# 𝐟𝐢𝐯𝐞

Oi, gente!

Queria saber, o que acharam da narração do Takashi no capítulo anterior? Fiquei realmente paranóica de não parecer, de fato, ele quem falava ali. Sei que a entonação das palavras mudam de personagem pra personagem, mas sempre fico com essa pulguinha chata atrás da orelha.

Teve um comentário de uma leitora que citou sobre a mente do Takashi ser “barulhenta” só lendo a narração dele, e sinceramente, esse feedback me agradou muito, porque era exatamente o que eu queria passar na escrita.

Uma coisa importante: a fic é do Takashi, porém o foco não vai ser só pra ele e pra [Nome]! Cada um aqui vai ganhar um pouquinho de palco, porque quero mostrar o que enfrentam também, além de serem importantes pra história. Espero que gostem, eu realmente tô empolgada pra fazer a narração dos outros, PRINCIPALMENTE do Hakkai!

Me desculpem, mais uma vez, se houver algum erro ortográfico que eu não tenha visto.

Boa leitura! ♡

[Nome]

“Posso te ver?

    A primeira mensagem depois daquela noite. Foi suspeito ele ter entrado em contato um pouco tarde, embora eu não achasse ruim, visto que é melhor do que ele acabar sumindo de uma hora para outra. Confesso que o fato dele ter tomado iniciativa mais rápido que eu chegou a me surpreender, já que eu também pretendia mandar alguma coisa pra ele quando eu finalmente estivesse livre das aulas e afazeres.

    Eu havia acabado de sair do banho, nesse exato momento estava com a toalha enrolada envolta de meu corpo, contudo, o som da notificação havia me impedido de continuar minha busca por uma roupa confortável, e assim que vi de quem se tratava, eu acabei esquecendo completamente do que iria fazer. Foi automático respondê-lo bem na hora que a mensagem chegou, acabei me sentindo um pouco desesperada, e claro, a paranoia de que ele me acharia emocionada demais subiu à minha cabeça.

    Todavia, respirei fundo quando parei para pensar que a primeira mensagem foi dele… Não tinha como ele pensar qualquer zombaria de mim nesse sentido. Além disso, é o Takashi.

“Oi. Pode, sim.”
“Meu dormitório é no 
segundo andar, fim do
corredor, do lado esquerdo.”

    Ele apenas enviou uma mensagem perguntando se podia me ver. Não puxou qualquer assunto antes disso, talvez porque não quisesse fazer isso através de uma tela, ou talvez estava planejando me dar um pé para que eu não me iludisse com o beijo na noite passada.

    Poderia ser tudo, ao mesmo tempo que não poderia ser nada. Talvez ele só queria me ver e passar um tempo. Embora a pulga ainda estivesse atrás de minha orelha, tentei não pensar nisso e me apressei para me vestir, durante o processo escutei o som da notificação novamente, mas dessa vez esperei que eu ficasse totalmente pronta para finalmente respondê-lo. Uma camiseta acinzentada maior que meu tamanho exato e um short vermelho curto, que era coberto pela peça de cima.

“Chego em dez.”

    Apertei na mensagem duas vezes, deixando que surgisse um coração como resposta. Meu coração, agora, estava um pouco a mil. Um cara que eu nem podia considerar um ex-namorado, mas que fazia parte de um longo período de minha vida, estava prestes a entrar em meu dormitório. Agradecia por Yuzuha quase nunca parar quieta e raramente dormir aqui, tanto que nem tinha tantas coisas dela nesse quarto, já que eu também preferia ficar com ele sozinha. Não estava a fim de ouvir nenhuma gracinha, eu estava um pouco nervosa pra isso agora.

    Esperei exatos sete minutos enquanto tentava relaxar na cama, vasculhando qualquer coisa que me interessasse até receber uma mensagem dele avisando que chegou. Não respondi, imaginando que ele estava se direcionando pra cá, e então me levantei, indo até a porta para abri-la, esperando que ele aparecesse para não precisar se dar ao trabalho de bater na porta e me esperar recebê-lo. Reconheci a figura do arroxeado ao sair do elevador, caminhando em minha direção sem cerimônias.

    — Oi — o cumprimentei, mas não tive tempo de reagir quando ele imediatamente me puxou para um abraço, me fazendo arregalar levemente os olhos.

    Eu ainda não estava tão acostumada com seu retorno, principalmente com esse ato tão repentino, contudo, não hesitei em retribuir, imaginando que ele estivesse precisando disso. Seus braços envolta de minha cintura acolheram meu tronco com mais segurança contra o dele assim que sentiu minhas mãos repousarem em suas costas, mas estas deslizaram pela camisa social, e então, envolvi seu pescoço para que o contato ficasse cada vez melhor.

    Passamos os próximos minutos daquele jeito, abraçados em frente à porta do meu dormitório, sem dizer uma palavra. Eu queria respeitar o momento dele. Takashi parecia estar preso em seus pensamentos, tentando relaxar com um abraço, então achei melhor iniciar uma conversa somente depois que ele estivesse mais tranquilo.

    Takashi me soltou devagar, com hesitação, como se não quisesse se afastar de jeito nenhum. Um excesso de preocupação encheu meu peito quando percebi que suas olheiras aumentaram a intensidade da cor, além de que ele não parecia estar no mesmo mundo que eu.

    — Desculpa, eu só-

    — Não, não… Não tem nada pra se desculpar — o impeço de terminar — Vem, entra.

    Ele não disse nada quando segurei seu pulso e o puxei atrás de mim, fechando a porta antes de irmos para a cama. Nos encostamos na cabeceira, mas antes dele se acomodar completamente no acolchoado, retirou seus tênis e continuou com as meias, finalmente à vontade. Peguei a mão dele, a mesma qual continha a tatuagem de uma caveira, analisando os machucados recentes, fazendo a dose de preocupação aumentar dentro de mim ao me questionar o que levou ele a tê-los. Não pensei em perguntar se havia acontecido alguma coisa, estava óbvio que sim, contudo, eu não perguntaria. Conhecendo Takashi, a justificativa viria quando ele estivesse mais tranquilo, sentia que ele veio aqui para esquecer, seja lá o que ocorreu.

    — Você já ia dormir? — ele pergunta.

    — Não, agora não. Eu ia assistir alguma coisa até pegar no sono — respondo, simples — Quer me acompanhar?

    — Na verdade, eu queria conversar um pouco — desvia o olhar — Eu tive um dia de merda, [Nome], não vou conseguir me concentrar em qualquer série ou filme agora.

    — Tudo bem — concordo, assentindo com a cabeça — Você parece bem cansado, dormiu pelo menos um pouco?

    — Nem preguei os olhos — suspirou, levando as mãos até seus olhos e esfregando-os levemente.

    Eu fiquei em silêncio, pensando no que poderia acontecer até me lembrar com o que ele trabalha, especificamente. Alguma merda voou pro ventilador pra ele se sentir tão esgotado, ou somente teve um longo dia que o deixou extremamente exausto. Queria relaxá-lo um pouco, e quem sabe, conseguir fazê-lo dormir nem que fosse só por meia hora. Ele com certeza estava precisando.

    — Vamos escutar uma música enquanto conversamos, pelo menos vai parecer um ambiente mais agradável — sugiro, ele apenas assente.

    Peguei meu celular, desbloqueando-o e abrindo o aplicativo de música, encontrando a playlist que eu mais escutava durante o dia, seja para estudar, caminhar ou até mesmo me exercitar. É bem difícil eu fazer alguma coisa sem música, já que tudo fica melhor com alguma melodia tocando, e incrivelmente me ajudava até a dormir.

    Californication, Red Hot Chili Peppers atravessa nossos tímpanos, e assim bloqueio o celular mais uma vez, voltando minha atenção ao mais velho, que aparentava procurar se acalmar internamente. Eu sorri de canto para tentar tranquilizá-lo, ele retribuiu, mas parecendo sem muita energia até pra isso. Me aproximei um pouco dele, me deitando com a cabeça apoiada no travesseiro, queria poder me sentir confortável nessa cama de alguma forma.

    Takashi silenciosamente se deitou também, nós dois estávamos fixando o teto liso do cômodo, ouvindo o cantor liberar as palavras melódicas acompanhado do som da guitarra e bateria. Ótimo ritmo para nos distrair pelo menos um pouco, e por mais que não estivéssemos falando absolutamente nada agora, não estávamos incomodados.

    — Que dejá vu — ele comenta, me arrancando um sorriso.

    — É… Achei que só eu tinha sentido — levo meu olhar ao seu rosto — Sinto saudade… Em partes.

    — Quais, especificamente? — ele devolve o contato visual.

    Eu fiquei em silêncio por alguns segundos, começando a me lembrar das cenas que ele corria com sua moto enquanto eu estava sentada na garupa, nas vezes que fiquei puta quando ele aceitava participar das coisas mais suspeitas possíveis e nos convencia de ir junto, quando dividimos um baseado ao pôr-do-sol… Momentos de intimidade. O sorriso mínimo foi automático conforme eu me lembrava, não me importei dele ter visto.

    — Só as boas, eu diria — respondo, voltando a fixar seus olhos.

    Isso tirou um risinho nasal dele, seguido de um suspiro quando fechou os olhos, provavelmente para ter uns dois segundos de descanso até decidir abri-los mais uma vez. Sua mão elevou ao meu rosto, tirando a mecha de meu cabelo e colocando atrás da orelha, seu polegar acariciou minha bochecha, deslizando suavemente até meu queixo. 

    — Que merda a gente tá fazendo, Takashi? 

    Nossas íris cruzavam como um raio impiedoso, o momento de tensão em si pesava em meus ombros, mas eu não queria a leveza de volta. Eu sentiria falta se eu não o sentisse, porque significaria que o motivo dele não estaria mais presente ao meu lado. O arroxeado continuou a deslizar seu dedo em minha pele de forma delicada, como se em algum momento eu pudesse me quebrar.

    De novo.

    — Eu não sei — sussurra — Mas não quero parar. 

    Baixei o olhar, sentindo o frio em minha barriga começar a dar um sinal de formigamento irritante, o mesmo qual fez cócegas quando nos beijamos naquela sala. Foi um momento que só nós dois sabíamos o quanto significava, e eu não sei se deveria ficar feliz ou apreensiva, mas sentia que não seria a última vez.

    Levei minha mão até a sua, deixando-a por cima e devolvendo o carinho. Meu coração batia freneticamente, machucando um pouco meu peito, contudo, queria que aquela sensação continuasse. Pela primeira vez em muito tempo, estava sentindo que aquilo me causava alívio, e não desespero. Meu movimento seguinte fez com que seu toque se desfizesse, mas seus olhos continuavam em mim, apoiada com o cotovelo no acolchoado, fixando o rosto do rapaz deitado em minha cama. Meu rosto um pouco acima do seu, tendo uma visão superior.

    A distância teve duração de curtos segundos antes que eu finalmente decidisse quebrá-la, encostando nossos lábios, mas passando disso quando a movimentação começou, não demorando quando o contato das línguas começou a ganhar dominância no ósculo. Uma de suas mãos alcançou minha cintura, deslizando às costas, o que fez um arrepio gritante abraçar toda a minha pele.

    Apoiei uma de minhas mãos em seu peitoral, sentindo-o subir e descer calmamente devido à respiração, prosseguindo o beijo com lentidão, sequer mostrando sinais de que queria parar. Mordi seu lábio inferior um pouco forte quando senti a mão pesada apertar levemente minha cintura, acidentalmente tirando um gemido baixo e abafado dele, provavelmente pela surpresa, mas foi o suficiente para que meu corpo começasse a tensionar por cima dele. Permitindo que o contato se intensificasse, fui posta por cima dele, por obra de suas mãos me puxando de propósito.

    Eu estava em cima dele agora. Seu tronco entre minhas pernas, me dando a liberdade de controlar a situação, embora suas mãos sabiam o que fazer mais do que eu.

    Um arfar fugiu de minha boca, não sendo diferente com ele, deixando as respirações se encontrarem naquele nítido momento prazeroso para ambos. O arroxeado tomou ação após, se sentando sem quebrar o beijo ou me soltar, tudo o que continuou fazendo foi me tocar nos lugares certos e dominar meus lábios, sabendo perfeitamente como fazer isso. Suas mãos começaram a deslizar vagarosamente até minhas nádegas, puxando meu quadril para frente, ousando me deixar ainda mais colada a ele.

    Não segurei o aperto em seu ombro, amassando sua camisa, mas desfiz o toque para mergulhar meus dedos em seus fios e apertá-los sem que pudesse machucá-lo. Sentia que as roupas estavam começando a me incomodar, o calor aumentava em meu sangue diante esse beijo ardente, tendo nossas línguas acariciando uma à outra como um entrelaçar, que logo se transformou em uma batalha mais agressiva. Aparentemente, nos desafiando para ver quem ganhava.

    Eu deliciosamente perdi a luta, deixando-o tomar controle do beijo. Agora, quem teve o lábio mordido fui eu, ao mesmo tempo que recebi o aperto feroz de suas mãos, me tirando um gemido baixinho contra sua boca se ocupando com a minha.

    De repente, o som da maçaneta seguido da porta se abrindo acabou fazendo com que parássemos a brincadeira devido ao susto, quase fazendo meu coração sair pela boca, contudo, vimos que era apenas Yuzuha. Uma sensação de desânimo borbulhou dentro de mim, visto que aquilo fez o mais velho parar imediatamente com o que estava planejando, deixando as mãos em minha cintura em um piscar de olhos. Aparentemente, ele também havia se assustado com a entrada repentina da Shiba. 

    Claramente, ela não segurou o sorriso malicioso, sendo compreensível pelo que havia acabado de acontecer aqui, e principalmente, onde eu estava sentada agora. Percebendo isso, eu me afastei do garoto e me sentei na cama, já me preparando para os comentários indecentes da mais velha.

    — Que ótimo… Parece que estão se entendendo muito bem — ela zomba, me fazendo revirar os olhos — Relaxem, não vou ficar pra atrapalhar o acasalamento de vocês. Vim só pegar umas coisas. 

    Eu realmente quis rir do que disse, contudo, eu me contive para não dar esse gostinho a ela. Eu ainda estava um pouco irritada pela interrupção, mesmo que o que estava prestes a acontecer aqui fosse um pouco rápido demais. De qualquer forma, tenho certeza que isso também acabou quebrando um pouco o clima. Não é a primeira vez que alguém nos interrompe assim, e quando acontecia, isso acabava nos desanimando um pouco. Preferíamos que as coisas seguissem naturalmente, caso contrário, não estaríamos à vontade por culpa de um susto.

    — Ótimo, vai pegar o que precisa, então — respondo, encostando minhas costas na cabeceira da cama.

    Yuzuha liberou uma risadinha fraca enquanto segue seu rumo, pegando uma mochila e enchendo-as com roupas, posteriormente indo ao banheiro e voltando segundos depois com uma toalha e escova de dente, enfiando com o restante dos utensílios que levava. 

    — Não destruam o quarto, pombinhos — ela provoca outra vez, antes de sair com a mochila nas costas, fechando a porta após.

    Imediatamente olhei para Takashi, recebendo a visão de seu tronco deitado de barriga pra cima com uma das almofadas de minha cama em seu colo. Ele parecia um pouco sem graça, e claro, isso me fez liberar uma gargalhada baixa assim que percebi do que se tratava, enquanto eu inclinava minha cabeça para frente, deixando minha testa apoiada em minha canhota. Meus ombros tremiam pelas risadas que mal queriam parar, e sequer sabia como seu rosto estava, tendo em vista que meus olhos se encontravam fechados.

    — Qual foi… Não tem graça — repreende, o que me faz rir ainda mais.

    — Desculpa… — respondo, balançando a cabeça em negação, enquanto as risadas já estão próximas de ter um fim.

    Respiro fundo, tentando me acalmar um pouco agora, e embora algumas risadinhas ainda escapassem, agora eu conseguiria conversar melhor. Minha visão fixa em seu rosto novamente, ele aparentava tentar pensar imediatamente em outra coisa, visto que apertava a almofada com um pouco mais de força no colo.

    — Falando sério agora, Takashi… — seus olhos me entregaram um olhar um pouco preocupado ao me ouvir, esperando eu terminar — Você anda se cuidando?

    — Por que acha que não? — ergueu levemente as sobrancelhas.

    — Eu não falei que não acho — rebato.

    — Se fez a pergunta, é porque acha — contra-argumenta, sorrindo de canto.

    — O quê?! Eu só quero saber se você tá bem, idiota! — repreendo, pegando uma das almofadas disponíveis e jogando em seu rosto, arrancando uma risada rouca dele.

    — Relaxa, [Nome] — tenta me tranquilizar — Eu não tô tentando me matar, se é isso que você tá pensando.

    Bom, não é. Mas agora não sabia se podia colocar tanta firmeza em suas respostas, elas ainda me pareciam suspeitas demais. Novamente meus pensamentos voltaram aos de antes, reforçando que ele não estava contando absolutamente nada, nem o motivo em específico que o trouxe aqui, e tudo indicava que ele só não queria falar sobre isso de jeito nenhum. Não seria eu quem iria insistir em um assunto que não é problema meu.

    Voltei a deitar ao seu lado com a lateral de meu tronco desta vez, eu continuei com a minha visão presa no rosto abatido do arroxeado, que retribuía o contato visual, aparentando entrar em minha mente para saber o que rondava nela nesse momento. Ambos estávamos mergulhados em nosso próprio universo agora, ao mesmo tempo que compartilhávamos nossa agradável companhia, ao invés de estarmos sozinhos com nós mesmos.

    Mas estávamos sozinhos juntos. Como antes.

    — Eu senti muito a sua falta, sabia? — comento.

    Takashi fica em silêncio por alguns segundos, finalmente se virando para ficarmos de frente para o outro, sua cabeça estava deitada por cima do braço esquerdo, enquanto seus olhos ainda parecia um oceano de mistérios que, ainda assim, procuravam decifrar silenciosamente o que os meus também queriam dizer.

    — Eu também senti a sua — responde, levando a destra ao meu rosto, mas desceu até a nuca para deixar seus dedos acariciarem a região — Pra caralho.

    Uma onda de energia subiu por meu estômago novamente. Me dá um pouco de raiva por ele conseguir mexer tão fácil comigo com simples palavras, embora eu estivesse esperando uma resposta positiva, foi inevitável pensar que ele não falaria nada, que apenas faria um carinho discreto ou que mostraria seu melhor sorriso para que eu pudesse esquecer a possibilidade dele sentir o mesmo.

    Eu gosto disso nele. Sua coragem de falar o que sente e sem medo da minha reação.

    Não tive certeza quanto tempo aquele silêncio durou, mas não passou de toques suaves com as mãos e carícias, já que depois disso eu acabei adormecendo. Contudo, o barulho do despertador me fez pular da cama pelo susto, me encontrando sentada no colchão em um piscar de olhos. Imediatamente olhei para a janela, vendo que esqueci esta aberta e já mostrava sinais do amanhecer. 

    Merda! Parece que dormi por uns dez minutos pelo sono ainda gritante pesando em meu corpo, mas eu sei que foi bem mais do que isso.

    Me deparei com o lado ainda ocupado em minha cama, um pouco surpresa ao ver o arroxeado. Ele dormia de forma tão serena que me dava até pena de acordá-lo, mas eu precisava me arrumar para ir à aula. Me surpreendeu um pouco o som barulhento não ter acordado ele, todavia, deduzi que ele estava tão cansado que seu sono pesou.

    Desliguei o aparelho, tendo o silêncio novamente, e então, levei minha mão até o ombro do mais velho, chacoalhando-o um pouco para acordá-lo, o que previsivelmente funcionou.

    — A gente dormiu.

    — Quê?! Que horas são? — ele rapidamente se senta, coçando os olhos, enquanto lutava para ignorar o sono.

    — Cinco e meia — respondo, me levantando.

    — Merda, tenho que ir — disse, se levantando e ajeitando a camisa amassada.

    Analisei seus movimentos, o primeiro foi pegar o celular em seu bolso e apertar o botão de ligar, seus olhos aparentemente checam o conteúdo na tela, e então, estalou a língua e guardou o aparelho novamente, não demorando para calçar seus tênis de forma apressada. Em outra ocasião eu estaria até mesmo um pouco ofendida dele sair tão rápido, mas eu estava com sono e provavelmente me atrasaria se ele decidisse ficar mais um pouco para conversar. Além de que eu sei com o que ele trabalha.

    Bocejei enquanto caminhava até meu guarda-roupa, tratando de pegar o uniforme exato. Depois que tivemos calouras se juntando à nossa equipe esse ano, a treinadora sugeriu que usássemos os uniformes durante a semana como um incentivo. Não que eu tenha achado uma ideia ruim, mas pensar que aqueles idiotas do time de futebol tentariam olhar debaixo de minha saia de líder de torcida me fazia ter um número a menos de paciência.

    Olhei para Takashi vindo em minha direção quando já estava com tudo o que precisava, ainda apressado, e então, segurou meu rosto com minhas mãos.

    — Vamos sair esse fim de semana — profere, sem esperar minha resposta sobre isso — Passo aqui às oito. Até lá… Vamos conversando. 

    Eu ainda não estava assimilando muito bem que ele havia acabado de me chamar pra sair. Nem se preocupou em perguntar se eu tinha um compromisso, como se já soubesse da resposta, como também nem se importou em saber se eu queria ir ou não. Ele sabia que eu aceitaria.

    O mais alto deixou um selar em minha bochecha antes de caminhar até a porta, saindo como um furacão, me deixando plantada no meio do quarto como se nada tivesse acontecido. Ainda estava processando, além dele ter passado a noite aqui, depois de eu quase ter arrancado sua roupa em minha cama, ele simplesmente me chama pra sair em um fim de semana, talvez imaginando que eu estava pensando que ele poderia me deixar pra trás. Ao mesmo tempo que eu pensava que Takashi jamais fizesse isso, ainda existia a apreensão de que ele poderia mudar de ideia ou até mesmo achar outra pessoa mais interessante. Odeio como minha cabeça funciona mesmo quando eu ganho tudo o que quero, porque sempre tem que existir um lado ruim.

    Isso fez com que meu sono fosse embora como uma tempestade sumindo em um dia ensolarado, visto que a adrenalina adocicou um pouco meu sangue. Tomei um banho rápido, o suficiente para ficar limpa e cheirosa, me vestindo com as peças em tonalidade vermelha e branca após me secar e passando um pouco de hidratante na pele, posteriormente calcei meus tênis brancos e peguei minha mochila com os materiais precisos para as aulas de hoje, decidindo arrumar a cama quando eu voltar.

    A primeira aula seria a minha favorita, não deixei de ficar animada, embora ainda tivéssemos uma prova na aula de Didática. Lembro de ter revisado minhas anotações repetidas vezes na semana passada e ontem, só para garantir de não me esquecer de nada e acabar indo mal por um erro estúpido que cometi. Tratei de dar uma passada na cantina antes, pegando uma garrafa de água e uma maçã para não passar as primeiras aulas faminta, logo em seguida fui para o prédio exato de meu curso.

    Me direcionei ao auditório principal, conseguindo ver Takuya sentado em uma das cadeiras, totalmente concentrado no que anotava. Por sorte o lugar ao seu lado estava vazio, o que me deu a oportunidade de subir os degraus e chegar na fileira, não sendo uma surpresa quando recebi a atenção de alguns olhos seguindo cada um de meus movimentos. Totalmente previsível vindo da maioria dos caras, enquanto por parte das meninas, apenas olhares feios.

    Embora fosse costumeiro, eu achava isso totalmente um saco. Não é como se eu pedisse para ser o centro das atenções. Eu tinha consciência de que pela popularidade de meu status isso aconteceria, além do mais, eu não me considerava uma pessoa feia. Meu corpo era bem cuidado e meu rosto consideravelmente atraente. Por causa disso, eu não era vista mais do que um pedaço de carne. 

    Um dos motivos que me fez pensar a respeito de Takashi. Ele até poderia gostar de mim, mas poderia existir uma possibilidade disso ser uma mentira. Várias mãos passaram por meu corpo em uma fase nada fenomenal de minha vida, o que também me fez passar longe de ter relações sexuais com quem eu não sentia absolutamente nada, nem mesmo um carinho ou perto disso. Eu já tive que aguentar ser tocada quando não queria para conseguir sair de uma abstinência.

    Eu só não queria passar pela mesma experiência várias vezes, de novo.

    O Yamamoto não demorou para notar minha presença assim que já estava próxima, e então me sentei e comecei a pegar o livro e caderno com uma caneta, lápis, borracha e post-it’s

    — Bom dia pra você também — ouço a voz do loiro, atraindo minha atenção após.

    — Desculpa, você tava concentrado, eu não queria atrapalhar — sorri minimamente — Bom dia.

    — Você parece bem melhor do que as aulas anteriores.

    — Digamos que… Acordei de bom humor.

    Nós dois trocamos um sorriso amigável antes do professor Patrick chegar, e então, já nos preparamos para abrir os cadernos e na página seguinte da que estudamos na aula passada sobre a História da Arte, a matéria exata do que o responsável pela aula nos orientava. 

    — Bom dia. Não quero nenhum caderno, livro ou lápis na minha aula hoje — ele avisa, não sendo surpreendente, visto que ele costumava fazer esse mesmo pedido em algumas de suas aulas.

    As próximas duas horas seguiram com a explicação de expressão artística e comunicação humana enquanto eu comia a maçã silenciosamente, engolindo os pedaços da fruta com a água. O jeito que Patrick usava a entonação certa de voz me intrigava um pouco, e claro, fazia com que eu me interessasse mais pela matéria. Além de que ele acabava tirando a concentração de boa parte das alunas por sua aparência atraente, visto que é um dos professores mais jovens dessa universidade, não deixava de continuar explicando tão bem. Sua paciência com algumas coisas me surpreendia, já que ele explicava mais de duas vezes se necessário.

    Foi comunicado que precisaríamos ir à biblioteca para estudarmos para o TCC, e claramente isso estava me estressando um pouco. Mal comecei e o prazo combinado é para o mês que vem. Já estávamos perto do fim do ano, e isso seria o ponto crucial para conseguir meu diploma, tendo em vista que já estava em meu último ano.

    Tivemos que ir para o outro auditório para começarmos a prova, tendo apenas a folha, caneta e um lápis na mesa.

    O dia foi tranquilo. Diria que o convite de Takashi conseguiu fazer efeito para que eu me sentisse assim. Tive que ficar depois da aula para treinar com as meninas no ginásio, enquanto do outro lado estava o time dos jogadores de futebol americano com o treinador. Pude enxergar Jake me observando de longe, mas decidi não prolongar o contato visual. Me sentia um pouco estranha com essas interações silenciosas, visto que nós dois tivemos um envolvimento um tanto complicado.

    Jake é um cara legal, e realmente foi bom enquanto estávamos desfrutando da companhia um do outro. Ele continuou me ligando depois da nossa primeira noite juntos, sendo um pouco inesperado vindo dele. Nunca cheguei a me sentir usada pelo jogador popularizado da UCLA, já que nós saíamos juntos e nos encontrávamos em alguns eventos, o que nos levava a aproveitar o resto da noite na cama dele.

    Contudo, depois que Takashi voltou, eu nem me lembrava mais de Jake. Foi como se tudo o que passamos não tivesse significado tanto, e claramente me senti mal, mas infelizmente eu não tinha controle sobre isso. O que eu vivi com Takashi não se compara a nenhum momento que passei com outros caras, e sinceramente, espero não precisar mais me envolver com alguém que não seja ele.

    Não dava para evitar. Nós tínhamos tantas coisas para acertar, e eu ainda guardava sentimentos por ele.

    Cheguei a comentar com as meninas sobre minha espécie de encontro com Takashi, e claramente foi o suficiente para o surto coletivo. Sequer se importaram em citar que eu não seria a única a ficar de casal com alguém, o que me fez ficar ainda mais receosa. Eu queria, sim, que isso chegasse em algum lugar, mas ainda tinha medo.

    Quando finalmente pude voltar para o dormitório, Yuzuha decidiu ir comigo. Ela me deixou tomar banho primeiro para que eu pudesse estudar mais tranquilamente durante a tarde, e não pude ficar mais agradecida por isso. Cheguei a conclusão de que visitaria a biblioteca amanhã para tratar do meu TCC, eu nem mesmo teria tempo de cuidar disso hoje com a minha agenda atolada de projetos, nos quais eu precisaria de total dedicação para conseguir uma boa nota.

    Durante a minha sessão de estudos à tarde, tive que responder algumas mensagens nas pausas, algumas delas sendo de um arroxeado que me chamou para sair, quase me fazendo esquecer que eu precisava continuar a estudar. A conversa me parecia bem mais interessante que a matéria, mas no fim, acabei deixando meu celular de lado para voltar a me dedicar, ou acabaria me dando mal depois.

    Consegui terminar boa parte, já sentindo minha cabeça latejar de dor. Fechei a tela de meu notebook para me levantar e ir até minha cômoda, abrindo uma das gavetas e pegando uma cartela de aspirina, em seguida retirei um comprimido e peguei a garrafa de água encima do objeto para beber. Engoli o remédio, na esperança que fizesse efeito logo.

    O som da notificação de meu celular chamou minha atenção mais uma vez, não enrolei para caminhar em direção à minha cama e pegar o aparelho, e assim que vi de quem se tratava, não contive em respirar fundo, já conseguindo ouvir as merdas que saísse da boca dessa mulher.

    Eu tenho uma doce mamãe narcisista que fazia questão de desenhar meus defeitos e estampar em meus olhos para que eu enxergasse as falhas que todos podiam notar. Chegava a ser engraçado como ela e meu pai começaram a se “importar” depois do ocorrido com Takashi, e claro que não foi por mim. Eles queriam manter as aparências para o público. 

    Beatrice, uma psicóloga podre de rica casada com Michael O 'Connell, um corrupto fodido que só sabia arrancar dinheiro de pessoas inocentes o suficiente para cair em sua ladainha. Chegava a ser irônico uma mulher formada em psicologia ser uma péssima mãe e deixar nítido o quão inútil eu sou, uma falha em sua vida, enquanto meu pai não escondia que compartilhava da mesma opinião que a esposa.

    Eu sei… Não deveria estar chamando esses dois indivíduos de pais, mas não tinha muito o que fazer. Foi da barriga dela que saí e graças a ele. Talvez colocaram tantas expectativas em mim como filha única que acabaram se decepcionando quando não saiu como o planejado. O plano seria eu ser uma ótima bailarina, já que fiz aulas quando era criança, e mesmo achando essa área divertida, não era de fato meu sonho.

    Minha paixão pela arte não os agradou, principalmente quando eu mostrei estar decidida que continuaria com o curso.

    Cliquei na notificação, lendo a seguinte mensagem:

“Você não anda nos dando notícias. 
Nos ligue imediatamente quando 
ver esta mensagem!”

    Ah, sim… Com certeza ligaria. 

    Obviamente não me dei ao trabalho de responder, sempre que podia cortar qualquer vínculo com essa “família”, eu o fazia sem qualquer remorso. Sei que isso geraria mais dor de cabeça depois, mas eu não queria que meu dia fosse estragado com palavras que não agregam em nada na minha vida. Ao menos essa semana, até eu poder me encontrar com Takashi e esquecer qualquer problema que pudesse me desanimar.

    Durante a semana, passei meus dias perambulando pela universidade para focar totalmente ao que me levaria a ganhar meu diploma, ao mesmo tempo que passei conversando com alguns amigos por mensagem, estes que comentavam sobre o show da banda de Akkun, e claro, com Takashi. Me surpreendia nossos assuntos continuarem como se nunca acabasse, visto que sempre que um terminava, outro começava e seguia um caminho totalmente diferente até o tema da conversa automaticamente mudar de novo.

    Às vezes, me pegava sorrindo com algumas coisas que ele dizia.

    Isso resultava no meu sono iniciar às duas da manhã, mas pensava que valia a pena quando ele também não deixava de me desejar bom dia quando acordava.

    Quando o final de semana enfim chegou, acabei me preparando durante o dia, cuidando de minha pele, fazendo uma hidratação no cabelo e minhas unhas, que agora estavam com uma cor azul-marinho. Por elas terem um formato um pouco afiado, claramente deixou minhas mãos bonitas. Fiquei em dúvida no que usar, já que Takashi não me disse para onde iríamos com a justificativa de que é uma surpresa. Contudo, ele pelo menos me disse que eu poderia ir com uma roupa simples.

    Me perguntava o que é simples para ele, visto que tínhamos visões diferentes, todavia, colocaria o que fosse me agradar.

    Um conjunto preto de um short curto, mas que não chegava a ser colado em minhas coxas, na parte de cima um cropped de mangas compridas e levemente transparentes, embora a cor ainda fosse destacada na vestimenta. Ajeitei meu cabelo e chequei a maquiagem, a qual também optei por não exagerar. O suficiente para me sentir bonita.

    Meu rosto estava com um pouco de pó no tom de minha pele para cobrir algumas imperfeições como olheiras e marcas visíveis se fosse olhado de perto, as bochechas estavam com uma cor leve em tom rosa do blush, enquanto nos olhos usei apenas uma máscara de cílios que os deixavam em um tamanho consideravelmente grande. 

    Ao calçar minhas botas pretas de coturno, peguei um casaco e minha bolsa, finalmente decidindo sair do dormitório, trancando antes de seguir ao pátio da universidade para esperá-lo. Já estava de noite e perto das oito, como combinamos. O nervosismo é evidente, além da ansiedade de esperá-lo por dez minutos até conseguir reconhecer o som do motor, me fazendo levantar e caminhar até o garoto.

    Ele se encontrava sentado na moto com o capacete na cabeça, não consegui enxergar seu rosto devido à viseira cobrindo-o. Quando peguei o capacete que ele estendeu, consegui analisar sua vestimenta. A calça jogger preta continha correntes nas laterais, a camiseta branca e larga com mangas curtas caiu bem nele, além do Jordan branco e preto levemente surrado nos pés. Não deixei de notar a corrente prateada envolta do pescoço.

    Montei na garupa depois que o capacete foi colocado em minha cabeça, rodeando meus braços em sua cintura posteriormente, o que me fez reconhecer o odor do perfume Ferrari Black que dava mais contraste no visual dele.

    — Cê tá uma gata — ele comenta, antes de começar a acelerar. 

    Não precisei segurar mais forte nele, visto que ele não acelerou tanto. O caminho prosseguiu silencioso, já que não daria muito certo tentarmos falar alguma coisa com o barulho do motor, me dando a certeza que também não escutaríamos direito. Takashi estacionou em uma vaga distante dos outros veículos enquanto eu consegui fixar minha visão nas pessoas enchendo o local, me levando a deduzir que aconteceria um evento importante.

    Desci primeiro que ele, retirando o capacete e ajeitando meu cabelo, ele fez o mesmo e pendurou em seu braço, assim como eu. Ver seu rosto ficou bem melhor para encaixar com a roupa que usava, não escondi o sorriso de canto, fixando as íris púrpuras analisando meu rosto maquiado.

    — Eu não falei antes, mas você também tá bonito.

    — Valeu — ele responde, sorrindo minimamente — Mas você ainda ganha de mim — prosseguiu, levando a canhota até meu queixo e acariciando a região com o polegar, contudo a afastou após — Vai querer comer alguma coisa antes de irmos até lá?

    — Ah, não… Tudo bem, eu não tô com fome.

    — Eu ainda vou comprar alguma coisa de qualquer jeito — dá de ombros, segurando minha mão seguidamente — Vem.

    Entrelaçamos nossos dedos quando seguimos caminho, optando por ir em uma barraca de pipoca, decidi pegar a doce e uma latinha de Coca-Cola, contudo, Takashi não me deixou pagar e fez isso por mim. Fiquei um pouco sentida, imaginando que ele poderia estar gastando um dinheiro importante. Por mais que ele tivesse me convidado, ainda não estava acostumada.

    Só depois que chegamos no determinado local que percebi que é onde rola as corridas da cidade, o que me fez até ficar um pouco animada, visto que eu achava divertido acompanhar os carros em alta velocidade numa competição. Mesmo sendo arriscado e, algumas vezes, me preocupando, não deixava de ser incrível, principalmente quando eu tinha minha franquia de Velozes e Furiosos titulada como minha favorita.

    — Eu poderia pagar, sabe disso — comento, me sentando ao lado dele na arquibancada, abrindo o lacre do refrigerante para colocar o canudo — Acabo me sentindo mal por você gastar com essas coisas.

    — É besteira você se sentir mal por um dinheiro sujo ser gasto — libera um riso fraco — Relaxa, gata, eu te convidei pra sair e pagar alguma coisa pra você é o mínimo que eu possa fazer.

    — Ah… Você não mudou nada — brinco, arrancando uma risada fraca dele — Obrigada, então.

    Os carros com seus visuais chamativos se preparavam em seus lugares, enquanto os gritos animadores preenchiam todo o local. A fumaça começou a sair por detrás dos automóveis conforme a contagem regressiva era feita, com uma mulher desconhecida no meio prestes a abaixar a bandeira, e então, os carros finalmente saíram do lugar em um piscar de olhos, na hora exata em que ela sinalizou.

    Fiquei fascinada assistindo cada um deles ultrapassando o outro, enquanto comia e bebia o refrigerante, enxergando cada detalhe e até mesmo as breves faíscas do Shelby Mustang GT 500 alaranjado conforme pisava no acelerador. O resultado disso foi quando o pneu esbarrou em alguma coisa que não consegui decifrar, mas imediatamente parou quando ele conseguiu ultrapassar o adversário à frente, que dirigia a McLaren 720S preta.

    A mão de Takashi em minha coxa acabou me deixando deslocada, principalmente com as carícias começando a fazer efeito em mim, contudo, continuei comendo e bebendo como se ele mal estivesse me tocando, visto que eu não queria que ele percebesse meu nervosismo. Vez ou outra ele ainda roubava um pouco de pipoca, mas deixei claro segundos depois que ele poderia comer comigo à vontade, já que quem pagou foi ele.

    Enquanto assistíamos a corrida eufórica, dividíamos o refrigerante e a pipoca, ele não deixava de aproveitar que a lata estava em minha mão e apenas inclinava sua cabeça para frente, deixando sua boca alcançar o canudo para puxar o líquido com gás.

    Os carros prosseguiram, seguindo as curvas e acelerando o máximo que podiam para alcançar o primeiro lugar, e mesmo que eu não estivesse torcendo para nenhum em específico, era inegável não ficar animada quando via que um ou outro estava cada vez mais perto da vitória. Agora, o braço de Takashi estava envolta de minha cintura, acariciando a parte que minha pele estava exposta, descaradamente enfiando a ponta dos dedos dentro da barra elástica de meu shorts, contudo, não ultrapassou disso. 

    A primeira corrida chegou ao fim quando a McLaren 720S conseguiu atravessar a linha de chegada, levando as pessoas à loucura diante da cena. Eu sorri largamente, encolhendo de leve meus ombros com a energia boa que transbordava em excesso no ar. 

    — Por pouco, né — o arroxeado comenta.

    — Realmente… Achei que o segundo a chegar conseguiria alcançar antes dele — cruzei meus braços, me encostando um pouco mais no garoto — Sinceramente, achei mesmo que você me levaria pra algum clube de luta — brinco.

    — Eu cogitei a ideia — ele entra na onda, me fazendo gargalhar.

    — Não que seja ruim… Mas não sei se seria tão divertido como tá sendo agora.

    — Pode melhorar — seus olhos mergulham no meu ao liberar a resposta.

    — E o que você sugere? — pergunto, embora soubesse a resposta.

    Takashi não perdeu tempo em alcançar minha nuca com sua mão, aproximando seu rosto do meu e encaixando a boca na minha, de forma automática nossas línguas se encontraram e iniciaram uma volta sincronizada que só conseguia seguir livremente com nós dois, um para o outro. Seus dedos puxaram levemente meus fios capilares, quase me tirando um arfar se eu não tivesse segurado, mas não deixei de tomar ação, permitindo que minhas mãos tocassem em seu rosto para segurá-lo entre elas, aproveitando para puxar seu lábio inferior com os dentes lentamente.

    Animals, Maroon 5 saía das caixas de som conforme a torcida continuava enlouquecendo nas arquibancadas, enquanto outra corrida prosseguia. A outra mão do mais velho apertou um pouco minha cintura, causando um arrepio por toda a minha pele, isso também abriu porta para meus sentidos se transformarem em uma mistura ardente, como sempre acontecia quando estávamos compartilhando um momento assim.

    Queria que jamais acabasse. 

    Minha destra agarrou sua camiseta para que o contato ficasse maior ao puxá-lo para mais perto, e como se já não bastasse o leve aperto anterior em minha cintura, ele fez questão de aumentar a pressão do próximo, dessa vez não fui mais forte que meus sentidos para ser capaz de segurar meu arfar. Contudo, eu desfiz o ósculo quando me dei conta de que não estávamos sozinhos, por mais que as pessoas estivessem mais interessadas em assistir a corrida do que nosso momento caloroso, achei melhor parar antes que eu pulasse no colo dele aqui mesmo.

    Meu rosto se afastou do dele, assim consegui encará-lo mais uma vez. Sua expressão continuava impassível, mas eu sabia que ele também estava se segurando.

    — Garota, não me testa… — ele disse, umedecendo os lábios após.

    — Foi você que me beijou — respondo, sorrindo cinicamente.

    — Porque você tava insinuando indiretamente antes — rebate.

    — Não é minha culpa se você beija bem.

    A reação dele foi rir mais uma vez do que eu disse, ousando se aproximar mais uma vez para deixar um selar em meus lábios, e então, nós dois voltamos a ter toda a atenção para a corrida. Embora eu quisesse continuar o que começamos, eu também estava querendo saber a que rumo levariam os vencedores, visto que mesmo eu gostando, eu não sabia tão a fundo como funcionava na vida real, até porque cada região tem seus métodos.

    Quando o evento chegou ao fim, eu e Takashi pegamos os capacetes e seguimos na direção oposta da entrada por causa da quantidade absurda de pessoas, tendo sucesso em dar a volta. Takashi não soltou minha mão durante o caminho, e eu similarmente não desfiz.

    — Você já quer que eu te leve?

    — Não sei. Tem mais alguma coisa em mente? — eu o encaro.

    — Tem um parque próximo daqui, se você não ligar de voltar tarde — sugere, me olhando de volta — Ou… A minha casa.

    Eu não segurei um breve sorriso quando o escutei me chamar para a residência dele. Eu confio em Takashi, já nos conhecemos há tanto tempo que não esquecia seu respeito e cuidado comigo. Uma das coisas que nunca mudou de uns anos pra cá, mesmo depois do que aconteceu. Todavia, ele ainda parecia estar com receio de fazer qualquer coisa errada.

    — Eu adoraria ir.

    O arroxeado não demonstrou qualquer reação diferente, mas consegui sentir ele acariciar meu polegar enquanto seguíamos caminho até sua moto estacionada. Colocamos o capacete antes de montarmos, e então deu partida, na mesma velocidade limitada até chegarmos em frente ao prédio, que nos deu entrada. Ele deixou a moto em uma das vagas do estacionamento, esperando eu sair primeiro para fazer isso depois, logo seguimos até o elevador. Reparei que ele apertou no número oito assim que entramos.

    O espaço pareceu mais apertado com nós dois aqui dentro, mas não me incomodou. Na verdade, o calor foi ainda mais convidativo durante a subida silenciosa. 

    Quando as portas se abriram, o segui até a que indicava ser o apartamento exato que ele mora, e assim que ele começou a destrancar, pude ouvir um latido. Eu consegui reconhecer imediatamente, de forma automática me fazendo sorrir quando vi a figura de Liu pular animadamente em seu dono quando entramos. O cão choramingava enquanto tentava lamber o rosto do arroxeado, que desviava o rosto para evitar enquanto acariciava os pelos.

    Takashi deu tapinhas leves nas laterais da cabeça de Liu para brincar, o que o fez se agitar ainda mais, e então, o arroxeado tratou de pegar uma bolinha jogada no chão, apertando-a seguidamente, resultando em um som alto e repetitivo que fez o cachorro latir em reação, mas correu para longe quando o brinquedo foi jogado. O garoto riu fraco, fechando a porta, eu continuei a assistir o animal brincando freneticamente com a bola.

    — Ele não mudou nada — comento, sorrindo largamente.

    — Só tá mais velho mesmo, mas continua bobão.

    — Eu gosto.

    Me aproximei do cachorro, ele acabou notando e soltando a bola para me encarar, parecendo analisar meus movimentos cautelosos, parando imediatamente de sacudir o rabo, se colocando de pé e andando vagarosamente em minha direção. Estendi a mão devagar para que ele pudesse cheirar, visto que isso também pudesse fazê-lo se lembrar de mim. Percebi que me reconheceu quando começou a esfregar a cabeça em minha palma, sinalizando que apenas queria que eu fizesse carinho.

    Um risinho fraco foi liberto de mim, enquanto meus dedos prosseguiram com o contato carinhoso, para após receber uma lambida de leve.

    — Não é só eu que sinto sua falta, pelo visto — Takashi comenta, liberando um riso nasal.

    — É fofo quando você admite que ficou com saudade — me afasto de Liu, me direcionando ao arroxeado.

    Ele não respondeu. Parei em sua frente, no mesmo instante os braços rodearam minha cintura, eu fiz o mesmo com os meus em seu pescoço, analisando seu olhar lendo o minha face, como um costume dele. Isso conseguia me deixar nervosa com tanta facilidade, estava tentando me acostumar mais uma vez a sentir essas coisas em minha vida. É estranho pensar que nem parecia real.

    É tão intenso, que pra mim, isso poderia acabar muito rápido. E me dava medo.

    — Quer ficar chapada? — ele pergunta com a voz tão baixa que chegava à uma entonação rouca.

    — Na última vez que você me perguntou isso… As coisas fugiram do controle — sorri de canto, suspirando.

    — Dessa vez vai ser tranquilo. Te garanto — acaricia meu cabelo com a canhota, colocando uma mecha atrás de minha orelha — Vamos.

    Nos afastamos para seguir juntos ao cômodo que ele planejava me levar, provavelmente seu quarto. Liu veio atrás de nós, o que fez Takashi fechar a porta apenas quando ele entrou e deitou na cama. Analisei seu quarto, não deixando de notar algumas folhas jogadas no chão e peças de roupas espalhadas. Talvez ele nem tivesse tempo para se preocupar em arrumar tudo, além de não termos planejado antes que eu viria até aqui.

    — Desculpa a bagunça — ele imediatamente disse, ao notar que eu reparava na desorganização — Quase não paro em casa.

    — Tudo bem, não precisa de uma justificativa — dou de ombros.

    Deixei minha bolsa com o casaco no colchão, me sentando neste e encostando minhas costas na cabeceira, observando o arroxeado abrir uma das gavetas da cômoda e pegar a seda, dichavador, erva e um pedaço bem pequeno de papel um pouco mais duro para formar a piteira. Aproveitou para pegar a carteira no bolso, abrindo-a e tirando um cartão de dentro.

    Ele tirou os tênis antes de se sentar ao meu lado para preparar o baseado.

    — Pode ficar à vontade — ele afirma, provavelmente reparando a forma que eu estava sentada com os pés para fora da cama.

    Não pensei em hesitar, então retirei meus coturnos e relaxei meus pés no colchão, me sentindo mais confortável assim. Eu parei para assistir ele rasgando o papel da piteira e enrolando-a, destacando a seda após, seguidamente dichavou a erva e a derramou devagar no papel frágil, não demorando para enrolar e deslizar a língua para a saliva servir como cola, por fim enrolou a ponta do baseado e ajeitou a piteira no início, desfazendo um pouco da ponta com os dentes, já que ele precisava formar um pequeno buraco para puxarmos a fumaça.

    Não demorou para finalmente ser aceso pelo isqueiro, dando duas tragadas, segurando a fumaça e liberando-a.

    — Vem cá — me chama, dobrando os joelhos para apoiar o antebraço em um deles, disponibilizando uma leve abertura entre as pernas.

    Saí de onde eu estava para me aproximar de Takashi, permitindo que meu tronco ficasse em meio às pernas dele, em seguida colando meu dorso ao busto e relaxando. Um dos braços rodeou minha cintura, deixando seus dedos seguirem com uma carícia em meu quadril enquanto eu conseguia escutar a seda queimando a cada tragada que ele dava.

    Ao me passar, peguei entre meus dedos e o levei até meus lábios, repetindo o processo de tragar e soltar.

    — Vai ter um show amanhã — comento, deixando minha mão por cima da dele — O Akkun vai tocar com a banda.

    — Ah, é? — responde, entrelaçando os dedos nos meus — Onde?

    — Na Swanky Rooftop.

    — Eca… Ricos — brinca, embora seu tom soe com uma rouquidão mista de seriedade.

    — Hipócrita do caralho — nós dois liberamos uma risada fraca diante da minha resposta — Mas sério… Aparece lá.

    Takashi demora um pouco para responder, e durante o silêncio eu já havia tragado a fumaça somente uma vez.

    — Prometo tentar — responde.

    Encontrei o olhar dele com o meu, não tendo tanto tempo de duração do contato visual, pois eu já havia alcançado seus lábios e deixado um selar lento, contudo, não passou disso. Decidi voltar a fumar, passando para ele depois de mais quatro puxadas demoradas, visto que assim eu chaparia mais rápido.

    Quando o beck chegou ao fim, decidimos deitar para aproveitar um pouco o efeito, o que gerou a sensação de sonolência. O mais velho estava atrás de mim, deus braços enlaçados em minha cintura, resumidamente uma posição na qual eu era a conchinha menor. A respiração calma batia contra minha nuca, enquanto as carícias davam continuidade em meu braço, resultando na vontade de cair no sono aumentar, o que me levou a manter os olhos fechados, já que eu nem conseguia abri-los direito agora.

    — [Nome] — escuto a voz abafada do garoto, que recebe um resmungo meu em resposta — Você é importante pra mim… Sabe disso, né?

    — Uhum… — resmungo novamente.

    Na verdade, eu não sabia que chegava a esse nível, mas eu estava tão chapada que nem conseguia sentir um mínimo resquício de surpresa com o que ele disse. 

    Takashi me aconchegou em seus braços, e chegava a pensar que ele acabaria me escondendo se me puxasse novamente, contudo, não seria ruim. Seus braços me lembravam um lar que facilmente me dava conforto, e honestamente, seria difícil eu querer sair.

    — Então… Se alguém tentar alguma coisa ou te ameaçar… Me fala — pede, carregando rouquidão na voz devido a sensação mole, contudo, ele não parecia estar brincando — Por favor.

    Por que isso de forma tão repentina?

    Obviamente algumas perguntas estavam inundando minha mente, mas elas acabavam evaporando como cinzas cada vez que eu me aprofundava para chegar em uma conclusão. Por culpa do efeito da erva, eu estava com preguiça até de questioná-lo, embora eu estivesse curiosa para saber o que levou ele a chegar a me pedir para avisá-lo sobre qualquer coisa que eu considerasse ameaçadora pra mim.

    — Relaxa, Takashi… — tento tranquilizá-lo — Você tem cada uma.

    Não obtive resposta, mas sabia que ele me ouviu perfeitamente pelas carícias dando continuidade. Acabei não aguentando e caí no sono, com meus pensamentos desaparecendo nessa noite, bem na cama do cara que sou apaixonada desde os meus treze anos.

    Com os braços de Takashi me acolhendo.


Eu simplesmente AMEI escrever esse capítulo. Principalmente a parte da corrida, foi extremamente prazeroso de escrever KSKSKS.

Ai, um capítulo soft depois de uma deprê fodida que foi no capítulo anterior, né? Nosso Takashi merece pelo menos um pouco de paz, e já sabemos que a nossa queridinha da [Nome] proporciona isso muito bem pra ele, né? Hehehe!

Me digam, o que acharam desse capítulo? Sinto que pra um desenvolvimento de Friends to Lovers to Strangers to Lovers tá até okay KSKSKSK, antes eu sempre sentia que tava “rápido demais”, porém fui me acostumando conforme eu fui tendo mais ideias e escrevendo capítulos enormes e dignos de momentos mais light dos dois depois de anos sem se verem. Eles estão muito lindinhos juntos.

Um detalhe importante, perceberam que a [Nome] é bem insegura quando se trata do Takashi, né? Fico bem malzinha escrevendo as partes que ela pensa que ele quer "usar" ela, mas ao mesmo tempo se recusando a acreditar nessa intuição porque confia nele. Mais pra frente vocês vão entender melhor o motivo disso tudo, também.

Quero avisar aqui que eu acabo não cumprindo com o horário de postar capítulo porque sempre acaba atrasando, mas a parte boa é que eu tô conseguindo atualizar toda semana, até mesmo duas vezes, e já serve pra me satisfazer muito! Deixo claro que, a partir de agora, não tem horário definitivo pra postar capítulo, mas sempre faço o que puder pra ter pelo menos uma atualização por semana. Eu agradeço de verdade por estarem acompanhando a história e me apoiando. ♡

Se tiverem twitter, me sigam lá pra interagirmos: @myercuri.

É isso, espero que tenham gostado.

Até o próximo capítulo!

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