― 𝐄𝐈𝐆𝐇𝐓

Estava trêmula quando voltou ao camarim.

Retornou para a sua realidade com a língua querendo escorregar pela garganta, com as unhas cravando impiedosamente nas mãos. Suas palmas estavam úmidas e o coração batia em uma frequência incalculável, mal conseguia processar o que havia acontecido.

Yuki se olhou no espelho largo, vendo seu cabelo marsala desgrenhado, seus olhos castanhos profundos perdidos na imensidão. O batom vermelho já se fora, marcava agora a taça de champagne, não mais a boca dela.

Ainda desnorteada, não se sabe se por conta do álcool ou pela mudança drástica em sua vida, dirigiu-se até o cabideiro das bolsas, pegando a sua bolsa procurando confusa o próprio celular. Mesmo quando encontrou o aparelho ainda não conseguia acreditar o quão inacreditável era uma pequena notificação do banco. Era surreal. Completamente fora de sua realidade.

Era uma transferência, 100 mil dólares cravados, curto e sem rodeios. Toji poderia ser muitas coisas, mas por sua surpresa e sorte, Toji era um bom pagador. Um homem poderoso e cruel, pelo visto, mas pagava suas dívidas como ninguém.

Fez um contrato com o próprio diabo e ele a recompensou bem mais do que o Deus que ela tanto implorou para salvá-la.

Yuki sentou-se no chão, inerte dos sons da casa, não dando conta de quem entrava e saía, se olhavam ou não para o estado devastado que se encontrava a premiada do pecado.

Sua vida podia ter um norte agora, não precisava se acorrentar à dívidas e ameças, pagaria seu infortúnio e Sukuna iria embora. Poderia ter uma casa digna, poderia procurar um emprego melhor... Poderia sair do Santo Pecado.

Sentiu frio. Daquele que chega a queimar, que range a pele e resseca a boca. Yuki se levantou, dando conta que vestia a lingerie e o robe de cetim, não se importaria com outros clientes. Ela já tinha o suficiente por hora.

A mulher histérica e ansiosa se vestiu novamente, com o uniforme que usava para dar aula, prendendo a cascata de ondas marsala em um coque mal feito. Colocou seus óculos, não se despediria de Chizu, iria pagar Sukuna e pegar o restante de suas coisas naquele apartamento mofado, poderia dormir no apartamento da amiga naquela noite ou pegar um quarto de hotel, agora ela podia fazer isso.

Com seus pertences bagunçados em seus braços, correu para o lado de fora, pela área de serviço, não queria que alguém indesejado a visse fora de seu personagem. Parou no beco ao lado do estabelecimento, respirando forte enquanto digitava a senha do aplicativo do banco não conseguindo conter o sorriso de felicidade e histeria sem fim ao ver os digitos da sua conta tão extensos, mesmo que tudo fosse para o bolso de Sukuna, significava que os próximos digitos seriam dela, para melhorar a própria vida infeliz.

— Já estou aqui há tempos. - a voz grave e baixa, mortífera em seu tom mais corriqueiro, estremeceu seus tímpanos, mas nem a voz do próprio diabo tirou a concentração de Yuki do próprio celular — Você não está em posição de chegar atrasada, muito menos de me ignorar.

Sukuna e Yuki costumavam se encontrar naquele beco em dias de pagamento, geralmente acabava com Yuki devastada, mas daquela vez as coisas seriam diferentes.

Ela se controlava para não começar a gargalhar ao escutar a notificação vibrando no bolso de Sukuna. Olhava para os próprios pés, com o peito se enchendo e esvaziando em uma velocidade abominável.

— Olhe só piranha atrevida - em passos pesados ele encurtou a distância entre os dois, apertando o belo rosto de Yuki com brutalidade, forçando-a a olhar para ele — Quando falo, quero que olhe para mim, me entendeu?

Yuki, completa pela fúria e pela sensação de vitória o encarou com o cenho profundamente franzido, agarrando o pulso de sukuna e tirando-o de seu rosto em um puxão violento — Veja a porra do celular, imbecil.

Sequer conseguiu processar a própria fala quando sentiu a palma de Sukuna contra a sua bochecha, a dor foi latejante, sentiu seus joelhos rasparem contra o chão aspero e duro ao cair com o impacto do tapo. Yuki cuspiu nos sapatos dele enquanto acariciava o próprio rosto, com o olhar repleto de ódio e lágrimas fervilhantes queimando suas retinas.

O tapa a fora até justo para compensar a alegria e satisfação que foi ver a expressão de Sukuna tomando ciência da transferência.

— Filha da puta - quase chegou a falar rosnando ao pega-lá pelo pescoço e ergue-lá do chão, a força do aperto fez Yuki se debater e gritar falhada pedindo ajuda — Como conseguiu esse dinheiro?!

Ele berrava para quem quisesse ouvir, sabia que podia espancar Yuki e estuprá-la depois que ninguém poderia fazer nada, qualquer um que o reconhecesse viraria as costas e fingiria que não tinha o visto.

Yuki inutilmente arranhava o rosto de Sukuna, esmurrava-o com suas forças débeis, sentindo o ar faltando os pulmões.

— Você não pode fugir de mim, Yuki - as palavras então tornaram-se doces como nunca e o aperto em uma carícia desesperada — Sabe que não é a dívida que nos une, não pode ir embora. Não vou deixar.

— Você é louco... - ela disse meio a uma tosse nervosa, com incredulidade pela mudança abrupta de atitude — Está fora de si seu doente!

— Sou doente por você - a mão finalmente saira do pescoço dela e fora pousada nos cabelos marsala — Não tem como escapar mais, agora sem a dívida, não posso deixá-la ir.

— Seu psicopata fodido! - ela o empurrou e foi como se tivesse batido em uma parede, ele sequer se mexeu — Prefiro que dê um tiro na minha cabeça do que ficar com você!

— E eu prefiro você morta do que livre.

Yuki então entendeu o que estava acontecendo. A histeria pelo dinheiro saíra completamente de seu corpo e só a sensação de medo, mais pura e densa que poderia sentir, tomou conta de seu ser. Sukuna jamais a deixaria ir, fora ingênua ao pensar que estaria livre com o dinheiro em mãos.

Eles já estavam tão intrinsecamente ligados ao mal em conum que nada mais poderia tirá-los da vida um do outro. Yuki era a presa ao inferno que era a alma e mundo de Sukuna.

Mas não tinha nada a perder.

— Então me mate. - Yuki engoliu em seco, tremendo sabendo que nunca esteve tão perto da morte quanto estava agora — Por favor, me mate se isso me livrar de você.

O cano do revolver encostou lentamente em sua barriga, a pressão da arma a fez arfar, mas o medo da morte começava a soar melhor do que viver com medo da sombra. Ele a encarou, sem expressão, com frieza. Se habia um pesar em sua garganta, ele se foi com a certeza de uma Yuki longe dele.

— Largue a arma, Sukuna. - uma terna e grave voz ressou pelo beco, enveludando os ouvidos de Yuki, que quase quebrou o pescoço de tão rápido que olhou para lado.

Bem na entrada do buraco escuro, estava Toji, com o sobretudo cobrindo a roupa elegante que usava no clube e um cigarro entre os dedos.

— Olá, Angel.

Sentiu a arma ser pressionada ainda mais contra si, nervosa ela arfou, olhando para Toji, pedindo misericórdia. Se ele tão poderoso quanto aparentava, poderia tirar ela dali com vida, implorou aos deuses que Sukuna temesse alguém tanto quanto desejava aterrorizá-la.

Odiava o fato de que mesmo que tuvesse acabado de conhecer Toji, dois fios de esperança já estivam em suas mãos.

— Saia daqui, bastardo. - Sukuna urrou e Yuki podia jurar que um toque de desespero, ou ódio, pairou em sua voz — Não é assunto seu.

— Angel é assunto meu. - deu um trago longo e lento no cigarro, soltando a fumaça espiralada na noite a fora, o cheiro de cravo intoxicou o ambiente — E se não quer que você se torne um problema meu, sugiro que a solte.

Angel soltou um sorriso frouxo, temendo-o da mesma maneira que agradecia por ele estar ali. Não confiava em Toji, mas se ele fosse aquela a que a tiraria desse inferno, beijaria os pés dele.

— Solte-a, Sukuna. Se não quer que uma coisa pequenina dessas se torne um grande empecilho para você. - a cada palavra dele mais perto ele ficava, se aproximando dos dois sutilmente e ameaçador. — Sabe de quem é o território e com certeza não vai querer desobedecer as leis dele.

A arma já não estava mais nela, Sukuna havia se afastado.

— Isso não termina aqui. - Sukuna disse olhando fixamente para Toji, guardando a arma presa no coldre na cintura.

Em passos pesados ele fora se afastando do beco, e a promessa feita fora deixada como um pesar melancólico nas costas de Yuki. Porque era óbvio que a ameças não eram para Toji, mesmo não o conhecendo, sabia que era um erro praguejar contra esse homem.

— Obrigada. - Yuki teve coragem de dizer, segurando o próprio pescoço, sentindo o fantasma das mãos de Sukuna rodeando sua pele.

— Angel, Angel... - Toji se recostou no beco, tragando mais uma vez o cigarro, olhando fixamente para a parede — Que problemão que você se meteu.

Ela se deu o luxo de sorrir aliviada, o peso temporariamente havia saído de suas costas, nauseando-a por completo ao ponto de nada mais conseguir abalar.

— Já estou metida nessa merda há mais tempo do que posso contar, isso ai não foi nada. - Yuki disse, ousando se aproximar um pouco, imitando sua pose ao encostar na parede e pedir um trago.

— Não parecia ser nada. Estava quase implorando para alguém te salvar. - disse soberbo, passando o cigarro para ela que não demorou a aceitar e sequer levou mais de um segundo para tragar.

Yuki apertou os dentes com a ousadia, mas não quis retrucar a altura. Sabia que estava em dívida com o homem. — Bom, pelo menos você chegou antes de eu começar a gritar.

— Isso seria inadmissível. Uma mulher tão esperta sofrendo nas mãos de um asno feito o Sukuna - ela riu o apelido e devolveu o cigarro ao homem — Então, vai querer me contar o porque de estar encrencada com o rei? - Toji debochou do título que o próprio Sukuna dava a si mesmo.

— Só se me contar o porque de ter me salvado. - Yuki o observava de canto do olho, se sabia de algo era que não se devia confiar em nenhum homem. Independentemente do que ele oferecia e do quão complacente parecesse.

— O porquê? - toji engoliu uma risada, lançando a apenas um sorriso condescendente envolto à fumaça — Você é valiosa demais para ser deixada para morrer, anjo.

— Ah, sim. Então tudo tem algo por trás e não apenas um cavalheirismo sem precedentes.

Tudo tem um preço. Achei que já era acostumada.

Yuki mordeu o interior da bochecha, encucada com o que ele acabara de lhe dizer. Ela sabia, e como sabia, que o preço que se paga por atitudes estúpidas é mais caro que o dinheiro pode pagar. Não esperava gentileza desmedida vindo de Toji, muito pelo contrário, já tinha noção que algo viria por trás de tal favor e isso não a tornava menos grata pelo livramento. Era acostumada a arcar com as consequências de ajuda dada de bom grado..

— Então, vai me dizer sua intriga com o Sukuna - a curiosidade era inegável e era deveras intrigante ser alvo da curiosidade de Toji.

— Dívidas de família, meu pai jogava em um dos cassinos de Sukuna. - meias verdades, carregadas por sombras antigas que Yuki jamais seria capaz de entregar a luz tão facilmente. — Ele acabou morrendo quando fiz dezessete anos e como eu era a única filha a dívida passou pra mim.

As mentiras delizavam feita veneno na presa de uma cobra, quem se submetesse a ele, levava o bote de Yuki. Era simples e de certa forma, comovente.

— Compreendo. Difícil para uma garota tão nova. - Toji se repente se endireita no lugar, olhando no relógio antes de dirigir um último olhar para Yuki — Tenho que ir, senhorita Angel. Espero te ver em apresentações futuras.

— Eu sinceramente espero nunca mais encontrar com o senhor. — ela não mentiu, por mais vantajosos que tenham sido seus encontros, Yuki desejava nunca mais estar na mira da máfia.

Mesmo de costas conseguiu sentir a risada amarga reverberando por suas costas — Sinto lhe informar que seu desejo não será concedido, anjo. Agora é inevitável o nosso encontro, já que me deve um favor - ele faz um sinal para alguém que está fora da vista de Angel — E, honestamente, espero que aprenda a mentir até lá.

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