três pudessem ouvir. Jane apontou a lanterna pra parte de dentro do sapato e conseguiu ler um sobrenome: Ripsom.

— Ripsom? — Jane disse confusa, até lembrar que se tratava de uma das meninas desaparecidas. — É da Betty Ripsom!

— Que merda... — Eddie começou a hiperventilar. — Não estou gostando nada disso!

— E você acha que a Betty gostou de andar por esses túneis com um dos pés descalços? — Richie riu da própria piada, mas ninguém o acompanhou. Nem mesmo Jane. Ela apenas lhe olhou mortalmente, e ele se calou.

     Piadas tinham momentos para serem contadas, e aquele não era um deles. Era esse tipo de inconveniência que Jane evitava, por mais que tivesse um humor tão forte quanto o de Richie.

— E se ela ainda estiver aqui? — Stanley sugeriu. Bill engoliu em seco. Se Betty estivesse, talvez Georgie também. Aquele sapato era uma pista curiosa que ele estava disposto a seguir.

— Entrem logo aqui! — Jane gritou para Eddie e Stan.

— Minha mãe vai ter um aneurisma se souber que eu brinquei aqui, é sério! — O mais novo disse, bravo e nervoso. Chegava a ser fofo. — Bill! — Eddie chamou pelo amigo. Todos miraram os olhos na direção do Denbrough, esperando que ele tomasse uma atitude, tendo em vista que ele estava liderando aquela busca.

— Se eu f-fosse Betty Ripsom, eu ia querer que me encontrassem... — Disse Bill com pesar, e todos ficaram por alguns segundos em silêncio. Ele estava certo. — O G-Georgie também.

— E se eu não quiser encontrar eles? — O Kaspbrak engoliu em seco. — Não quero te magoar, Bill... Mas eu não quero acabar do mesmo jeito que o Georgie. E também não quero desaparecer.

     Jane estava dividida. Por um lado, ela queria saber o que estava acontecendo em Derry. Por outro, ela apenas queria aproveitar o verão e se divertir, mas a cada dia que se passava crianças sumiam e não dava pra ignorar esse fato. Muitas coisas estavam erradas, mas a Tozier não queria morrer, nem desaparecer. E se prezava por isso, tinha que se manter segura, e não ir atrás dessas crianças.

— O Eddie tá certo. — Stan concordou, com medo de machucar Bill. As palavras deles estavam sendo como uma surra no Denbrough. Jane viu os olhos dele se encherem de lágrimas. A frustração estava estampada em seu rosto. — É verão! Era pra estarmos nos divertindo, e isso não é diversão! É assustador e nojento!

     Até mesmo Richie estava quieto. Ele estava dividido entre duas opiniões opostas juntamente a prima. Mas a discussão do grupo foi interrompida quando o barulho de algo caindo no riacho, do lado de fora do túnel, chamou a atenção deles. Bill, Jane e Richie correram para ver o que havia acontecido, enquanto Stan e Eddie se viraram afobados e assustados. Era apenas um garoto, e ele estava machucado, mal conseguia ficar em pé.

— Que merda aconteceu com você? — Jane perguntou, curiosa. Os outros 4 não estavam diferentes. O garoto machucado olhou para eles, e sua expressão pedia por ajuda. Eddie e Stan correram para ajudar o garoto a sair do riacho para que pudessem cuidar dos ferimentos dele.

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Eddie e Richie colocaram o garoto sentado sobre um caixote do lado de fora da farmácia, em um beco onde ninguém poderia ver o que estava acontecendo. Eles abandonaram as bicicletas de qualquer jeito no chão, antes de analisarem com calma o rosto de Ben Hanscom para saberem exatamente do que eles precisariam, e de quanto.

— Richie e Jane, fiquem aqui. — Bill pediu, antes de sair correndo com Eddie e Stan para a farmácia.

— Foi bom ter te conhecido antes da sua morte. — Richie brincou, arrancando uma risada nasal de Ben.

— Quem é você? — O loiro perguntou para Jane, com um sorriso fofo no rosto.

— Jane, prima desse cuzão. — A morena apontou para Richie com o queixo. Ben riu, em seguida soltando um gemido de dor. Jane sentiu pena, e torceu para que os meninos conseguissem comprar tudo que precisavam para cuidar dele. — Não sou daqui. Só vou passar o verão.

— E está gostando de Derry? — Ben inquiriu para esquecer da dor.

— Sim, apesar de tudo. É uma cidade legal. — Jane disse sorrindo de lado.

Depois disso, a morena apenas se limitou a ficar espiando de um lado para o outro, só tendo a certeza de que ninguém se aproximava. A conversa fluía animadamente entre Richie e Ben. Apesar dos ferimentos dele, ele sabia tirar sarro. Parecia ser um garoto legal, e que também, pela sua aparência, sofria um bullying desnecessário.

Jane avistou Bill, Eddie e Stanley se aproximarem com os curativos e remédios apressadamente. Suspirou aliviada em ver que haviam conseguido. A julgar por serem crianças, eles com certeza não haviam comprado aquilo tudo. Mas a Tozier preferiu deixar isso de lado: o importante é que iriam ajudar alguém.

— Chupa a ferida! — Disse Richie assim que Eddie levantou a camiseta de Ben. Um "H" havia sido rabiscado na barriga dele com uma lâmina. Jane fez uma careta ao ver a situação da ferida.

— Pega o analgésico! Tá na minha pochete! — Eddie ignorou o comentário de Richie, já estava acostumado com aquilo. Até Jane estava.

A garota viu Bill se afastar deles e ir em direção à rua. Até cogitou ir até ele e perguntar o que estava acontecendo, mesmo que fosse óbvio. Bill Denbrough estava preocupado. Preocupado porque a polícia de Derry não estava fazendo o trabalho dela, preocupado porque seu irmão poderia estar morto, preocupado porque nem seus melhores amigos o apoiavam.

Quando Jane deu dois passos à frente para ir até ele, viu uma garota ruiva e de cabelos longos ondulados envolvidos por uma presilha parar na frente dele, rindo e balançando uma carteira de cigarros em sua frente. A tal garota olhou para lado e viu Jane parada. E logo atrás dela visualizou a tentativa de três garotos de colocarem um curativo em alguém.

— Ele tá sangrando! — Eddie disse, desesperado. — Ai meu Deus!

— Tem que chupar a ferida antes de colocar o curativo, isso é básico! — Richie deu um tapa na nuca de Eddie.

— Você tá bem? Parece que isso tá doendo. — A garota ruiva inquiriu, se aproximando de Ben.

— Ah, eu tô bem! Eu só caí... — Ben tentou dar uma desculpa, mas Richie o interrompeu.

— Caiu bem em cima do Henry Bowers! — Richie fez uma careta. Jane beliscou seu braço sem pena.

— Fica quieto, Richie Boca Suja! — Jane o repreendeu. Mal conhecia Bowers e não o suportava.

Ben fitou os próprios pés, envergonhado. Jane havia notado que, na presença daquela garota, ele ficava inquieto e nervoso. Se não conhecesse ele há poucos minutos, ainda sim saberia que ele gostava dela.

— Tem certeza que eles estão com as coisas certas pra tratar você? — A garota ruiva inquiriu, piscando um dos olhos para Ben. Ele sorriu, corando.

— P-Pode deixar, vamos cuidar d-dele. — Bill se intrometeu. — O-Obrigado, Beverly. — O garoto sorriu fracamente, sem olhar diretamente nos olhos dela.

— De nada. A gente se vê por aí. — Beverly concordou, sorrindo para Bill. Richie e Jane trocaram olhares incrédulos.

— A gente vai na p-pedreira amanhã, se v-você quiser ir com a gente... — Bill comentou. Nem mesmo Jane havia recebido aquele convite. Porque uma garota que eles acabaram de conhecer estava sendo convidada? O que estava acontecendo ali?

— Valeu. — Beverly disse por fim, antes de dar as costas e ir embora.

Assim que Marsh saiu e estava fora do campo de visão do grupo, Stan deu um tapa no ombro de Richie.

— Você tinha que falar do Bowers na frente dela! — O Uris reclamou.

— É, você sabe o que ela fez. — Eddie disse após terminar o curativo na barriga de Ben. Este último olhou confuso para o Kaspbrak.

— O quê? O que a Beverly fez? — O Hanscom tinha medo da resposta.

— O certo é com quem ela fez. Fiquei sabendo que a lista é maior do que o meu pintão! — Richie colocou a mão na virilha, apertando o próprio pênis.

— O que não quer dizer muita coisa. — Jane comentou, arrancando uma risada nasal de Bill.

— São s-só r-rumores. — Bill tranquilizou Ben.

— Ela e o Bill se beijaram no terceiro ano na peça da escola. — Richie explanou. Naquele momento tudo ficou esclarecido na mente de Jane: Bill e Beverly não haviam acabado de conhecer. Eles já se conheciam. A decepção era palpável no rosto de Ben. — Isso é o que eu chamo de primeira paixão! Agora vamos companheiros, esse paciente precisa de toda a nossa atenção! Anda, Doutor K.! Arruma o rosto dele!

— Cala a boca, Richie! — Eddie praguejou, limpando o sangue da testa de Ben.

— Chupa a ferida, vai com tudo! — Cantarolou o Tozier.

Jane se sentou no chão entre Stan e Bill. E pelo andar daquela mini cirurgia, iria demorar mais do que o esperado. E a garota tinha pensamentos o bastante para a distraírem e a deixarem alheia de todo o resto.

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