𝐕
Revisado Por rtc017
Mary Ann
Odeio mentiras e as evito o quanto posso, por isso não perco tempo mentindo para mim mesma agora, dizendo que ficar de mãos dadas com Peter depois de tanto tempo não mexeu comigo, ou que ele ter me trazido a esse parque de diversões não fez as borboletas mortas em meu estômago baterem asas outra vez.
Peter comprou algodão doce, e estou terminando o meu quando vejo a barraca de tiro ao alvo.
— O que você acha de dar uns tiros? — pergunto a Peter, comendo o resto do algodão doce.
— Contanto que você não atire em mim, tudo bem. — Ele dá de ombros, me provocando.
— Eu vou pensar no seu caso.
Vamos até a barraca, e, como Peter está determinado a arcar com os custos, eu deixo ele com o homem que parece ser o dono e me posiciono atrás de uma das armas, que mais parece uma metralhadora. Ela está "grudada" no balcão, então eu preciso apenas ajustar na posição certa para poder atirar.
— Você sabe atirar? — A voz de Peter me assusta quando ele para atrás de mim, facilmente se elevando por ser mais alto.
— Não — admito, relutante enquanto seguro a arma.
— Aqui. — Peter parece estar sorrindo, mas, de costas para ele, não posso ter certeza. Suas mãos cobrem as minhas enquanto ele meio que me abraça e meio que me ajuda a me posicionar.
Como quando ele segurou minha mão do metrô até o parque, meu coração dá cambalhotas com a sua aproximação, lembrando-me da época em que ele me causava as mesmas sensações. Naquela época, porém, não havia uma cicatriz em meu coração. Cicatriz que ele deixou.
— Está vendo o alvo? — Peter pergunta, alheio à confusão em meu coração estúpido.
Faço que sim, minha bochecha roçando em seu queixo, prova de que ele está próximo demais.
— Agora você só precisa puxar o gatilho.
Faço o que ele diz, tomando um susto ao ouvir o disparo e tropeçando para trás, mas Peter, claro, está lá para me segurar.
— Nada mal — diz.
Giro o pescoço, erguendo os olhos para Peter, para ver o sorriso que definitivamente está moldando os seus lábios, para a forma com que ele está me olhando — como eu sempre quis que ele me olhasse.
O cara da barraca aparece antes que eu faça algo idiota e me entrega um saquinho de Jelly Belly.
— Você vai ter diabete antes dos 30 — Peter fala quando deixamos a barraca.
— Hum… — Abro o saquinho e escolho uma de cereja, colocando-a na boca. Pego outra de limão.
— É sério, esses negócios…
Ponho a bala de limão na sua boca, pegando-o de surpresa.
— Mastigue — mando, fechando sua boca e o obrigando a mastigar.
Depois de engolir, Peter faz uma cara feia, dizendo:
— Isso é azedo.
— Claro, é de limão.
Deixo ele para trás e sigo em frente tentando não esbarrar nas pessoas enquanto absorvo o máximo que posso desse lugar. Meu trabalho exige a maior parte do meu tempo, e é por isso que nunca tive a oportunidade de vir aqui.
Eu cresci numa cidade pequena, então, sempre que meus pais iam para a cidade grande, eu e meu irmão, Alec, implorávamos para que eles nos levassem ao parque. Foram poucas as vezes em que conseguimos convencê-los, mas aproveitamos todas elas.
Me surpreende Peter lembrar que lhe contei isso. Eu ainda estou decidindo se acredito no que ele disse sobre ser diferente agora. Todos sempre dizem isso, e, no final, seu coração acaba mais quebrado do que antes. Além disso, é meio inacreditável que Peter consiga fazer com que eu me apaixo… Com que eu goste dele outra vez em apenas uma noite. Peter foi legal em me levar para comer tacos — acho que todos concordamos que eu o obriguei a isso — e em me trazer aqui, mas isso não significa nada.
Paro quando vejo o que está bem à minha frente, um sorriso enorme crescendo em meus lábios.
Viro-me para Peter.
— Vamos no carrossel?! — Eu me preparo, esperando que ele negue.
— Sabia que tem vários brinquedos legais aqui?
— Eu sei, mas eu costumava ir no carrossel com meu irmão. Mas, se você não quiser ir, tudo bem. — Chantagem emocional, Mary? Patético.
— Eu não disse isso. — Peter pisca para mim e passa o braço por meu meus ombros. Escondo meu sorriso e nós vamos para a fila, e eu finjo não notar quando ele pega uma bala de goma e a põe na boca.
☾︎
— Isso é tããão legaaaaal. — Com a cabeça jogada para trás enquanto estou sentada em um pônei, sinto-me como uma criança novamente.
As crianças parecem me achar doida, mas eu não ligo ao ficar de pé, esforçando-me para não cair.
— O que você… Sabia que não pode ficar de pé aqui? Você pode cair — Peter me alerta, e chega a ser cômico ele se preocupando com meu bem estar.
— Vem me pegar, então. — Reviro os olhos, sabendo que ele não vai fazer isso… — Ei! — Afasto-me de Peter quando ele tenta segurar meu braço.
— Sério, Mary Jane, você vai cair. — Peter fica de pé, mas tropeça, precisando segurar a barra de ferro. As crianças riem dele, e eu também.
— Você nunca andou em um carrossel? — Afasto-me dele, andando pelo brinquedo.
— Eles não são feitos para você andar neles. — Ouço Peter resmungar enquanto tenta me alcançar.
De repente, parece que estamos em algum filme da Disney: Peter correndo atrás de mim — ou tentando —, nós dois fazendo de tudo para não cair, e as crianças rindo. Quase consigo ouvir a música "Rewrite the stars" tocando ao fundo, em vez da música do próprio carrossel.
Viro-me para dizer a Peter para desistir, quando escorrego para trás.
Preparo-me para minha morte certa — dramas à parte —, minha gata vem à minha mente, porque ela vai ficar sem mãe, e JinSoul é alérgica a gatos, então ela não vai poder ficar com a Daisy...
O impacto não chega, e eu abro os olhos, que não percebi que havia fechado, encontrando olhos castanhos escuros me encarando.
— Eu disse que você ia cair — Peter fala, e talvez seja impressão minha, mas sua voz está meio rouca.
Um braço seu está em volta da minha cintura, a outra mão segurando a barra de ferro. Quando eu me endireito, Peter não me solta, e percebo minhas mãos segurando sua camisa. Por conta dessa aproximação, inalo seu perfume outra vez, engolindo em seco quando sua atenção se concentra em meus lábios. Eu tenho tentado não pensar em como é beijá-lo, mas agora fica difícil;e talvez tenha me inclinado um pouco quando ele fez o mesmo…
— Ei, vocês, saiam daí!
Olho em volta, não vendo mais as crianças e percebendo que o carrossel parou de girar e tem apenas nós dois aqui, dando um belo show para as pessoas que estão esperando.
Afasto-me de Peter, sentindo minhas bochechas ficarem vermelhas, e apresso-me em sair do carrossel, ignorando todas as pessoas que viram o que aconteceu.
O que aconteceu, exatamente? Ele impediu que você caísse e você quase o beijou, esquecendo totalmente que ele partiu seu coração?
— Deus, que calor — murmuro, me abanando com as mãos enquanto ignoro o meu cérebro, algo nada sensato de se fazer quando é o meu coração recém inteiro que está em jogo.
— Nós vamos para a roda gigante agora. — Peter surge ao meu lado, aparentemente inabalado, prova de que foi tudo coisa da minha cabeça ou é apenas parte do seu joguinho.
— Ah, não vamos, não.
— Qual é?! Você não pode ir a um parque de diversões e não ir na roda gigante!
Semicerro os olhos para ele e lhe aponto o dedo.
— Eu estou entendendo o que está acontecendo aqui, mas vou fingir que não.
— Como assim? — Peter ainda tem coragem de se fingir de desentendido.
— Eu sei qual o seu plano, mas eu não vou segurar sua mão quando chegarmos no topo da roda gigante, Scott. Pode ir tirando o seu cavalinho da chuva.
☾︎
— Wow, é mais alto do que eu me lembrava. — Balanço os pés enquanto observo a vista da cidade. — Isso é… Ai, meu Deus. — Fecho os olhos quando o brinquedo começa a descer, evitando um grito porque Peter já está se divertindo com a minha reação, gritar só vai satisfazê-lo.
— Sabe, você tem sorte de eu não ser rancoroso — Peter grita por conta do vento.
— Quê?! — grito de volta, meu cabelo indo para todas direções.
— Abra os olhos!
Com muita relutância, faço isso, deparando-me com minha mão segurando seu pulso, quebrando a minha promessa. Afasto-me, mas, para minha surpresa, Peter não deixa e entrelaça nossos dedos, sorrindo para mim. Por um momento, esqueço que um dia tive meu coração partido por ele e sorrio de volta.
Eu imagino que o coração de um cavalo deva bater mais rápido que o de um ser humano, quando ele galopa — e se eu estiver errada, quem liga? O fato é que meu coração está tão acelerado agora que me faz imaginar que estou correndo por um campo de dentes-de-leão.
Eu mal percebo quando o brinquedo para, pois Peter continua segurando a minha mão quando saímos, e a adrenalina misturada com a sensação de tê-lo tão perto não faz nada para diminuir o ritmo do meu pobre coração. Até sinto minhas pernas fracas…
— O que você quer fazer agora? Nós poderíamos ir na competição de carrinhos. Eu com certeza ganharia de você…
Enquanto Peter fala, sinto-me oscilar um pouco enquanto tento acompanhá-lo…
— Mary? — Peter vira para mim, parecendo preocupado. — Ei, o que foi?
Suas mãos seguram meu rosto e… E, ai, Deus, eu acho que vou desmaiar. Eu dou para trás, mas lá está Peter outra vez para me segurar, só que, diferente de antes, ele me pega no colo. Tento dizer que não precisa e que estamos chamando atenção, mas o barulho dos meus próprios batimentos cardíacos em meus ouvidos me impedem.
Peter me põe sentada em um dos bancos espalhados pelo parque e se ajoelha à minha frente.
— Você não está se sentindo bem? Merda, pergunta idiota, óbvio que não está. Quer que eu te leve ao hospital? Tem um perto daqui…
— Scott… — tento falar a ele que estou bem, mas ele não está me ouvindo.
— … ou você precisa dos seus remédios? Eu vi você tomando uma vez…
— Scott…
— … Você quer que eu ligue para alguém…
— Peter! — praticamente grito, além de chamá-lo pelo primeiro nome, algo que evitei fazer a noite toda. Quando ele se cala, eu respiro fundo. — Eu estou bem. Foi apenas a minha pressão, ok?
— Você está tendo um ataque cardíaco? — Sua preocupação aumenta e quase dou risada.
— Não, eu só fico assim quando passo por… grandes emoções. — Meu rosto esquenta, e espero que ele pense que foi apenas por conta da roda gigante. Quando ele ainda parece preocupado, eu suspiro. — Ficaria mais tranquilo se eu dissesse que já fui ao médico? Minha mãe achava que eu poderia morrer a qualquer hora e que eu tinha alguma doença cardíaca, mas não tenho. Além disso, vou ao cardiologista duas vezes no ano. Aliás, fui mês passado.
— Certo… — Peter balança a cabeça, mas então sorri de lado. — Fortes emoções, hein?
Começo a gaguejar, o que faz seu sorriso ficar maior.
— Não precisa explicar, eu já entendi — Fica de pé. — Vou pegar água para você.
Faço que sim, sentindo meu rosto ainda quente. Quando ele se afasta, eu pego meu celular na bolsa e mando mensagem para JinSoul, enquanto como o que sobrou da bala de goma que eu havia guardado.
Eu: Acho que estou prestes a fazer uma besteira.
Provando que é uma desocupada e uma boa amiga, JinSoul responde na hora:
Ela: Isso n é novidade, mas conta aí. Oq é dessa vez?
Tem a ver com o cara do aplicativo?
Está indo tudo bem?
Eu: O cara do aplicativo é o Peter. Peter Jones-Scott.
Ela: OQ????
O babaca filho da puta?
Eu: O próprio.
E agora é q vem a parte sobre eu fazer besteira: ele quer me reconquistar.
Ela: Ele fingiu ser outra pessoa só p/ te levar p/ sair?
Explico rapidamente a JinSoul que nenhum de nós dois sabíamos de nada e o que aconteceu desde o momento que Peter me tirou de dentro do ônibus.
Ela: Vc acha msm que ele possa ter mudado tanto assim?
Eu: N sei. Eu quero acreditar que sim, mas… é complicado.
Ela: Você ainda o ama?
Sua pergunta me pega desprevenida, e eu fico encarando essas quatro palavras que ecoam por minha mente e coração.
Meu término com Peter não foi difícil porque eu gostava do sexo ou porque eu me iludi achando que seria "a garota" na vida dele. Foi difícil porque eu o amei antes de entender a complexidade do que é o amor. Eu amei por nós dois.
Nunca me ocorreu que eu pudesse estar sendo injusta com o Peter, mas nunca houve um pedido de namoro ou promessas para o futuro. Eu estava apaixonada e talvez tenha forçado a barra quando sabia que ele não era do tipo que tinha um relacionamento prolongado. Sinto-me horrível agora ao pensar que invadi a sua vida.
Mas ele também não mandou você embora, não te avisou que aquela embarcação estava furada, ele apenas deixou você se afogar.
Como aquele Peter pode ser diferente desse? Como posso acreditar nele quando meu coração carrega cicatrizes do quão ruim foi tudo aquilo?
Ela: Eu vou considerar o seu silêncio como um sim.
Eu não sei o que você deveria fazer, se está esperando um conselho, mas vou dizer o que acho.
Você sabe que eu acredito em destino e, mesmo odiando o Peter, também acho que vocês não se reencontraram por acaso. Você disse que deu a ele uma noite, certo? Veja no que vai dar. Você o conhece. Mesmo com tudo o que houve entre vocês, Peter nunca te enganou ou te traiu, ele só não participou da relação. E, sim, eu sei que isso é muito ruim, mas talvez ele tenha mudado. A gente só sente falta quando perde. Ele perdeu você e talvez perceber isso agora esteja fazendo com que ele te olhe de verdade. Pela primeira vez, não é você que está tentando chamar sua atenção. Deixe ele tentar, Ann, porque ele não tem nada a perder, pois já perdeu você. Basta agora saber se te merece de volta.
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2bjs, môres♥
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