30, mostrando as garras

JACQUES ENTROU NO QUARTO de Claire devagar, os passos ecoando levemente no ambiente silencioso. Seu rosto carregava a seriedade de alguém que havia passado horas refletindo antes de tomar uma decisão importante. Talvez a decisão mais difícil de sua vida.

Bonjour — ele disse, sua voz grave mas com certa delicadeza. Jacques não queria mais brigar.

Claire ergueu os olhos rapidamente, surpresa ao vê-lo ali tão cedo, ela esperava que seu pai a ignorasse até que ela sucumbisse a vontade de pedir desculpas a ele. Sempre foi assim.

Papa, hé — respondeu, quase em um sussurro, mas com uma mistura de alívio e incerteza no tom.

Ele suspirou, cruzando os braços enquanto se apoiava levemente no batente da porta.

— Estou indo pra casa... — anunciou, fazendo uma pausa. — Sozinho.

As palavras pairaram no ar por um instante. Claire apertou os lábios sem saber como reagir, mas Jacques prosseguiu antes que ela pudesse responder.

— Olha... — ele hesitou por um momento, como se ainda estivesse organizando os pensamentos. — Conversei com sua mãe e você pode ficar.

Os olhos de Claire brilharam, a surpresa misturada com um toque de esperança e desconfiança. Parecia inacreditável.

— É sério?

Jacques assentiu lentamente.

— É — ele respirou fundo, inclinando-se ligeiramente para frente, como se precisasse dar ainda mais peso ao que estava prestes a dizer. — Só tem um problema. Um problema muito sério.

Claire franziu o cenho, inclinando-se levemente na direção dele. É claro que isso só podia ser uma pegadinha, ele jamais abriria mão do controle assim tão fácil.

— O que seria? — ela pergunta, já temendo a resposta.

Ele sorriu, um sorriso melancólico mas cheio de amor. Apesar de tudo doía no fundo de seu coração deixar sua garotinha ser livre, principalmente longe dele.

— A falta que eu vou sentir de você.

O silêncio que se seguiu foi denso, carregado de emoção. Jacques desviou o olhar por um breve instante antes de encará-la novamente.

— Acima de tudo, quero que você seja feliz. Então vou permitir que você tome suas escolhas, por mais ruins que elas sejam, e que aprenda com elas — sua voz tremeu levemente no final, mas ele se manteve firme. — Você sempre vai ter um lar pra voltar quando precisar dele.

Claire sentiu as lágrimas se acumularem nos olhos, mas sorriu, tocada pela sinceridade do pai. Isso, essa atitude... Era uma coisa que ela jamais tinha esperado receber de seu pai.

Merci — respondeu, temendo dizer mais alguma coisa e acabar desmoronando.

Jacques deu um passo para trás, endireitando-se.

Au revoir, princesse — disse ele, a voz carregando um misto de tristeza e orgulho enquanto saía pela mesma porta pela qual havia entrado.

Ela lamenta não ter nem conseguido abraça-lo.

Claire estava sentada na sala enquanto lia alguns contratos mas na verdade se sentia cada vez mais sonolenta desde o almoço. Marcus entra pela porta da frente um tanto suado mas ainda com seu terno impecável. A garota fica feliz e aliviada ao vê-lo.

— Marcus! — exclamou ela, automaticamente se levantando. — Você não apareceu ontem pro jantar. O papai quase enlouqueceu.

Ele soltou um leve suspiro, abrindo um sorriso.

— Eu estava com o piloto, resolvendo algumas coisas do avião.

Claire inclinou-se ligeiramente para frente, sua indignação se dissipando.

— Alguma coisa grave?

Marcus balançou a cabeça, o semblante tranquilo.

— Não, nada — um sorriso travesso surgiu em seu rosto quando ele colocou a mala que carregava no chão. — Aproveitei pra pegar essa coisinha que o Javert mandou pra você.

Ela ficou imóvel por um instante, os olhos arregalados ao reconhecer o que estava ali.

Oh, merde — murmurou, puxando a mala pra si. — Ele te disse alguma coisa?

— Claro que não — respondeu Marcus com um tom de falsa indignação, antes de sorrir. — Apenas se esquivou de todas as minhas perguntas, mas acredito que você não vá fazer o mesmo.

Claire suspirou e esfregou a testa, como se o peso de tudo aquilo estivesse prestes a desabar sobre ela.

— Estou resolvendo um problema... — começou, hesitando antes de continuar. — Um problema que eu mesma criei, na verdade. Preciso manter uma pessoa longe e só vou conseguir se pagar a ela o que devo.

Marcus arqueou uma sobrancelha, o sorriso desaparecendo aos poucos.

— E por que está devendo tanto dinheiro?

— É uma história muito longa — respondeu ela rapidamente, desviando o olhar. — Só... não conte nada pra ninguém.

Ele riu, inclinando-se pra frente num gesto confidente. Marcus era ótimo em guardar segredos e é claro que Claire já sabia disso.

— Como não contei ao seu pai sobre suas aventuras na noite de formatura com aquelas garotas de Praga?

Claire assentiu, abrindo um sorriso.

— Exatamente.

— Javert disse que se você precisar dele ele consegue vir em alguns dias. Mas você paga a passagem.

— É claro — respondeu ela, sem hesitar. — Eu falo com ele.

Marcus a observou por um momento, antes de soltar um último aviso em tom quase paternal.

— Tenha um pouco de juízo, Claire. Tente não matar seu pai do coração.

Se ela não matou ontem então provavelmente não o mataria mais.

— Pode deixar — disse ela, observando Marcus sair da sala.

Ela sai alguns minutos depois, decidida a resolver a situação o mais rápido possível.

Wheezie estava sentada no degrau da varanda, deslizando pelos vídeos do Instagram de maneira impaciente enquanto esperava Sarah aparecer para lhe buscar.  Claire passa por ela apressada, suma grande bolsa em suas mãos e uma expressão tensa e focada em seu rosto. Isso chama a atenção da mais nova. Wheezie, sem levantar do lugar, ergue a voz com um tom curioso.

— Ei, frenchie... Aonde está indo?

— Preciso resolver uma coisa — respondeu Claire de forma curta, os olhos atentos enquanto procurava seu táxi.

Wheezie arqueou uma sobrancelha, a curiosidade evidente em sua postura descontraída.

— Que coisa?

— Nada demais — retrucou rapidamente, apertando a alça da bolsa que trazia no ombro. Seu táxi finalmente se aproxima. — Eu volto logo.

Wheezie inclinou a cabeça, os olhos estreitados como se estivesse tentando decifrar o que se passava. Mas antes que pudesse terminar de formular a pergunta que pairava em sua mente, Claire já se enfiava no carro a sua frente.

— Mas você não vai...?

A frase ficou incompleta no ar já que Claire não parou para ouvi-la. Wheezie observa enquanto o táxi se afasta pensando no que seria tão importante ao ponto de Claire sair assim, nessa velocidade e de maneira tão deselegante.

Claire desceu do táxi em passos firmes, marchando em direção a Barry. O traficante estava do lado de fora, mexendo em sua motocicleta com suas mãos e roupas cobertas de graxa. A atmosfera era densa, impregnada de um cheiro agridoce de ferrugem e mofo, com toques de gasolina. Ela mal piscou quando Barry percebeu sua presena, se virando em sua direção com um sorriso zombeteiro no rosto. Sem perder tempo, Claire jogou a mala de dinheiro no chão com força, fazendo-a ressoar como uma provocação.

Barry levantou uma sobrancelha, o sorriso ampliando-se.

— E aí, gata. Fiquei me perguntando quando você iria aparecer — disse, soando despreocupado enquanto voltava a mexer em sua moto.

— Bom, eu estou aqui —  Claire cruzou os braços, o olhar cheio de desdém enquanto percorria o quintal sujo e desorganizado. Haviam tralhas por todos os cantos. — Esse lugar mais parece um chiqueiro... Combina com o porco que você é.

Barry riu, se divertido com o insulto enquanto apertava um parafuso com uma chave de fenda.

— É bem útil, sabe? Assim eu consigo farejar de longe o cheiro de riquinha elitista que você emana — rebate, olhando para ela. — Sabe como é, eu estou bem familiarizado com seu cheiro, já que o senti bem de perto.

Claire revirou os olhos, fingindo desinteresse. Ela preferia não se lembrar de todas as escolhas erradas que havia cometido desde que botou os pés nessa ilha. A garota não considerava Outer Banks o inferno na Terra atoa.

— Só estava me divertindo — explicou-se, mesmo que no fundo sentisse que suas palavras não poderiam fazer muita coisa para amenizar o sorriso ridículo que Barry tinha no rosto.

O traficante se levanta, esfregando suas mãos sujas uma na outra.

— Ah, mas ainda podemos nos divertir, se você quiser —  sugeriu ele, se aproximando. — Eu suporto seu cheiro de gringa.

Ela faz careta, a ideia de chegar perto dele a enojava de uma maneira um tanto nova. Parecia até esquisito se lembrar do incidente no balcão da cozinha, a garota que fez aquilo não podia ser ela...

— Mas eu tenho certeza de que não suporto nem um segundo perto de você.

Barry soltou um assobio baixo, levando a mão ao peito como se estivesse ferido.

— Ouch. Essa doeu — responde, dando de ombros. — Por que não se senta? Vamos conversar.

Claire encara a cadeira de praia amarelada com desdém.

— Eu não tenho nada pra falar com você.

— Na verdade, — começou ele, o tom mudando para algo mais calculado, — acho que temos muito o que resolver. Eu quero o dobro.

A garota estreitou os olhos, sua mandíbula tensa.

— Não foi isso que combinamos.

— Mas é o que vamos combinar agora — ele rebateu, sentando-se relaxadamente na cadeira de praia.

— Isso não vai acontecer.

Barry riu baixinho, o som ecoando pelo espaço vazio.

— Fiquei sabendo que a Rose tá de volta... Ela não me suporta, mas acho que não é pessoal. Rixa entre Kooks e Pogues, sabe como é. Mas duvido que ela saiba o que você andou aprontando enquanto estava fora.

Um sorriso debochado surge nos lábios de Claire.

— Está falando do Rafe? Vá em frente, conta pra ela.

— Não, princesa —  Barry se inclinou pra frente, apoiando seus cotovelos no joelho enquanto mantinha os olhos fixos nela. — Estou falando do Ward.

O silêncio que se seguiu foi tão denso que pareceu consumir todo o ar dos pulmões de Claire. Ela não consegue falar e nem ao menos pensar, na verdade mal conseguia se mover. Barry percebe que havia a atingido, então prossegue.

— Eu estava pescando, como um bom homem faz pra sobreviver, e imagina só a minha surpresa ao ver você desse lado da ilha. E pior, indo em direção a uma garagem de pesca abandonada que fede a peixe podre e porra de pescador. —  Ele balançou a cabeça com teatralidade. — Obviamente eu não sabia que o Ward estava lá, senão poderia ter arrancado um bom dinheiro dele, mas você foi mais rápida. Dez minutos, talvez? Quando ouvi o tiro, pensei: que desperdício. Mas aí... aí você saiu de lá. Livre como o vento. E o velho? Ainda bonitão, mesmo com três balas no peito.

Claire apertou os punhos, a tensão visível em cada músculo do corpo mas mantendo seu tom de voz frio.

— Ninguém vai acreditar num traficante asqueroso que mora nesse fim de mundo. Eu sou uma Bertrand. Qualquer um com cérebro sabe o que isso significa.

— Ah, eu sei que não sou confiável —  Barry admite, pegando no bolso de sua bermuda o seu celular. — Mas eu usei um pouco de tecnologia ao meu favor. Olha só você aqui, bonitinha, saindo de lá. — Ele girou a tela para ela, mostrando o vídeo da garota deixando o local do crime. — Eu adoro a modernidade! Sabia que gravando pelo celular mostra direitinho a hora?

— Seu maldito verme! — Claire gritou, avançando em sua direção, mas ele deu um passo atrás com o maior dos sorrisos no rosto.

— E só pra deixar claro, tem uma cópia com um amigo. Sabe como é... segurança. Nunca se sabe o que você poderia fazer com um cara como eu. — Ele cruzou os braços. — Quero o dobro até sábado que vem.

— Acha que essa quantidade de dinheiro cai do céu?"

— Não tô nem aí. Pede adiantamento da mesada pro papai, vende o barco chique do Rafe ou oferece a porra da bunda na esquina. Você que sabe.

Claire hesitou, sentindo o pânico se apossar de seu corpo.

— Eu... eu preciso de mais tempo — ela diz, se odiando por ter deixado seu tom de voz vacilar.

— Você não tem mais tempo — cortou ele, aproximando-se novamente. — E vai fazer exatamente o que eu mandei.

— Se eu for presa, você se ferra junto comigo!

— Talvez. Mas vai ser divertido ver você tentar manter a sua marra no uniforme da cadeia, patricinha. Isso sem falar no que sua mãe vai pensar. — Ele riu baixo. — Matando o próprio padrasto, Claire? Que belo escândalo. Imagine a reação do country club... Ou das suas irmãzinhas.

— Cala a porra da sua boca! — ela grita, empurrando o peito de Barry e perdendo de vez sua compostura.

O traficante não se deixa intimidar e agarra o braço dela, ainda exibindo seu sorriso zombeteiro nos lábios. Ele adorava vê-la assim... Bravinha.

— Você mesma disse que brincar com os Cameron era fácil. Estou só seguindo o seu conselho. Vem brincar comigo, vem.

— Está me machucando —  ela sibilou, tentando se soltar.

Isso só faz com que Barry a aperte ainda mais.

— Só estou te ensinando que às vezes é bom abaixar o nariz.

Claire cospe no rosto dele, seu olhar cheio de ódio ao vê-lo tão confiante.

— Você tem sorte de que eu não sou assassino, diferente de você, e eu não estragaria esse rostinho tão lindo — diz, soltando-a. — Mas fique tranquila, princesa. Quero o dinheiro até sábado então você tem uma semana.

Ele se afastou, deixando Claire sozinha, o coração martelando no peito enquanto ela tentava processar a situação.

Claire caminhava apressada pelo jardim de Tannyhill, sua cabeça a milhão graças a conversa com Barry... Tudo isso a deixava em pânico, pânico o suficiente para paralisa-la por horas até que ela finalmente tivesse coragem pra voltar pra casa. Claire não queria que ninguém percebesse seu humor, ela precisava resolver a situação sem envolver os outros, principalmente Rafe. Ele odiaria saber que foi mantido de fora, principalmente quando ouvisse o nome de Barry. A garota abre a porta de casa, não percebendo a presença de Sarah atrás dela.

— Ei, Claire. Claire!

Claire parou abruptamente, virando-se com impaciência, Sarah era a penúltima pessoa que ela gostaria de ver no momento.

— Olha, Sarah, me desculpa pelo que eu falei mas agora não dá pra conversar.

Isso não intimidou Sarah, que cruzou os braços, um tanto insistente.

— Dá pra parar e me ouvir por um minuto?

— Eu disse que não dá pra conversar! Será que você não ouviu? — Claire respondeu, exasperada, o tom mais afiado do que pretendia.

Sarah não se abalou, inclinando-se ligeiramente para frente.

— Por que não foi no jogo do Nick?

Claire piscou, visivelmente surpresa. O jogo... Os olheiros das universidades tinham vindo para cá só por conta desse maldito jogo e ela havia prometido a Nicholas que estaria lá...

— Ah, merda! Mas... Mas que merda!

Sarah suspirou, o olhar suavizando-se um pouco.

— Ele fingiu muito bem não estar arrasado, mas bem... Eu percebi.

Claire passa a mão pelos cabelos, um bolo crescendo em sua garganta enquanto a culpa tomava conta de seu corpo.

— Como ele foi? — perguntou Claire, a voz carregada de tristeza.

— Ótimo, como sempre. Dois gols.

Ela novamente leva a mão a cabeça, repuxando seus fios em um movimento nervoso.

— Mas que merda. Porra, porra! — grita, batendo a palma da mão contra sua cabeça.

A atitude faz com que Sarah arregale seus olhos, ela não costumava vê-la desse jeito.

— O que está acontecendo com você? — questiona, franzindo o cenho. — Onde você estava?

Claire hesita, engolindo em seco.

— Eu tive que resolver uma coisa — sua voz é amena, tentando evitar mais questionamentos.

— Mais importante que o jogo?

— Não! Eu só... Eu me esqueci do jogo — Claire suspirou profundamente, pressionando as têmporas e admitindo sua culpa. — Com toda essa confusão com meus pais e agora o...

Sarah arqueou uma sobrancelha.

— O...?

Claire balançou a cabeça, tentando se recompor.

— Me desculpa pelo que eu falei no aniversário do Nick. Não é verdade, mas isso não quer dizer que você pode se intrometer na minha vida.

Sarah olhou para os pés de Claire e apontou, mudando abruptamente de assunto.

— Seu sapato sujou a cozinha.

— Bom, então chame os empregados — rebateu Claire, dando de ombros.

Sarah deu alguns passos à frente, estreitando os olhos ao analisar a sujeira.

— Estava no Cut? Essa areia escura só tem no brejo de lá. Eu sei disso porque o John B morava ao lado dele.

— Era só o que me faltava...

Sarah suavizou o tom, seguindo a garota até a sala.

— Claire, você é da família. O que quer que esteja acontecendo, você pode falar comigo.

Isso não amoleceu Claire, que se apressou ao subir as escadas.

— Obrigada Sarah, mas eu preciso ficar sozinha.

Sem esperar resposta, Claire virou-se e seguiu em direção ao seu quarto, querendo mais que tudo fugir desse momento. Ela precisava de um longo banho, seu corpo todo parecia feder graças aos poucos minutos ao lado do maldito traficante.

Rafe chega em casa já a noite, sedento pela companhia de Claire e cansado após o longo dia. Ele sabia que não devia trabalhar tanto mas era difícil finalmente pegar o jeito pros negócios ainda mais quando se recusava a ser ruim nisso. A porta rangeu suavemente quando ele entrou na sala de música, a camisa desalinhada e o rosto marcado por um leve brilho de suor. Claire estava sentada no banco do piano, os dedos posicionados em cima das teclas mas nenhum barulho era emitido.

— Oi — Rafe diz, chamando a atenção da garota.

Ela imediatamente se põe de pé, adorando que essa seja a desculpa para fugir de seus pensamentos.

— Isso são horas, Cameron? — perguntou ela, a voz carregada de falsa irritação.

Ele abre um sorriso travesso enquanto se aproxima dela.

— Perdi a noção do tempo — admite, colocando suas mãos no quadril da garota. — Estava com saudade.

Antes que ela pudesse responder, ele a puxou para um beijo intenso, desfazendo qualquer resistência. Isso quase fazia com que suas preocupações desaparecessem.

— Você está suado — ela resmunga, tentando se afastar dele.

Rafe a deixa ir.

— E você está perfeita — retrucou ele, o sorriso despreocupado permanecendo.

Ela sorri pra ele, rodopiando para exibir seu pijama de botões.

— Papai foi embora, finalmente — Claire anuncia, em tom comemorativo.

— Não vejo a hora da Rose ir também.

— Sabe que isso pode demorar.

— Vou contar os segundos pra ter você só pra mim — Rafe murmura, mesmo sem necessidade, naquele tom provocativo que fazia parte de seu charme natural.

— E pra Louise.

Ele faz careta.

— É, e pra Louise — ele admitiu com um suspiro teatral. — Mas podemos mandar ela pra ver sua mãe no Natal. É um bom plano.

— Devia parar com os planos infalíveis e tomar um banho. Eu já pedi comida.

Ele arqueou as sobrancelhas, impressionado.

— Você é rápida.

— Nhoque.

— Ion o quê? — ele questiona, franzindo o cenho.

— É uma massa, você vai adorar.

— Tem isso aqui na ilha?

— Tem várias coisas aqui mas você só conhece os bares.

— E o seu corpo — acrescenta, mordendo os lábios.

— Vá logo pro banho! — a garota exclama, não conseguindo esconder o sorriso.

— Não quer vir comigo? — ele perguntou, jogando charme.

Claire nega, o empurrando em direção a porta.

— E correr o risco da Louise invadir meu banheiro de novo? Nem ferrando. Além disso, tenho que escolher o que vamos assistir. De preferência alguma coisa com cabeças decepadas.

— E vísceras expostas — acrescentou ele com um sorriso satisfeito, se deixando ser guiado até o banheiro.

Rafe não conseguia tirar as mãos dela, não conseguia tirar seus lábios de seu corpo. É claro que o filme não os entreteve da maneira que deveria e agora passava ao fundo, servindo de trilha sonora para seus beijos quentes e profundos. Claire geme ao sentir a mão gelada de Rafe em seu seio, o puxando ainda mais pra perto mesmo que isso não fosse possível. Ela puxa a barra da camisa dele, deixando seu tronco exposto e ele faz o mesmo com ela. Os lábios do garoto vão até o pescoço de Claire, depositando ali um beijo e descendo até sua clavícula e ombro.

Ele se afasta um pouco para admira-la, perdendo o ar ao ver seu corpo lindo e seu sorriso estonteante. É nesse momento que ele vê uma pequena marca roxa na parte superior de seu braço.

— O que é isso? — perguntou ele, a voz carregada de tensão.

— O quê? — Claire respondeu, confusa.

Rafe, sem esperar, estendeu a mão e acendeu a luz do abajur ao lado. A claridade revelou o machucado por completo, aumentando ainda mais a sua ira.

— Essa merda no seu braço! Quem fez isso com você? — ele levantou a voz, claramente indignado.

Claire puxou a blusa de volta, cobrindo-se rapidamente. Rafe se levantou, as mãos fechadas em punhos enquanto parecia não conseguir enxergar nada em sua frente.

— Rafe, calma... — pediu ela, tentando apaziguá-lo. Como ela contaria? Não havia se preparado pra isso...

— Eu estou calmo — ele respondeu, a mandíbula trincada. Era a mais pura mentira.

— Seus punhos estão tremendo — ela apontou, com um tom preocupado.

Ele respirou fundo, tentando controlar a fúria.

— Quem machucou você?

— Rafe...

— Não tente me enrolar. Quem machucou você? — insistiu, a voz agora quase um rosnado.

Ela hesitou por um momento antes de finalmente soltar o nome.

— Barry.

Rafe não esperou mais nada. Com um grito de raiva reprimida, ele girou e socou a parede com força suficiente para fazer Claire dar um pulo na cama. Automaticamente a mão do garoto começa a sangrar.

— Rafe! — chamou ela, alarmada.

— O que estava fazendo com a porra do Barry? — ele exigiu, virando-se para ela com os olhos cheios de fúria.

Claire hesitou, lutando para encontrar as palavras e bota-las pra fora de sua garganta fechada.

— Ele me viu. Ele sabe que eu matei seu pai e tem provas disso... Ele quer o dobro do dinheiro do ouro pra me deixar em paz e eu não sei o que fazer.

Rafe estreitou os olhos, o sangue fervendo ao ouvir aquelas informações. Há quanto tempo ela vinha escondendo isso?

— Deu dinheiro a ele?

— O dinheiro era dele! — Claire respondeu, tentando se justificar.

— Não depois de comer a minha mulher na bancada da minha cozinha! — ele explodiu, a voz ecoando pelo quarto.

Claire começa a chorar, se sentindo um tanto pressionada pela situação.

— O Barry apareceu na festa, ele ia estragar tudo e você ia se irritar, então... — começou ela, mas foi interrompida.

— Então você não me disse nada? Escondeu isso de mim assim como foi se encontrar com ele sem eu saber! — Rafe gesticulou violentamente, o rosto vermelho de frustração.

— Rafe... Me desculpa — Claire implorou, a voz quase um sussurro.

— Nós deveríamos ser uma dupla! Contar tudo um ao outro, sempre! Como quer que eu confie em você se você esconde as coisas de mim?

— Eu não queria que isso acontecesse! — Claire exclamou, a culpa estampada em seu rosto.

— Mas aconteceu, não é? Porque a verdade sempre aparece, Claire, cedo ou tarde.

Rafe pegou a blusa que havia tirado e a vestiu novamente.

— O que está fazendo? — Claire perguntou, com medo da resposta.

— Eu vou deixar aquele filho da puta paraplégico — ele declarou, marchando em direção à porta.

— Não, não, você não... — Claire correu atrás dele, desesperada.

— Eu vou arrancar as bolas dele e enfiar na garganta pra ele aprender que nunca mais deve respirar perto de você — Rafe gritou, saindo do quarto em passos furiosos.

O barulho da discussão atraiu atenção. Rose abriu a porta de seu quarto, saindo pro corredor com o cenho franzido.

— O que está acontecendo? Que gritaria é essa?

Logo atrás dela, Wheezie apareceu com cara de sono.

— Será que não dá pra dormir nessa casa?

Rafe ignorou ambas, descendo as escadas até a sala e, em seguida, saindo pela porta da frente. Claire correu atrás dele, os pés descalços batendo contra o chão frio. Lá fora, ele já subia na moto.

— Rafe! Por favor, me ouve! — ela implorou, a voz carregada de desespero. — Se você machucar ele, um amigo dele manda as fotos pra polícia. Ele tem as fotos, Rafe, ele me mostrou! Eu vou pra cadeia, entendeu? Por favor, não faz isso...

Rafe não respondeu. Apenas ligou a moto e arrancou com um ronco alto, deixando Claire parada na entrada, gritando.

— Rafe! — ela clamou mais uma vez, mas o som da moto já se perdia na distância.

Oi gente! Não ficou do jeito que eu queria mas senti que devia postar o mais rápido possível, tava devendo isso pra vocês. O que acham que vem a seguir?

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