41. O último recurso.



Aurora esperou pela chegada de Bella por horas, pacientemente, sentada no banco do motorista do carro de Jasper no estacionamento do parque. Um pouco depois do pôr do sol, ela avistou a cunhada chegar pela outra ponta do estacionamento, no Audi prata, e estacionar um pouco longe. Bella não demorou muito para lhe ver também, e caminhou na direção do carro, silenciosamente abrindo a porta e se sentando no lado do passageiro.

— Cadê o Jasper? — Bella estranhou a ausência do ex-major, considerando que era quase impossível imagina-los longe um do outro, principalmente na atual situação.

— Ele está me esperando em outro lugar. — Aurora soprou calmamente enquanto dava a partida e arrancava com o carro para a avenida. — Sabe, para o caso de ter um leitor de mentes por perto.

Bella poderia pensar que Aurora estava tirando sarro, o que não seria surpreendente, mas o tom seco em contraste com a expressão séria não deixou dúvidas: ela não estava brincando agora.

— O que é tão ruim que o Edward não pode saber?

Aurora lançou em Bella um olhar descrente, rindo brevemente pelo nariz antes de voltar os olhos para a estrada.

— Sem joguinhos nesse carro, Bella. Somos só nós duas aqui, e você sabe bem a resposta para sua pergunta. — A ruiva declarou seriamente. — Alice te deixou uma mensagem, não foi?

Bella hesitou, silenciosamente ponderando se devia falar sobre isso. Talvez Alice não quisesse que mais ninguém soubesse, nem mesmo Aurora, e por isso havia deixado a única pista em sua casa.

A ruiva pareceu adivinhar os pensamentos de Bella, porque suspirou cansada, enfiando a mão no bolso e puxando a pequena chave de bronze até a altura do rosto, balançando-a suavemente no ar.

— Eu sabia que já tinha visto isso em algum lugar. — Aurora disse. — Abre um cofre antigo no escritório da minha casa. — Explicou calmamente. — Alice guardou uma coisa lá, e me deixou a chave porque sabia que eu entenderia o que precisa ser feito. — Ela fitou Bella brevemente, satisfeita com a expressão de entendimento no rosto da recém-criada. — Edward não pode ler nenhuma de nós duas, e talvez Aro também não.

— Então Alice nos deixou um plano b. — Bella acenou com a cabeça enquanto um sorriso sem humor surgia em seu rosto. — Não me surpreende.

— Na verdade, ela deixou mais de um plano, eu suponho. — Aurora ponderou, apontando o porta-luvas com uma mão. Bella franziu o rosto, mas o abriu, deixando um pequeno bilhete cair em seu colo. Era a letra esculpida de Alice, em uma folha de papel pardo.

Você é o destino, Aurora.
E vai entender isso na
hora certa.

— E posso adivinhar que essa seja a hora certa. — Bella concluiu. Aurora assentiu em confirmação .

— Eu contei o que descobri. — Aurora declarou simplesmente. — Sua vez.

Bella suspirou, mas acenou em concordância.

— Um nome. J. Jenkins. — Respondeu a Cullen. — E um endereço.

Aurora franziu as sobrancelhas, dentes trincados enquanto observava a estrada, ela apenas murmurou algo ininteligível até mesmo para vampiros, e pisou fundo no acelerador.

— Então, vamos encontrá-lo. — Sem dizer mais nada, Bella decidiu esperar para descobrir o fim disso, apesar de ter muitas perguntas. Porque, naquele instante, Aurora parecia ter tão poucas respostas quanto ela.



Aurora saltou graciosamente do carro, seus saltos vermelhos mal fazendo barulho no chão enquanto o sobretudo preto farfalhava atrás de seu corpo. Bella a seguiu para dentro do prédio. Diferente do primeiro endereço, esse aprecia mais amigável e formal, em seus tons de bege e verde, não havia nenhum cheiro de vampiro por perto, e Bella sentiu que podia relaxar um pouco.

Aurora manteve o olhar indecifrável no rosto enquanto caminhava, e sua postura e aparência impecáveis pareciam impossíveis até mesmo nos padrões sobrenaturais. Havia algum tipo de ameaça oculta na delicadeza da vampira ruiva, e Bella podia perceber isso melhor agora que seus sentidos eram mais apurados que os de humanos comuns.

— Olá. — A recepcionista loira e bonita cumprimentou as duas com um sorriso. — Como posso ajudar?

Aurora sorriu docemente, um brilho amável tomando seu rosto instantaneamente, como se nunca estivesse desconfiada e tensa antes. Bella notou a postura da recepcionista relaxar sutilmente, como se já conhecesse Aurora há séculos.

— Olá, querida. — Aurora cumprimentou de volta. — Estamos procurando pelo Sr. Scott.

— Vocês marcaram hora?

— Não exatamente. — Bella respondeu.

A recepcionista sorriu amarelo.

— Ele pode demorar um pouco...

Aurora delicadamente a interrompeu, sem perder o sorriso gentil:

— Pode apenas avisar que estamos aqui? — A ruiva pediu. — Ele pode querer saber. — Bella viu a recepcionista curvar os ombros em algum tipo de submissão estranha, e assentir incisivamente.

— Claro, sem problemas. — Ela puxou o telefone, e Bella viu Aurora sorrir com sutil satisfação.

Por um momento, Bella imaginou como qualquer um dos vampiros em sua casa reagiria diante da influência de Aurora. Ela se perguntou se a ruiva também os coagiria a fazer suas vontades, ou se todos se encantariam o suficiente por ela para lhe seguir sem nem questionar.

— Sr. Scott, duas senhoras estão aqui para vê-lo... — Ela fez uma pausa, se voltando para Aurora e perguntando suavemente: — desculpa, como se chama?

— Whitlock. — Respondeu a ruiva. — Aurora Whitlock.

— A Srta. Whitlock... — A loira mal terminou de dizer o sobrenome, e um grito se fez presente na outra linha, quase desesperado:

— Por que a fez esperar? — Aurora franziu as sobrancelhas, ligeiramente preocupada com a tensão e estresse na voz do homem. — Mande-a entrar imediatamente!

— Já vai, Sr. Scott. — Ela ficou de pé, balançando as mãos enquanto as guiava pelo pequeno
corredor, oferecendo café, água ou qualquer outra coisa que as mulheres pudessem querer.

Aurora recusou educadamente, o que claramente fez a mulher relaxar de novo.

— Sutileza. — Bella sussurrou em um tom que apenas Aurora ouviria. A ruiva a olhou, e riu, negando com a cabeça.

Era óbvio que Aurora estava se divertindo em encantar qualquer um que ela pudesse para obter suas respostas. E, pelo rumo que iam as coisas, Bella podia supor que a recepcionista não seria a última.

— Aqui está. — Ela disse quando as colocou para dentro de um grande escritório, com uma aparência luxuosa e clássica.

— Feche a porta. — A voz que ordenou era ruidosa e grave. Aurora observou o homem atrás da pesada mesa de madeira. Ele era baixo e meio
calvo, provavelmente tinha em torno de cinquenta e poucos anos, vestia uma gravata vermelha com uma blusa listrada de azul e branco, seu terno azul marinho colocado atrás de sua cadeira.

O que mais chamou a atenção de Aurora era que ele estava tremendo, esbranquiçado numa cor pastosa, suor escorrendo pela sua testa. Ele estava nervoso, e sua aura reluzia medo e hesitação enquanto fitava as duas mulheres.

Aurora se aproximou primeiro, o sorriso já invisível em seu rosto agora impassível e neutro. J recobrou-se e se levantou de sua cadeira, esticando sua mão na direção da ruiva.

— Srta. Whitlock. Que prazer.

Aurora agarrou a mão dele com firmeza, e até um pouco de força extra que estralou seus ossos. Ele estremeceu, e não se sabe se foi pela dor, ou pela temperatura glacial da pele de Aurora.

Honestamente, ele não parecia surpreso quanto a isso.

— É senhora, na verdade. — Aurora corrigiu suavemente. — Senhora Whitlock. — Ele tremeu de novo.

— Estou conhecendo a adorável esposa do Sr. Jasper? — Aurora franziu as sobrancelhas lentamente. O homem conhecia Jasper, não Alice. Conhecia, e parecia ter medo dele.

— Certamente. — Afirmou com um sorriso que não passava de educado. — E eu devo te chamar de Sr. Jenkins, ou prefere Sr. Scott?

Ele engoliu em seco o bolo em sua garganta, como se desejasse sufocar com ele antes de precisar encarar Aurora.

— Como a senhora quiser.

— Então, vou chamá-lo de J, e você pode me chamar de Aurora.

— Como velhos amigos. — Ele concordou, passando um lenço em sua testa.

— Essa é minha cunhada, Bella Cullen. — Ela gesticulou para a morena, que estendeu a mão para o homem.

Jenkins a cumprimentou de volta, cada vez mais pálido. Ele gesticulou para que se sentassem. Apertando os lábios, ele parecia tão desesperado por respostas quanto as duas vampiras.

— Acredito que o Sr. Jasper esteja com boa saúde? — Ele perguntou cuidadosamente, olhar hesitante sobre a ruiva incrivelmente bonita e séria. Ela sorriu brilhantemente, e Bella sentiu novamente a aura de encanto adornando o cômodo.

— Perfeitamente. — Ela respondeu. — Ele teve um compromisso inadiável. — Mentiu Aurora.

Isso pareceu desfazer um pouco da confusão de J. Ele concordou e tamborilou os dedos.

— Nesse caso, vocês deviam ter vindo ao meu escritório principal. Meus assistentes deviam tê-las mandado diretamente para mim, sem precisar passar por canais desagradáveis.

— Não se preocupe. — Aurora riu suavemente, abanando o ar com a mão. — Foi uma aventura interessante. — Mentiu novamente, e Bella precisou prender uma risada ao se lembrar como Aurora esteve irritada horas antes, quando o primeiro endereço as mandou para uma pista falsa.

— Ah, bem, estão aqui agora. O que eu posso fazer por vocês?

— Papéis. — Bella disse, tentando fazer com que a sua voz parecesse ter certeza do que estava falando. Aurora apenas sustentou o olhar de J.

— Certamente. — J concordou. — Nós estamos falando de certidões de nascimento, de óbito, carteiras de motorista, passaportes, cartões de seguro social...?

Bella respirou fundo e sorriu. Mas Aurora suspirou, e desviou o olhar para o tampo da mesa. Alice tinha suas motivações por trás de todas as pistas que deixou, tal como a pista em seu cofre, ou aquela com J. Jenkins. Todas elas tinham apenas uma coisa em comum: proteger James e Nessie.

Ela olhou para Bella, acenando quase imperceptivelmente com a cabeça, uma sinalização muda da única resposta possível. E então, o sorriso de Bella se apagou, compreendendo o significado daquilo.

James e Nessie não precisariam desses documentos se fossem fugir com seus pais.

O coração de Aurora pesou com a única verdade que ela teve medo de encarar. Eles não poderiam vencer. Toda a esperança de Bella se dissipou como um nevoeiro à luz do sol, e seus olhos petrificaram.

Aurora ergueu o queixo, a expressão não passando de uma pedra fria de mármore, a temperatura ambiente parecia cair notavelmente conforme ela ficava cada vez mais séria.

— Três certidões de nascimento, três passaportes e uma carteira de motorista. — Ela disse num tom baixo e forte.

Se Jenkins notou a mudança em sua expressão, ele fingiu que não.

— Os nomes?

— Jacob... Wolfe. — Bella disse. — E... Vanessa Wolfe. — Nessie parecia ser um apelido legal pra Vanessa. Jacob reclamaria por causa do Wolfe.

— Jay Wolfe. — Aurora declarou simplesmente, incapaz de se desfazer do apelido de seu filho.

A caneta dele escorregou pela pelo bloco.

— Nomes do meio?

— Coloque apenas esses. — Bella respondeu.

— Se você prefere. Idades?

— Vinte e sete pro homem, cinco para a garota, dois para o garoto. — Aurora declarou. Jacob poderia passar por vinte e sete, levando em conta que ele era enorme. E na velocidade que Renesmee estava crescendo, era melhor colocar mais. O quileute poderia se passar por padrasto das crianças.

— Eu vou precisar de fotos se você quiser os documentos prontos. — J disse. — Sr. Jasper geralmente gosta de terminá-los ele mesmo.

— Espere. — Bella disse, puxando sua carteira da bolsa. A foto era perfeita. Jacob segurava Renesmee na frente de casa, apenas um mês atrás. Alice tirou ela alguns dias antes de... sumir. — Aqui está. — Ela voltou o olhar para Aurora, preocupada. — Eu não tenho fotos do James.

Aurora pareceu perder o fôlego um pouco, olhos brilhando em lágrimas que ela não derramaria, antes de levar a mão ao pescoço e tocar seu relicário sob a blusa. Ela puxou o objeto, abrindo e tirando a foto em uma das duas aberturas, na outra Bella viu o relance de uma foto de Jasper.

A ruiva deslizou a foto de seu filho sobre a mesa, parecendo quebrar um pouco enquanto o fazia. J examinou a foto.

— Seu filho? — Aurora concordou com um aceno fraco. — Ele se parece com o senhor Jasper.

— Doce como a mãe. — Bella comentou casualmente, e Aurora sorriu de canto.

— Em quanto tempo vão precisar dos documentos? É um pedido bem grande. Vai custar o dobro... — Ele recomeçou, a caneta voltando a fazer anotações. — perdoem-me. Eu esqueci com quem estou falando.

Claramente, ele conhecia Jasper. Aurora quase riu disso, mas se contentou em inclinar o queixo ligeiramente em um gesto despreocupado.

— Apenas me dê um número.

Ele pareceu hesitante em dizer aquilo alto, embora Aurora tivesse certeza que, trabalhando para Jasper, ele devia saber que preço não era importante. Nem mesmo levando em consideração as várias contas bancárias que os Cullen tinham pelo mundo em seus vários nomes, havia dinheiro suficiente pela casa que manteria um pequeno país por uma década. Além disso, a fortuna dos White teoricamente não estava muito distante também.

J escreveu o preço no final do bloco. Bella concordou, calmamente. Ela abriu a bolsa e contei a quantia, que tinha separada em montes, então não levou muito tempo.

— Aqui.

— Ah, Bella, você não precisa me dar toda a soma agora. É de costume que você pague metade na entrega.

Ela sorriu palidamente para o homem nervoso.

— Mas confiamos em você, J. Além disso, eu vou ter dar um bônus. — Explicou. — O mesmo quando pegarmos os documentos.

— Não é necessário, te asseguro.

— Não se preocupe, não será um incômodo. — Aurora afirmou. — Então, Bella te encontrará na semana que vem, na mesma hora?

Bella franziu o rosto, confusa. J lançou um olhar dolorido.

— Na verdade, eu prefiro fazer esse tipo de transação e lugares não relacionados aos meus variados negócios.

— Claro. — Aurora concordou. — Lamento por essa situação, J. Tenho certeza que não estamos fazendo as coisas como você esperava.

— Eu costumo não ter expectativas em se tratando dos Cullen. — Ele fez uma cara sofredora e então recompôs seu rosto de novo. — Poderíamos nos encontrar às oito daqui uma semana no Pacifico? É em Union Lake, e a comida é muito boa.

— Perfeito. — Bella concordou.

Aurora levantou e segurou sua mão de novo. Dessa vez ele não estremeceu. Sua boca estava rachada, suas costas tensas. Ele provavelmente cairia sobre os joelhos em algum momento quando a presença de Aurora não estivesse mais lhe sufocando.

— Você vai ter algum problema com o prazo? — A ruiva questionou, genuinamente curiosa.

— O que? — Ele piscou, verdadeiramente afetado pela pergunta. — O prazo? Oh, não. Não se preocupe. Eu vou ter os seus documentos prontos em tempo.

— Então eu te vejo em uma semana. — Bella também apertou a mão de J, antes que as duas se retirassem do cômodo.

Bella franziu os lábios, suavemente esbarrando no braço de Aurora enquanto andavam.

— O que quis dizer com aquilo? — Ela perguntou, meio perdida. — Você não vai comigo encontrá-lo?

Aurora suspirou, guardando as mãos nos bolsos do casaco enquanto negava com a cabeça.

— Em uma semana eu já estarei do outro lado do oceano, Bella. — Respondeu simplesmente.

— Isso é parte do plano?

— Esse é o plano b. — Aurora afirmou seriamente. — Se eu falhar, os Volturi vão até vocês. Se vocês falharem, eles vão atrás das crianças. Essas identidades, isso que fizemos aqui, são o último recurso. — A ruiva parecia dolorosamente incerta agora, e foi quase sofrível assistir seu medo.

— Se você falhar... — Bella franziu o rosto, visivelmente juntando as peças em sua cabeça. Ela quase saltou de susto quando compreendeu o significado daquilo. — Você está indo para Volterra?

Aurora apertou os lábios, silenciosamente olhando para Bella com um olhar ressentido, mas fulminante.

— De uma forma ou de outra, vamos acabar com isso.

— Aurora...

— Quer saber o que Alice guardou no cofre? — Essa pergunta desarmou Bella, que sentiu a curiosidade ser maior do que o pânico daquele momento. A morena suspirou, silenciosamente gesticulando para que a ruiva prosseguisse, e foi o que ela fez: — O presente de Aro.

— A coroa? — Aurora assentiu. — Certo, mas o que isso...?

— Rei ou não, eu nunca me curvaria a Aro. — Aurora contou calmamente. — Sabe quem não se curva a um Rei, Bella? — Bella negou com a cabeça, ansiosa pela resposta. — Deuses.







Só pra avisar que Sunrise já está disponível no meu perfil com o capítulo de elenco. E eu espero que gostem, porque eu estou amando esse plot.

E um aviso também:

Sim, a história é narrada pelo ponto de vista do James, em grande parte, e isso não significa que eu vou excluir a participação de outros personagens importantes como Aurora, Jasper, Jackson, etc.

Sunrise é uma passagem entre os acontecimentos de Bright, e o encerramento em Sunset, que será o terceiro livro. Inclusive, Sunrise é relativamente mais curto que Bright.

A intenção desse livro é mostrar as ações e acontecimentos que vão motivar todo o enredo de Sunset. E, sim, era importante que fosse pelo ponto de vista do James.

Sunset será, possivelmente, narrada do ponto de vista de Aurora. Então, não, NÃO estou dizendo ADEUS à Aurora. Nem agora e nem tão cedo. Porque, gostem disso ou não, a jornada dela ainda está longe de terminar.

Então, peço que deem uma chance à Sunrise, e prometo que vão amá-la tanto quanto Bright.

Paz <3

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