# 𝐞𝐢𝐠𝐡𝐭
Gente, o capítulo saiu tarde e peço desculpas, tô fazendo o que eu posso pra atualizar toda semana.
Se alguém ainda não seguiu a playlist dessa fic tá na minha bio, aproveitem. ♡
Passei um estresse fodido revisando esse capítulo porque toda hora era um bug diferente, então peço desculpas se houver qualquer erro ortográfico que eu não tenha visto.
Esse capítulo não foi nada fácil de escrever.
Desejo a vocês uma boa leitura.
CW/TW: Transtorno alimentar, family issues, assédio sexual.
[Nome]
Os lábios macios sincronizavam em um ritmo lento junto ao meu, deixando o desejo transparecer, a chama subia em meio aos nossos corpos com passos desajeitados, esbarrando nos móveis visto que nem mesmo prestávamos atenção. Um pouco apressada, arranquei a camiseta do mais velho, que não perdeu tempo em me puxar para perto novamente quando estava livre da peça, devorando minha boca mais ferozmente, deixando nítida a impaciência.
Mergulhei meus dedos nos fios arroxeados, me deixando levar por suas mãos passeando por cada parte de minha pele exposta graças ao pijama curto, favorecendo o decote da regata, mas sabíamos que isso não é um problema, tendo em vista que logo eu estaria livre da vestimenta.
O empurrei bruscamente no colchão, fazendo uma risada ser arrancada dele em reação pela euforia. Eu sorri, me sentando em seu colo para dar continuidade ao ósculo, já conseguindo sentir os sinais da ereção encostando em minha intimidade coberta, contudo, ansiosa para qualquer toque dele. O gemido rouco do garoto foi abafado por minha boca, que saboreava a língua dele, em uma dança perfeita e lenta, logo meus quadris iniciaram movimentos.
O arrepio em minha pele foi agressivo ao sentir as mãos fortes apertando minha cintura.
Takashi inverteu as posições seguidamente, ficando por cima de mim sem quebrar o contato de nossos lábios, que ainda se deliciavam com as sensações quentes das línguas em uma movimentação erótica, não deixando o nosso desejo ardente passar nem um pouco despercebido. Porém, ele se afastou, e assim que abri os olhos para fixá-lo, meu coração errou uma batida, ao mesmo tempo que meus músculos tencionaram.
— Hakkai? — ofego, devido ao beijo afoito, completamente confusa.
Que porra é essa?
Eu só podia estar chapada ou acabei ingerindo uma bebida batizada sem saber. Tinha certeza que eu estava com Takashi, eu estava beijando-o e iria transar com ele em sua cama. Estávamos no apartamento dele, no quarto dele… Então que merda Hakkai estava fazendo aqui em cima de mim? Eu não estava louca. Era Takashi comigo.
As íris azuis brilhavam enquanto analisavam cada característica facial minha, sua boca entreaberta, contudo, o semblante continuava tão sério que me dava arrepios. É como se fosse uma criatura bem mais sombria no corpo do Shiba.
— Cadê o Takashi? — pergunto, começando a ficar um pouco assustada.
— Acho que matei ele — responde, sua voz carrega uma rouquidão aconchegante e levemente assustadora.
Não soube nem mesmo como reagir diante dessa resposta, foi como se meu corpo parasse completamente de obedecer aos meus comandos. Eu estava travada e olhando fixamente nos olhos do rapaz em cima de mim. Isso com certeza não estava certo, mas por algum motivo estava acontecendo e talvez por culpa minha.
Hakkai atacou meus lábios novamente, prosseguindo o beijo, sua língua se enterrou em minha boca e voltou a se encontrar com a minha, deixando a mão gélida em meu pescoço, rodeando com os dedos e simulando um enforcamento no limite certo. Meu coração disparou, e então minhas mãos foram até seu peitoral para tentar afastá-lo, todavia, sequer consegui fazer isso. Meu corpo não estava me obedecendo.
— [Nome], acorda! — a voz ecoa, me fazendo voltar rapidamente à realidade enquanto sou levemente chacoalhada — Cacete, você dorme feito uma pedra, garota.
Me sentei em um pulo, olhando em volta, respirando ofegante, demorando para raciocinar que eu estava no quarto de Emma. Olhei diretamente para o meu corpo após, verificando se estava tudo no lugar, e então, percebi que estava em um colchão no chão. Alguns resquícios de suor eram evidentes.
Era só um sonho.
A Sano quem havia me acordado, esta parecia confusa com a minha reação ao ser despertada, principalmente por minha pele estar suada.
— Um pesadelo? — ela pergunta, parecendo preocupada.
Um suspiro fugiu de meus lábios, logo levei minhas palmas ao meu rosto, mergulhando os dedos em meus fios, ainda sentindo meu coração martelando em meu peito como se eu tivesse visto alguém morrer agonizando em minha frente.
— Não, só… Só um sonho extremamente estranho — finalmente respondo, respirando fundo para tentar me acalmar.
Emma liberou um risinho fraco ao se levantar, olhei ao meu lado e avistei Yuzuha pegando suas coisas na bolsa para se arrumar, as outras faziam o mesmo. Todas pareciam ter acordado quase ao mesmo tempo ou a loira quem levantou primeiro para fazer isso por nós. Eu precisava urgente de um banho e me arrumar para as aulas… Seria um longo dia.
Me levantei, iniciando o caminho em direção a minha mochila com passos desorientados pela sonolência, assim conseguindo alcançar, pensei em primeiramente pegar meu celular para checar as notificações. O nome de Takashi foi a primeira coisa que notei, o que fez meu coração disparar e um frio gritante corroer meu estômago. A mão que segurava o aparelho começou a tremer um pouco, mas não consegui hesitar em responder a mensagem.
“Bom dia! Espero que
esteja bem. Não
esquece de comer.”
“Boa aula.”
Suspirei levemente, sorrindo de canto ao ler essas palavras.
Takashi é realmente um fofo. Em partes eu estava acostumada, contudo… É como se também fosse uma outra pessoa falando comigo por todos esses dias. Anos atrás, ele costumava demonstrar um certo afeto por mim, embora não chegasse a ser tanto como agora, eu conseguia ver como ele se esforçava. Hoje, é como se ele não tivesse receio de me falar o que sente. Como se fosse um estalar de dedos que o fez acordar e lhe deu a certeza de que não tem problema algum nisso.
Na noite passada, depois de visitarmos o cinema abandonado, ficamos ali por cerca de duas horas batendo papo e fumando naquele terraço, tão encantados com a sensação relaxante que quase não nos demos conta de que já estava tão tarde. Fomos todas levadas de volta pra cá, o arroxeado fez questão de me agasalhar com o casaco dele, e como o esperado, havia ficado enorme.
O cheiro do perfume dele ainda estava grudado em minha pele.
Mikey foi o único a ficar, tendo em vista que também teria que ir para a aula, embora não tivesse tanta responsabilidade como a maioria, ele tentava se manter firme para pelo menos receber um diploma do seu curso de fotografia.
“Bom dia, e obrigada.”
“Toma cuidado no
trabalho, okay?”
Bloqueei a tela, guardando de volta na bolsa antes de pegar o uniforme e avançar meus passos até a entrada do quarto, que aos poucos ficava vazio. Cheguei no mesmo banheiro que me banhei ontem, trancando a porta e deixando as peças no mármore da pia, ainda com meu sangue frio pelo susto que tomei com aquele sonho absurdo.
O Hakkai? É sério?
Fixei meu próprio reflexo no espelho, não hesitando em aproximar minha destra do sensor da torneira para que a água fosse despejada, e então, molhei minha mão e levei-a à minha testa, suspirando com o leve alívio que se habitou em meu peito. Tentei ao máximo não manter meus pensamentos nas cenas marcantes com o melhor amigo do cara que eu estava pegando, visto que não era nem um pouco respeitoso, embora não fosse culpa minha. Não me agradaria se isso acontecesse com ele também.
Minha ducha não foi tão demorada, o suficiente para me distrair até que eu ficasse limpa, saindo para me secar e finalmente me vestindo por completo. Ainda tinha que passar em meu dormitório antes de ir para as aulas, pois os materiais necessários para hoje não estavam em minha mochila.
Saí do cômodo com as peças do meu pijama dobradas, retornando ao quarto e deixando em minha bolsa.
— Hoje temos que ficar depois da aula de novo — Yuzuha disse, penteando as mechas com os dedos, sentada na cama já arrumada de Emma — Não esqueçam.
— Não é como se fôssemos capaz disso tendo uma querida treinadora nos pressionando — Senju responde, com um tom carregado de desânimo.
— Ela faz isso porque já passou pelo mesmo — argumento — Mas reconheço que é pro nosso bem.
— Ah, com certeza! A Kaira é gente boa — Yuzuha concorda, sorrindo minimamente — Acredito que se outra pessoa nos treinasse, ainda teríamos um pouco de dificuldade pra chegarmos onde estamos.
Coloquei a alça da mochila em minhas costas depois de arrumar tudo, vendo Emma pegar as chaves do carro junto de suas coisas, nos dirigimos até o andar de baixo, tendo que esperar as meninas tomarem o café da manhã. Shinichiro ficou o tempo todo com a cara enfiada no celular depois de nos desejar um bom dia, com o detalhe do cigarro e do café preto que bebia, aparentemente concentrado demais para manter uma conversa. Como de costume, peguei somente uma maçã e bebi dois copos cheios de água, saindo somente quando todas estavam alimentadas.
Eu comeria no almoço. Não conseguia ter apetite agora.
— Tem certeza que não tá com fome? — Emma pergunta, enquanto caminha ao meu lado até o hall de entrada.
— Eu tô bem, Emma — afirmo — Eu como no almoço, já disse.
— Eu sei, é que… Você pode passar mal e-
— Emma, relaxa — interrompo, antes que ela pudesse terminar — Não é a primeira vez que eu só como uma fruta de manhã. Eu consigo sobreviver até o almoço.
A loira suspirou, parecendo não tão convencida com o meu argumento. Nada foi dito até que eu, ela e Yuzuha chegássemos ao seu carro. Senju se apressou para entrar no de Arya junto com Hinata, e assim deram partida junto com a Sano em direção à universidade. Ainda estava um pouco cedo até a aula começar, contudo, precisávamos ter sido rápidas para nos arrumar para ninguém se atrasar. Quando nos encontramos no estacionamento da UCLA, saímos do veículo para seguirmos caminho, resultando na Shiba ir junto comigo pelo compartilhamento do dormitório.
Tratei de arrumar os materiais certos para as aulas, me lembrando que teria que entregar as anotações de Takuya logo. Eu o encontraria na aula de qualquer forma, então não enchi de vez minha cabeça com isso. Um pouco apressada, segui até a biblioteca desta vez. Hoje a aula seria da professora Adelide, esta que se responsabilizava pela matéria de Psicologia da Educação.
Confesso, não chegava a ser minha aula favorita, todavia, eu sabia que não poderia vacilar nem um pouquinho.
Mais alunos foram enchendo a biblioteca, Takuya não demorou para dar as caras e assim que me viu, caminhou em minha direção, sentando na cadeira vaga ao meu lado.
— Obrigada, Takuya — é a primeira coisa que eu digo antes de entregar o caderno à ele.
— De nada — responde, simples — Você tá bem? Parece pra baixo.
— Eu não dormi muito bem.
Deixei meu livro na mesa junto com meu iPad e meu caderno de anotações com três canetas de cores diferentes, tentando me lembrar por curtos segundos da página que paramos na aula passada, visto que não terminamos o assunto. Eu precisava relaxar ou qualquer pessoa perceberia a minha cara de morte hoje, além disso, eu não estava sentindo um pressentimento tão bom.
— Bom dia — a voz da professora ecoa ao entrar.
Durante a aula, mantive meus ouvidos atentos a qualquer explicação ou crítica digna de uma anotação, Listava com tópicos alguns fatos que eram ditos, enquanto outros não achei tanta necessidade ou certo, todavia, preferi ficar em silêncio a aula toda, mesmo sabendo que minha opinião pudesse ser importante, eu não estava em meu melhor dia para contar com a minha participação.
Na hora do intervalo, decidi ir até a cantina, ainda sem apetite algum. Pensar em comer alguma coisa agora me causava um embrulho no estômago, e sinceramente, eu não estava afim de me esforçar para vomitar tudo o que fosse ingerido. Tratei de pegar uma água e preparar um prato com uvas roxas, me sentando no gramado do campus para conseguir pelo menos um pouco de ar. No fim, comi apenas metade das uvas sem conseguir continuar, decidindo beber um pouco da água e apenas retornei à cantina para jogar as sobras fora e colocar a bandeja no lugar.
Me direcionei à sala de descanso, encontrando alguns estudantes em volta da mesa de sinuca, enquanto outras se sentavam nos sofás com fones de ouvido e um livro, algumas também conversavam enquanto comiam. Suspirei quando me direcionei ao sofá vago, pegando meu celular e fones, conectando e em seguida colocando-os em meus ouvidos. Apertei no botão central atrás do microfone, despausando a música que antes tocava, mas imediatamente mudei para a próxima, sendo audível Iris, The Goo Goo Dolls.
Imediatamente peguei minha pasta preta dentro de minha mochila, retirando o pacote aberto de folhas de sulfite junto, puxando uma delas do plástico e apoiando na capa dura da pasta, seguidamente tratei de pegar meu lápis e a borracha, agora colocando meu cérebro pra trabalhar. Ter criatividade é fácil, todavia, quando se tem algo para se inspirar a experiência se torna mais divina.
Meus olhos rolavam por toda a sala, varrendo rosto por rosto com minha visão até parar em uma bela garota ruiva de olhos verdes sorridente. Ela estava conversando com seus amigos, aparentemente se divertia com o assunto. Os óculos em um tamanho consideravelmente grande combinavam com o rosto definido e pálido repleto de sardas que davam um contraste tão perfeito, além do cabelo armado que me lembrava a princesa Merida.
Ótimo!
Comecei o primeiro esboço para iniciar os detalhes simples até conseguir dar vida ao primeiro traço, apagando algumas linhas que se tornavam desnecessárias ao longo do desenho. Eu sabia que eu não terminaria agora, mas graças a minha memória fotográfica eu conseguiria me lembrar bem dessa garota quando quisesse terminar. A beleza marcante dela é impossível de esquecer, eu precisava guardá-la comigo com toda a alma.
Sinceramente, essa garota é tão linda que parece um quadro de pintura caríssimo de um museu. E eu com certeza compraria.
A ponta do lápis foi deslizando pela folha branca, que aos poucos foi tomando um sombreado do lápis, graças ao meu dedo que também espalhava. Um sorriso fraco surgiu devido a satisfação que senti com o resultado inicial, prosseguindo, vez ou outra olhando para a garota antes de voltar a dar continuidade. Contudo, quando decidi olhar mais uma vez, depois de ter errado um traço e apagado-o, percebi os olhos fixos em mim como duas lâminas, fazendo meu coração parar por um segundo.
Um alívio preencheu meu peito quando ela sorriu gentilmente para mim, tombando a cabeça para o lado direito. Um pouco apreensiva, retribuí. Ela parecia ser uma garota muito fofa, o que me fazia pensar que sua beleza não era apenas exterior.
Quando deu a hora de voltarmos para os prédios exatos do curso, tratei de arrumar minhas coisas e levantar para me direcionar ao auditório principal, pausando a música aleatória que tocava na playlist, contudo, a mensagem de minha mãe não passou despercebida. Infelizmente, ela planejava um jantar.
Um jantar em família.
Merda! Só de pensar em colocar os pés naquela casa me causava calafrios, mas eu sabia que precisaria marcar presença se não quisesse passar vergonha com ela ou seu marido me arrastando a força pelos cabelos. Eles realmente fariam isso.
“Não esqueça do
jantar hoje.”
Senti uma grande necessidade de mandá-la tomar no cu, tendo que controlar meus benditos dedos que desejavam tanto escrever cada palavra e mandar aquela conversa a merda para estimular minha satisfação, contudo, eu me contive. Infelizmente, me contive.
“Okay.”
Foi a única coisa que respondi.
Guardei o celular de volta, deixando um suspiro sair conforme seguia meu caminho, não demorando para chegar e me sentar em uma das fileiras distantes de qualquer professor que chegasse. Agora, uma vontade sufocante de chorar começou a vibrar em meu peito, mas eu não podia fazer isso aqui, não podia fazer isso nem mesmo sozinha às vezes. Tinha que lutar contra a fraqueza que queria me dominar, por mais que ela gritasse, me implorasse para que eu somente me deixasse desabar pelo menos uma vez.
Agora, sentia uma forte necessidade do abraço de Takashi.
Queria que ele estivesse aqui… Assim eu me sentiria um pouco melhor.
Tentei preencher minha mente com as memórias da noite passada, contando com as anteriores que aproveitamos a companhia um do outro, mas por incrível que pareça a sensação da saudade foi pior e mais estimulante para as lágrimas chegarem aos meus olhos, prontas para deslizarem pelo meu rosto. Não as deixei sair, tive que fechar as pálpebras e respirar fundo três vezes, cruzando meus braços e apertando-os levemente com os dedos para aliviar a sensação incômoda.
Tive que forçar minha concentração nas aulas, resultando em uma dor de cabeça irritante até que eu estivesse finalmente livre, contudo, somente retornei ao dormitório para colocar a roupa de líder de torcida, me apressando um pouco para chegar ao ginásio e conseguindo encontrar as meninas. Draken estava sentado na arquibancada, soube que era para dar uma força para Emma.
— Tudo certo, [Nome]? — Yuzuha pergunta.
Assenti em resposta, começando o alongamento antes de me engajar nos exercícios, dando mais atenção à minha flexibilidade. As meninas treinavam exercícios diferentes das outras enquanto ainda tínhamos um tempo antes do treino realmente começar. Depois da flexibilidade, iniciei o treinamento da coordenação, recebendo a ajuda de Senju vez ou outra, contudo, ela se afastou quando dei certeza que já estava bom.
Senti minha cabeça girando um pouco, junto da sensação estranha que começou a incomodar meu estômago, mas não parei por um segundo. Iniciei a corrida pelo ginásio, no meio da primeira volta foi como se minha garganta borbulhasse, fazendo minha respiração se tornar mais ofegante. Minha vista escurecia aos poucos, o que imediatamente me fez parar e manter meu tronco inclinado para frente, apoiando minhas mãos nos joelhos na tentativa de regular minha respiração.
Uma gotícula de suor começou a deslizar por minha testa, e então, consegui sentir tudo girar quando mantive meus olhos à frente, dessa vez, sofrendo um apagão total em minha mente.
Demorei para conseguir raciocinar quando olhei em volta e vislumbrei os caras do time de basquete em minha volta junto com minhas amigas e mais algumas integrantes da nossa equipe. Senti minha cabeça deitada em alguma coisa macia, somente depois de piscar os olhos algumas vezes, percebi Yuzuha abanar uma caderneta, Rindou estava agachado ao meu lado pressionando um pano molhado em minha cabeça, Inui segurava uma garrafa d'água.
E Draken era quem me oferecia seu colo para manter minha cabeça deitada.
— Céus, graças a Deus… Acordou — ouço a treinadora Kaira dizer, aparentemente tão aliviada — [Nome], não nos dê mais esse susto! Eu fiquei apavorada!
— [Nome], o que você tá sentindo? — Draken pergunta, nitidamente preocupado.
Meu peito ardeu devido a sensação que fez eu me sentir pior do que antes.
— Você tá sentindo alguma dor? — Ran pergunta, apreensivo.
— Não acha melhor levarmos ela pra enfermaria? — Rindou sugere — Ela tá pálida feito uma folha.
— Eu tô bem — afirmo, com a voz falha, tentando me sentar, contudo, Draken me puxa de volta para me manter deitada.
— [Nome], por favor… Não levanta agora — ele suspira — Você não tá bem.
— Você comeu? — Emma pergunta, agora com os braços cruzados.
Baixei o olhar, sentindo os dedos do loiro alisando meus fios capilares. Minhas sobrancelhas cerraram devido a dor de cabeça latejante, me fazendo levar a destra até minha testa, iniciando uma leve massagem na falha tentativa de fazer a sensação irritante passar.
— Aqui, [Nome]... — ouço a voz de Inui, que já está próximo de mim estendendo a garrafa d'água — Bebe.
Draken me ajudou a sentar cuidadosamente, assim peguei a garrafa com a mão trêmula, dando goles consideravelmente longos e que ajudaria a manter meu corpo mais hidratado. Ainda me sentia um pouco indisposta, visto que aparentemente desmaiei por alguns minutos, e agora, eu precisaria de uma desculpa imbecil para justificar essa merda.
— Vamos pra enfermaria — Kakucho disse — Vai se sentir melhor com um profissional cuidando de você do que um monte de pessoas em cima.
— Eu só tô sentindo um mal-estar… Não é nada demais — tento tranquilizá-los.
— [Nome], você desmaiou… — Inui comenta, sua voz mansa demonstra parecia… Triste.
— Inui, eu tô bem! — dessa vez, mantenho minha voz firme — Essa semana foi cheia… Preciso descansar. É o suficiente.
— [Nome], não quero que uma de minhas melhores líderes de torcida tenha um prejuízo, ainda mais em minha aula — Kaira começa — Não estou dando sermão, falo pro seu bem. É bom garantir a sua saúde física e mental para que isso não aconteça de novo. Espero que isso não se repita, e com isso eu quero dizer que você precisa se concentrar no seu bem-estar antes de qualquer coisa.
— Eu sei… — respondo, suspirando pesadamente — Me desculpa, treinadora.
— Não tem que me pedir desculpas, [Nome] — ela coloca as mãos nos quadris — Você precisa se cuidar.
Cacete… Não é tão fácil assim.
Sei que Kaira estava apenas tomando as providências certas como uma boa treinadora, é o trabalho dela, mas eu precisava me concentrar em não bagunçar meu peso. Seria uma catástrofe se eu saísse de meus padrões.
Draken me ajudou a levantar do chão com cuidado, me fazendo apoiar o braço envolta de seu pescoço, Emma ficou do meu outro lado para ajudar. A treinadora Kaira ordenou que todos ficassem dentro do ginásio, contudo, Yuzuha negou o pedido da mais velha como justificativa que é a capitã e que teria que ver se eu estava bem como uma das integrantes da equipe. Kaira não teve muita opção, visto que isso também era problema da Shiba quando se tratava de um bom trabalho.
Ao chegarmos no dormitório, apenas fui solta quando eu já estava sentada na cama e com as costas apoiadas na cabeceira.
— Preciso conversar com ela sozinha — Yuzuha disse, com seu semblante nada contente.
Emma assentiu, dando uma checada em mim antes de tocar o braço de seu namorado, como um silencioso aviso de que ele também precisava sair. Ele me olhou um pouco hesitante por alguns segundos, finalmente decidindo seguir a mais nova, me deixando a sós com a acastanhada. Meu olhar cruzou com o dela.
Ver Yuzuha tão séria estava me deixando agoniada.
— Até quando isso? — ela começa, carregando calmaria na voz, embora eu soubesse que mil coisas estavam passando pela sua cabeça agora.
O silêncio nos fez uma companhia cheia de angústia. Um excesso de desconforto enchia o quarto como um balde de tinta jogada, mas quando sentimos o líquido na pele, percebemos aos poucos, pela queimação, que é ácido. Um ácido que nos derrete tão lentamente como uma tortura para nos fazer sofrer.
— Yuzu, eu tô tentando.
— Tentando? — sua voz sai embargada agora, ao mesmo tempo que seus olhos começam a tomar o brilho nítido das lágrimas — Tentando… — ela libera um riso nasal, balançando a cabeça em negação enquanto se afasta, começando a andar sem rumo pelo quarto com as mãos nos quadris.
Meu olhar encontrou o chão, agora me sentindo uma pessoa extremamente horrível. Não por não comer o suficiente e passar mal, mas por ver minha melhor amiga sofrer com a minha saúde. Ela não precisava disso, mas simplesmente insistia em continuar com os pés nos trilhos e pegar a outra metade da dor para ela. Isso também me machucava, nunca pedi por isso, nem ela. Nenhuma de nós.
— Primeiro as drogas — ela prossegue, atraindo meu olhar, em seguida se virando para manter contato visual comigo — Agora isso? — a primeira lágrima foge de seu olho e desliza pela bochecha — [Nome], eu não aguento mais ver a minha melhor amiga se matando aos poucos.
— Yuzu… — seu nome escapa da minha garganta, porém minha voz sai como um sussurro, como se minhas forças tivessem sido impedidas de serem libertas — Eu juro… Eu não queria-
— Não, claro que não… Você nunca quer — ela me interrompe, finalmente fazendo minhas lágrimas alcançarem a linha d’água, e assim elas descem lentamente pela minha pele — O que tá acontecendo, [Nome]?
— Nada — rapidamente respondo, expulsando o pranto de meu rosto com as mãos — Não é nada, eu só… Não quero mudar.
A Shiba ficou em silêncio depois que recebeu minha resposta, pude ver seus punhos cerrando com tanta força que a cor esbranquiçada começava a aparecer. A faísca dolorosa partiu meu coração, causando uma agonia ainda mais forte.
Eu só conseguia pensar o quão idiota eu sou para ter deixado uma merda dessa acontecer na frente deles. Na frente dela.
— Você já mudou, [Nome] — ela profere, com o mesmo tom firme — Mas não se preocupe — ela força um sorriso doce — Não foi fisicamente.
E então, ela seguiu caminho sem esperar qualquer resposta, passando pela entrada e batendo a porta com força, fazendo com que meu corpo desse um mínimo pulo pelo susto. Dessa vez foi mais forte que eu, as lágrimas desceram com tanta força que acabei sentindo uma dificuldade tremenda de respirar.
Deixei meu tronco se inclinar para frente, mantendo minha testa pressionada no colchão até que eu relaxasse completamente para me manter deitada de lado, abraçando meu próprio corpo enquanto os soluços saíam, contudo, uma de minhas mãos foi até minha boca para abafar o choro. O lençol molhou por minha culpa, eu não conseguia me acalmar agora, não conseguia sequer pensar em outra coisa que não fosse contra mim mesma.
Eu merecia isso.
Eu merecia estar sendo castigada com aquelas palavras cruéis e que me davam tanto medo. Eu merecia ser amaldiçoada porque sou fraca. Só conseguia pensar o quão vulnerável eu sou para eu dar um vacilo tão grande como esse, e agora, conseguia enxergar a razão nas palavras de minha mãe, na culpa que meu pai jogou em mim por todos esses anos até quando ele se frustrava com o trabalho e descontava toda o seu cansaço com uma cinta em minhas costas.
Nunca mereci o melhor. Nunca mereci chegar aonde estou.
A dor de cabeça piorou graças ao meu choro. Consegui ter forças para parar depois de longos minutos, talvez até mesmo uma hora. Me levantei devagar para que eu não caísse diretamente no chão, me direcionando ao guarda-roupa e pegando uma cartela de aspirina, tirando um comprimido e engolindo a seco.
Ainda um pouco tonta, peguei meu celular e desbloqueei a tela, discando o número de Akkun. Fui atendida depois de quatro toques sinalizando que estava chamando.
— Oi, gostosa, tudo bem? — ele parece animado, sempre animado.
— Akkun, eu posso ir aí? — pergunto, com o tom de voz nitidamente oposto do dele.
Ele demorou um pouco pra responder.
— Pode… Aconteceu alguma coisa? — pude perceber sua apreensão.
Agora, eu que demorei para respondê-lo.
— Não quero falar sobre isso — respondo — Apareço aí logo.
Encerrei a chamada, contudo, percebi a mensagem de Takashi quando rolei pela tela. Por um momento me senti melhor, mas não durou muito, embora fossem palavras que eu precisasse agora, eu não conseguia ficar tranquila com absolutamente nada.
“Tô com saudade.”
Meus olhos arderam mais uma vez, as lágrimas estavam prontas para me atormentar novamente.
“Eu também tô.”
Ele nem imagina o quanto eu preciso dele agora.
Bloqueei a tela, deixando o aparelho na cômoda antes de começar minha busca à uma roupa decente, optando por um cropped branco de mangas curtas que favorecia um leve decote e um short jeans claro desfiado. Me direcionei ao banho e deixei a temperatura gelada, jogando meu uniforme na pia e a calcinha no cesto, e então, iniciei meu banho com o arrepio preso a cada pedaço de minha pele.
Lavei o cabelo com certa lentidão, me afundando em meus próprios sentimentos conforme eu mantinha meu cabelo bem cuidado com o shampoo e condicionador, no fim pegando o sabonete e a bucha para espalhar a espuma por cada canto de meu corpo até que eu finalmente estivesse pronta para me secar, deixando a toalha enrolada em minha cabeça depois que o excesso de água não se fazia mais presente.
Vesti as peças devagar, dobrando as que usei e retornando ao quarto para guardá-las, por agora decidi terminar de secar meu cabelo com o tecido áspero, optando por também jogar do cesto de roupa suja. Com meu celular em mãos novamente, pedi um uber para me buscar, colocando o endereço certo, logo me apressei para colocar meus tênis e finalmente saí do dormitório.
Esperei em frente por curtos minutos, conseguindo visualizar uma SUV Premium preta se aproximando e parando em frente a universidade. Não demorei até abrir a porta traseira e me sentar no banco, fechando-a novamente.
— Boa tarde — ouço a voz do motorista.
— Boa tarde — respondo, sem ânimo.
O motorista pareceu perceber que eu não queria conversa só pelo meu tom, então seguiu caminho em silêncio. Avisei para Akkun por mensagem que já estava chegando e fui respondida dois minutos depois. Minha visão acompanhou as lojas e restaurantes do centro da cidade, o parque foi um dos locais que também prestei atenção, finalmente chegando depois de um tempo. O motorista parou na frente. Antes de sair, transferi o dinheiro para a conta dele, agradecendo pela carona.
Os seguranças avisaram ao Akkun sobre minha chegada para confirmar se eu realmente poderia entrar, e assim que fui permitida, o portão se abriu e enfim entrei, passando pelo vasto caminho e conseguindo enxergar o mais velho na entrada da mansão. Quando finalmente parei na frente dele, nós dois agimos ao mesmo tempo para puxar um ao outro para um abraço.
Os dedos do avermelhado começaram uma carícia em meus fios, me levando a fechar os olhos para relaxar em seu peito, conseguindo sentir um pouco de conforto com esse gesto. Foi como se minha mente descansasse por um segundo e o lindo canto dos pássaros ocupassem a atmosfera catastrófica.
— Vem vamos subir — ele sugere, ainda sem desgrudar de mim, contudo ele agora abraçava a lateral de meu tronco para começarmos a caminhar.
Eu o segui calada, atravessando o hall e alcançando as escadas, enfim chegando ao quarto que ele dormia. Aparentemente ele estava sozinho de novo. Estava começando a me acostumar com a ausência de seus pais aqui. Tratei de tirar meus tênis e me sentar na cama, Akkun fez o mesmo depois de fechar a porta, pegando o violão que estava jogado no colchão. Provavelmente estava tocando antes da minha chegada.
— Tem um cigarro? — eu pergunto.
— Na gaveta da cômoda — ele aponta ao lugar certo.
Bem ao lado da cama.
Tratei de abri-la e pegar o maço junto do isqueiro, o mais velho ergueu a mão para que eu desse um a ele também, assim fiz, acendendo a ponta do que estava em meus lábios, entregando para que ele pudesse acender. Tentei relaxar depois de respirar fundo, tragando a fumaça e liberando-a após.
Os próximos minutos seguiram em silêncio, talvez ele tinha noção de que eu precisava disso além de uma companhia. Fumamos até que chegasse ao fim, deixando no cinzeiro.
— Sei que não quer falar disso, então vou tentar te distrair, tudo bem? — Akkun quebra o silêncio com o violão em mãos, eu apenas concordo com a cabeça — Tá. Eu compus uma música nova, quer ouvir?
— Uma música? — sorri de canto — Claro, por que, não?
— Eu chamo essa de Pray.
As primeiras notas do violão começaram, Akkun deixava os dedos passeando nas cordas até que deixasse sua voz tão doce quanto a de um anjo ecoar pelo quarto. Seus olhos estavam concentrados em seus próprios dedos, vez ou outra fechando os olhos conforme prosseguia com a letra, contendo um forte significado de uma pessoa tão exausta.
Mantive meus braços envolta de minhas pernas, enquanto meus olhos observavam meu amigo liberando cada palavra que abatia meu peito.
— I pray to God let me die in my sleep, you as sick as all the secrets you keep — ele continua — But the truth is I don’t wanna be me… I pray to God let me die in my sleep.
Meus olhos voltaram com aquela ardência irritante, fazendo minha visão borrar, ouvindo a calmaria na voz de Akkun enquanto ele cantava e tocava. Agora eu sequer sabia se eu estava me sentindo confortável ou extremamente mal.
Permiti que uma das lágrimas descessem, sem força alguma para mantê-las guardadas, ouvindo a música tão boa que atingia o fundo de minha alma. Mais lágrimas desciam e o Atsushi de repente parou de cantar ao olhar para meu rosto, finalmente percebendo meu choro silencioso.
Engoli a própria saliva, deixando um sorriso fraco preencher meus lábios.
— [Nome]... — ele me chama, largando o violão na cama para segurar meus ombros — [Nome], o que foi?
Balancei a cabeça em negação, limpando meu rosto na falha tentativa de expulsar as lágrimas, elas continuavam descendo e desmanchando a expressão contente de meu rosto.
— A música tá incrível, Akkun — é a única coisa que respondo.
Sem dizer uma palavra, o mais velho me puxou para um abraço apertado, eu me permiti cair aos prantos em seus braços. Escondi meu rosto em seu ombro, conseguindo sentir o tecido da camiseta branca se molhar graças a mim, todavia, ele nem pareceu se importar e me abraçou ainda mais forte ao perceber meu corpo tremer graças às lágrimas.
E pensar que ele também ficaria bravo se soubesse o motivo de tantas lágrimas…
Não precisava de mais um dos meus melhores amigos puto comigo por culpa minha, eu queria não poder encher a cabeça dele com toda essa merda de fixação pelo corpo perfeito. As coisas ficariam bem melhores quando eu atingisse a meta. Quando eu finalmente alcançasse o topo e não precisasse me preocupar com merda nenhuma.
Tudo o que eu preciso é de uma chance.
Não soube por quanto tempo fiquei ali com Akkun, me derramando em lágrimas sem qualquer justificativa. Ele também não me pediu para explicar, o que me deixou aliviada. Talvez percebeu que eu realmente não queria passar os próximos minutos explicando a minha dor.
Percebi que anoiteceu quando o quarto ficou mais escuro, tendo resquícios de luz do lado de fora graças às portas de vidro da sacada. Meus olhos estavam fixos na porta, deitada de lado na cama. Braços aconchegantes rodeavam meu corpo, o busto pressionado em meu dorso tornava a sensação melhor. A respiração que batia contra a minha nuca me fazia um pouco de cócegas.
A carícia do polegar de Akkun prosseguia em minha mão, seus braços estavam por cima dos meus, o que gerava uma sensação quente. O silêncio estava tão confortável que eu desejava não sair dali nunca mais, mesmo que eu tivesse um compromisso.
— Que horas são? — pergunto.
Demorou um pouco até eu receber a resposta, provavelmente por ele estar à procura de seu celular.
— Sete e quinze.
Liberei um suspiro pesado, fechando meus olhos e esfregando levemente meu rosto com a canhota, finalmente me virando para encará-lo. Ele cruzou o olhar com o meu, parecendo mais tranquilo desde o momento que consegui me acalmar. Tinha que agradecer a ele por ter ficado do meu lado até agora.
— Tenho que ir — sussurro, ele assente.
— Quer que eu te leve? — pergunta, se afastando e apoiando a cabeça na palma da mão.
— Se não for incômodo… Por favor — me sento no acolchoado — É pra casa dos meus pais.
Akkun se ajeitou no colchão devagar, se mantendo sentado com o semblante mostrando sinais bem opostos de uma felicidade. Ele sabe como aqueles dois me deixam maluca, e pelo estado que eu me encontrava há pouco, sabia que ele estava ainda mais preocupado agora.
— Beleza — desvia o olhar, coçando a nuca — Cê vai ficar bem?
— Sinceramente… — suspiro — Não. Mas eu dou conta.
Soube que essa resposta o convenceu, seria uma verdadeira piada se eu falasse que correria tudo bem nessa merda de jantar. Eu não faria questão alguma de me arrumar formalmente para ir até a casa de dois adultos que infernizam a minha vida, não teria nada de importante lá além de um banquete e pais que me falariam o que eu já sabia como se eu já tivesse um roteiro pronto. Precisava preparar minha mente de novo.
Segui Akkun até a entrada da casa depois de ambos colocarmos nossos sapatos, encontrando a caminhonete dele. Sentamos em nossos lugares e não demorou até que desse partida, tendo o portão aberto de forma automática, visto que o dono da casa é quem estava saindo. Mantive meus olhos na vista da rua, desejando que o percurso demorasse, meu amigo pareceu perceber e fez questão de dirigir devagar.
A caminhonete parou em frente, mas eu demorei para decidir sair do automóvel. Assim que puxei a maçaneta da porta, senti meu pulso ser segurado delicadamente, assim atraindo meu olhar em direção ao garoto.
— Eu amo você, tá? — ele disse, conseguindo me tirar um sorriso de canto.
— Eu também amo você.
Deixei um selar em sua bochecha antes de sair, contudo, ele não se moveu do lugar até que eu passasse do portão, não sendo impedida pelos seguranças. Ouvi a caminhonete se afastar quando eu já seguia meus passos em direção à porta de entrada, que foi aberta por mais um homem que trabalha ali, e assim que entrei, consegui sentir a energia pesada se sobrecarregar em minhas costas.
Olhei em volta, andando devagar pelo hall, contudo, não encontrei meus pais até que eu chegasse na sala de jantar, me deparando com ambos em cada ponta da mesa. Eles começaram sem mim.
— Hm, você finalmente chegou, [Nome] — ouço a voz de minha mãe, me causando arrepios quando nossos olhos se encontram — Espero que não se importe de estar atrasada na refeição. Disso você entende bem, não é? — ela sorri cínica.
Que cobra do caralho!
Engulo a resposta que se entalou em minha garganta, colocando os olhos em meu pai seguidamente, que não fez questão de manter contato visual comigo. Prefiro assim, sabia que ele estava puto comigo pelo que aconteceu, talvez se lembrou que sua filha já chupou outros caras além de Takashi.
Que se foda!
Eu me sentei em uma das cadeiras, fixando o banquete servido na mesa. A maioria era meu pai quem comia, minha mãe não ingeria tanta coisa, e eu… Peguei esse costume dela, mas de uma maneira mais intensa. Uma que poderia ser mortal, mas eu iria me esforçar para não precisar chegar nesse ponto. Foi a primeira vez em muito tempo que desmaiei por esse motivo, eu apenas teria que aguentar.
Preparei um prato com um pouco de arroz, salada e carne, servindo o vinho em minha taça.
— Ficamos sabendo que desmaiou — meu pai quebra o silêncio torturante assim que começo a cortar a carne, me fazendo parar imediatamente — O quê? Você é nossa filha, acha mesmo que deixariam passar isso a limpo sem nos dizer?
Não respondi. Dei continuidade até conseguir cortar o alimento em pedaços para que eu conseguisse comer mais facilmente, misturando com o arroz e alface e colocando para dentro. Assim que comecei a mastigar, um embrulho se formou em meu estômago, mas me forcei a engolir a mistura.
— Você está começando a nos envergonhar — ele prossegue, dando um gole de sua taça — Primeiro, um rapaz me atende enquanto você… Se mantém bem ocupada com ele. Agora, você se deixa enfraquecer dessa maneira — seu olhar para em mim — Não acredito mesmo que é nossa filha.
Dou um gole no vinho, ainda sem dizer uma palavra. Precisei respirar fundo, agora parando para pensar que mal cheguei e já estava recebendo um sermão extremamente desnecessário. Claro, os motivos poderiam dar razão a ele se seu tom não fosse tão deprimente. Humilhar sua filha não o torna melhor.
— Achei que estava indo bem, minha filha — minha mãe começa, limpando o canto dos lábios com o guardanapo — Foi o que você disse, não é?
— E eu tô. Do meu jeito.
— Do seu jeito?! — o mais velho dispara junto com um tapa forte na mesa, resultando no meu corpo reagindo ao susto — Você está cada vez mais incompetente e está me decepcionando a cada dia! Não basta ter apenas boas notas, sua imagem e reputação dependem de você. Se não aguentar as pontas na próxima vez, não terei escolha a não ser tomar providências mais drásticas! — leva a destra até o rosto esfregando-o — Você está dando mole demais, não te criamos para ser uma pessoa fraca!
Minha respiração ecoou no silêncio. Mesmo que ele tenha levantado a voz, não quis respondê-lo, não por medo, mas sim pelo cansaço de ter que alimentar mais uma discussão idiota. Eu já tinha que aguentar tanta merda que acabei optando pelo silêncio. Ele poderia falar o que quisesse, embora eu sei que uma hora acabaria escapando alguma coisa de mim se ele continuasse a me humilhar dessa forma.
— Querido, mantenha a classe — minha mãe pede — Ela saberá o peso disso, cedo ou tarde.
Apertei os talheres com certa força, tentando me controlar, mas somente respirar fundo foi o suficiente para me fazer continuar calada.
Quando a refeição terminou, não quis ficar para a sobremesa. Eu me levantei para encontrar o banheiro mais próximo, me trancando o mais rápido possível. Acendi a luz antes de parar em frente a pia, fixando meu reflexo e imediatamente prendendo meu cabelo em um coque firme. Suspirei de forma pesada antes de rolar minha visão até a privada, o que me fez apertar o mármore da pia com certa força.
Retornei minha visão ao espelho, baixando o olhar até minha barriga, conseguindo sentir meu coração acelerando aos poucos.
Foi automático quando meus passos seguiram até o sanitário, levantando a tampa e aproximando meu rosto, rapidamente levando meu dedo médio e indicador até minha boca e afundando com força em minha garganta, não demorando para a ânsia vir e rapidamente me fazendo colocar tudo para fora. Foi difícil parar de vomitar, além da comida, o que tinha antes disso não era nada além de líquido. Odiava a sensação do vômito, mas eu precisava passar por isso.
Precisava desaparecer se fosse preciso.
Quando finalmente teve um fim, me levantei com as pernas trêmulas e um pouco tonta, dando descarga o mais rápido possível. Me segurei nas paredes até alcançar a pia novamente, vasculhando nos armários de baixo, conseguindo encontrar o enxaguante bucal. Me apressei para fazer um gargarejo com água primeiro para limpar minha boca, finalmente colocando o líquido refrescante para continuar a limpeza, tendo que fazer isso umas três vezes até que o hálito ficasse mais agradável.
Respirei fundo antes de sair do banheiro, ouvindo as vozes de meus pais em uma conversa que sequer fiz questão de prestar atenção, assim passei pelo corredor e alcancei as escadas, avistando as várias portas do segundo andar, contudo, uma delas foi a que me chamou atenção. Caminhei até a penúltima porta, abrindo-a devagar e me deparando com a cor branca do quarto, cor esta que me fazia delirar como se estivesse em um hospício. Acabei sorrindo pelas lembranças boas que tive aqui.
Uma delas foi com Takashi assim que olhei para a cama.
Entrei no cômodo, rolando minha visão por cada parte, parando em frente ao meu closet. Arrastei a porta e acendi a luz, encontrando algumas roupas que deixei aqui com algumas caixas. Uma delas tem a cor preta, foi a qual peguei em minhas mãos, mas continuei olhando por cada canto antes de me afastar, colocando a caixa sobre a cômoda e abrindo-a.
Eu sorri ao me deparar com o primeiro desenho.
O esboço de um dragão. Deixei a folha no móvel, passando meu indicador pelo desenho, conseguindo ver um pouco do resquício do lápis, mostrando que o sombreado ainda estava fresco mesmo depois de anos. O próximo foi de um lírio, este é colorido. O azul com uma mistura do verde caiu perfeitamente bem. Eu realmente tinha e tenho gosto pelo que faço.
Ao pegar mais um, avistei uma mulher nua e ensanguentada. Sua pele é pálida e os cabelos longos e armados são negros. Ela está deitada sobre uma fonte vazia em uma noite sem estrelas e sem lua. A morte em seus olhos azuis dão evidência de que teve a vida mais sensacional de todas. Diria que foi uma prostituta que foi violada e assassinada.
Acho que eu tinha uma criatividade sombria demais.
Pela data, eu estava com os meus quatorze anos de idade. A mesma época que eu…
— [Nome], o que está fazendo aqui? — ouço a voz de meu pai, contudo eu não o encaro.
Meus olhos continuaram fixos nas folhas, sem respondê-lo por alguns segundos. Me surpreendi com sua paciência ao esperar que eu dissesse algo, visto que não era do feitio dele. Ainda sem encará-lo, decidi respondê-lo depois de um longo tempo em silêncio.
— Eu tenho o direito de entrar em meu quarto.
Eu vou passando folha por folha, realmente hipnotizada. Mesmo que ele tenha se aproximado, eu não saí do lugar.
— Não tem nada para me explicar?
— Explicar o quê, exatamente? Que você ligou enquanto eu tava me divertindo com um cara?
De repente, vi a cor roxa se espalhar com o branco e o cinza, me fazendo paralisar imediatamente.
Vinho.
Vinho foi jogado em meus desenhos da taça que era segurada por ele, no mesmo instante meu pulso foi agarrado e meu dorso pressionado bruscamente contra a cômoda, o que me causou uma dor infernal. Não tive tempo de reagir quando ele agarrou meu rosto, assim ele se aproximou, deixando a fúria nítida em seus olhos quando me fez olhar para eles. Foi como se meu coração tivesse parado. Ele apertava meu pulso entre nossos troncos e minha mandíbula tão forte que provavelmente ficaria a marca quase que perfeitamente.
Meus olhos lacrimejaram enquanto eu liberava minha respiração pesada, cerrando meu punho e tentando a todo custo me libertar das mãos do mais velho.
— Escute bem, eu posso foder com a sua vidinha medíocre mais do que fodi com a sua cabeça por todos esses anos, em um piscar de olhos. É melhor que me respeite ou farei você passar pelo maior inferno da sua vida — ele cospe as palavras, tão próximo de meu rosto que me deixa enojada — Você pensa que é esperta? Não, minha filha, você não passa de uma criança.
Fechei meus olhos, desejando várias vezes que essa sensação desesperadora passasse. Queria apenas que ele tirasse as mãos de mim imediatamente.
O aperto em meu pulso se afrouxou, contudo ele não se afastou, nem mesmo soltando minha mandíbula. Só abri os olhos quando senti o indicador tocar meu pescoço, deslizando por entre meus seios e chegando em minha barriga, mas subiu novamente até a barra de meu cropped, e assim percebi seu olhar baixo… Fixo ao meu corpo de um jeito tão doentio que me fez perder o chão onde meus pés pisavam.
Mas que porra é essa?
— Você… É apenas uma menina… Que tem muito o que aprender — sua voz me causa um arrepio atormentador.
Meu coração estava disparado. O pavor começou a se espalhar por todo o meu corpo, fazendo as lágrimas escorrerem quando percebi a forma que ele estava me olhando agora. Tudo o que eu conseguia sentir era nojo, tanto que não contive o grito que arranhou minha garganta no mesmo instante que juntei forças para empurrá-lo para longe de mim. Eu o encarei incrédula, ainda sentindo minha respiração pesada.
De todos os homens… Eu nunca esperava isso dele.
Do meu próprio pai.
Claro, ele não podia ganhar o título de melhor pai. Mas agora chegar a esse ponto com certeza foi uma surpresa desagradável para mim.
— Nunca… Nunca mais toque em mim — meus punhos cerram mais uma vez, tentando descontar a raiva e o nojo que formigam dentro de mim — Você é nojento… — balanço a cabeça em negação — Nojento!
Seu olhar não demonstrava nenhuma emoção. Sua feição se encontrava neutra, o que chegava a me enfurecer ainda mais pela situação que eu me encontrava. As lágrimas rolavam pelo meu rosto, nem mesmo fiz questão de segurar os soluços do choro, olhando o rosto do homem ainda impassível, como se nem mesmo tivesse cometido uma barbaridade.
Eu estava com tanta dor agora… Não só fisicamente, mas emocionalmente, também.
Corri para a entrada do quarto o mais rápido possível, descendo os degraus da escada aos prantos. Ouvi a voz da mulher chamar pelo meu nome, a mesma que também é a responsável por todo o meu sofrimento. Não dei ouvidos antes de abrir a porta e apressar meus passos até o portão que foi aberto automaticamente.
Percebi a preocupação carregada nos semblantes dos seguranças, nem mesmo me importei de continuar fingindo que estava bem. Eu comecei a andar um pouco sem rumo até ter certeza de que eu estava longe daquele inferno, e agora, a única coisa que eu pensei foi em pegar meu celular e discar o número de Takashi.
Eu estava tão desesperada que só pensei nele.
Ele me atendeu depois de dois toques.
— Ei, tudo bem?
— Vem me buscar — falo imediatamente, não conseguindo disfarçar minha voz embargada — Vou te mandar a localização, só… Não faça perguntas, eu preciso que você venha — prossigo aos prantos, me sentando em uma calçada — Por favor…
— Tô indo agora.
Eu não sei nem se deveria perguntar se gostaram do capítulo, doeu na minha alma escrever essa cena da [Nome] com o pai. Confesso que cheguei a chorar em algumas cenas e por esse motivo precisei parar algumas vezes pra respirar. Realmente não foi fácil.
O que acharam?
Eu tô bem empolgada pro próximo capítulo porque é um que eu tava louca pra escrever desde o começo da fic, vocês vão entender o motivo logo logo. Espero realmente que gostem. ♡
Me perdoem novamente por qualquer erro ortográfico que eu não tenha visto, revisar de madrugada me deixa birutinha.
Até o próximo capítulo!
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