00. 𝙋𝙧𝙤𝙡𝙤𝙜𝙪𝙚


❝There's a pain it does ripple
Through my frame makes me lame
There's a thorn in my side
It's the shame it's the prize❞

━━ 𝘪𝘯 𝘵𝘩𝘪𝘴 𝘴𝘩𝘪𝘳𝘵 𝘣𝘺 𝘵𝘩𝘦 𝘪𝘳𝘳𝘦𝘱𝘳𝘦𝘴𝘴𝘪𝘣𝘭𝘦𝘴




A NOITE ESTÁ MAIS FRIA QUE O HABITUAL. Qualquer pessoa que saísse da sala de eventos ou, de qualquer outra parte mais quente, sentiria uma grande diferença. Margarita Kuznetsov está agora a senti-la, desejando ter agarrado no seu casaco antes de ir para o exterior. Caminha em passos largos e pesados. O seu vestido vermelho arrasta-se pelo chão, levando atrás de si qualquer sujidade que o mesmo pudesse ter. Sente a necessidade urgente de segurar a copa do mesmo, apesar de este estar bem seguro. É ligeiramente desconfortável e parece que a qualquer momento irá descer pelo seu corpo abaixo.

"Não podes ignorar-me para sempre!" A voz dele faz-se ouvir. Está zangado, irritado... Magoado. E alguém o poderia censurar?

"Observa-me." Ela diz entre dentes, convencida que consegue dar passadas mais largas que as deles.

"Vais-te explicar?" A sua mão, finalmente, agarra o braço da rapariga, o que a faz parar.

Nicólas Cipriano tem mãos sedosas. A sua falta de qualquer tipo de trabalho físico e desgastante é notável. Aquele homem nunca trabalhara um único dia fora da sua secretária. Cuida de si, tem os seus meios. A sua pele não tem defeitos, sem calos, ou cortes. Não é áspera, não arranha. Muitas vezes sentira, Margarita, esse toque no seu corpo. Mas desta vez não é assim. Desta vez eles não conversam na cama de Nicólas, após fazerem amor. Desta vez ele não está a dizer o quão perfeita ela é, ou que faria tudo para a ver feliz. Deste vez ele grita, implora por uma explicação, ele precisa de entender. Agarra-a com força. Iria deixar marca.

"O que queres?" Ela vira-se, a voz a transbordar de raiva, de emoção.

"A merda de uma explicação, Margarita!" Nicólas exige, a olhar a rapariga nos olhos. "Para que foi tudo isto? Porque é que estás a fazer-me isto?"

"Fazer-te, o quê, Nicólas?" Ela desprende-se do rapaz mais velho, dando um passo atrás.

"Aquilo lá dentro! Ele---" O rapaz leva as mãos ao cabelo, passando-as pela face. "Merda. O que é que aconteceu? Nós estávamos bem. Nós..."

"Eu nunca disse que queria um compromisso."

Nesse momento Margarita vê qualquer esperança esvaziar-se pelos olhos do homem à sua frente. Tinha ido longe demais, ela sabia-o. Mas agora não podia, simplesmente, voltar com tudo atrás. Mesmo que estivesse arrependida, de nada lhe valia.

Nicólas está a tentar formar qualquer palavra, qualquer uma que fosse, mas nada saía.

"Ouve, Nic..." Ela começa, suspirando. "Talvez as coisas tenham avançado depressa demais. Precipita---"

Um berro de agonia é ouvido, Margarita vê-se obrigada a calar. De onde vinha este som?

"Oh meu Deus." Nicólas dá um passo atrás, a olhar para um ponto atrás de Margarita.

Um segundo se passa até ele virar costas à rapariga e correr até ao sino mais próximo. Margarita, volta-se para o mar e vai a tempo de ver algo a embater nas ondas, com força. Olha para cima, depois, novamente para baixo.

"Homem á água, homem á água!" Nicólas berra, abanando o sino com todas as forças que tem. "Homem á água! Acudam!"

Margarita está estática, a olhar para a imensa escuridão do mar. Os seus lábios parcialmente abertos, os seus olhos arregalados. Tinha ela acabado de testemunhar uma morte?

- MOMENTOS ANTES, NA SALA DE EVENTOS

"Desculpe-me Sebástian, tenho de me ausentar por uns momentos." Edoardo Incanti diz, sem olhar o homem mais velho, enquanto se levanta da cadeira.

Sebástian assente com a cabeça, mas a sua atenção não está focada no rapaz, está no palco. Eunbyeol canta a sua parte da música, os seus olhos fechados enquanto as notas musicais rodopiam à sua volta, fazendo tudo o resto parecer insignificante. Já Alessandra espera que o seu momento chegue, movendo o seu corpo ao som da batida. O seu vestido azul balança com cada movimento que ela faz, fazendo Sebástian ficar hipnotizado com esses meros movimentos. A mulher olha-o de volta, com um sorriso nos lábios que o faz derreter. Ele adora estes pequenos momentos. Parecem tão pouco, mas significam tanto.

Sebástian Cipriano. O dono de Andromeda. Após o seu pai falecer, fora ele quem tomara conta do negócio de família. Desde de pequeno que via o seu pai a construir este império marítimo e, ao longo dos anos, apaixonara-se por isso tudo, mas, acima de tudo, apaixonara-se pela riqueza que isso lhe traria. Construíra o seu império em conjunto com seu pai, tendo ao seu lado a mulher mais bela do mundo inteiro, Haley. Infelizmente Haley deixara de ter os mesmos sonhos que o marido e, mais tarde, pedira o divórcio, voando de volta para o seu país de origem, os Estados Unidos da América. Desde esse dia que se encontra solteiro, esperando que o amor lhe bata, mais uma vez, à porta. Hoje é um dos homens mais ricos de Espanha, tendo ao seu lado o filho mais velho, Nicólas, e a filha mais nova, a luz dos seus olhos, Electra.

Nicólas é o filho perfeito. Pretende seguir as pisadas do seu pai e, onde quer que Sebástian vá, o seu filho segue. Apesar da área empresarial ser o seu objetivo, tem uma pequena paixão pela forma como a parte mecânica de cada um dos barcos funciona. Adora seguir os projetos de perto, não perdendo uma oportunidade de visitar as construções e de dar as suas indicações. É apaixonado pelo que faz, seguindo cada uma das indicações dadas pelo seu pai, querendo, um dia, chegar, pelo menos, aos seus pés. O seu coração frágil está entregue a uma só rapariga, mas isso é uma conversa para outro dia. Margarita fez, de facto, um dano nele.

Electra, a filha mais nova, apesar de adorar o negócio de família, não tem a ambição do seu irmão. Não tem o seu futuro definido, profissionalmente é claro. Se dependesse do seu pai, para além de casar com Dominic Vaughn, ela seria o braço direito do seu irmão mais velho, quando esse lhe sucedesse, mas ela pretende criar o seu próprio legado um dia, só não sabe qual o caminho certo, ainda.

Do outro lado do salão, perto do bar, a família Williams conversa sobre o quão fantástica a viagem está a ser. Os pais de Ava estão a festejar o vigésimo aniversário de casamento, tendo ela vindo com eles nesta comemoração.

"Filha, um dia vais sentir a felicidade que sentimos, e não vais querer outra coisa." A sua mãe garante-lhe, dando um grande gole na sua bebida.

"Com certeza que sim." Ela responde, um tanto sarcástica, sabendo que a sua mãe tinha abusado na quantidade de álcool. "Se me dão licença, irei buscar uma bebida." Educadamente, sorri aos seus progenitores e abandona a mesa.

Ava Williams não é o tipo de rapariga que se consegue descrever numa palavra, é tão intensa quanto a cor vermelha, diz-se por aí. A sua autoconfiança não tem limites, assim como os seus impulsos, o que lhe pode causar algumas consequências negativas. Não que ela tenha isso em conta, pois mesmo com o arrependimento, continua a fazê-lo. Dificilmente vê as pessoas como algo que não obstáculos e, por isso, feri-las não a afeta muito. De momento ela não está a sentir a festa. A música não lhe agrada muito e, apesar de amar os seus pais, já não aguenta mais um segundo da conversa.

"Uma taça de champanhe, por favor." Ela pede ao barman.

"Boa noite para ti também, Ava." Victor Trevor diz-lhe, com um sorriso nos lábios.

"Boa noite, Victor." Ela força um sorriso. "A taça de champanhe?" Ela insiste.

"Já a sair, Miss Williams." Ela soa divertido, o que faz a rapariga irritar-se. "O que preciso de fazer para te conseguir levar num encontro?"

"Já tivemos esta conversa?" Ela inclina a cabeça, olhando Victor enquanto este prepara a sua taça de champanhe. "Eu acho que sim."

Victor ri-se, desviando a atenção da bebida para ela. Victor gosta de lidar com Ava, ela consegue igualar os seus comentários e a sua conversa e ele adora isso. Conhecido por flertar com todos, Victor gosta de levar qualquer um deles até ao seu quarto na terceira classe, mas Ava é uma exceção.

"Só tens de dizer que sim." Ele diz, esticando-lhe a taça de champanhe.

"Porque não perguntas a uma das pessoas com que passaste a noite toda a flertar?" Ela questiona, esticando o braço, à espera da bebida.

"Oh, tu reparaste." Um sorriso toma conta dos seus lábios. "Mas isso não foi resposta." Ele chega a taça de champanhe para trás.

"Hm, eu acho que sim." Ela dá de ombros. "Vais-me dar a taça de champanhe, ou não?" Ela pergunta.

"Diz que sim."

"Não."

"Então, sem champanhe."

"Há um bar na outra ponta da sala, eu posso ir lá." Ela vira as costas.

Victor suspira, fechando os olhos durantes uns segundos.

"Ava, espera!"

A rapariga sorri vitoriosa, virando-se, novamente, para ele. O rapaz entrega-lhe a bebida.

"Vemo-nos por aí, Victor." Mais uma vez, o barman vê a rapariga a virar-lhe costas e afastar-se de si. Ele teria aquele encontro.

"Desiste, meu." Ryan Sullivan pronuncia-se. "Ela não vai aceitar." Os olhos do rapaz mais novo estão no seu colega, mas as suas mãos estão a preparar o próximo tabuleiro de bebidas.

Ele é muito bom no seu trabalho e, apesar de gostar de estar no seu canto, não perde uma oportunidade de socializar, mesmo que isso implique o multitasking. Como um dos membros mais novos da equipa ele vê-se na constante necessidade de se provar apto para o trabalho e, são estes pequenos momentos que o fazem.

"Vai sim, vais ver." Victor diz-lhe. "Ela só se está a fazer de difícil. Eu sei disso, ela sabe disso."

"Se parares de agir como um fuck boy, talvez ela diga que sim." Ryan tenta chamar a atenção do rapaz ao seu lado.

"De momento não é um grande interesse..."

"Então, também não será um grande interesse ela sair contigo." Ryan dá de ombros, agora com a sua atenção voltada para o último copo de vinho, já cheio.

Ele ouve Victor a suspirar, mas a sua atenção já não está no rapaz. Luiz Vega aproxima-se com um tabuleiro vazio nas mãos, o seu uniforme impecável, como se ele não estivesse a trabalhar há 3 ou 4 horas. O seu cabelo está um pouco despenteado, devido à correria da noite, mas ninguém se importa com os seus caracóis rebeldes. Ficam-lhe bem demais.

Luiz, saiu do seu posto habitual de trabalho, a sala de refeições, para vir ajudar na sala de eventos, sendo que este teve uma grande aderência e foram necessários mais funcionários. Ele não se importou, dar-lhe-ia uma oportunidade de ver Ryan. Luiz está sempre sem paciência e sempre rezinga, mas a presença do rapaz mais novo altera esse seu lado, deixando-o mais aberto a piadas e até a histórias.

"Eles são todos idiotas!" Luiz murmura, pousando o tabuleiro vazio no balcão. "Há um plano de trabalho, o que custa seguir aquela merda?" Estava, claramente, irritado. Os seus colegas de trabalho insistiam em andar a passear pela sua área, não seguindo o protocolo. "Idiotas."

"Hey, calma." Ryan diz-lhe, tocando-lhe levemente na mão, que está no balcão. Um pequeno gesto, para que ninguém se aperceba. "Não penses nisso, okay? Deixa-os ser idiotas." Ele sorri-lhe, a encorajá-lo, a tentar dar-lhe algum ânimo. "Prometo que depois descomprimo todo o teu stress." O mais novo morde ligeiramente o lábio inferior, a olhar para cima, para os olhos de Luiz.

Lentamente Luiz dá por si a abrir um sorriso malicioso. Contendo a sua vontade de saltar o balcão e de beijar o rapaz à sua frente, ele clareia a garganta, evitando pensamentos impuros. Abrindo a boca para falar, acaba por não dizer nada, pois, abruptamente Ryan, tira a sua mão da dele.

"Preciso de mais um." Uma voz familiar para Luiz, faz-se notar. Será que ele não poderia ter um segundo de paz?

O colombiano força um sorriso, pegando no tabuleiro em frente a Ryan, que lhe pisca o olho. O colega segue o exemplo de Luiz e em questão de segundos ambos se misturam na festa, mais uma vez.

Axel Fox, estava a poucos metros do bar, no local onde tinha sido deixado, à espera. Move o copo que tem na mão, vendo o líquido no seu interior a corresponder a esses movimentos. Margarita dissera que voltaria em alguns minutos, mas estava a demorar e, o rapaz, começa a questionar-se se algo se terá passado. Ele não está impaciente, pelo contrário, é alguém calmo, mas estava a desfrutar da companhia da ruiva e isso fora-lhe tirado abruptamente. Quem o olhasse, não diria que o que ele está a pensar se relaciona com ela, pois o seu ar misterioso confere-lhe esse tipo de vantagens. Sem mais nada a fazer a não ser esperar, Axel bebe mais um pouco da sua bebida, esperando por Margarita.

Por esta altura já Eunbyeol Dae se encontra no palco, abanando as ancas ao som da sua mais nova música, sorrindo provocativamente para todos os olhos colados ao seu corpo. Star adora toda aquela atenção sobre si, e adora como as pessoas ficam completamente apaixonadas pela sua voz. A loira é a pessoa mais animada e brincalhona que poderia existir no navio, ninguém o poderia negar e devido a esse seu lado, poderia já contar com diversas amizades ali dentro. Este é o seu primeiro grande evento no Andromeda e não poderia estar a correr melhor. Geralmente limitava-se a entreter os diversos jogadores no casino, mas hoje era diferente. A rapariga vira-se para a sua banda, piscando-lhes o olho, antes de baixar o seu corpo lentamente ao som da música, terminado o seu set, ao voltar o seu rosto para o público, formando um sorriso misterioso. Eunbyeol sorri alegremente, ao ouvir o som ensurdecedor das palmas do seu público, assim que levanta o seu corpo, ajeitando o seu vestido brilhante, que ficara amarrotado com as suas danças, enquanto procura pelos seus olhos favoritos, os de Anastasia Makarov.

Anastasia ainda se encontra no seu quarto, na segunda classe, deitada sobre a sua cama. Enverga um longo vestido vermelho, que condiz com o seu batom. A loira nunca era apanhada sem o mesmo, apenas Eunbyeol poderia dizer que já a havia visto sem o mesmo – quando ambas adormeceram juntas numa das noites em que partilharam o quarto de Anastasia.

Ela estava zangada; zangada pois o seu plano não estava a correr como planeado. Dominic estaria mais feliz que o normal, nos últimos dias, e não era isso que Anastasia pretendia – ela queria destruir o rapaz! Um suspiro escapa pelos seus lábios, assim que um sorriso brincalhão e longos cabelos loiros, afastam a imagem de Dominic da sua mente. Eunbyeol Dae ocupa os pensamentos de Anastasia, por mais que a mesma os tentasse impedir.

"Merda, Star... O que eu faço por ti." Anna murmura, para os seus pensamentos, enquanto olha para o relógio que adorna o seu pulso, antes de pegar nos seus saltos de cor negra. Uma promessa fora feita e, por mais que não lhe apetecesse comparecer na festa, iria cumprir o que dissera a Star.

Uma expressão triste toma conta de Anna, ao se aperceber que tinha perdido o set de Eunbyeol, mas, tão depressa quanto essa expressão se formou, um pequeno sorriso se desenhou nos seus lábios avermelhados, assim que os olhos de Star se encontraram com os seus. A rapariga cobre os seus lábios com os seus finos dedos, tentando não gargalhar, ao notar na maneira apressada que a loira abandonava o palco, enquanto corria na sua direção.

"Star---" Antes que Anastasia pode-se dizer algo, Eunbyeol pega na sua mão e puxa-a para longe da festa, ao som das gargalhadas alegres de ambas.

Alessandra Becker, ou Lessy como a mulher prefere ser chamada, quando atua, partilha um sorriso cúmplice com Sebástian, antes de se afastar do seus braços reconfortantes, enquanto coloca uma mecha dos seus cabelos dourados atrás de uma das suas orelhas, essas estando decoradas com umas belas pérolas, oferecidas pelo homem a poucos metros de si.

"Tenho que me ir preparar para a minha atuação... Vemo-nos daqui a pouco... Señor Cipriano." Ela diz, sorrindo sedutoramente, antes de se afastar do esbelto homem, ajeitando o seu vestido azul, antes de se aproximar do palco.

A sua atenção estava colocada sobre o evento, enquanto procurava por Scorpius que a iria acompanhar na atuação. Onde estaria o rapaz? Ele nunca antes se atrasara para nenhum dos ensaios que os mesmos partilhavam.

O plano inicial era que Alessandra ficasse hoje pelo Casino, a entreter todos os que haviam decidido não participar no evento, mas este emprego fora ganho após Sebastian se apaixonar, completamente, pela sua suave voz e pela beleza que a loira emanava assim que colocava os seus pés sobre o palco. Ela consegue hipnotizar qualquer um que tomava a devida atenção, quando começa a cantar as suas músicas. Alessandra é, provavelmente, a mulher mais otimista e com maior senso de humor dentro do cruzeiro, pelo menos é única que se ri quando ouve as piadas dos seus colegas, enquanto que os outros passageiros com a mesma idade, limitam-se a olhar com desprezo para o emissor da piada. Alessandra é uma pessoa de espírito livre, ter, já, os seus 34 anos, não significa que tem de fazer cara feia para qualquer atitude dos seus colegas mais novos, afinal também ela já tivera aquela idade.

Um pequeno suspiro escapa por entre os lábios da mulher, assim que a chamam para subir para o palco, não poderia esperar mais por Scorpius. O que ela não esperava era que ao subir ao palco e ao pegar no seu microfone, o filho do seu amante, começasse a gritar desesperadamente que alguém tinha caído ao mar.

Tudo tinha acontecido muito perto da sala de eventos e, Nicólas tinha berrado tão alto que qualquer pessoa o teria ouvido. Várias foram as reações. Havia pessoas confusas, outras que deixaram o pânico tomar o seu corpo, outras ficaram paradas no local onde se encontravam. Mas não Sebástian, nunca Sebástian. O homem saíra a correr do salão, seguido por uma quantidade absurda de pessoas curiosas.

Alexander Cohen II caminha calmamente entre os corredores gelados de Andromeda, enquanto pequenas gotículas de suor escorrem pelo seu pescoço. Está nervoso. Depois do que fizera, qualquer um estaria. Não se podem deixar enganar pela sua cara de bebé e pelos seus cabelos azuis, um dia iria dar cabo de qualquer um que se atrevesse enfrentá-lo, em tribunal. Alex é o futuro advogado local do Andromeda, viajando ao lado do seu pai, esse sendo o advogado da família Cipriano. Um dos diversos rapazes ricos que viajam no cruzeiro ao lado da sua família, mas ao contrário dos outros, Alexander esconde diversos segredos, segredos esses que poderiam destruir a sua reputação, assim como a relação que mantém com os seus pais. Dando um jeito à gravata, dá por isso a arregalar os olhos, apercebendo-se da figura masculina de Nicólas a abanar freneticamente um sino, enquanto grita sobre um homem ter caído ao mar.

Scorpius Lupin, corre desesperadamente em direção do local onde o evento se estava a realizar, tentando em vão não chocar contra os outros passageiros, que se colocavam no seu caminho. O rapaz perdera a noção das horas, e encontrava-se atrasado para a sua atuação ao lado de Alessandra. Scorpius é conhecido no navio como o violinista amoroso, que toca músicas românticas para os casais já de idade avançada, enquanto passeia pelos corredores do cruzeiro. É, possivelmente, o rapaz mais querido entre todos os empregados que Andromeda havia escolhido empregar, sendo impossível encontrar alguém que pudesse dizer que desgoste dele. Scorpius vê o seu rosto a ficar a poucos metros de encontrar o chão, assim que ouve as palavras de Nicólas, quando quase tropeça. Engole em seco, aproximando-se de Alexander, partilhando um olhar com o mesmo, enquanto ambos engolem em seco.

- NO CASINO, NAQUELE MESMO MOMENTO

Tristan Leroux tenta não fechar os olhos, devido ao seu cansaço e aborrecimento, enquanto reparte, mais uma vez, as cartas para um novo jogo entre um par de senhores idosos, que decidiram retirar-se da festa, para jogar uma partida de póquer. Devido ao evento que acontecia no salão a alguns metros do moreno, o casino estava mais vazio que o normal. Tristan, ou Théo, é um homem fácil de descrever. O crupiê do Casino que nunca sorri. Reservado, não gosta de se apegar a ninguém e não é o típico empregado que se atira aos seus clientes ou que sorri demasiado, mas tudo tem a sua razão de ser. Aborrecido, começa a pensar no que preferia estar a fazer. Preferia mil vezes estar a descansar ou a explorar o cruzeiro, como fazia normalmente nas suas folgas. Ou estar com Dominic, o rapaz que parecia ocupar todos os recantos da sua mente.

"Dom?" Um suspiro confuso escapa pelos seus lábios, ao notar a maneira brusca com que o loiro adentrou o local.

Mas não fora isso que o surpreendera, e sim a maneira como o Dominic está parado, a poucos metros de si; o cabelo loiro platinado, que estava sempre devidamente arranjado – tirando depois dos encontros que ambos partilhavam no quarto de Tristan – encontra-se neste, momento, completamente, despenteado. A roupa sempre devidamente passada e arranjada da maneira que o loiro mais gosta, está toda amarrotada e com alguns rasgões e ele não enverga o seu usual fato preto. Alguma coisa ali não está certa. Tristan confirmara esse seu pensamento, quando Dominic não sorrira, e limitara-se apontar com o seu olhar para a casa de banho dos funcionários, antes de caminhar nessa mesma direção.

"Perdão, meus senhores, mas terei que me ausentar... O meu colega aqui, irá substituir-me." Tristan avisa, chamando por Carter, um colega seu, antes de se ausentar da mesa de póquer, sem sequer olhar uma última vez para os homens que estão concentrados no jogo.

"Dominic, o que é--" O rapaz interrompe-se a ele mesmo, quando Dominic, que se encontrava com ambas as suas mãos sobre o lavatório, encarando-se pelo espelho, eleva a sua mão, pedindo silêncio.

E é aí que Tristan nota os ferimentos que adornam a sua mão, como se o rapaz tivesse esmurrado algo duro. Antes que o moreno o pudesse questionar sobre os ferimentos, Dominic desaba sobre o chão, sentando-se sobre o mesmo, enquanto tapa o seu rosto com os seus braços.

"Hey, o que é que se passou?" Tristan fala calmamente, ajoelhando-se em frente ao rapaz, pousando as suas mãos sobre as pernas do mesmo, tentando que o rapaz o respondesse.

Mas fora em vão, pois passaram os seguintes minutos em puro silêncio, limitando-se a ouvir a respiração forte do loiro, até serem interrompidos pelo som alto de pessoas a berrar, falando sobre alguém ter caído ao mar.

"Mas que merda?" Tristan murmura, olhando ao seu redor, achando por momentos que aquela seria uma brincadeira de mau gosto. Mas Dominic sabe perfeitamente que não o é.

O loiro eleva o seu rosto, encostando a sua cabeça contra a parede suja da casa de banho, deixando uma gargalhada irónica escapar por entre os lábios, enquanto fecha os olhos.

"Vamos." Ele, finalmente, fala, num tom rouco, antes que Tristan pudesse dizer algo, enquanto eleva o seu corpo do chão, ajeitando as suas roupas, saindo da divisão, acompanhando pelo moreno, que o encara de forma confusa.

Todos os presentes no casino, seguiam quem anunciara o acontecimento, onde se encontrava Sebástian, a tentar perceber o que se passara.

"Ah Dom, finalmente." O homem diz-lhe, deixando um suspiro de alívio sair-lhe pelos lábios. "A Electra?" Ele questiona, olhando para trás de Dominic, não vendo a sua filha mais nova em parte alguma.

Dominic olha-o, sem saber, ao certo o que dizer. Ele passara este momento inúmeras vezes na sua mente, mas agora que o momento chegara, não conseguia encontrar forças para falar.

"Ela..." Ele tenta dizer algo. "Não sei, não a vejo desde o fim do jantar." Ele acaba por dizer, firme.

A cara de Sebástian adquire uma expressão de horror. Poderia ser? Não. Ela poderia estar em qualquer parte. Talvez estivesse já a dormir no seu quarto.

"Ah, Edoardo!" Ele chama pelo rapaz, minutos depois, quando vê o mesmo chegar.

"O que se passa, Sebástian?" Ele questiona, intrigado.

"Alguém caiu ao mar." Ele olha para a borda, onde a inspetora do cruzeiro se encontra, a olhar para baixo. "Estou a tentar contactar a Electra faz tempo. Sabes dela?"

"Não." Ele confessa, olhando a inspetora.

Sebástian diz algo, mas Edoardo já não o consegue ouvir. Não quer focar-se na cara do homem, não consegue, nem quer, olhá-lo nos olhos. Não sabe se aguentaria.

Edoardo Incanti, apesar de ser excêntrico, de momento não se sente assim. A situação tirou-lhe a concentração, mas ele não se pode dar ao luxo de deixar de jogar. Precisa de jogar o jogo que tem em mente e, apesar de, normalmente, o fazer com base em egoísmo, desta vez não o pode fazer. Tem de jogar em equipa. Demasiadas coisas estão em risco.

Margarita, a mais esbelta ruiva entre os demais passageiros de Andromeda... Descrevê-la é fácil, especialmente para aqueles que não conhecem a sua verdadeira história. Margarita é uma mulher sonhadora, compassiva e romântica, sonhando encontrar o seu grande amor. Infelizmente, Nicólas não seria o que lhe roubaria o coração. A rapariga deixa um pequeno soluço escapar por entre os lábios, abraçada os seus braços, com a manta que lhe fora oferecida por cima dos seus ombros, acabando por se afastar da confusão que se criava no local. Por alguns segundos, fechou os olhos, agarrando-se à barra de ferros, que impedia a sua queda na escuridão das desconhecidas águas salgadas, assim como ocorrera com quem quer que fosse aquela pessoa. Ela tenta, em vão, acalmar a sua respiração, apertando o ferro entre seus dedos, até os seus nós se tornarem brancos e os magoar. Passa imagens da sua discussão com Nicolás na sua mente. Imagens essas que a assombravam. Os seus planos não estavam a correr como queria, e a situação está a afetá-la mais do que seria normal.

"Mali?" Uma lágrima solitária escorre sobre o seu rosto, ao ouvir a voz suave e baixa de Axel.

A manta é muito fina e Axel nota, colocando o seu blazer sobre os ombros da mesma, que suspira. O rapaz coloca a sua mão quente no fundo das suas costas, acalmando o coração acelerado da ruiva. Apenas ele tem aquele efeito sobre ela.

"Eu estou aqui." Axel, limita-se a dizer, enquanto ela assentia, pousando a sua cabeça no ombro do mais velho. Pela primeira vez, o seu lado mais frágil está à vista, para que Axel veja.

A noite não terminara conforme planeado, para ninguém. Luiz e Ryan desapareceram dos seus postos de trabalho, sem deixar rasto. Os pais de Ava não sabiam para onde tinha isso a sua filha após se levantar para ir buscar uma bebida. Anna e Eunbyeol não foram vistas por ninguém. Mais tarde, todos apareceram, ao contrário da mais nova Cipriano que, após horas de busca no cruzeiro, continuava desaparecida.

"Señor Cipriano..." O investigador começa, sentando-se à frente do dono do cruzeiro. Eram, agora, quase 7 da manhã.

Os olhos do homem têm sacos negros salientes, os do seu filho, Nicólas, pesam, mas ele recusa-se a fechá-los. Dominic é o único em pé, a conter a vontade de caminhar em círculos.

"Fizemos uma busca intensa, revistamos todas as divisões... O seu escritório mostra sinais de luta e... Encontramos isto" O investigador tira do bolso um saco de plástico. Um telemóvel encontra-se lá dentro. O telemóvel de Electra.

Sebástian abana a cabeça negativamente. Isto não poderia estar a acontecer.

"Não, têm a certeza?" Nicólas diz, num sussurro. As lágrimas ameaçam escapar a qualquer momento.

"Infelizmente, sim. Lamento trazer-lhe as más notícias, mas foi Electra quem caiu ao mar. Os meus pêsames."

4633 PALAVRAS
sem revisão

¸.•*¨  E aqui está, o prólogo!

¸.•*¨  O que acharam? Já têm teorias?

¸.•*¨ Esperemos que tenham gostado!

¸.•*¨  Sabemos que alguns personagens não apareceram
tanto assim, mas tentámos dar tempo de antena
a todos e esta solução foi a que encontramos. 

¸.•*¨  Não se esqueçam de comentar bastante e votar,
a partir do próximo capítulo iremos ser
movidas a biscoito e quem não votar/comentar, verá
o seu personagem a tornar-se um extra de cast.
Queremos ver apoio e emoção da vossa parte!

¸.•*¨  Críticas, construtivas, são sempre bem
vindas, então não hesitem!

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