24, fase dois: raiva

CLAIRE NÃO QUERIA ACORDAR, não queria levantar da cama ou até mesmo abrir seus olhos. Deitada ali, em seu lençol que agora cheirava a Rafe, com seu corpo nu e dolorido iluminado pelo sol, ela tinha certeza que mesmo sem dormir essa havia sido sua melhor noite de sono. Ele estava ao lado dela e isso acalmou seu coração de maneiras inexplicáveis, por mais que ela soubesse que haveria um fim. E claro, o fim já havia chegado. Claire se estica no colchão, alongando suas pernas enquanto procurava Rafe com a mão.

O fato de não encontra-lo faz com que ela se sinta subitamente desperta. É quando ele sai do banheiro.

— Bom dia — Claire murmura, coçando os olhos.

Rafe não se incomoda em virar pra ela.

— Já está quase na hora do almoço — é o que ele diz, fechando o zíper de sua calça.

Uma sensação de enjoo toma conta de Claire.

— Já entendi.

Ela observa enquanto o garoto se vira pra ela, finalmente a encarando. Havia algo em seus olhos que beirava a dor. Claire não sabia mas essa era provavelmente uma das coisas mais difíceis que ele já havia feito em toda sua vida. Era difícil pra porra não sentir como se estivesse traindo seu próprio pai.

— Eu vou... — ele começa mas se interrompe, reformulando a frase. — Tenho que ir. Olha, nada aconteceu ontem, entendeu? Foi um erro.

Um erro.

— Tá — concorda com a cabeça. — Tá bem.

Os dois se encaram por alguns segundos antes de Rafe pegar sua blusa e sair do quarto, deixando Claire sozinha com seus próprios pensamentos. A garota puxa o lençol por cima de sua cabeça, se cobrindo completamente enquanto uma sensação de vergonha tomava conta de seu peito. Ela se sentia triste, usada... descartável.

Esse sentimento novo fez com que as lágrimas começassem a escorrer ininterruptamente por seus olhos, deixando sua visão turva e sua boca salgada. Antes que ela perceba soluços saem de sua boca, seu corpo treme e a tristeza se torna cada vez mais evidente. Claire não consegue parar, é como se houvesse perdido o controle de seu próprio corpo e isso a deixa ainda mais envergonhada. Era patético!

Ela leva seus joelhos até seu peito, se abraçando numa tentativa de manter todos os pedaços de seu coração no lugar certo. Nesse momento ela deseja que uma resposta divina venha do céu e lhe diga o que fazer para consertar seus erros mas algo lhe diz que nada podia ser feito.

E esse era um fardo pesado demais pra carregar.

São precisos longos minutos até que ela pudesse se recompor o suficiente para deixar seu quarto. Seu estômago roncava de fome e esse foi o único motivo que a levou até a cozinha para o almoço. Constantemente Claire se recusava a continuar sentindo pena de si mesma e então reagia, mas esse era um ciclo vicioso que sempre a levava de volta ao seu ponto de partida: ao seu coração estraçalhado por conta de Rafe.

Pensar isso mais parece uma maldição no momento em que vê Rafe e Sofia sentados na mesa de jantar, comendo despreocupadamente como se o garoto não tivesse passado a noite inteira entre suas pernas. Rafe engole em seco, percebendo a tristeza nos olhos de Claire. Ele havia se esquecido completamente do almoço com a Sofia e quando ela apareceu... O que ele poderia fazer? Manda-la embora sem nenhuma explicação?

A maneira que Claire o encara parte a porra de seu coração.

— Oi Claire — Sofia diz, tentando abrir um sorriso.

Claire odiava o fato dela sempre ser educada e nunca ceder as suas malcriações. Seria bem mais simples se Sofia a provocasse de volta mas não havia nada ali além de... A mais pura aceitação. Pra garçonete pouco importava o que Claire falaria, ela sabia que jamais desceria ao seu nível.

E isso definitivamente a fazia melhor do que Claire jamais seria.

Esse simples pensamento faz com que um bolo cresça em sua garganta, a impedindo de formular um único pensamento que seja. Toda sua força de vontade é concentrada em não derramar nenhuma lágrima na frente dos dois por mais que isso a destrua por dentro. Ele dormia com ela e então... Trazia outra pra casa como se ela não passasse de uma prostituta?

— Oi... — murmura, após longos segundos. Ela percebe pela expressão de Sofia que a garota percebeu que havia algo errado. — Eu... Com licença.

Ela desviou o olhar antes que eles se atrevessem a dizer alguma coisa, girando seus calcanhares para subir as escadas apressadamente. Seus passos ecoavam pelo piso de madeira, rápidos, como se fugir daquela cena pudesse aplacar o turbilhão dentro dela. Quando alcançou a sala de música, fechou a porta atrás de si com força.

Claire se joga no sofá, soltando por entredentes o grito que se formou em sua garganta. Seus punhos golpeiam o estofado com violência, mais uma tentativa frustrada de expulsar a dor que a queimava por dentro. As lágrimas vieram então, incontroláveis, enquanto suas mãos doíam de tanto socar as almofadas do sofá, enquanto sua garganta parecia prestes a se rasgar.

A garota se ergue, os olhos marejados fixando o piano no centro da sala. Era como se ele a chamasse. Seus dedos pareciam coçar para sentir aquelas teclas geladas. Ela se sentou no banco e deixou que seus dedos encontrassem as teclas que explodiram na sala, intensas e cheias de energia. Raiva e tristeza se misturavam a cada toque, os acordes refletindo o que ela não podia dizer em palavras. As lágrimas continuavam a cair, manchando a madeira polida e a impedindo de enxergar a partitura a sua frente.

O que vem a seguir deixa de ser uma melodia conhecida e passa a ser o som de seu coração partido.

Depois de uma hora as lágrimas estão secas e seus dedos doloridos pela violência em que ela apertou as teclas. Toda a tristeza havia sumido mas a raiva... Ainda estava ali. E ela poderia cair mas jamais aceitaria cair sozinha.


Era meio da tarde e Sofia ainda não havia ido embora, ela conversava animadamente com uma das empregadas na cozinha enquanto tomava um copo de vitamina. Claire, após ter pulado o almoço, se sentia faminta e montou seu próprio lanche por mais que Amélia tivesse se oferecido pra isso. Ela sentou-se à mesa, tentando ignorar a tristeza que pesava em seus ombros. Pegou o sanduíche e começou a comer em silêncio, mas sentia o olhar de Sofia queimando sobre ela. Finalmente, ergueu os olhos, impaciente.

— O que foi? – perguntou, o tom direto.

Sofia cruzou os braços, inclinando-se levemente para frente. Todo esse silencio era bizarro pra ela.

— Não vai falar nada?

Claire suspirou, deixando o sanduíche no prato por um momento. Essa foi a deixa para que Amélia deixasse a cozinha.

— Eu percebi que eu e você não somos assim tão diferentes...

A resposta pareceu arrancar uma risada seca de Sofia. Isso não a animava muito.

— Que grande porcaria – respondeu, com sarcasmo.

A garota a examinou de cima a baixo, o olhar afiado como uma lâmina. Se alguém devia se sentir ofendida com isso com certeza não era a garçonete.

— Eu quem o diga — rebate, a acidez palatável em seu tom de voz. — Sabe que ele tá transando com a Hanna Davis, né?

O comentário fez Sofia levantar uma sobrancelha, mas ela manteve a expressão neutra. Algo em sua expressão fez com que Claire tivesse certeza que ela não sabia de nada.

— Estou sabendo agora – respondeu, seca.

As duas voltaram a comer, um silêncio desconfortável pairando entre elas, interrompido apenas pelo som do canudo de Sofia que após alguns instantes, quebra o silêncio, afastando seu copo da sua frente.

— Sabe o que é engraçado? — indaga retoricamente, com um tom de voz que parecia tudo menos bem humorado. — Eu realmente gosto dele.

— É uma pena pra você — Claire responde, afastando seu prato também. Toda essa conversa fez com que ela perdesse o apetite. — Acho que estamos perdendo.

Sofia soltou uma risada amarga, balançando a cabeça.

Nós? Não seja idiota.

— Olha, eu não gosto de você, então baixa sua bola.

— O Rafe quase nunca dorme e quando dorme... — a garota faz uma pausa, como se o que viesse a seguir fosse algo difícil de ser dito. — É o seu nome que ele chama. Várias vezes. É bem claro que, se alguém aqui for perder, não vai ser você.

Claire ficou em silêncio por um momento, avaliando as palavras da outra.

— Por que está me falando isso? – perguntou finalmente, a voz mais baixa, mas ainda cheia de desconfiança.

Sofia ficou de pé, com um sorriso melancólico nos lábios.

— Essa é a verdade e eu tenho que encarar ela.

Claire bufou, revirando os olhos. Ela odiava como a garota parecia realmente ser uma boa pessoa, uma pessoa totalmente diferente dela em todos os âmbitos.

— Não pense que vou gostar de você por causa disso.

— Eu também não gosto de você — Sofia admite, colocando sua bolsa no ombro. — E, por sinal... Você é mal-educada pra caralho.

Sem esperar resposta, ela foi embora, deixando Claire sozinha com seu queixo no chão. Bom, pelo menos ela finalmente havia reagido...

— Garçonete desgraçada – murmurou para si mesma, também se colocando de pé.

— Senhorita Claire... O Eric está aqui — Amélia diz, entrando na cozinha.

O garoto surge logo atrás dela, com um grande sorriso no rosto. Claire sorri também e o abraça. No momento em que ela o toca ele sente que havia algo de errado, o garoto a conhecia bem demais para que algo passasse batido assim. Ela estava retraída, as mãos tensas e evitando contato visual, como se quisesse desaparecer. E ele jamais a viu dessa maneira.

— O que aconteceu? – perguntou, quebrando o silêncio.

Claire hesitou, apertando os lábios antes de responder.

— Nada...

Eric estreitou os olhos, acompanhando os movimentos da garota até a sala de estar.

— Eu te conheço, esqueceu? Foi o Rafe?

Claire se virou pra ele, o encarando por um breve instante um tanto surpresa com a precisão da pergunta, mas desviou o olhar. Ela não queria falar disso, muito menos com ele. Não parecia... Justo.

— Não.

Ele deu um sorriso irônico, inclinando a cabeça.

— Você mente melhor que isso, Claire.

A garota respirou fundo, visivelmente incomodada, se sentando no sofá.

— Não quero falar sobre isso — admite.

Isso não convence Eric que se aproxima e se senta em sua frente, tornando impossível que ela o ignorasse. Claire sobe seu olhar até os olhos claros do garoto, havia certo nível de compreensão neles. Uma compreensão que em sua cabeça ela não merecia.

— Percebi o que rola entre vocês – ele disse, finalmente expressando o que gostaria de ter feito há alguns dias. Nunca pareceu o momento pra isso.

Claire balançou a cabeça, frustrada.

— Nada rola entre a gente.

— Mas você bem que queria... E ele também, pelo visto, já que quase pula em cima de mim toda vez que eu apareço.

As palavras de Eric a atingiram em cheio. Ela fechou os olhos por um momento, os ombros caindo sob o peso da culpa. Como se fosse um erro ama-lo quando não tinha sido capaz de amar o Eric.

— Me desculpa – sussurrou, a voz embargada.

Ele franziu a testa, confuso.

— Por que está pedindo desculpas?

— Porque não deveria falar disso com você.

O comentário arrancou uma risada sarcástica de Eric. O garoto na verdade não se importava com isso, o que havia acontecido entre eles era passado e tudo o que ele se preocupava era com o futuro, que seria bem melhor pra ambos sem Rafe no caminho. Ele não gostava do garoto ou da maneira que ele tratava Claire.

— Você nunca teve bom gosto, então isso não é uma surpresa — ele rebate, cruzando os braços.

Claire revirou os olhos mas um meio sorriso escapou.

— Idiota.

O silêncio se estendeu entre eles, mas era diferente agora. Mais leve. Eric deu um pequeno sorriso, suavizando o tom.

— O que posso fazer pra ajudar?

Ela o olhou com uma expressão vulnerável, mas sincera.

— Pode só ficar aqui... Comigo?

Ele assentiu, sem hesitar.

— Claro.

E então ele se aconchegou ao lado dela, passando seu braço por cima do ombro da garota e deixando que a presença fosse sua forma de consolo.




Rafe nunca foi conhecido por ser uma pessoa indiferente, na verdade, bem longe disso. Seus sentimentos eram sempre bem perceptíveis e claros, algo que não o agradava totalmente, afinal, algumas coisas pareciam melhores se continuassem em segredo. Após um dia longo de trabalho o que ele mais desejou era o momento presente, sentado na varanda bebendo cerveja e fumando um baseado. Seu único problema era Claire e Eric, sentados na sala de estar cheios de toques e risadinhas.

Ele não se importaria em apagar o garoto na porrada, na verdade se deliciaria com isso. Toda vez que sua mão sebosa encostava em Claire ele se imaginava quebrando cada um de seus dedos, para que nunca mais cogitasse fazer algo assim.

Claire não ajudava, é claro. Com essas roupas minúsculas e esses sorrisos largos demais, o jeito que ela jogava o cabelo castanho pro lado deixando sua clavícula a mostra. Clavícula essa que estava marcada com uma pequena mancha arroxeada, que ele mesmo havia deixado ali pra que ele se lembrasse de que a garota não era pro bico dele.

Rafe se delicia com esse pensamento o que lhe arranca uma risada um pouco alta demais. Isso chama a atenção dos dois sentados na sala, que já sabiam que estavam sendo observados.

— Qual a graça? – perguntou Claire, franzindo a testa.

Rafe levantou-se lentamente, com um sorriso provocador dançando nos lábios. Ele apaga o baseado no cinzeiro.

— São tantas coisas... Mal consigo listá-las.

— Por que não tenta? — é Eric quem responde, se virando em direção a Rafe que se aproximava.

Seu tom de voz calmo apenas alimentou a raiva que Rafe sentia dele. O cabelo perfeitamente alinhado, as roupas caras e aquele cheiro nojento de perfume francês... Era impressionante como algumas pessoas se esforçavam para ser alvo de bullying.

— Ninguém te chamou nessa conversa – retrucou, a voz carregada de desprezo.

Eric deu um passo adiante, os olhos fixos no garoto a sua frente. Ele não gostava nem um pouco de Rafe. Ele era mal educado, arrogante e um tanto prepotente, além de tratar mal praticamente todas as pessoas que ele conhecia. Em sua cabeça não fazia sentido Claire gostar de alguém como ele.

— Na verdade, se você está falando com a Claire assim na minha frente, eu estou sendo chamado pra essa conversa. Quem você pensa que é?

Rafe riu de novo, dessa vez mais baixo, quase ameaçador.

— Quem você pensa que é? Por que não aprende a falar nosso idioma direito antes de querer crescer pra cima de alguém?

A provocação atingiu Eric, mas não o intimidou. Ele ergueu o queixo, o olhar agora carregado de determinação enquanto avança.

— Acho que os nossos punhos falam a mesma língua – rebateu.

Rafe deu um passo na direção dele, o corpo tenso como um predador prestes a atacar.

— Eu vou acabar com você, seu francês metido.

Antes que pudesse avançar, Claire interveio, a voz aflita tentando romper a tensão.

— Eric, já chega!

Mas suas palavras chegaram tarde demais. Em um movimento rápido, Eric desferiu um soco que atingiu Rafe com força.

— Eric! – gritou Claire, agora em choque, enquanto o impacto ecoava no ambiente.

Rafe cambaleou por um segundo, mas logo se recompôs.

— Seu filho da... – começou, mas foi interrompido quando Claire se colocou entre os dois, o rosto vermelho de raiva e preocupação.

Ela e Rafe se encararam por um longo momento, o silêncio carregado de significados que Eric não conseguia decifrar, mas nada precisava ser dito entre eles. Rafe não a machucaria por mais que ele odiasse ver Eric assim tão perto dela... Tão íntimo. Ele odiava as risadinhas, os toques e o fato dele já te-la visto nua. Seu coração ameaçava explodir dentro do peito toda vez que os via juntos. Ele odiava se sentir assim... Impotente.

— Eu não tenho medo de você – provocou Eric.

Rafe finalmente quebrou o olhar com Claire e voltou-se para Eric, um sorriso frio no rosto.

— Pois deveria.

Claire ignora a presença de Rafe, puxando Eric para o lado de fora a fim de evitar uma briga. Ela sabia muito bem o que acontecia quando Rafe perdia a cabeça e não queria ver Eric na mesma situação de Barry.

— Pirou? — é a primeira coisa que Claire diz assim que fecha a porta.

— Eu não vou deixar ele falar com você como bem entende — Eric disse, como se tudo fosse óbvio.

— O Rafe é instável... Ele podia te machucar.

— Ele vai ter outras oportunidades... Eu não vou a lugar nenhum.

A garota sorri, sentindo certo conforto em seu peito. Era óbvio que Rafe perdia a cabeça quando o assunto era ela e Eric, então, só talvez, ela pudesse se aproveitar um pouco disso e deixa-lo maluco. Se ela fosse passar raiva ele iria passar junto com ela, sem mais apanhar calada.

— Não precisa fazer isso.

— Mas eu quero.

Claire estava sentada na beira da cama, os cotovelos apoiados nos joelhos e as mãos entrelaçadas diante do rosto. O jantar com Eric havia sido tranquilo, mas sua mente não encontrava descanso. A relação conturbada com Rafe ocupava cada canto de seus pensamentos, como uma nuvem cinza que insistia em pairar. Ela mordeu o lábio, o olhar fixo no chão.

Cada memória dos últimos dias desfilava em sua mente como uma sequência cruel. Ela se via cedendo, desculpando, aceitando. Por quê? Porque se sentia culpada. Pela forma como as coisas tinham terminado entre eles. Pelo caos que havia se instaurado depois. Mas não era isso que ela era. Não era isso o que queria ser.

O peso da frustração a empurrou para frente. Claire se levantou de súbito, os ombros tensos enquanto ela caminhava decidida pelo corredor até o quarto de Rafe. A porta estava fechada, mas ela não parou. Girou a maçaneta e entrou, sem bater.

Rafe estava deitado na cama, apoiado contra a cabeceira. O brilho frio da tela do notebook iluminava seu rosto, e ele estava sem camisa, os músculos relaxados enquanto mexia em algo no teclado. Ele ergueu os olhos, surpreso com a entrada abrupta, mas não disse nada. Apenas arqueou uma sobrancelha, um gesto que era ao mesmo tempo curioso e provocador.

Claire estava no limite, a paciência reduzida a pó, mas respirou fundo e prosseguiu. Ela não estava ali para hesitar. Estava ali para se libertar.

— Eu não quero mais essas garotas aqui – disparou, a voz firme.

Rafe deixou o notebook de lado, os olhos estreitando enquanto tentava entender a gravidade do que acabara de ouvir.

— O quê?

Claire cruzou os braços, sustentando o olhar dele.

— Você entendeu o que eu disse.

Ele soltou uma risada incrédula, balançando a cabeça.

— O que eu não entendi foi o tipo de autoridade que você pensa ter.

Claire avançou um passo, sem hesitar.

— A gente transou.

O comentário o atingiu como um tapa, mas Rafe disfarçou, sua expressão endurecendo. Porra, ele mal podia se lembrar da noite passada sem ficar duro. Era bizarro a maneira que seu corpo respondia a garota parada em sua frente.

— Foi um deslize – respondeu, quase indiferente.

Ela riu, mas não havia humor em seu tom.

— Foi mais do que um deslize, esqueceu que eu estava lá?

— Não muda nada.

— Eu cansei dessa merda – disse ela, elevando a voz. – Eu não quero mais essas garotas aqui. Elas são oportunistas e me dão nos nervos.

Rafe revirou os olhos, desinteressado.

— Isso não é problema meu.

Claire o encarou, sua fúria transbordando. Rafe não havia entendido que isso não era uma negociação e que a garota faria o que fosse preciso pra se livrar de toda essa situação.

— Vou acabar com a vida de merda delas — decreta, o fuzilando com o olhar. — Eu juro por Deus que acabo. Vou deixar o nome delas e da família tão sujo que nem os Pogues vão querer saber deles.

O garoto piscou, surpreso com o veneno em suas palavras. Porra, ela havia perdido de vez a noção?

— Está me chantageando?

Claire sorriu, um sorriso gélido que não alcançava os olhos.

— Estou te dando uma escolha.

— Que merda de escolha é essa? — grita, se pondo de pé. — Você é completamente maluca.

A raiva palatável entre os dois agora era sufocante.

— E você não viu nem metade.

Rafe a encarou, firme, mas havia uma hesitação no fundo de seus olhos.

— Eu já vi o suficiente – respondeu, sua voz mais baixa agora.

— Então deve saber – continuou Claire, implacável – que se eu quiser te enviar a cabeça de cada uma de presente, eu não vou pestanejar nem por um segundo.

Ele recuou, o rosto endurecendo com desprezo.

— Vai se foder!

Claire deu de ombros, tendo a certeza que o recado havia sido dado.

— Vá você!

Ela sai do quarto, batendo a porta atrás de si com violência enquanto marchava rumo a sala de música. Pra ela pouco importava, se ele queria guerra então havia conseguido.

As últimas notas do piano se dissiparam suavemente no ar e Claire permaneceu com os dedos imóveis sobre as teclas por alguns instantes, os olhos fechados. A música havia feito seu trabalho — amenizara o caos dentro dela, ainda que de forma temporária. O cansaço agora pesava em seus ombros e a noite já havia se arrastado além do esperado. Ela fecha a tampa do piano e se dirige a porta.

Foi então que percebeu algo estranho. A porta, que ela tinha certeza de ter fechado ao entrar, estava entreaberta. Claire franziu a testa, e com cautela, deu um passo para fora.

Ali, no corredor mal iluminado, Rafe estava sentado no chão, encostado na parede. Ele parecia deslocado naquele espaço, como se pertencesse a outro cenário. Sua cabeça pendia levemente para o lado, os olhos fechados em um sono inquieto, as sobrancelhas franzidas como se sonhasse algo perturbador.

Antes que Claire pudesse dizer algo, ele se mexeu, acordando com um sobressalto ao som da porta abrindo. Por um momento, ele pareceu desorientado, os olhos buscando foco até se fixarem nela.

— O que está fazendo aqui? — ela pergunta, cruzando os braços.

Claire observa a lucidez voltando ao rosto de Rafe aos poucos, que quando percebe sua situação se põe de pé imediatamente. Seu rosto estava amassado por conta do sono.

— O que acha que estou fazendo?

— Bom, parece que você está dormindo atrás da porta da minha sala de música.

— Então por que perguntou? — o garoto rebate, levantando seus muros.

Isso faz com que Claire revire os olhos, estava tarde demais para ficar nessa discussão besta.

— Deixa pra lá — murmura, dando de ombros.

— Eu precisava pensar e... A música ajuda.

Isso faz com que ela se vire novamente pra ele, encarando seus olhos azuis que pareciam claros sob a luz da lua. O humor dele parecia oscilar de uma maneira que a deixava maluca pois agora, nesse momento, ela se sente adorada ao receber o seu olhar.

— Eu achei que você me odiasse.

Rafe assente, engolindo em seco.

— Eu tentei.

A garota revira os olhos e dá de ombros, indo em direção ao seu quarto com a certeza que sonharia com aquele olhar.






Quase me matei pra escrever esse e acho que odiei mas é isso.......
O próximo já tá escrito, então assim que chegar em 200 votos eu libero.
A Claire agora está decidida a dar a volta por cima, chega de humilhação!!

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