16, começo do fim

CLAIRE ESTAVA INCOMODADA COM a aparência de seu cabelo. Era comprido, castanho, liso... Praticamente sem graça. Isso nunca havia a incomodado antes, pelo menos não até agora. A pequena curva na ponta de seu nariz também não parecia muito agradável aos olhos e por falar em olhos, os seus eram muito grandes e abertos, quase desproporcionais. Um gemido frustrado escapa dos lábios da garota que marcha em passos pesados de volta ao quarto. Rafe estava lá o que automaticamente a distrai de seus pensamentos intrusivos e um tanto incomuns.

Ela observa com atenção enquanto Rafe abotoa os botões de sua camisa em frente ao espelho. Era branca, de algodão, o bordado da gola estampava a marca cara e combinava com o cheiro de sua loção pós barba. O garoto se vira na direção de Claire, sorrindo enquanto exibia sua roupa. Ainda faltavam os sapatos, é claro, mas para Claire ele parecia perfeito, quase como se lhe pudesse faltar o ar.

— Aonde vai vestido assim? — ela pergunta, ajeitando sua toalha em volta do corpo ainda parcialmente molhado.

— Reunião... Gostou?

— Não — admite.

Agora ficava mais fácil entender toda a implicância de Rafe com suas roupas. Ultimamente ele tem estado tão lindo que era quase doloroso toda vez que ele saía de sua vista. E sentir isso não a deixava feliz, era como um tipo de praga que se alastrava por todo seu corpo.

— Eu sei que você prefere quando eu estou pelado — Rafe provoca, sorrindo para a cara emburrada de Claire.

— Nos seus sonhos... — a garota resmunga, se sentando na cama. A cama dele. — Sabe, se continuarmos dormindo no quarto um do outro os empregados podem acabar desconfiando.

Se é que eles já não suspeitavam de algo... Claire mal podia se lembrar da última vez que havia dormido em seu próprio quarto. Quando não estavam resolvendo as coisas da empresa e da festa, estavam transando em todos os cômodos da casa como dois animais descontrolados. O que não seria um problema se não fosse por todos os empregados sempre circulando pelo local devido a custosa manutenção de uma casa desse tamanho. Não dava pra dispensar todo mundo o tempo todo.

— Certo, vou dispensa-los pela manhã e pedir para virem apenas a tarde.

— Rafe! — Claire o censura, só para vê-lo sorrir.

— Claire...

— Nunca mais vamos ter uma refeição decente nessa casa — argumenta, já imaginando o gosto amargo de suas tentativas na cozinha. Ela nem queria imaginar as de Rafe.

Rafe se aproxima, agachando em frente a Claire. Ela gostava do toque dele em sua pele e Rafe... Bom, ele se sentia em êxtase em todos os momentos que estavam juntos e mal podia parar de pensar nela quando estavam separados. O garoto adorava essa sensação.

—  Escolha um restaurante e peça para entregar o almoço aqui todos os dias... Da sua preferência.

— Você é inacreditável — murmura, sentindo os dedos de Rafe subirem por sua coxa.

Ele abre um grande sorriso.

— Assim posso te foder fazendo bastante barulho logo pela manhã, pra começar bem o dia. 

— Sei...

Rafe fica de pé, se inclinando na direção de Claire.

— Está bonita — ele diz e então beija o topo de sua cabeça. 

Um gesto carinhoso, íntimo, tremendamente assustador. Claire o observa enquanto ele entra no closet, sentindo um gosto amargo na boca ao pensar que eles mais pareciam casados agora, vivendo juntos, opinando nas roupas um do outro e gerindo um negócio.

Isso lhe dá náuseas.

Assim que Rafe sai de casa Claire decide que é hora de finalmente se trocar. A garota escolhe um vestido, escova seus cabelos e até mesmo passa um pouco de maquiagem, tentando ocupar sua cabeça de seus pensamentos não convencionais. Ela não costumava ver tantos defeitos em si mesma assim ou pensar tanto em outra pessoa além de si mesma, toda essa comoção já estava fazendo com que ela perdesse a paciência.

A garota quase salta ao ouvir seu celular tocar, uma chamada única para uma pessoa única. Graças aos toques personalizados Claire nem precisa olhar para seu telefone para saber que é sua mãe quem está ligando. Rose estava sendo veemente ignorada desde o furto da cruz, apesar de nunca perder uma única postagem de Claire em suas redes sociais.

A garota não estava orgulhosa por não atender sua mãe mas toda essa tentativa de controle a sufocava, ela não tinha mais idade pra isso, Rose havia perdido o timing. Mas seu desconforto, seu humor um tanto abalado ou sua vontade insaciável de manter sua mente ocupada acaba fazendo com que Claire siga seus instintos e atenda o telefone.

— Claire? — Rose indaga. É bem claro a surpresa em seu tom de voz.

— Oi mãe — a garota responde, usando seu tom de voz mais ameno. Ela sabia que depois de ignora-la por semanas talvez fosse bom maneirar na acidez em seu tom de voz.

— Decidiu me atender?

— É, fazer o quê... Fiquei com saudades.

Se Claire pudesse ver através do telefone veria sua mãe revirar os olhos. Rose se importava com sua filha, é claro, por mais que a mesma não acreditasse nisso.

— Por que segue ignorando a maior parte das minhas mensagens? — Rose pergunta, finalmente podendo expressar sua indignação que só crescia com o passar dos dias.

— Você está mais controladora que o papai.

— E você está fugindo do assunto.

Claire bufa, um gesto infantil e mimado, frustrada por sua tentativa de evitar uma conversa mais séria não ter funcionado.

— O que quer saber?

— O que estão fazendo com a empresa? Por que ainda estão ai? Não foi isso que combinamos!

— Bom, os planos mudaram — explica, seu tom de voz constatando o óbvio.

— Suas férias acabam em menos de dois meses — Rose a lembra, tentando usar isso como um trunfo.

Mal ela sabia que voltar para a França era a última coisa que sua filha queria.

— Eu estou gostando daqui.

Rose coloca sua mão na têmpora, sentindo aquele comum incomodo em sua cabeça quando Claire a contrariava. E bem, isso sempre acontecia quando elas conversavam...

— Você odeia praia, Claire. Odeia desde criança.

— Não é assim tão ruim.

É claro que ela diria isso.

— O que o Rafe fez? Ele está te obrigando a ficar ai?

Só se todo o sexo for uma tática para mante-la por perto.

— Olha, você e seu marido que engana a morte adoram colocar a culpa de tudo nas costas do Rafe mas ele não está fazendo nada demais. Ele quer ficar aqui e eu acho que não tem problema nele seguir a vida na ilha enquanto vocês estão em Guadalupe.

— O Rafe não tem condições de gerir uma empresa sozinho! — Rose rebate, aumentando o tom de voz.

Ela devia ter previsto que juntar as duas pessoas que mais a tiram do sério no mundo não resultaria em algo bom.

— Por isso estou aqui — Claire justifica. — Deviam parar de ser assim tão egoístas, eu sempre soube que vocês preferiam a Sarah mas isso está beirando o ridículo.

— Você tem dezenove anos Claire! Não sabe nada sobre gerir empresas.

— Sei bem mais que você. Enfim, tenha um bom dia mamãe, manda um beijo pra Louise.

— Eu ainda não...

Antes que Rose pudesse continuar, Claire desliga o telefone, satisfeita por sua conversa com sua mãe. Ela agora sabia que a filha estava bem, viva e que pretendia ficar na ilha por mais tempo. Foi uma comunicação de sucesso.


Um pouco antes do almoço Nicholas e Sarah aparecem em Tannyhill, a pedido de Claire. A garota queria companhia para escolher vestidos e depois da conversa dos dois eles se tornaram a opção perfeita. É claro que passar a tarde fazendo compras não animava Nicholas como as garotas mas parecia um programa bem melhor do que ficar trancado no quarto pensando o quanto seu irmão o odiava.

A porta da frente é aberta, revelando Claire em um vestido tubinho laranja.

— Olha só... Parece que a conversa resultou em algo — Claire provoca, dando um sorriso travesso. Ela gostava de deixar as pessoas sem graça.

— Sem gracinhas Claire! — Nick rebate, fechando a cara.

Sempre funcionava com ele.

— Que mau humor logo cedo — Claire resmunga, fechando a porta atrás de si.

— Claro, vou passar o dia com vocês fazendo compras. Eu me lembro muito bem da última vez que fiz isso.

No Natal do ano passado, quando Nick foi passar algum tempo com Claire na França, os dois entraram na árdua missão de encontrar o vestido perfeito para o ano novo. É claro que isso horas.

— Me digam logo o que aconteceu!

— Bem... Nós vamos ser amigos — Sarah explica, como se essa fosse a resposta óbvia.

— Amigos? — Claire pergunta, fazendo careta. Ela não gostava muito de como essa palavra soava e sabia que Nicholas devia gostar ainda menos.

— É, nós sempre fomos amigos — o garoto insiste, enquanto Sarah o olhava de soslaio.

Os dois haviam chegado a conclusão que deviam ir um pouco mais devagar. Voltarem com a amizade, com alguns benefícios é claro, e depois decidir se valia a pena ou não realmente ficarem juntos. Ainda havia muito a se digerir.

— E deu super certo né.

— Claire! — o garoto a censura.

— Nicholas!

— Dá pra gente ir logo? — Sarah os interrompe, apontando em direção a calçada. Eles estavam demorando muito para sair do hall de entrada e ela não queria ver seu irmão.

— Já decidiu o que vai comprar? — Claire pergunta a Sarah. Para ela era bem difícil escolher o que vestir, principalmente quando se está em Outer Banks, as lojas aqui não soavam da mesma maneira que as grifes francesas.

— Nada, eu não tenho dinheiro pra isso.

— Rafe disse pra comprar um pra você também — Claire diz imediatamente, uma pequena mentirinha que não faria algum mal.

Ela estava focada em fazer dos dois uma família de novo. Rafe parecia precisar disso.

— Ele disse? — Sarah questiona, levantando seus grandes olhos castanhos até os da garota. Havia uma sombra de dúvida em seu olhar.

Pelo visto ela não era de tudo boba.

— É — Claire concorda.

Sarah não precisa de mais nenhum incentivo. Ela aceitaria de bom grado uma roupa nova, era algo que ela precisava depois de todo esse tempo vivendo como um marginal.

— Bom, então vou escolher um bem caro.

Claire observa enquanto Nick e Sarah caminham lado a lado pela calçada. Havia certa tensão entre eles apesar da proximidade dos dois, algo que podia se sentir no ar. Isso com certeza devia ser algum tipo de feromônio sexual ou algo assim... Eles mal chegam na esquina quando a garota finalmente entende o que havia acontecido.

— Vocês transaram né? — Claire pergunta, parando de andar imediatamente.

Nick e Sarah também param, se virando para ela parecendo um tanto surpresos. Surpresos pela pergunta ou por serem pegos?

— Não — eles respondem ao mesmo tempo.

— Eu sabia.

Eles fazem careta, sabendo que não havia como esconder algo daquela criatura tão intrometida.

— Como você...? — Sarah pergunta, um pouco chocada pela sagacidade de sua amiga.

— Eu tenho faro pra isso.

— Deve estar acostumada com o cheiro já que mora com o Rafe... — Nicholas rebate, voltando a andar. — Não quero nem imaginar o que estão fazendo com aquela casa toda pra vocês.

— Usando a cama vazia da Sarah... E usando muito bem.

Usando o sofá da sala, a cama gigantesca do Ward, a banheira, a mesa de jantar, a piscina e até a porra do piano.

— Eca! — Sarah resmunga, tentando tirar a imagem de sua cabeça. — Ele ainda é meu irmão sabia?

— Costumava ser o da Claire também.

Isso faz com que os dois gargalhem ao ponto de chorar, se dobrando para frente e precisando usar as mãos para conter as lágrimas. Claire sente seu rosto ficar quente, não conseguindo decifrar se de vergonha ou raiva.

— Há há. Muito engraçado — resmunga, passando por eles. — Acho que não gostei de vocês fazerem as pazes.

— Fica tranquila Frenchie, não vamos usar sua cama.

A experiência de Nicholas com as garotas não tinha sido de tudo tão desastrosa. É claro que ele havia andado por horas e horas embaixo de sol graças a incapacidade da ilha de abrigar um shopping com ar-condicionado e bem, em algum momento do dia todos os vestidos começaram a parecer ser iguais. Ele com certeza não foi de muita ajuda a Claire e Sarah mas mesmo sem ele ambas pareciam ter feito um bom trabalho.

Em contrapartida, apesar de cansado, o dia havia sido bom no fim das contas. Era nostálgico passar um tempo com as duas. Eles riram, contaram histórias, relembraram algumas travessuras de quando eram crianças e por algumas horas Nicholas sentiu que poderia se acostumar com isso. Sentiu que talvez esse se fosse o novo momento em sua vida. Mas infelizmente pra isso, ainda haviam coisas a serem resolvidas.

No final da tarde ele abandona as garotas e vai até o campo de futebol, ponto marcado em seus dias todo final de tarde. Ele treina algum chutes junto com alguns de seus amigos mas sua cabeça parecia não ser capaz de focar na atividade a sua frente. O garoto se afasta, sentindo a frustração lhe consumir, e se senta no gramado enquanto assiste seus amigos correram de um lado pro outro.

— Oi.

Nicholas se vira, se sentindo um pouco tonto ao perceber a presença do irmão. Ele mal podia acreditar que após tanto tempo Topper finalmente havia lhe dirigido a palavra. O garoto observa as duas garrafas de cerveja nas mão dele, ficando aflito sobre qual rumo a conversa pode tomar.

— Top! Oi — murmura em resposta, tentando sorrir.

Era difícil colocar um sorriso no rosto quando sua vontade mais genuína é cair no choro. Nicholas observa enquanto Topper se aproxima, se sentando ao seu lado no gramado e em seguida estendendo uma garrafa de cerveja em sua direção. O garoto não hesita em pega-la.

Topper não sabia exatamente o que dizer após tantos dias ignorando a presença de seu irmão e Nicholas parecia um tanto perdido em pensamentos de culpa. Ele queria dizer o certo, queria que seu irmão o perdoasse, que ele soubesse que sua intenção jamais seria machuca-lo... Mas todas as palavras pareciam bem rasas agora.

Os dois apenas encaram o enorme gramado na frente de si, desfrutando da brisa do fim de tarde e da cerveja gelada. Era o que eles costumavam fazer toda semana... Jogar futebol, beber cerveja e falar sobre a vida. Sempre se tem muito a conversar quando a intimidade é grande e apesar de quase sempre discordarem e discutirem as coisas voltavam ao normal antes mesmo do jantar. Era isso que irmãos faziam, era assim entre eles.

Mesmo com a cerveja nos lábios Nicholas sente sua boca extremamente seca. Não havia nada a ser dito além do óbvio.

— Me desculpa... — murmura, encarando as próprias mãos.

— Nicholas.

— Me desculpa — o garoto repete, tomando coragem para se virar em direção ao irmão. — O que eu fiz foi... Horrível. Foi horrível e não tem perdão, eu sei que não.

— Nicholas...

— Eu mal consigo olhar pra você agora, eu sinto tanta vergonha... Eu...

— Nicholas, dá pra calar a boca? — Topper pergunta, o interrompendo.

O garoto fica feliz por poder ficar quieto, ele nunca foi bom em expressar seus sentimentos e ele nunca precisou. Ser apaixonado pela namorada do irmão... Com quem ele falaria sobre isso? Aos que sabiam, nunca foi preciso dizer uma única palavra a respeito de Sarah, sempre pareceu bem óbvio.

— Por que ela? Você pode ter qualquer garota da ilha... Por que a Sarah?

Era disso que se tratava. Topper não entendia por que sua ex namorada tinha que ser uma das figurinhas no álbum de seu irmão. Ele suspeitava, é claro, pelo menos desde toda história de Sarah com John B. Apenas Nick havia ficado mais irado que ele com a mudança radical de Sarah e sua clara indiferença em relação aos seus sentimentos. O que havia acontecido entre eles?

— Ela não é qualquer garota pra mim — Nicholas admite, em um fio de voz, sentindo seu estômago embrulhar.

Ele não consegue olhar para o irmão, temendo ver a expressão em seu rosto. Tristeza, raiva, incredulidade, nojo? Ele não queria saber. Admitir para seu irmão que está apaixonado por Sarah Cameron era como... Como se tivesse o traído desde o começo, como se tivesse se deitado com a namorada do irmão.

— Não vai me dizer que gosta dela?

Nicholas não diz mas se vira para o irmão olhando diretamente nos olhos do exato tom dos seus. Era como olhar no espelho e tudo o que ele via era tristeza.

— Você a ama? — Topper insiste.

— Sim — Nicholas murmura, sentindo que poderia vomitar a qualquer momento.

Topper levanta sua garrafa e leva a cerveja até sua boca, sentindo que precisava de alguma distração nesse momento. De alguma maneira isso amenizava um pouco o sentimento de traição em seu peito, saber que ele a amava, saber que não havia sido só uma brincadeira. Ele não saberia reagir se descobrisse que tudo se tratava de ego.

— É — ele murmura, ficando de pé. — Eu também. Mas eu amo mais você, tá legal?

Uma parte de Nicholas sempre soube que seu irmão era muito melhor que ele. Mais sensível, engraçado e bom. Nesse momento ele teve certeza de que se outras vidas existissem, gostaria de estar com Topper em cada uma delas. Ele observa enquanto seu irmão estende a mão em sua direção, com um sorriso mínimo no lado esquerdo de seu rosto.

— Eu também te amo Top — Nicholas responde, juntando sua mão a dele.

A conexão entre os irmãos Thornton era coisa de alma e provavelmente nenhuma garota no mundo poderia destruir isso. De qualquer maneira, Nicholas se lembraria de nunca mais tentar.

— Vem, estou querendo acabar com você no futebol — Topper diz, correndo em direção ao campo.

Nicholas sorri.

— Você sabe que isso não vai rolar.

— Claro que vai, você já pegou minha ex não vai me humilhar me derrotando no futebol.

Certo, talvez a brincadeira tenha sido um pouco cedo demais.

— Cara, não faz essas piadas — Nick resmunga, indo em direção ao irmão.

O desconforto na expressão de Nicholas faz com que qualquer resquício de tristeza suma do corpo de Topper.

— Anda, com suas notas jogar bem é sua única maneira de entrar na faculdade — Topper provoca, jogando a bola no peito do irmão.

É claro que ele é rápido em pegar.

— Melhor de três.

Já é quase noite quando Rafe volta pra casa, sentindo o peso de um dia cheio em seus ombros. Ainda havia muito o que ser feito para colocar a empresa de volta aos trilhos mas parecia estar dando certo, de uma maneira esquisita e trabalhosa, mas ainda assim dando certo. Haviam alguns receios que rondavam seus pensamentos, como suas escolhas ruins no passado que pareciam lhe assombrar pra sempre. Rafe temia pensar no futuro, apesar de ultimamente ter feito bastante isso, o futuro parecia sempre cercado de incertezas.

Ward não queria que o filho continuasse na ilha e parecia ser capaz de tudo para garantir suas vontades. E obviamente isso tinha a ver com a Sarah. Todo o ciclo de redenção de seu pai só valia para ela, afinal, ele estava querendo sacrificar os sonhos de Rafe para que Sarah o perdoasse.

Isso o deixava mais triste do que puto.

O garoto sobe as escadas a procura de Claire, querendo sua companhia. Procura nos quartos, na sala de música e até nos banheiros mas só a encontra por trás da porta do fim do corredor.

— Ah, aí está você — Rafe diz, entrando no escritório de seu pai. Ele não entrava aqui havia um bom tempo, provavelmente a última vez foi quando ele estava organizando as coisas para envia-lo a Guadalupe. De alguma maneira, parecia que seu pai surgiria do chão para repreende-lo caso o visse aqui.

Claire se vira em sua direção o que faz com que ele perceba o porta retrato em suas mãos. A moldura era escura, quase da cor da escrivaninha e lá estava uma foto de uns dos verões que a garota havia passado na ilha. Era aniversário da Rose e todos eles estavam enfileirados e sorrindo logo atrás da mesa do bolo.

Sarah estava com o rosto sujo de glacê e Claire exibia em sua cabeça um laço gigantesco. Rafe se lembrava de correr atrás dela praticamente por toda a festa, tentando tira-lo de sua cabeça. Só pra provocar, é claro. Nessa foto eles deviam estar entre os dez e doze anos.

— Estou olhando umas coisas — Claire murmura com um sorriso, balançando o porta retrato em sua mão.

— Eu odeio essa foto — Rafe admite, se aproximando dela. Ela permite que ele tire o porta retrato de suas mãos e observa com atenção a expressão pensativa que surge no rosto do garoto.

— Você está engraçado.

Rafe revira os olhos.

— Meu cabelo parece emo.

— Isso é culpa do maldito Justin Bieber.

Os dois dão risadas, concordando que ultimamente aquele estilo de cabelo não parecia o melhor para pré adolescentes. Rafe bota o porta retrato na mesa, se encostando nela para poder encarar os olhos castanhos de Claire sem precisar se curvar. A garota dá alguns passos em sua direção, se encaixando no meio de suas pernas. Ele gostava do cheiro de seu perfume francês, da sua pele macia e dos seus lábios sempre rosados.

Suas mãos seguram os quadris da garota.

— Está empolgado pra amanhã? — Claire pergunta.

Ela se preocupava com Rafe, bem mais do que está disposta a admitir. E quando olhava pra ele, bem... Ela não o via mais da mesma maneira. Seus olhos tão bonitos transmitiam algo que Claire não conseguia captar, algo que a deixava inquieta. Ela odiava não saber o que sentia a respeito disso.

— Claro — Rafe concorda, baixando o olhar para suas mãos ainda nos quadris de Claire. — Mal consegui me concentrar hoje. Se tudo der certo vai ser bom sabe... Tudo isso. Eu... Quero fazer as coisas direito, consertar tudo. E conseguir isso pra nós vai...

Nós. A menção a essa palavra faz com que Claire se afaste, tentando enxergar com clareza o que Rafe quis dizer com isso.

— Nós?

— Você disse que ia ficar — murmura em resposta.

Certo, então era só porque ela iria ficar. Esse pensamento a deixa perdida num misto de emoções, raiva, frustração, tristeza... Claire só conseguia pensar: o que estou fazendo comigo mesma? Rafe estava pensando neles, no plural, como uma coisa só.

— Eu disse mas... Rafe, não acha isso precipitado? Pensar em nós?

O garoto engole em seco, sentindo suas bochechas esquentarem. Algo nesse questionamento o deixa envergonhado, como se ele estivesse errado, como se tentar planejar alguma coisa fosse um absurdo. Rafe queria que ela ficasse aqui, ficasse com ele mas as vezes Claire fazia com que ele se sentisse patético e fraco.

— Você não quer...

— Eu não disse isso — ela o interrompe antes que ele prossiga.

— Então qual o problema?

Ela queria isso. Queria os planos, os cafés na cama, o sexo e as provocações. Conseguia visualizar perfeitamente o futuro mas as coisas não pareciam tão simples quanto a imagem em sua cabeça.

— O que estamos fazendo, Rafe? — Claire pergunta, sentindo seus olhos marejarem.

Os olhos de Rafe refletiam os dela.

— Eu... Eu não sei.

A garota dá de ombros, tentando controlar o que quer que seja esse bolo crescente na garganta. E todas essas lágrimas se acumulando... Isso a deixava irada, ela mal conseguia se lembrar da última vez que havia chorado. Talvez há anos atrás. E então desde que pisou novamente nessa ilha todo o chororô se tornou normal.

— Claire.

— O quê? — ela questiona, se virando pra ele, deixando aquela maldita casca cobrir toda sua pele. — Isso não é sustentável, você sabe que não. Tem a empresa, nossos pais, a porra da França... Como vamos resolver isso?

— Eu não sei.

— Temos que pensar nisso, Rafe.

Ele balança a cabeça, afastando esse pensamentos. Seu corpo é ágil ao se aproximar de Claire, buscando por um sinal, uma validação sequer.

— Eu não me importo com essas coisas, eu me importo com você — Rafe diz, soltando as palavras que pareciam estar entaladas em sua boca.

Claire balança a cabeça, se afastando dele.

— Não, você não vai fazer isso.

— Isso o quê?

— Falar como se gostasse de mim, como se isso daqui fosse algo além de sexo!

— Nunca foi só sexo pra mim! — ele grita em resposta, sentindo seu autocontrole se esvaindo de seu corpo. Porra, como ela podia ser assim tão cega?

— Eu vou dormir na Sarah — Claire murmura, passando por ele.

Rafe é rápido em segurar seu pulso.

— Claire...

— Eu preciso de espaço Rafe! — ela exclama, puxando seu braço para longe dele. — Dá pra me dar um pouco de espaço? Eu não... Eu não consigo pensar com você por perto, não dá tá legal? Não se preocupa, eu volto amanhã de manhã e tudo vai ficar bem. Eu só preciso pensar.

Claire não espera por uma resposta antes de sair da sala.

Gente eu bem achei que esse capitulo ia ficar pequeno.... Fui enganada.

Beijos e obrigada pelos votos!

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