07 - Ligações
- IVYSON
Era amor, tornou dor
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29 de Fevereiro
Alguns dias haviam se passado, Petra parecia mais focada em cada treino, evitava ter muito contato com Julia o que resultou em perder algumas refeições, mas também tinha algo a mais, Julia percebeu quando Petra passou a ficar horas na varanda falando no celular, ela também percebeu que Petra não parecia apenas querer evitar conflito e, apesar do esforço, estava evitando ter mais um.
Petra passava horas no que nitidamente era uma briga, logo na primeira vez, Julia notou que aquelas discussões eram com Lorenzo, o noivo de Petra do qual não era a maior fã. Petra ficava abatida a cada ligação, seu foco nos treinos parecia mais uma fuga do que acontecia no seu relacionamento, o cansaço evidente e o fato de seu rosto sempre carregar indícios de choro no meio da noite, tudo isso já estava fazendo Julia sentir um resquício de empatia por Petra.
Naquela manhã, o ambiente no refeitório estava repleto de risadas e conversas animadas, mas um assunto em particular dominava as mesas: as ligações que Petra fazia durante a madrugada. Julia, sempre direta, foi a primeira a comentar enquanto pegava seu café.
— A Petra precisa de um telefone com menos volume ou aprender a não berrar em italiano no meio da noite – resmungou Julia, sem esconder a irritação. — Alguém devia dizer a ela que gritar às quatro da manhã não ajuda a resolver nada. E que mesmo que ela esteja na varanda eu ainda consigo ouvir.
— Ah, mas imagina que cena! – Luzia comentou com um sorriso travesso. — Aposto que a Petra fica um charme falando em italiano, né, Kuddies?
Kuddies riu e concordou, fazendo gestos dramáticos com as mãos, como se estivesse encenando uma briga em italiano. As duas gargalharam juntas, criando um clima leve, apesar das queixas de Julia.
— Sério, eu quase consigo ouvir ela mandando um "Mamma mia" no meio das brigas!
A brincadeira fez algumas das jogadoras rirem, mas Rosa, que estava mais próxima, não se divertiu tanto. A lembrança dos momentos tensos que ela e Petra passaram dividindo quarto no Japão durante um campeonato ressurgiu. Ela sabia que aquelas ligações noturnas entre Petra e Lorenzo não eram apenas desabafos comuns; havia uma dor oculta e uma tensão que ia além do superficial.
Enquanto isso, Carolana e Pri, que haviam notado a ausência de Petra no jantar da noite anterior, decidiram abordar a questão. Ao encontrar Petra no vestiário depois do café da manhã, Carolana foi direta.
— Petra, ontem à noite você não apareceu no jantar... de novo. Tá tudo bem? – Carolana perguntou, sua preocupação evidente. — Você tem pulado refeições com frequência.
— É, você sabe que precisa se alimentar direito, ainda mais com o ritmo de treino que estamos – acrescentou Pri, adotando um tom mais materno.
Petra, ainda cansada e sem muita paciência, tentou minimizar a situação. — Eu só estava cansada demais, acabei dormindo antes mesmo de pensar em comer. Nada demais.
Pri e Carolana trocaram olhares, claramente não convencidas.
— Pular refeições não ajuda ninguém, ainda mais pra você que tá forçando o corpo tanto assim – Pri advertiu, com um tom de preocupação.
— Olha, só estamos dizendo isso porque nos importamos – Carolana completou, suavizando o tom. — E a gente sabe que as coisas não estão fáceis, mas se precisar conversar, estamos aqui.
Petra olhou para as duas por um momento, sentindo uma mistura de gratidão e exasperação. — Eu sei, meninas. Mas vou ficar bem. E vou tentar não pular mais as refeições... mamães!
Elas assentiram, rindo da fala de Petra, mas ainda com a preocupação estampada em seus rostos. Petra sabia que não podia continuar descontando suas frustrações em si mesma, mas a realidade era que as coisas estavam se acumulando de uma forma que ela mal conseguia lidar.
Ao voltar para o quarto depois do treino, Petra encontrou Julia organizando suas coisas, o silêncio entre elas pesado. As palavras de Julia do treino de dias atrás ainda ecoavam em sua mente, mas Petra não estava disposta a reviver aquele momento. Ela se jogou na cama, fechando os olhos na esperança de que o sono, ou pelo menos um pouco de descanso, viesse antes que a próxima rodada de treinamentos começasse.
Por enquanto, Petra estava decidida a se manter firme e concentrada no que mais importava: o vôlei. Mesmo que isso significasse continuar lidando com as tensões, tanto dentro quanto fora da quadra.
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Naquele dia, o cansaço acumulado começou a mostrar seus sinais em Petra. Suas noites mal dormidas, devido às discussões com Lorenzo, não apenas afetavam seu desempenho, mas também deixavam seu humor mais ácido e distante. As brincadeiras e provocações que antes ela ignorava ou respondia com um sorriso forçado agora se tornaram difíceis de suportar.
Durante o treino, Julia não deixava de implicar, como de costume. Cada vez que Petra cometia um erro, por menor que fosse, Julia estava lá para lembrar. — Talvez se você tentasse descansar e não passasse a noite berrando em italiano, conseguisse acertar esses passes, Lewis.
Petra cerrou os dentes e ignorou, mas a provocação a atingiu profundamente. Ela sabia que estava cansada e que aquilo estava afetando seu jogo, mas a última coisa que queria era deixar Julia perceber o quanto aquilo a incomodava. Julia queria que Petra tivesse alguma reação mas estava distante até mesmo pra responder às provocações.
Nos momentos de descanso, Luzia e Kuddies, sempre próximas, tentaram mais uma vez fazer Petra se abrir.
— Petra, você sabe que pode falar com a gente, né? – Luzia começou, com um tom gentil. — A gente percebe que você não tá bem, e estamos aqui pra ajudar.
Kuddies assentiu, com o mesmo olhar preocupado. — Se for por causa do Lorenzo, ou qualquer outra coisa, você não precisa carregar isso sozinha.
Petra respirou fundo, tentando manter a fachada.
— Obrigada, meninas. Mas tá tudo bem. São só... picuinhas de casal, nada que eu não consiga resolver. Não quero que vocês se preocupem com isso.
As duas trocaram olhares, claramente não convencidas, mas decidiram respeitar o espaço de Petra. Ainda assim, era evidente que elas não gostavam de vê-la se desgastando tanto.
Enquanto isso, Rosamaria observava tudo de longe, já conhecendo os sinais de que Petra estava se esgotando. A relação delas havia se aprofundado nos últimos tempos, e Rosa sabia exatamente o que estava acontecendo entre Petra e Lorenzo. Ela também sabia que, em momentos assim, Petra tinha a tendência de se fechar e tentar lidar com tudo sozinha, o que só piorava a situação.
Depois do treino, quando o ginásio começou a esvaziar, Rosamaria se aproximou de Petra, que estava sentada no banco, esfregando os olhos cansados.
— Você sabe que isso não vai acabar bem, né? – Rosa disse, sem rodeios.
Petra levantou os olhos e suspirou. — Não precisa se preocupar, Rosie. Eu tô dando conta.
— Não, você não tá. — Rosa rebateu, sentando-se ao lado dela. — Olha pra você. Tá se matando em quadra, mal dormindo, e ainda aguentando essa pressão. Não pode continuar assim.
Petra olhou para o chão, incapaz de manter o contato visual. — Eu só... eu preciso resolver isso com Lorenzo. E os treinos, a competição, tudo está acumulando. Mas eu não quero atrapalhar ninguém com isso.
Rosa balançou a cabeça, entendendo o dilema de Petra. — Eu sei que você quer ser forte, mas às vezes, ser forte é pedir ajuda. Você precisa desabafar, Pê. Segurar tudo isso sozinha só vai te prejudicar.
Houve um longo silêncio entre as duas. Petra finalmente levantou os olhos para Rosa, visivelmente abatida.
— Eu só queria que as coisas fossem mais fáceis. Eu e Lorenzo estamos num ciclo sem fim de brigas, e parece que eu não consigo acertar nada. E com a VNL chegando, eu não posso deixar isso afetar meu jogo, mas já tá acontecendo. Eu não sei o que fazer.
Petra sentia o peso daquele noivado sobre ela, um amor que antes havia leveza e graça, agora era uma dor que a fazia duvidar de qualquer certeza que tinha antes e se perguntava se aquilo que era amor e foi transformado em dor pelo tempo seria curado algum dia.
Rosa colocou a mão no ombro de Petra, oferecendo o conforto que ela precisava. — Vai ficar tudo bem. Mas você precisa se cuidar primeiro. Amanhã, depois do treino, a gente sai pra dar uma volta, só nós duas. Esfria a cabeça, tenta colocar as coisas em perspectiva. E se precisar conversar mais, eu tô aqui, sempre.
— Obrigada. – Petra assentiu, sentindo-se um pouco mais leve, mas ainda carregando o peso das dificuldades. Ela sabia que a situação com Lorenzo não ia se resolver da noite pro dia, mas talvez, com Rosa ao seu lado, ela conseguisse encontrar uma maneira de lidar com tudo sem desmoronar.
— Não precisa agradecer, garota. – respondeu Rosa enquanto levantava e estendia a mão para ajudar Petra levantar também. — E não pensa que não estou vendo você ficar depois dos treinos, já te dei muito espaço, agora você vai ter que me aguentar pegando no seu pé, Pri e Carol também estão de olho em você.
Enquanto as duas saíam do ginásio juntas, Julia, que estava mais à frente, observou a cena de relance, uma expressão indecifrável cruzando seu rosto. Ela sabia que algo estava acontecendo, mas ainda não conseguia definir o que realmente sentia ao ver Petra tão vulnerável e, ao mesmo tempo, tão determinada a esconder isso de todos, principalmente dela.
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oi de novo
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