⩩ : 𝙩𝙚𝙣 , 𝖼𝗈𝗆𝗉𝖺𝗍𝗂𝖻𝗅𝖾
[ 🍭 playlist bubblegum bitch ]
♪ stereo hearts, gym classe heroes ♪
Make me your radio
Call me when you feel down
This melody was made for you
Just sing along to the radio.
🍭
A mente de Mayumi é um lugar extremamente confuso e ela sempre teve total noção sobre isso.
Era um misto de autocrítica, dúvida, insegurança e uma pitada exagerada de egocentrismo irracional.
Em certas ocasiões, algumas dessas características davam as caras, sendo de uma maneira negativa ou positiva.
No momento em que teve a conversa com Kuroo, foi a vez da insegurança e a dúvida falarem por ela. A pura incerteza de se o que quer que falasse seria compreendido, a fez agir daquele modo, o qual estava se remoendo desde o segundo em que virou as costas para o moreno e o deixou ali sozinho.
Mayumi sabe que a insistência, a preocupação e os questionamentos não eram por Tetsurou não confiar em si, mas por querer que a garota dividisse com ele o que estava acontecendo. Porém, independente das suas ações serem movidas por boas intenções, a maneira como agia a sufocava.
Era cansativo ter que sempre falar o que fazia, com quem fazia, para que seus melhores amigos não ficassem mais preocupados consigo do que já eram. Acabava causando em si a mais pura sensação de ser um fardo. Era isso o que ela sempre sentia.
Mayumi dava risada com todas as brincadeiras e até de assuntos sérios, sempre sendo aquela pessoa que deixa o ambiente mais leve e também aquela que anima onde quer que esteja e era exatamente isso que ela queria ser. Mas quando você precisa ficar chapada o tempo inteiro para ser assim, ainda quer dizer que é você ali?
A verdade é que, mesmo com toda a noção que Bokuto e Kuroo tinham dos problemas da rosada, no final das contas, nenhum dos dois tinham o real conhecimento do quanto Mayumi era completamente quebrada e vazia por dentro. Os problemas com a família começaram desde cedo, a partir do momento em que a garota decidiu que a dança seria o caminho que ela seguiria e isso, obviamente, não foi uma notícia recebida da melhor maneira pelos seus pais, até porque, eles já tinham toda a sua vida planejada.
E por causa da maneira como foi criada por estes, nesse momento ela estava deixando outra parte da sua mente, a qual ela mais odiava, falar por ela: a autocrítica.
Seus pensamentos estavam perdidos, vagos e por consequência, seus movimentos também. Os pés já possuem alguns diversos filetes de sangue causados pelas sapatilhas de ponta; as pernas tremem pelo cansaço, o suor escorre pela testa, têmpora e queixo, deixando as pequenas gotículas chegarem em câmera lenta ao piso amadeirado.
Todo o seu corpo grita de exaustão.
Mesmo assim, Mayumi não cessa os passos da coreografia.
Ela sabe que o ensaio de hoje não foi nada produtivo e pela maneira com Giancarlo a repreendeu de diversas maneiras e até exigiu que ela ficasse no canto da sala observando as outras garotas dançarem para colocar a cabeça no "devido lugar", mostrava o quanto estava perdida.
Porra… O que ela mais amava fazer no mundo era aquilo e nem isso conseguiria? Será realmente o que sua mãe havia lhe dito no dia anterior era verdade? Ela nunca conseguiria ser uma dançarina de verdade? Ela nunca conseguiria ser nada?
Mayumi não podia deixar que sua mãe entrasse em sua mente de novo. A garota sabia muito bem o que a mais velha queria e não lhe daria gosto de se permitir desestabilizar por qualquer coisa que falasse. Ela não podia. Estava determinada a provar o contrário, nem que isso lhe custasse toda a sua energia, todo o seu tempo, todo o seu esforço. Por isso, a rosada não tardou em recomeçar a música e voltar a rodopiar pela sala de ensaio por mais quatro horas seguidas, até que sequer conseguisse se manter em pé.
Seu corpo estava jogado no meio do salão, suas pernas latejam de dor e ela podia sentir os machucados dos seus dedos serem pressionados pelas sapatilhas. Seus joelhos exibem alguns vermelhões causados pelos passos que a coreografia possuía e a garota podia sentir seu quadril levemente dolorido por uma queda que havia levado durante o ensaio, mas que não foi o suficiente para para-la nem por segundo.
Mayumi se levantou calmamente, quase sem forças, e caminhou até o vestiário atrás da sala de ensaio. Ela abriu o seu armário e buscou a bolsa com tudo o que precisava, sentando-se no banco que havia no centro do lugar. A garota retirou as sapatilhas de pontas com cuidado e geme de dor quando sente a ardência das feridas, vendo que as meias brancas de velcro agora estavam completamente manchadas com o seu próprio sangue.
Ela usou a própria garrafinha de água para molhar os pés e uma das toalhas de rosto que ficavam à disposição dos estudantes para retirar o excesso de sangue. Mayumi passou delicadamente o tecido por cima dos machucados e procurou pela água oxigenada e as ataduras dentro da sua bolsa, logo percebendo que havia esquecido ambos no próprio apartamento.
ㅡ Que porra ㅡ xingou irritada, buscando o celular e checando o horário ㅡ Será que ainda tem alguém no hospital? ㅡ murmurou pensativa, desbloqueando o aparelho, procurando um contato e pondo em seu ouvido.
Mayumi esperou alguns segundos até que a chamada caísse na caixa postal, assim como as outras quatro ligações seguintes que fez para a mesma pessoa. Ela bufou irritada e guardou o aparelho dentro da bolsa, enquanto repetia o gesto com tudo o que lhe pertencia antes de sair do vestiário e caminhar descalço até o hospital universitário, que ficava no bloco vizinho ao seu.
Assim que chegou no local, foi até a entrada lateral, onde se encontrava a enfermaria, que pelo horário, já estava com as luzes apagadas. A garota suspirou frustrada e entrou, rezando para que Sakusa ainda estivesse ali naquele horário fazendo algum tipo de hora extra para ganhar mais pontos, mas quando chegou na ala que o mesmo ficava, estava totalmente vazia. Assim que se virou na direção da saída, uma voz desconhecida a chamou, fazendo-a dar um sobressalto com o susto.
ㅡ Procurando alguém? ㅡ um garoto com um jaleco posto no antebraço perguntou ㅡ Posso ajudar?
Mayumi analisou o mesmo rapidamente antes de abrir um sorriso e concordar. Ele era bem mais alto que a garota e tinha sotaque carregado, vestia uma blusa de mangas curtas branca e uma calça bege, os olhos eram finos, o nariz mais avantajado e os lábios carnudos. “Ele é bonito” foi a primeira coisa que Mayumi contestou mentalmente antes de respondê-lo.
ㅡ Eu estou procurando o Sakusa, essa é a ala dele, não é?
ㅡ Ah, o Kiyoomi? ㅡ ela concorda ㅡ Sim, essa é a ala dele, mas ele não está. Acabamos sendo liberados mais cedo hoje e ele até deu carona para um amigo nosso, o Akaashi.
ㅡ Tonterías… ㅡ murmura frustrada ㅡ Obrigada, viu?
ㅡ É só com ele o assunto?
ㅡ Bueno... no ㅡ responde incerta ㅡ Eu terminei um ensaio agora e acabei machucando meu pé, entonces…
ㅡ Sapatilha de ponta, certo? ㅡ deduz, se aproximando da rosada e deixando o jaleco em cima de uma das camas ㅡ Pode sentar, eu faço o curativo.
ㅡ No necesita. Eu já estou acostumada... Pode me dar só um esparadrapo? Eu esqueci de levar, já está tarde para comprar e não dá para ir até a fraternidade descalço.
ㅡ Sabe que é melhor que eu faça, não é? ㅡ disse, enquanto mexia nas gavetas e tirava dali dois sprays, algodão e esparadrapo, antes de apontar para a cama que seu jaleco estava ㅡ É comum que vocês da dança apareçam por aqui depois dos ensaios, então já estou acostumado.
ㅡ Gracias ㅡ agradeceu sorridente, sentando na cama.
ㅡ Por nada. Aliás, eu sou o Alex ㅡ sorri.
O garoto começa os movimentos delicadamente com algodão no pé da garota, limpa as feridas com cuidado e o mais perfeitamente possível; se afasta por poucos segundos para buscar um dos sprays que havia pego e passa sob toda a extensão, causando uma leve ardência. Mayumi fecha os olhos por meio segundo e quando os abre novamente, nota que Alex a encarava descaradamente. Ele desvia o olhar e volta a enrolar nos pés da garota o esparadrapo, entregando-lhe uma cartela de remédios.
ㅡ É um analgésico comum para dor.
ㅡ Gracias, Alex ㅡ ela sorri, guardando a cartela de comprimidos na bolsa ㅡ Desculpa também, você deve estar cansado.
ㅡ Como eu disse, saímos mais cedo hoje. Normalmente meu horário passa das onze ㅡ ele coça a nuca e curva os lábios ㅡ Ainda estou no lucro de sair agora.
ㅡ Oh, es verdad. Não vou mais te atrasar ㅡ se apressa, retirando os tênis que estavam na bolsa.
ㅡ Você me parece familiar ㅡ diz, enquanto a observa desfazer o nó no cadarço ㅡ Vem muito aqui?
ㅡ Venho pouco, na verdade ㅡ murmura ㅡ Eu nunca te vi por aqui.
ㅡ Se você vem aqui pelo Sakusa, com certeza nunca me viu. Não sou da mesma ala que ele.
ㅡ Então a gente deve ter se visto em uma festa. Es un poco difícil olvidar a una chica com cabelo rosa. ㅡ ele ri suavemente de sua resposta ㅡ Meu nome é Mayumi.
ㅡ Mayumi… Oh, Mayumi! ㅡ ele fala com uma leve expressão surpresa ㅡ Sem querer ser rude, mas você não é uma garota que estava nas fotos que Ayla postou no twitter dela?
ㅡ Não sei se o nome dela é Ayla, mas saiu umas fotos do ex de uma maluca aí comigo sim ㅡ dá de ombros, sentindo sua unha dobrar quando força o nó do cadarço com mais força ㅡ Qué rabia!
ㅡ É você mesmo ㅡ ele concorda, tirando o tênis da sua mão e desfazendo rapidamente o nó ㅡ Faço parte de um projeto com a Ayla de um hospital beneficente. Sei mais ou menos o que aconteceu.
ㅡ Gracias ㅡ agradeceu se referindo ao tênis ㅡ Bom, a história em si não é muito complexa.
ㅡ Você ainda está com ele?
ㅡ Não ㅡ ri, dando de ombros ㅡ Foi uma coisa de uma noite, sólo eso.
ㅡ Ah, entendi ㅡ ele sorri de lado e observa Mayumi levantar uma das pernas para calçar o tênis ㅡ Você é desse tipo.
A garota paralisa por meio segundo, levanta o olhar que estava direcionado aos seus pés e tomba a cabeça para o lado com uma expressão confusa.
ㅡ ¿Qué tipo?
ㅡ Você sabe… ㅡ ele dá uma risada anasalada e debochada ㅡ Só para pegar uma vez. Não sei porquê a Ayla ficou tão preocupada.
ㅡ Acha isso só porque eu fiquei com um cara e não tenho nada com ele?
ㅡ Ainda teve as fotos ㅡ relembra ㅡ Você respostou. Significa que não se importa com o que as pessoas pensam.
ㅡ Sempre tem terceiros que gostam de dar pitaco na vida alheia sem ao menos conhecer. Se eu realmente fosse ligar para isso, viviría de acuerdo a la opinión de los demás ㅡ dá de ombros ㅡ Bom, eu vou indo.
ㅡ Não vai calçar os tênis?
ㅡ Faço isso lá fora. Não quero atrapalhar você ㅡ sorri falsamente e caminha para longe do garoto ㅡ Gracias por la ayuda, Alex.
ㅡ Mayumi, espera! ㅡ ele segura o braço da rosada, impedindo que ela continue a se distanciar ㅡ Ficou chateada? Não falei com essa intenção.
ㅡ Não estou em um bom dia, Alex. En verdad, este está sendo um péssimo dia ㅡ ela se desvencilha do toque e respira fundo ㅡ Não ligo para o que pessoas que não tem nada haver com a minha vida pensam sobre mim, então não se preocupe em justificar alguma impressão errada… Definitivamente no serías el primero en hacer esto y no serás el último.
Mayumi caminha descalço para fora do hospital universitário. A alça da bolsa está posta em seu ombro direito e os tênis estão pendurados nos dedos da mão esquerda. A garota passa pelo saguão do prédio e sai do local, sentindo a brisa enregelada se chocar contra sua pele exposta, causando um repentino arrepio pelo seu corpo. Ela escuta um chamado distante e percebe que este é derivado de Alex, mas sequer se vira para olhá-lo.
De fato, a rosada não se preocupa com o que terceiros pensam dela. Não é como se não soubesse que a maioria das pessoas que a conheciam, atribuíram as palavras puta e fácil quase imediatamente pela maneira como ela se porta. Isso nunca a incomodou, assim como não a incomoda agora. Porém, somado ao dia péssimo que teve, não era surpresa alguma ela, no mínimo, ficar irritada. Parecia que todos aos seu redor queriam saber o melhor para a sua vida mais do que ela mesma.
Tudo o que ela menos precisava no momento, era um olhar julgador.
Enquanto Mayumi caminhava para longe do hospital, em frente ao local, Suna manobrava seu carro em uma vaga e ligava para o número de Akaashi pela terceira vez. O moreno bufa dentro do veículo depois de novamente a chamada ter caído na caixa postal e olha para o prédio já com as luzes apagadas, acompanhando uma silhueta perto da entrada, supondo que era Keiji já lhe esperando.
Assim que a figura começa a se distanciar para o sentido oposto, Rintarou sai do carro e caminha rapidamente até a pessoa que, em poucos segundos, percebe ser Mayumi.
ㅡ Docinho? ㅡ chama, fazendo-a se virar quase instantaneamente na sua direção com o cenho franzido.
ㅡ RIn? O que você…?
ㅡ Mayumi, espera! ㅡ a voz de Alex interrompe a fala da garota e o mesmo logo se aproxima.
ㅡ Eu esqueci algo no hospital? ㅡ ela perguntou, tombando a cabeça para o lado, enquanto Suna se move para o seu lado, ficando frente a frente com Alex.
ㅡ Ah, não. Eu só ia pedir desculpas de novo. Não queria que você ficasse ofendida com o que eu disse ㅡ explicou calmamente, olhando para o moreno a sua frente com mais atenção ㅡ Espera… Você é o Rintarou, né? Ex da Ayla?
ㅡ Sou…? ㅡ arqueou uma sobrancelha, pondo suas mãos no bolsos da calça social preta.
ㅡ Ah… Agora entendi ㅡ ele alternou o olhar entre Mayumi e Suna ㅡ Vocês estão juntos e por isso ficou tão chateada com o que eu disse.
ㅡ Garoto, vai se fuder! ㅡ brandou irritada ㅡ Se eu quiser dar para a porcaria da metade do campus, eu dou! Não ligo para a sua opinião e para a de ninguém. Vai cuidar da sua vida, porra!
A rosada vira na direção que estava seguindo antes de Rintarou lhe interromper e segue o caminho a passadas largas, com uma carranca no rosto e a raiva lhe dominando por completo. Que dia de merda. Tudo estava conspirando contra ela. Kuroo com sua superproteção extrema; Giancarlo com sua cobrança doentia; Alex com sua completa falta de noção; e por fim, ela mesma, com sua mania de sempre guardar tudo para si e de uma hora para outra, explodir.
Tudo o que Mayumi menos queria no momento era alguém com ela, porque no fundo sabia que iria descontar todos os seus problemas nessa pessoa. Porém, indo contra tudo o que ela implorava mentalmente para acontecer, meio segundo depois, a garota sentiu uma mão sobre seu ombro e a figura de Suna surgiu na sua frente, impedindo que ela continuasse seu trajeto.
O moreno não tinha a menor noção do que estava acontecendo, mas pelas poucas vezes que esteve com Mayumi, nunca havia visto ela se referir a ninguém com tanto grosseria, nem mesmo com Ayla que já tinha xingado a rosada na frente da mesma e por isso, sabia que tinha algo errado.
Suna conhecia Alex muito bem. O garoto havia trabalhado com sua namorada por meses no projeto do hospital beneficente e sabia que eles eram muito próximos. Ou seja, no fundo, Rintarou tinha a suposição que o quer que Alex tivesse dito a Mayumi que a deixou nesse estado, era culpa dele.
ㅡ Espera, docinho ㅡ pediu calmamente ㅡ O que ele fez? Quer uma carona? Meu carro está ali e-
ㅡ Eu quero que você saia da minha frente e me deixe em paz ㅡ respondeu irritada, quase alterando seu tom de voz ㅡ Se a sua namorada não fosse lunática e não tivesse postado aquelas fotos-
ㅡ Ele disse algo para você sobre as fotos? ㅡ a interrompeu, olhando para trás e procurando Alex ㅡ Eu vou matar aquele filho da puta… O que ele disse? Mayumi eu-
ㅡ Me deixa em paz, caralho! ㅡ berrou, fechando os olhos para impedir que qualquer lágrima caísse ㅡ Me deixa em paz, Rin.
ㅡ Mayumi- ㅡ chamou, tentando pegar em sua mão.
ㅡ Não ㅡ se afastou ㅡ Eu já disse, me deixa em paz.
A cena se repete. As mesmas palavras que Mayumi disse para Kuroo, são ditas para Suna. Os sentimentos também são os mesmos, não pela forma como trata o moreno em questão, mas porque tudo parece tão pesado para se lidar que por mais que tente, nada parece ser o bastante.
Ela dá as costas e caminha para longe. Sua cabeça dói e a mente gira, desgovernada. Porém, a lembrança do seu arrependimento pela forma como tratou Tetsurou volta e dá o lugar a certeza do arrependimento futuro que terá em relação a Rintarou.
Ele não tem culpa dos seus problemas. Ele não é uma saco de pancadas para que ela possa descontar suas raivas e frustrações. Ninguém é. Por isso, menos de dez segundos depois, Mayumi se vira na direção do moreno que ainda a encara e passa a mão pelo rosto. Suna se aproxima da mesma e põe a mão em seu ombro, esperando que ela diga algo, mas o silêncio permanece.
ㅡ Vamos, eu te levo.
ㅡ Não precisa. Eu... ㅡ suspira ㅡ só queria pedir desculpa e-
ㅡ Mayumi, vem ㅡ chamou, puxando-a.
Os dois caminham calmamente juntos na direção do carro do moreno. Ele abre a porta do passageiro e espera que ela entre antes de fechá-la, dá a volta para o outro lado e adentra o veículo. Mayumi suspira incomodada, olhando o lado de fora pela janela do carro, enquanto Rintarou dá a partida e manobra pelas ruas aos arredores da universidade.
ㅡ Você parece estressada e eu tenho culpa nisso ㅡ diz, sem tirar sua atenção da estrada ㅡ Só vou te levar em um lugar que sempre me acalma.
ㅡ Rin, eu já disse que-
ㅡ Chega disso, docinho ㅡ a interrompe ㅡ Nada do que você disser vai fazer eu parar esse carro, então poupe suas palavras.
Ela tomba a cabeça para o lado, enquanto um sorriso leve surge em seu próprio rosto, e diz: ㅡ Muy molesto, gatito.
A risada de Suna, contagia o pequeno espaço. Ele segue pelas ruas sentindo o clima entre os dois menos tenso e percebe que Mayumi o acompanha nessa percepção. O moreno movimenta o volante e troca marcha, estacionando o carro novamente, só que agora eles estavam em frente a biblioteca da universidade. Os dois saem do carro e Mayumi observa o lugar, antes de olhar para ele com uma sobrancelha arqueada e um sorriso ladino.
ㅡ A biblioteca te acalma?
ㅡ Não ㅡ ri, maneando a cabeça negativamente ㅡ Ali.
Suna aponta para o lado oposto e a rosada se vira na direção contrária, dando de cara com a Sather Tower, a torre do relógio que havia na U.C. Berkeley e fôra construída graças às doações de ex-alunos da universidade. O lugar era aberto durante o dia para visitas de turistas e estudantes. Bokuto já havia elogiado a vista que se conseguia ter do último andar inúmeras vezes, mas durante esses três anos, Mayumi nunca havia ido ali.
Enquanto ela observava o exterior do lugar, Rintarou caminhou calmamente para a lateral do mesmo, movimentou um trinco de uma porta de emergência quatro vezes, a empurrou para frente e logo depois fez um pequeno esforço para cima, abrindo-a em seguida. Ele chamou a garota com um pequeno assobio, fazendo-a acordar do transe e ir em sua direção. Mayumi seguiu pelas escadas que a porta dava acesso, até o elevador industrial do local, onde Suna seguiu na frente e subiu a grade do mesmo.
Os dois entraram no pequeno espaço e o moreno apertou o último botão, o qual acendeu com uma luz vermelha. Poucos segundos se passaram até os que dois parassem em frente ao andar mais alto da torre do relógio, onde a vista do campus e de Berkeley eram simplesmente indescritíveis.
As estrelas pintavam o céu negro, deixando a noite ainda mais linda. As luzes da cidade se destacavam, enquanto os prédios da universidade estavam mais apagados pela falta iluminação. A brisa fria lambe a pele de Mayumi, que observa atentamente a vista que a encanta mais a cada segundo. Não há um único barulho; absolutamente nada. O silêncio é tão agradável que por um momento, a garota se esquece que Suna está ao seu lado.
ㅡ Aqui acalma, não é? ㅡ ele diz, se apoiando no batente da vasta janela ㅡ Sempre que eu fico com a cabeça cheia, venho aqui.
ㅡ É… Essa vista deve ajudar muito ㅡ diz calmamente ㅡ Você tem cigarro?
ㅡ Tenho ㅡ ele retira do bolso um maço de cigarro e um isqueiro, entregando para a garota ㅡ Sorte sua que eu tive um dia cheio e andei com isso o tempo inteiro.
ㅡ Trabalho? ㅡ pergunta, acendendo o isqueiro e encostando o fogo na ponta do cigarro, tragando uma vez ㅡ Ou namorada?
ㅡ Um pouco dos dois, mas o problema é com ex-namorada ㅡ corrige.
ㅡ Ainda nessa? Achei que já tivesse partido para outra.
ㅡ Pois é ㅡ riu sem graça.
Mayumi olhou de soslaio para Suna por alguns segundos, tragou o cigarro até que o mesmo acabasse e retirou outro do maço, mantendo um silêncio agradável entre os dois. O moreno encarava a garota vez ou outra, pensando em como iria perguntar sobre o que havia acontecido, mas não queria força-la a algo e por isso, decidiu falar sobre os seus problemas para que a mesma se sentisse à vontade.
ㅡ Meu dia começou com uma mensagem do professor da Ayla no celular dela marcando um encontro ㅡ coçou a nuca sem graça ㅡ Ela foi até o meu apartamento ontem e acabou rolando.
ㅡ Sabe que você não é o primeiro e nem vai ser o último a ter uma recaída com ex, não é? ㅡ comentou em um tom irônico ㅡ A sensação é uma merda quando você para e pensa, principalmente quando o motivo do término foi o do seu, mas faz parte.
ㅡ Você é primeira pessoa que não me chamou de burro, otário e corno manso por conta disso.
ㅡ Soy única, gatito ㅡ sorriu, dando uma piscadinha para o moreno.
Suna riu com a garota, olhando-a por alguns segundos. Ela realmente havia sido a primeira que não tinha o criticado pelo o que aconteceu na noite passada. Não que seus amigos não tivessem a total razão de chamá-lo de tudo o que o chamaram, mas o que ele menos precisava era de mais pessoas prontas para criticá-lo e julgá-lo.
Ele olhou por mais algum tempo para a garota, analisando cada detalhe do rosto angelical. Definitivamente, Mayumi é linda. Os fios rosa se remexiam de acordo com a força da brisa, os olhos escuros estavam iluminados e um pequeno sorriso contaminava seus lábios carnudos que continham um cigarro entre eles.
ㅡ Meu ensaio foi uma merda ㅡ a garota murmurou ㅡ Estava com a cabeça cheia e não consegui me concentrar. Errava passos bobos e quando fazia a coreografia até o final, Giancarlo dizia que parecia que eu estava sendo obrigada a dançar e de certa forma, eu sentia assim.
ㅡ Como assim? Se você acertava os passos, ele não deveria reclamar.
ㅡ Dançar não é só uma sequência de passos, Rin. Não mesmo ㅡ o sorriso de Mayumi se iluminou ㅡ A dança é a arte que usa os movimentos do corpo para expressar algo a mais. É a mais completa das artes, porque envolve elementos artísticos como a música, o teatro, a pintura e a escultura, sendo capaz de exprimir tanto as mais simples quanto as mais fortes emoções ㅡ ela olha para Suna e suspira ㅡ A dança para mim é como respirar. Então, eu sempre me entrego de todas as formas e nunca parece que foi algo ensaiado e sim, algo que vem de dentro… Algo profundo.
O moreno encara a garota por tanto tempo que a mesma acaba gargalhando pela sua expressão surpresa. Rintarou havia ficado sem palavras, porque como o seu pai dizia, ele sempre foi muito prático. As coisas se resolvem facilmente usando a lógica como base e até por isso, Ren deixava claro que o filho nunca conseguiria aprovar uma nova voz para gravadora, porque para ele cantar é cantar e só. Não existe nada por trás. É só afinação e ritmo.
Agora, com uma visão completamente sentimental sobre algo que ele considerava simples, Suna conseguia ter noção do que seu pai sempre falou. As pessoas que apareciam na gravadora queriam ser cantores para serem famosos e não porque amavam cantar. Mayumi não queria ser dançarina pelo reconhecimento e sim porque amava aquilo. Essa era a diferença que Ren sempre pediu ao filho para prestar atenção, mas que o mesmo nunca havia conseguido.
ㅡ Meu velho pensa do mesmo jeito que você, só que é em relação ao canto ㅡ diz, após um longo suspiro ㅡ Ele sempre disse que eu sou prático demais para as coisas e que esse tipo de sentimento passa despercebido por mim. Esse amor pelo o que a pessoa faz, entende? É bonito ver você falar sobre dançar.
ㅡ Com o que o seu pai trabalha?
ㅡ Ele é dono da gravadora Rab Music. Eu trabalho lá na parte administrativa, acabo sempre ficando nas partes burocráticas mesmo e deixo que ele cuide das escolhas dos artistas.
ㅡ Por que você já sabe que ele não vai aprovar a pessoa que escolher, não é?
ㅡ Sim ㅡ concorda, rindo frustrado ㅡ Hoje mesmo tentei dar um palpite e ele quase comeu meu fígado.
ㅡ Talvez nunca tenha aparecido alguém que cante com paixão para que você perceba a diferença, gatito. Pode acreditar, você percebe na hora.
ㅡ Espero que quando aparecer, eu saiba disso. Ele só complica tudo e deixa ainda mais pesado qualquer erro meu.
ㅡ Vocês não tem uma boa relação?
ㅡ Fora da gravadora nossa relação é incrível, mas lá ㅡ ele põe as mãos no rosto e as esfrega com força ㅡ Não tenho nem como definir.
ㅡ Eu super te entendo… Sério.
Suna encara Mayumi, e enquanto cogita perguntar sobre a relação da mesma com os pais, lembra que a rosada havia dito que não mantinha contato com estes quando ele a levou até seu apartamento no sábado, ou seja, poderia ser um assunto delicado. Tudo o que o moreno menos queria no momento era estragar o clima agradável, que mesmo falando sobre os problemas dos dois, ainda sim estava leve.
Ele acompanhou os movimentos dela quando a mesma buscou outro cigarro e o acendeu. Já era o quarto no pouco tempo que estavam ali conversando. Rintarou havia percebido o quanto Mayumi usa drogas e que o cigarro é o mais leve que ele já tinha visto com ela, mas ainda sim, trazia um certo desconforto pela lembrança que lhe remetia.
ㅡ Discuti com um amigo antes do ensaio começar ㅡ a voz dela ressou, tirando-o dos seus pensamentos ㅡ Sou meio inconsequente e tenho meus problemas pessoais, isso acabo gerando uma preocupação meio paranóica do Kuroo e do Bokuto.
ㅡ Vocês são muito amigos, né?
ㅡ 'Pra caralho ㅡ ela sorriu ㅡ Sou muito grata por tudo o que a gente já passou juntos, mas às vezes esse cuidado me sufoca. Parece que eu vou ser julgada por cada passo que eu dou e quando eu percebo, acabo explodindo e falando o que não devo.
ㅡ Guardar tudo para si é o que fode a gente ㅡ suspira ㅡ É por isso que desconta tudo nisso aí ㅡ aponta para o cigarro.
ㅡ Essa merda é a única coisa que consegue me fazer esquecer um pouco dos problemas ㅡ ela mexe a cabeça em negação ㅡ Sei que é uma alternativa que tem muito risco, mas na hora você nem pensa.
ㅡ Sei como é ㅡ concorda ㅡ Meu tio era atleta e foi pego no doping. Isso acabou com ele de todas as formas.
ㅡ O que ele fazia?
ㅡ Ele era jogador de vôlei ㅡ sorriu com a lembrança do mais velho ㅡ Ele que me ensinou a jogar e assistiu alguns dos jogos do Inarizaki quando eu estava no ensino médio. Ele foi do mesmo time quando tinha a minha idade na época dele.
ㅡ O que houve com ele?
ㅡ Depois disso, ele acabou sendo expulso da liga e entrou em depressão. A esposa acabou se separando por conta dos filhos e ele se afundou nas drogas e na bebida ㅡ suspirou ㅡ Passou quase três anos limpo e teve uma recaída. Morreu alguns meses depois da minha formatura.
ㅡ Por Dios, Rin ㅡ ela põe uma mão no ombro do moreno ㅡ Meus pêsames. Você deve ter sentido muito com isso… Lembro que adorava jogar vôlei.
ㅡ Sim, eu gostava ㅡ sorriu ㅡ Mas isso foi a muito tempo, tá tudo bem.
ㅡ Isso deve te incomodar ㅡ apontou para o cigarro.
ㅡ Não… Eu mesmo uso as vezes e sempre tem nas festas que a gente vai. Acabo só evitando em um todo, às vezes lembrar é inevitável.
Mayumi analisa por alguns segundos Suna, antes de jogar pelas vasta janela que estão apoiados o cigarro que tinha em mãos, em seguida o maço e o isqueiro. O garoto olha para a outra confuso e a mesma gargalha alto, antes de dizer:
ㅡ Não vou usar mais nada na sua frente, gatito. Não gosto de pessoas tristes e no quiero ver esa cara bonita hacia abajo ㅡ diz, piscando em seguida para ele.
ㅡ Não precisa disso, docinho. Se você gosta-
ㅡ Cállate ㅡ o interrompe, pondo o dedo nos lábios do outro ㅡ Estou agradecendo. Você não tem a menor responsabilidade por nada que a sua ex fez ou o que alguém fala sobre mim, mesmo que envolva as fotos que aquela lunática tirou. Não tinha o porquê me trazer aqui e me escutar.
ㅡ Você também me escutou, sendo assim, tenho que agradecer também.
ㅡ Sí, somos buenos oyentes.
Os dois acabam rindo um do outro. Mayumi vira de costa para a janela e apoia os cotovelos no batente, deixando sua cabeça para fora e os fios compridos balançando sob o vento. Suna a observa com um sorriso de lado, antes de se aproximar e pôr uma mão na cintura da garota, chamando sua atenção.
ㅡ Está ficando tarde, é melhor a gente ir.
Mayumi acompanha o moreno até o elevador e ambos descem pelo mesmo, logo indo até a escada e saindo do prédio. Rintarou fecha a porta por onde entraram e ambos seguem até o porsche cayman estacionado em frente a Sather Tower, adentram o veículo, que logo parte em direção a fraternidade da rosada.
ㅡ Algum dia dessa semana você está livre?
ㅡ Sábado vai ter uma festa lá na Hidden, tenho que comparecer ㅡ diz pensativa ㅡ Durante a semana tenho ensaio até tarde, não sei se é um bom horário. Por que?
ㅡ Só curiosidade.
ㅡ ¿Estás a la altura, gatito? ㅡ pergunta desconfiada.
ㅡ Nada, docinho ㅡ diz, movendo o volante para a esquerda e mudando a marcha ㅡ Gosto de conversar com você.
ㅡ Só conversar, é?
ㅡ Não mesmo ㅡ sorri ladino, a olhado de soslaio ㅡ Você não tem nem ideia do que eu mais gosto de fazer com você. É uma pena que hoje seja um péssimo dia para te mostrar.
ㅡ Você tem o meu número, gatito.
ㅡ Vou usar ㅡ diz, manobrando o carro para a vaga em frente a Hidden ㅡ Chegamos.
ㅡ Obrigada pela carona e ㅡ ela sorri ㅡ Por todo o resto. Buenas noches, gatito.
ㅡ Obrigada também, docinho. Boa noite.
Mayumi se aproxima do moreno e deposita um beijo em sua bochecha, sai do carro com sua bolsa e sapatos em mãos. Ela segue direção a fraternidade, mas antes de passar pela entrada, vira-se na direção de Suna e acena para o mesmo, sentindo uma sensação gostosa no peito.
Assim que a rosada some da vista do outro, Rintaou segue para fora da universidade, em direção ao seu apartamento, com um sorriso no rosto e, assim como Mayumi, uma sensação gostosa no peito.
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hi sushines, gostaram do capítulo?
gente, algumas meninas fizeram um server no discord pra falar sobre fanfic em geral, brincadeiras, jogos e tudo o que vocês imaginarem. lá vai ter um canal específico pra cada autora, inclusive eu! então pra quem quiser entrar, conversar e interagir, tem o link na minha bio e também do meu mural.
bom, me desculpem pela demora na atualização. eu realmente não tava num tempo muito bom pra fazer absolutamente nada, principalmente escrever e como já deixei bem claro várias vezes, eu não gosto de atualizar simplesmente por atualizar. até porque todo capítulo tem algo já planejado pra acontecer e se eu fugir da linha de raciocínio acaba quebrando o desenvolvimento.
depois de todo esse tempo, eu espero que a atualização tenha compensado como eu prometi há três meses atrás. a atualização do capítulo foi muito mais feliz do que dos últimos e os seguintes também vão ser mais leves. eu espero que vocês gostem dessa fase mais boazinha da fanfic e que estejam gostando.
um beijão e até a próxima ‹3
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