─ 𝐒𝐄𝐕𝐄𝐍
Angel estava tão estupidamente fodida que não tinha capacidade mental o suficiente para contabilizar o tamanho da merda na qual estava se metendo.
Era mais comum do que gostaria de admitir a quantidade de vezes que se submeteu a situações perigosas ou constrangedoras por dinheiro, era até acostumada se fosse para falar a verdade, mas lidar com a máfia passava de literalmente todos os limites da estupidez cabível em uma pessoa.
Não gostava de interagir diretamente com esse mundo, havia Satoru, um desertor de sua família que se envolvia com o mercado negro e pedia ajuda dela em alguns trabalhos, mas era só isso, nunca foi nada tão escancarado como agora. Não importa a qual grupo Toji pertence, não precisava pensar muito para ter noção de que com toda certeza do mundo fazia parte de um grupo perigoso e rico, muito rico.
- Ande, faça a primeira pergunta - Angel disse balançando lentamente a taça de champagne, se fazia de arrogante, mas só fingia, pois estava tremendo de medo por baixo. Mas era o tipo de medo que dava vontade de se deliciar, a adrenalina corria por suas corrente sanguínea.
- Diga-me, o que sabe sobre Satoru Gojo?
Angel engoliu em seco, deslizando as próprias mãos por suas coxas desnudas na intenção de acalmar os arrepios.
- Sei que há anos se afastou da própria família para abrir o próprio negócio no mercado, deu errado - ela riu com desdém - Era óbvio que iria dar errado... - disse mais para si mesma do que para o homem - Mas enfim, o pai ou o avô dele faleceu e de repente voltar para o buraco de onde saiu não parecia uma ideia tão ruim. Isso foi há cinco anos, um tempo depois nós nos conhecemos e eu concordei em fazer uns trabalhos para ele. - ela sorriu demasiada, sabia o quanto a atenção do homem estava voltada para ela.
Sabia que ele só viera para arrancar informações da pessoa que ele e seus capangas julgavam ser mais próxima do desgraçado, mas não negava que Toji estava excitado, era esperta o bastante para saber quando um homem a queria mas não podia tê-la. Será que era casado? Ou realmente só veio a serviço? Angel gostaria de brincar para ver até onde o mafioso iria.
O álcool já subia a cabeça e Angel gostava da sensação de não sentir medo. Era bom não estar pisando em ovos, mesmo em um dos momentos mais inesperado e provavelmente perigoso de sua vida.
Toji sorriu, passando o braço pelo ombro de Angel, que se acomodou neles.
Os dois bebiam champagne do mais caro do Santo Pecado, do tipo que o dono não deixava qualquer um pagar. Ela estava sentindo-se tonta, talvez alegre e mais solta, mais propícia a falar, com certeza estava com a língua afiada.
- Que tipo de trabalho fazia pra ele? - Toji perguntou, deslizando os dedos pela derme da mulher, arrepiando apenas pelo toque.
- Do tipo enganar, conhece? - Angel respondeu sorrindo consigo mesma, lembrando de sua época com Satoru - Ele enviava os "clientes" - fez aspas com os dedos - para mim, eu os distraía enquanto a equipe de Satoru fazia o trabalho sujo ou às vezes eu roubava algum documento importante da pasta de um advogado, empresário ou qualquer um desses filhos da puta que passavam por aqui depois do trabalho, a recomendação de Gojo, é claro.
"Sempre me enviava algum idiota que continha alguma informação de contas bancárias do exteriores, assistentes de gente importante eram os mais comuns. Gente não muito rica tem mania de deixar suas coisas nas mãos de qualquer jovem meia boca, acabavam pagando por sua incompetência quando me encontravam."
Toji diminuiu o sorriso sedutor, analisando a mulher com mais afinco, como se percebesse que ela não fosse uma mera stripper, e sim, alguém esperto a quem deveria temer.
- Por que você fazia isso? - Toji soltou com aquela sua voz grossa e grave que ecoava de um jeito bom nos ouvidos de Angel. - O que você ganhava?
- Trinta mil dólares já foram gastados nessa brincadeira, senhor Toji - Angel bebericou mais uma vez da própria taça - Acredito que não queira gastar mais dinheiro sabendo dos meus motivos pessoais.
- Dinheiro não é um problema, querida.- Toji se afastou, mas apenas para tirar o terno, ficando com sua camisa social branca, erguendo as mangas até o cotovelo. - Aprenda que comigo não há limites.
A mulher sorriu mais ainda, deslizando o olhar para a camisa cara, para o relógio em seu pulso que valia seu apartamento e para os braços que mostravam uma fração insignificante dos músculos daquele homem.
Angel limpou o canto da boca, colocando a taça de champagne na pequena mesa de vidro à frente deles. Ela se inclinou quase beijando-o, mas apenas apoiou a própria cabeça no ombro do homem, mexendo distraída nos botões da camisa dele.
Não importava que ele só estivesse ali para arrancar informações dela, uma boa funcionária sempre fazia um cliente voltar para a casa alegre e Angel definitivamente tornaria Toji um de seus fiéis.
- Amor e essas palhaçadas, esse foi o motivo de eu ajudá-lo - soltou uma risada anasalada, com as orbes fixas nas pernas do homem mas perdidas em pensamentos amargos - As pessoas ficam burras quando amam.
- Quanta amargura para uma mulher tão bonita - Toji e seu tom cínico faziam Angel revirar os olhos ao mesmo tempo que fazem-na cruzar as pernas - Conte-me, querida, o que Satoru fez para deixá-la assim?
Angel afastou-se de súbito, levantando, parando em frente a ele, não dando tempo para o homem reagir. Sentou-se no colo de Toji, frente a frente, com suas penas fartas uma de cada lado das coxas dele.
- Negócios, Toji. Estamos falando de negócios. - Angel pousou suas mãos delicadas nos ombros dele, encarando-o com seus olhos cor de whisky. - Me faça perguntas que realmente façam Satoru pagar pelo o que fez comigo.
- Você é interessante, um pouco até demais. - Ela torceu os lábios e as orbes esverdeadas do homem inclinaram-se até eles - Teria medo de ser um alvo meu se fosse você. - a ameaça mascarada por seu tom malicioso não a fez recuar.
- Enquanto você depositar o que prometeu na minha conta, não me importo de ser um alvo. - Disse séria e impassível.
Angel não era alguém indestrutível, mas era alguém que não tinha medo algum. Não tinha nada a perder, então porque abaixar a cabeça?
- Revele o local que Satoru comanda.
Havia algo nele que tornava tudo perigoso, talvez fosse a hostilidade que ele transmitia juntamente ao seu charme inigualável e sua autoridade nata. Ele era uma armadilha perigosa que poderia fisgá-la apenas com um mero sorriso. Ah, mas os deuses erraram ao dar poder para aquele homem, pois com aquela insanidade no olhar e o dinheiro que ele possuía, Toji definitivamente era alguém temerário.
Mas Angel era ainda pior. Os deuses só tiraram o poder e o dinheiro dela.
Não se deixaria enganar por Toji, mas também não afastaria-o, Angel queria torná-lo um cliente fixo. Garantir proteção e cachê o suficiente para mantê-la viva pelo tempo que lhe fosse dado, ela só precisava fazer o que ele manda sendo ela mesma.
Então, Angel revelou tudo o que sabia.
Contou a ele sobre o ponto de comando do platinado, o dinheiro que ele desviava para a polícia, sobre os contatos que ele tinha dentro senado. Angel contou todas as informações que bastavam para destruir tudo o que Satoru construiu por anos após ter saído do próprio clã e voltado como um cão arrependido. Era óbvio que Gojo não contava tudo para ela, mas sempre fora esperta o bastante para descobrir as coisas por conta própria, pois sempre soube que amor não enche a barriga e muito menos é sinônimo de confiança.
E por essa confiança não mútua, por ter tantos segredos, que Gojo a despedaçou, a usou até que restasse uma parcela insignificante da mulher que era, mas ele não esperava a reviravolta, subestimou demais a mulher que julgou como tola apaixonada.
Ela o faria pagar pelo seu coração partido.
- Se quiser ameaçá-lo de verdade, pegue Hakari. Ele é dono de um clube de lutas clandestinas em Shibuya, tem controle sobre os soldados do Gojo - Angel disse ao final do questionário - Nem precisa me pagar por essa informação, isso aí foi a nível de curiosidade caso queira fazer um estrago a mais. Ah, e por favor, não envolva a esposa dele, ela só é alguém com o dedo podre e cérebro pequemo.
Silêncio a respondeu, apenas o olhar enigmático do homem sobre ela preenchia o espaço ensurdecedor entre os dois. Angel sabia que era proibido beijar ou transar com os clientes, ela sempre agradeceu por essa política na verdade, mas ao olhar para aquele homem, para a cicatriz no canto inferior esquerdo de seus lábios, para os olhos cor de pinho infinitamente indecifráveis... Angel desejo por um instante não estar trabalhando.
- Mais alguma pergunta? - Angel questionou após alguns segundos de silêncio, tentando afastar o calor entre suas pernas.
Toji a encarou deslizando as mãos pela cintura desnuda dela - Quanto tempo temos?
- Exatos dois minutos, senhor.
O homem fingiu estar chateado, dando leves tapinhas descontraídos nas curvas de Angel - Da próxima vez venho exigir seus serviços.
- Se me pagar do mesmo jeito que hoje, não pouparei esforços para te agradar - disse simplista, levantando-se vestindo seu robe de cetim, como se não estivesse saindo daquele lugar com 100 mil dólares garantidos na conta e com um inferno entre as pernas, do tipo que teria que resolver sozinha - Espero te ver mais vezes. Pague a conta e faça a transferência do meu cachê com a minha veterana, até mais!
Era uma loucura, uma situação completamente fora da curva que salvara a vida dela. Toji provavelmente era um criminoso, mas o seu dinheiro sujo salvaria vida miserável dela. Mas mesmo assim saiu de cabeça erguida e despreocupada, não deixando esvair um resquício sequer de seu alívio.
- Te garanto, você irá me ver.
Fingiu não escutar. Hesitou por um instante mas continuou andando, pois não sabia se era uma ameaça ou não.
[...]
Angel era o tipo de mulher que outras chamavam de puta. Puta por viver do jeito que elas não podem ou que tiveram vida fácil o suficiente para não precisar cogitar trabalhar no ramo da dança. Puta por vestir o que sabiam que deixavam seus homens loucos. Puta por vestir roupas que exaltam o monumento belo que alguns ousam chamar de corpo, estrutura esbelta que carrega aquela mulher.
Mas ela não era puta ou prostituta, stripper ou meretriz, como gostavam de chamá-la.
Ela era esperta.
Aquela mulher era extremamente ardilosa, pois mentir para ele requeria duas coisas: esperteza e coragem e Angel possuía as duas.
Era o tipo de mulher que levava um homem a ruína, que era gananciosa e vingativa na mesma medida a qual era bela, que sabia o poder do dinheiro e estava disposta a fazer de tudo por ele.
Não era do tipo que se fazia de humilde ou que balançava os cílios para conquistar alguém. Angel é uma mulher que sabe o quão boa ela é e tem plena ciência de que qualquer esfarrapado que paga para vê-la dançar não é digno de sequer pensar na ideia de tocá-la.
Era intrigante pensar que uma mulher desse nível permanece em um lugar de quinta como o Santo Pecado e se envolve com a escória da máfia, ou melhor, com o desertor da família Gojo.
Ultrajante seria uma palavra adequada para descrever os pensamentos que passaram em sua cabeça no momento em que soube que Angel já esteve nas mãos de uma pária como Satoru. Simplesmente inaceitável, ela merecia mais.
Aquela mulher fora feita para nadar em dinheiro, para mandar e não ser mandada, tinha uma ganância digna de nota. Era triste ver alguém assim no fundo do poço.
Deveria estar desesperada por dinheiro, informações demais por uns trocados. Satoru realmente havia a deixado na merda.
E, Céus, como era gostosa. De um jeito que ficava marcado, que não se esquecia facilmente.
Ele a teria. Pagando ou não, ela seria dele.
Minutos depois após a saída da mulher seus capangas voltaram, todos cumprindo a merda do código de vestimenta com aquelas caras de quem comeu mal. Toji queria dar um tiro em cada um só para não vê-los novamente.
Era um declínio ter sido agraciado por uma hora com o rosto e com as curvas de Angel só para ter de se contentar minutos depois de sua partida com homens ridículos e incompetentes.
- Sabem o que eu estou pensando?
Silêncio o respondeu. Podia sentir que estavam engolindo em seco. Sabiam dos próprios erros e de suas incompetências.
- Eu estava refletindo aqui. Meus homens, treinados dentro de quartéis, não conseguiram me trazer informações decentes em três meses - ele estalou a língua, inclinando-se na mesa de vidro que continha uma bandeja com variadas bebidas, serviu um pouco de whisky no copo baixo dele, levando-o até seus lábios - Para em uma hora, uma dançarina me contar literalmente mais do que eu precisava.
Ensurdecedor e constrangedor. Eles iriam pagar pela falha.
- Sumam da minha frente, vão até shibuya e encontrem um homem chamado Hakari, dono de um clube clandestino de lutas - Toji os observou com sua calma letal - Se não o trouxerem para mim em três dias, eu mato cada um de vocês e aqueles que carregam seus sobrenomes. Menos você, Yuri.
Todos saíram rapidamente, o medo pairando em suas feições.
O garoto mais novo da facção estava tremendo ao ser chamado, Toji sabia que nunca havia falado com o garoto e que aquele era o momento mais aterrorizante da vida dele, mas não se importava, o medo sempre fora a sua maior arma.
- Quero que me traga informações sobre a dançarina Angel. Aquela que estava aqui, cabelo avermelhado, unhas pontudas e olhos castanhos, mas não a siga, descubra por meio de informações de Chizuko, outra stripper.
- Que tipos de informação senhor? - o garoto finalmente juntou coragem para falar.
- Tudo o que puder encontrar - ele suspirou, sorrindo cruelmente ao dizer - E quando descobrir, quero que dê um jeito e traga-a para mim.
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