13, queda e ascenção
RAFE ESTAVA EM PEDAÇOS após o dia todo em reunião com os acionistas da empresa e alguns de seus funcionários. Parecia que todos haviam decidido que hoje seria o dia de encher sua paciência, alugando seus ouvidos com problemas ridículos que seriam facilmente resolvidos caso algum deles se preocupassem em usar a cabeça.
Merda. Tudo o que ele precisava era de um banho.
Ele destranca a porta, ouvindo uma música baixa soar pelos auto falantes. A sala estava escura e em silêncio, apenas tomada pela luz da lua, e visto da ponta da escada o corredor do segundo andar parecia aceso. Ele bota seu pé no degrau no exato momento em que um gemido corta o ambiente, um gemido que ele conhecia muito bem.
Seu sangue fica quente.
Rafe dá meia volta imediatamente, largando sua pasta no sofá enquanto vai em direção a cozinha. Ele não pensa duas vezes antes de abrir a porta, pouco se importando no quanto essa imagem o perturbaria, afinal, nesse momento a raiva já tomava conta de seu corpo.
Não existem palavras capazes de descrever o que ele sente quando vê Claire, com sua saia enrolada até o umbigo, de pernas abertas para a porra do Barry. Ele entra dentro dela mais uma vez, arrancando um gemido da mesma que segurava suas costas com força. Quando ela abre os olhos a primeira coisa que vê é Rafe, que nesse ponto já tremia dos pés a cabeça.
Quem ela pensava que era pra foder com outro na sua cozinha? Quem ela pensava que era pra foder com outro e ponto. Claire arregala os olhos, fazendo com que Barry também se vire para ver o que estava acontecendo. Nesse momento Rafe perde o controle, marchando em direção aos dois.
— Filho da puta — Rafe grita, sentindo seus punhos tremerem em uma vontade incontrolável de quebrar todos os dentes de Barry.
O garoto puxa o traficante pela camiseta, o afastando de Claire. Barry, completamente tomado pela maconha, acha a situação um tanto quanto engraçada. Não era a primeira vez que ele é pego no ato e expulso da casa de alguma riquinha, isso acontecia bastante até. As Kooks sempre gostaram de se aventurar com ele.
— O que foi? — questiona, com um sorriso. — Não posso trepar com a sua irmãzinha?
— Só se quiser morrer!
Claire cambaleia para trás no momento em que Rafe estala um soco no rosto de Barry, derrubando o traficante no chão. Ele o arrasta pela camisa até a porta lateral que dá pro jardim, o deitando na grama recém cortada. Barry nem ao menos consegue se defender da enxurrada de socos que ocorrem em seguida, tomando a mão de Rafe com sangue que até mesmo respingava nas paredes.
— Rafe! Para com isso! — Claire grita, cambaleando até a porta, sentindo lágrimas tomarem seus olhos. A garota estava envergonhada pela situação, por ter sido pega fazendo algo errado, pelo comportamento agressivo de Rafe. — Para agora. Vai matar ele!
— Eu falei que ia matar — Rafe responde, depositando mais um soco no rosto de Barry, já apagado no gramado.
Claire funga, pensando no que diria a sua mãe caso o garoto fosse preso por homicídio. O comportamento dele a irritava completamente e fazia com que ela tomasse escolhas ruins, como trepar com um traficante na cozinha.
— Eu entendi, tá legal? — Claire insiste, aumentando ainda mais o tom de voz. — Dá pra parar logo com essa porra?
Rafe respira fundo e controla seu punho, temendo acabar amassando o crânio de Barry. Seu coração estava tomado por tanta raiva que o deixa completamente cego, e a única coisa que ele consegue ver é a garota pequena, parada no batente da porta com seu rosto tomado por lágrimas. A garota que é capaz de deixa-lo maluco apenas com sua presença. Ele se levanta e vai até ela, agarrando seu braço com sua mão tomada pelo sangue de Barry.
— Você vem comigo.
Claire tropeça em sua própria calcinha, ainda envolvida em seus tornozelos, mas isso não para Rafe que praticamente a arrasta pra dentro, não se importando se está machucando ou não. Ele a empurra contra a parede, a encurralando ali. Ela sente medo, impotência, raiva... O aperto de Rafe em seu braço fica ainda mais forte, arrancando uma careta dela.
— O que pensa que está fazendo?
— Acho que você viu — ela responde, mesmo sabendo que era melhor não provoca-lo ainda mais.
Rafe inclina seu rosto na direção da garota, sentindo seu hálito contra sua bochecha.
— Não me provoca.
— Está me machucando — Claire diz, tentando mexer seu braço.
— Você merece.
— Você podia ter matado ele!
— Isso é pra você aprender a levar a sério quando digo alguma coisa — murmura contra o ouvido de Claire, gerando um arrepio que percorre todo o corpo da garota.
Ela sorri pra ele com o canto da boca.
— Está com ciúmes Rafe? — questiona, num tom provocativo.
Rafe está puto demais para esboçar qualquer reação que não seja raiva. Ele usa sua mão para puxar a garota pra frente, a tirando da parede e a colando contra seu próprio corpo, ela tem que ficar na ponta do pé.
— O que você acha, hein? Que gostei de chegar em casa e ouvir ele te comendo?
— Agora sabe como eu me senti — rebate, mantendo contato visual com ele.
Rafe tem vontade de dar umas boas palmadas na garota, para que ela parasse com tanta petulância.
— Está se vingando?
— Talvez.
O pensamento ameniza um pouco sua raiva. Imagina-la trepando com vingança por causa dele, porque ela havia se importado com o que ele fez entre quatro paredes o suficiente para abrir suas pernas pro primeiro desavisado que passou. Rafe suspeitava de que Claire sabia qual o efeito que sua aventura traria na relação dos dois.
— Você gosta não é? — ele pergunta, finalmente soltando o braço da garota. — Gosta quando perco o controle.
— Só eu tenho que sair perdendo?
— Você não tem noção com quem está lidando — rosna, segurando a garota pelo queixo e obrigando seus olhos castanhos a o encararem.
— E vai fazer o que a respeito disso Cameron?
A provocação faz com que o garoto dê dois passos para trás, se afastando de Claire. Se ela soubesse as coisas que ele gostaria de fazer com ela... Pode ter certeza que não andaria por dias.
— Talvez te coloque de quatro a noite inteira para aprender a ter um pouco de respeito — responde, dando um sorriso de lado.
Claire engole em seco e puxa sua calcinha pro lugar correto.
— Você não tem essa coragem — murmura, passando por ele.
É preciso várias palavras de afirmação em frente ao espelho para que Claire se convença a descer até o primeiro andar. Ela não podia se encolher de vergonha e dar a Rafe o gosto da vitória, tinha que manter seu nariz erguido e enfrenta-lo, custe o que custar. A garota passa a mão pelo tecido azul que envolvia seu corpo em um vestido curto e justo, ajeitando as alças e admirando seu reflexo. Um vestido que a deixasse gostosa ajudaria a mantê-la de cabeça erguida e obviamente irritaria Rafe.
Um combo e tanto.
O clima fica pesado no momento em que ela entra na cozinha, passando direto pela mesa do café e enchendo seu copo de suco na bancada. Claire mantém seus olhos no Instagram, passando os reels sem nenhum real interesse. Seu único propósito era não encarar Rafe.
O garoto engole em seco quando ela se inclina na bancada, exibindo suas pernas naquele vestido estupidamente curto e justo.
— Vejo que voltou ao normal — murmura, sentindo que seria impossível ficar calado. Rafe não gostava do castigo do silêncio, isso o lembrava da própria infância.
— Pois é, nada como trepar na bancada da cozinha — a garota responde, sem tirar os olhos do celular.
De repente, todo o bom humor de Rafe some. Para ele, tinha sido difícil pra caralho dormir na noite anterior sem cometer nenhum assassinato.
— Cala a porra da boca antes que eu seja preso por homicídio! — exclama, fazendo com que Claire deixe o celular de lado.
— Qual o seu problema comigo, hein? — questiona, se erguendo da bancada. — O tesão não devia fazer isso com alguém.
— O ódio sim.
— Vá pra academia e desconte puxando algum peso.
— Eu vou descontar te fodendo até que você não consiga mais andar. Você só tem que pedir.
A pressão no ventre de Claire aumenta e sua respiração fica pesada. É claro que estava tentada a aceitar todas as vezes que essas provocações baratas saíam da boca de Rafe, ela até mesmo teve dificuldade para dormir torcendo que o garoto realmente invadisse o seu quarto e a deixasse de quatro a noite inteira. Ela queria ser obediente mas não podia ceder a esse tipo de vontade. A garota não era religiosa mas se o inferno existisse, esse era o tipo de atitude que a levaria direto pra lá.
— Vai sonhando — rebate, saindo a cozinha.
O único lugar possível para a garota se abrigar é a casa dos Thornton. Nicholas demora pra caramba pra atender a porta, alegando que ainda estava dormindo mesmo já passando da metade da manhã e não havia ninguém na casa além dele. Claire o segue até a cozinha e o ouve falar sobre Topper e como estavam as coisas em casa enquanto ele preparava dois sanduíches. Acabou que com a situação com o Rafe o café da manhã ficou em segundo plano.
A garota não estava realmente absorvendo o que estava sendo dito por Nick, pensando numa maneira sutil de tocar no assunto sem que parecesse completamente maluca. Os dois se sentam na mesa e ela reúne a coragem para lhe dizer o que tanto precisava.
— Fiz uma merda.
Nicholas imediatamente devolve seu sanduíche para o prato, encarando sua amiga com uma curiosidade crescente que beirava a ansiedade. Muitas coisas podiam sair da boca de Claire quanto o assunto é fazer uma merda.
— O quê?
— Eu beijei o Rafe.
— Puta que pariu — é tudo que Nicholas consegue dizer, completamente aliviado por essa ser a história. Para o garoto, não era nenhuma novidade que isso fosse acontecer, ele na verdade já havia estranhado o por que de tanta demora.
Claire nega com a cabeça.
— Essa não é a merda.
— Tem mais?
— Eu dei pro traficante dele — admite.
É claro que quando Claire disse merda, ela estava querendo dizer que foi realmente uma merda. Isso não fazia nenhum sentido para Nick, afinal, ele conhecia a garota muito bem, que apesar de ser um tanto impulsiva não fazia sexo só por fazer. Diferentemente dele...
— O quê?
— Olha, ele está me deixando maluca e eu quis fazer algo sabe, algo que não fosse com ele. Então parti pra minha primeira opção e o Rafe quase matou o cara.
— O Rafe é maluco, eu já te disse isso!
— Eu sei! Eu não sou de transar por ai, você sabe disso.
— Eu sei senhorita perdi minha virgindade aos dezessete...
— Eu só fiz sexo com o Eric e você não tem ideia das coisas que eu ouço do quarto do Rafe — a garota prossegue, fazendo careta só de lembrar.
O relato dela deixa Nicholas cada vez mais confuso.
— Está treinando pra sentar nele?
— Não! — Claire responde, de imediato. — Eu só pensei que talvez, se eu transasse com alguém, isso passasse.
— E funcionou?
— Não.
Os dois se encaram por alguns segundos, ambos sem ter a mínima ideia do que falar a respeito de tudo. Nick estava confuso e um tanto surpreso pela maneira de Claire lidar com seu fogo e Claire sentia mais vergonha do que poderia admitir. Ela sabia que estava sendo julgada.
— Olha, se quiser pode ficar aqui em casa — Nicholas oferece, voltando ao sanduíche. — É só o que eu posso fazer por você no momento.
Ela observa enquanto seu amigo mastiga, pensando em como resolver a situação. Infelizmente a resposta era clara, a única maneira de evitar isso é evitando Rafe e é impossível evita-lo morando com ele mas também não é uma opção ficar com seus pais.
— Eu vou trepar com ele, não vou? — ela se lamenta, apoiando os cotovelos na mesa.
Isso arranca uma risada de Nicholas.
— Você vai, safadinha — concorda. — Não esperava isso de você.
— Se fosse pra apostar seria em alguém mais galinha, tipo você.
— Pare com essa história de galinha, eu apenas gosto de me relacionar com varias pessoas.
— Ou com Sarah Cameron — a garota rebate mas Nicholas não ri. Na verdade, o clima fica um tanto tenso... — Desculpa, acho que muito cedo pra piadas.
— Soube que ela vai ficar.
— Como se sente sobre isso?
— Eu não sei. Talvez eu descubra quando o Topper resolver falar comigo.
A situação entre os dois ainda estava complicada. Topper se recusava a falar com o irmão e as únicas palavras que ambos proferiam um ao outro eram as coisas básicas como me passa a manteiga ou tem visita pra você. Nicholas e Claire se encaram, eles dividiam o fardo de estar em péssimos lençóis graças aos Cameron.
— Vamos dormir de conchinha e acordar novos em folhas — a garota diz, finalmente mordendo seu sanduíche.
— Tomara.
Claire havia passado o dia todo com Nicholas, o acompanhando no futebol, almoçando no clube e fazendo compras juntos. Quando eles voltam pra casa a senhora Thornton já está lá e se junta a eles para assistir um filme enquanto o jantar não era servido. Topper só aparece depois de todos já terem comido e vai direto pro quarto, mal falando com Claire ou sua mãe. Isso a deixa preocupada, pensando se talvez o garoto tenha interpretado o espaço que ela havia lhe dado como falta de zelo por sua amizade. Claire sabia que tinha que conversar com ele, mas isso ficaria pra depois, afinal, ela tinha que dormir.
— Claire! Claiiiireeeeeeee!
Para Claire isso mais parecia um pesadelo. Como se milhões de zumbis a cercassem enquanto gemiam seu nome, torcendo para experimentar um pedaço da carne de sua coxa. A garota resmunga, se afastando de Nicholas e virando para o outro lado. Quando o chamado se torna ainda mais repetitivo ela desperta, quase caindo da cama ao reconhecer a voz que a chamava.
Subitamente ela se sente mais acordada do que nunca, levantando em um pulo e indo até a janela, temendo que toda a gritaria acordasse a senhora Thornton. Quando afasta as cortinas vê Rafe, de pé no gramado com uma camisa azul de listras brancas, ele olhava pra cima com esperança e um sorriso pequeno se abre em seus lábios quando ele avista Claire.
— Rafe! — ela exclama, tentando manter o tom de voz baixo. — Que merda tá fazendo aqui?
— Volta pra casa — ele pede, sem rodeios.
O tom de voz doce demais e um tanto arrastado faz com que Claire entenda exatamente o que o havia trago aqui.
— Você bebeu?
— Um pouco — ele admite.
Talvez mais do que um pouco... Mas qual diferença isso fazia agora? Pouco importava a quantidade de álcool em seu organismo, o que importava é que ele estava aqui, parado em frente a essa janela, sendo sincero sobre suas vontades. Rafe se sentiria bem melhor se Claire dormisse em casa.
— Eu vou dormir aqui, com o Nick.
— Não — insiste, mais soando como um resmungo. — Vamos voltar pra nossa casa e você vai dormir no seu quarto.
— Nossa casa? — ela questiona, surpresa pela frase dita.
— É. Me desculpa, tá legal? É só que... Você me tira do sério as vezes.
— Foi você quem começou com isso.
— Eu sei e eu acabei com isso também. A Sofia já era, se não for pra trepar com você eu não quero trepar com ninguém.
— Rafe! — Claire o censura, temendo que alguém pudesse ouvi-lo. Afinal, o que as outras pessoas pensariam dos dois se ouvissem algo assim? Com certeza a reputação dos Camerons iria por água abaixo mas não é isso que a preocupava e sim a reputação dos Bertrand, que caso fosse manchada com fofocas de cunho incestuoso acabaria com as ações da empresa.
— Ei cara, tem gente ouvindo sabia? — Nicholas resmunga, colocando sua cabeça pela janela.
— Some daqui antes que eu amasse o outro lado da sua cabeça.
O Thornton revira os olhos, tomado demais pela embriaguez do seu sono para levar a provocação para o pessoal.
— Você tem sorte que tô com sono — diz, dando de ombros e voltando pra cama.
— Rafe, vai embora — Claire pede, tentando ser ainda mais silenciosa.
— Vem comigo — ele insiste. — Por favor.
Claire não tinha tantos princípios ou um coração tão duro ao ponto de resistir aquela carinha de cachorro que caiu da mudança. Ela podia muito bem voltar pra casa com ele — algo que ela teria que fazer em algum momento — e tentar resolver as coisas.
— Tá bem — murmura em resposta, arrancando um sorriso de Rafe. Ela se vira em direção a Nicholas que já a encarava com um sorriso malicioso nos lábios. — Nick eu...
— Vai logo! — exclama, dando de ombros e abraçando o travesseiro. — Quero voltar pro meu sonho, é com a Sydney Sweeney.
Claire engatinha na cama até seu amigo e deposita um beijo em sua testa.
— Boa, vai lá.
A garota pega sua bolsa e calça seus sapatos, tentando fazer pouco barulho ao sair da casa dos Thornton de madrugada como se fosse algum assaltante. Rafe se sente perfeitamente satisfeito ao vê-la saindo da casa, vestida com roupas masculinas, e passando reto por ele batendo os pés. Para ele, ela ficava uma graça irritada.
— Você me paga, Cameron — Claire resmunga, começando seu caminho para Tannyhill.
Rafe se apressa para acompanha-la.
Os dois chegam em casa em alguns minutos, após passarem o percurso todo em silêncio. Claire segue atrás de Rafe pelo corredor, se surpreendendo quando ele passa direto pela porta de seu quarto e vai até a sala de música.
Ele se joga no sofá, fazendo com que a garota franza sua sobrancelha.
— Toca pra mim — ele pede e só depois se explica. — Uma música.
— Agora?
— Agora. Por favor.
Claire não se lembrava de alguma vez já ter ouvido um por favor sair da boca do garoto. A bebida geralmente deixava as pessoas mais agressivas, mais sinceras... Mas é a primeira vez que ela via a bebida deixar alguém mais doce.
— Por que está sendo assim tão educado?
Rafe sorri com o canto da boca.
— Só pra variar um pouco.
— Sei — a garota resmunga, se sentando em frente ao piano. — O que quer ouvir?
— O quebra nozes.
— Só pra variar um pouco — Claire provoca, sentindo a textura das teclas em seus dedos.
— É.
A melodia surge naturalmente, silenciando os pensamentos de ambos. Nesse momento seus problemas e sentimentos conflituosos desapareceram, deixando o clima da sala leve embalado pela melodia de Tchaicovsky. Rafe fecha os olhos, ouvindo em sua cabeça o barulho de cada tecla mesmo antes que ela seja tocada. Isso o deixa leve, como se pudesse flutuar a qualquer momento e também o emociona, se lembrando da última vez em que estiveram nesse mesmo lugar.
Claire finaliza a música, abrindo seus olhos e se sentindo orgulhosa pelo resultado. Rafe se vira pra ela.
— Eu amo essa música — ele murmura, depois de alguns segundos.
Claire sorri. É claro que ela já sabia disso... Foram inúmeras as vezes que ela havia tocado essa música para ele, principalmente no último verão em que haviam se visto. A garota se lembrava do sentimento... Aquela curiosidade em passar as mãos pelos cabelos loiros de Rafe ou sentir a textura de seus dedos contra os dela. Foi naquele verão, bem naquele ponto, que as intrigas acabaram e os dois conseguiram viver em paz. Aquela foi a primeira vez que Claire sentiu vontade de beijar um garoto.
— Por que? — Claire pergunta, virando seu pescoço em direção ao sofá.
Rafe coloca as mãos atrás da cabeça e aproveita de sua embriaguez para ser completamente sincero.
— Me ajuda a pensar e... Me acalma. Estou feliz que tenha voltado a tocar.
— Sério?
O garoto faz careta quando percebe o que havia falado. Em sua cabeça, admitir sua felicidade com a música significava perder... Mas ele já se sentia derrotado desde que pegou ela com o Barry então não fazia muita diferença.
— É. Você é boa, muito boa.
Claire estranha o fato das palavras do garoto a deixarem tão emocionada. Seus dedos tremem nas teclas do piano, gerando um som falho.
— Obrigada — murmura, desviando seus dedos. Ela observa enquanto Rafe se levanta, cambaleando em direção a porta. — Ei, nada de cair com os dentes no chão.
A garota vai até ele, tentando de alguma maneira servir de apoio para aquele corpo tão grande. Rafe fica feliz por passar seu braço pelo ombro de Claire, ele conseguia sentir o cheiro de seu perfume francês.
— Quero me deitar — explica, enquanto ambos andam lado a lado no corredor.
Claire dá risada, achando engraçada a situação. Ela sabia que por mais que insistisse, não conseguia odia-lo... Não de verdade.
Assim que entra em seu quarto, Rafe se joga na cama, afundando seu rosto contra o travesseiro. Ele estava naquela fase da embriaguez onde todo lugar parece extremamente confortável e tudo em volta de si fica um tanto turvo. Claire se inclina em direção ao abajur, na intenção de apaga-lo.
A mão de Rafe encontra a sua no meio do caminho. Ele segura seus dedos com firmeza.
— Fica aqui — pede, a encarando com aqueles olhos azuis tão profundos e brilhantes.
Claire queria ficar... Ela queria beija-lo, queria ser dele mas qual seria o preço disso? Se ela cedesse as suas vontades o que ganharia? Ela se apaixonaria, se magoaria e seria obrigada a vê-lo e fingir que nada aconteceu... A história parecia tão real que era quase como se já tivesse acontecido.
— Rafe...
— Eu sei o que significa esse tom de voz. Te prometo que não vou fazer nada eu... Eu só quero companhia. Quero a sua companhia.
A garota se senta, engatinhando para o outro lado da cama e se deitando com a barriga pra cima. Os dois encaram o teto em silêncio, sentindo a tensão que emanava de ambos os corpos deitados lado a lado, distantes o suficiente para não ter contato físico mas suas almas... Pareciam entrelaçadas.
— Nós deveríamos ser irmãos — Claire murmura, se lamentando pela situação.
Há essa altura já era óbvio para os dois que existia algo entre eles. Paixão talvez fosse uma palavra forte mas tesão com certeza, é quase como se pegassem fogo só de ficarem perto um do outro.
— Isso não quer dizer que realmente somos — Rafe responde. — Não temos que nos sentir assim só porque nos foi dito.
— Eu odiava você. O cabelo tijelinha, sua grosseria e a falta de cuidado com os brinquedos.
O garoto dá risada.
— Você era mil vezes pior. Achava que sabia de tudo e não calava a boca nem por um minuto. Se bem que você ainda é assim...
Claire usa seu braço esquerdo para empurrar de leve o braço do garoto, que intensifica sua risada. Os dois voltam a encarar o teto, ambos lutando contra suas vontades mais profundas.
— Você não se despediu... — Rafe murmura, chamando a atenção de Claire.
— O quê?
— No ultimo verão que veio — ele explica, se sentindo patético por entrar nesse assunto. — Nós finalmente nos demos bem... E então você nem disse tchau antes de ir.
Isso havia o magoado. Não foi a primeira vez que ele quis beijar ou transar com uma garota mas foi a primeira vez que ele quis ser visto por uma... Rafe queria que ela gostasse dele.
— Ah Rafe, eu... Meu pai veio me buscar com o jatinho só por ter brigado com a minha mãe e você sabe, ele tem a guarda. Eu também não esperava ir. Não sabia que havia se importado com isso.
— Nem eu — ele admite. O garoto não soube do impacto dessa ação até vê-la de biquini enquanto molhava toda a sala.
— Eu pensei em ligar para saber da prova mas bem... Nós nunca nos demos bem então eu deixei pra lá.
— Como pôde ver, eu fui aprovado.
Claire dá risada.
— Então... Não tem mais Sofia?
— Não é ela quem eu quero comer.
— Rafe! — Claire exclama, sentindo seu corpo pegar fogo. Ela odiava o fato dele não ter pudor na hora de falar na mesma intensidade que amava isso.
— Foi mal. A bebida me deixa sincero.
— Você não devia colocar tanta expectativa assim em mim. Eu não tenho muita experiência...
— Não? — ele questiona, erguendo suas sobrancelhas.
— Não.
— Espera, quanto exatamente é pouca experiência?
Claire subitamente começa a se arrepender por tocar no assunto. Ele vai achar toda a situação ridícula...
— Ah, quer mesmo que eu diga?
— Claro.
— Bem, tirando o B...
— Não fala o nome dele — Rafe pede, imediatamente fechando a cara. Aquela imagem seria algo difícil de se esquecer e todo o ódio... Porra. Talvez nunca passasse.
— Então só sobra mais um — Claire admite, num fio de voz.
Rafe imediatamente se vira para ela.
— Isso é sério? — indaga, exalando surpresa em cada sílaba.
— Porque o choque?
— Você parece ser bem pra frente...
É claro que ele pensava isso!
— É o meu jeito — se defende.
O garoto leva as mãos ao seu rosto, abafando o barulho estranho que sai por sua boca.
— Porra, agora meu pau tá muito duro.
— Não é possível! — Claire exclama, sentindo seu rosto pegar fogo.
Rafe gosta da maneira que as palavras saíam de sua boca, gosta de seu excesso de atitude que escondia sua doçura.
— Você não tem noção de como me deixa sem nem encostar em mim — murmura, sem nem saber por que. — Pode ter certeza que a única perfomance prejudicada vai ser a minha, não tenho certeza se aguento muito tempo...
Ela revira os olhos, não sendo convencida por essas palavras.
— Não seria nada comparado a suas outras experiências...
— Não seria nada? — ele questiona, se sentando na cama. — Eu sonho com isso desde que tinha treze, não fode. Você não tem noção das coisas que eu faria com você...
Ah, ela tinha noção sim.
— Eu vou pro meu quarto — murmura, se pondo de pé. — Não estou me sentindo muito no controle nesse momento.
— É disso que tem medo né? De não controlar o que sente.
— Eu tenho medo de ceder as minhas vontades e me arrepender. Nós tecnicamente ainda somos da mesma familia...
Rafe revira os olhos, voltando a se deitar.
— Ninguém precisa saber.
— Boa noite — ela diz, seguindo em direção a porta.
— Boa noite, karma.
SURPRESA! Um dia antes e com quase 5mil palavras, acho que agora vcs podem parar com as ameaças né? Vou tentar soltar mais rápido enquanto estiver de férias.
Comentem e votem pra me incentivar, to me sentindo xoxa capenga anemica!😔
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