Angeline Smiths, Los Angeles, 24 de Dezembro de 2019

Acordo dando praticamente um salto de tamanho susto que levo ao ver Nicole entrando como um furacão para dentro de meu quarto. Ela bate a porta sem nenhuma cerimônia enquanto tentava controlar as batidas do meu coração. Margarida se espreguiça ao meu lado esfregando seus pêlos brancos na minha cara.

— Bom dia dorminhoca! — exclama, puxando as cortinas.

Vou dizer aos funcionários para proibirem a entrada dela antes que eu acorde, isso é o karma me punindo por todos os meus erros. Tampo meu rosto com uma das mãos quando o sol me atinge, por Deus, era Natal e devia estar frio e nublado. Maldito dia para se morar na Califórnia.

— Você tem muita energia para uma grávida. — praguejo me sentando na cama, meu cabelo cai no meu rosto como um aviso para que eu o lavasse.

Nicole cruza os braços em cima de sua barriga que agora já era grande o suficiente para impedi-la de usar jeans. Ela vestia um vestido vermelho de bolinhas, jaqueta de couro preta e tênis, o cabelo volumoso preso para trás.

— Meu monstrinho não me deixa dormir então eu não deixo ninguém dormir. — se explica com um sorriso.

Bufo. Nicole tinha decidido chamar o bebê de monstrinho por conta das dores e do constante enjoo que ela sentia. O apelido tinha pegado e até a mãe dela estava usando, pobre bebê.

— O que quer essa hora da manhã?

— Manhã? — ela indaga enquanto me levanto. — Está quase de tarde! Calum me expulsou da minha própria casa pois ele queria dormir e eu não aguentava mais a mãe dele então fugi pra cá.

Ah, o relacionamento entre Joy Hood e Nicole Longwell era algo a ser estudado. Não é como se uma odiasse a outra mas estava claro que tinham um problema de convivência, Joy chegou à uma semana e eu posso jurar que nunca vi Nic tão estressada, segundo ela sua sogra implicava com tudo.

A casa que eles compraram estava em reforma então Cal chamou Nicole para morar no apartamento com ele mas ela se recusou a deixar a mãe sozinha, ele acabou indo pra casa dela. Consequentemente Joy estava hospedada lá sendo que Nicole nem ao menos queria isso.

— Onde deixou a mulher?

— Com a minha mãe claro, elas vão buscar a Mali-Koa.

Franzo a testa enquanto fazia um coque em meu cabelo.

— Mali o quê?

— A irmã do Cal meu Deus! — exclama, impaciente com minha incapacidade de decorar nomes. — Parece que todos querem me conhecer e palpitar na casa nova e no nome do bebê, além de tentarem me convencer a descobrir o sexo logo, claro.

— Você está rabugenta.

— Eu sempre fui. — ela diz e então estende um envelope na minha mão. — Toma.

O envelope era com um papel grosso e meu nome estava escrito em uma bela fonte na cor bronze. O analiso por alguns segundos, uma interrogação se formando em minha expressão.

— O que é isso?

Nicole sorri.

— Convite de casamento, daqui a cinco meses Mike e Crystal serão marido e mulher! — ela praticamente berra e segura sua barriga com força para dar pulinhos de empolgação.

Minha nossa, nossa, nossa! Eu sabia que eles iam se casar só não imaginava que seria logo, pensei em talvez mais de um ano e então... Não sabia nem se eles iam me convidar por causa de toda a história com o Luke, meu Deus. Vou no casamento de Michael e Crystal! Resolvo acompanhar Nicole nos pulinhos.

— Ai meu Deus isso é... Incrível! —exclamo sem fôlego.

— Não é? E o melhor é que não vai ter monstrinho dentro de mim o que me deixa com esperanças de conseguir me enfiar num vestido decente.

— Pro monstrinho gorfar nele, vai ser lindo. — provoco.

Ela dá a língua pra mim.

— Não corta a minha onda Angie. — rebate enquanto me seguia para dentro do banheiro. — Ah, eu falei com os garotos ontem por Facetime e parece que eles voltam já em Janeiro mas como vão estar ocupados pensei em fazer o chá de bebê em Fevereiro, o que acha? Já vou estar com oito meses então me parece bom.

— Só vai ganhar pelúcias e fraldas com essa graça de não saber o sexo. — digo enquanto abro a torneira do chuveiro.

— Fraldas estão caras então estou no lucro. O que não me deixa no lucro é que Joy Hood vai voltar nessa data e ficar por aqui durante um tempo indeterminado.

— Ela é legal, não sei por que não gosta dela.

— Ela quer tudo do jeito dela na minha casa, eu vou morar lá! Com meu monstrinho e meu namorado! Tem que ser do meu jeito. E o Cal ainda fica me provocando é... insuportável.

— Ninguém mandou ficar grávida.

Nicole me mostra o dedo do meio.

— Vai se ferrar.

A ignoro e começo a tirar minha roupa.

— Por sinal você não vai poder ficar aqui, vou encontrar o Josh, ele pediu ajuda nas compras de Natal.

Nicole franze a testa claramente insatisfeita de ter que voltar pra casa.

— Jogada pra escanteio de novo, nem quando vocês transavam as coisas eram assim.

Dou risada enquanto a lembrança me atinge.

— Eu estou tão necessitada que as vezes fico pensando se ele toparia. — murmuro e entro no chuveiro.

Eu e Nicole ficamos alguns segundos em silêncio para refletirmos.

— Melhor não. — dissemos em uníssono.

Com certeza transar com o ex não era a melhor maneira de esquecer o outro ex.

— Já vou então, nada de abrir as pernas. — Nicole pede.

Dou risada.

— Nada de enforcar sua sogra! — grito de volta e então ouço a porta bater.

Depois de tomar meu banho e ser forçada pela minha mãe a comer antes de sair, Josh vem me buscar. Nós dirigimos até o shopping mais próximo e demoramos horas lá. Eu comprei presentes para toda a família incluindo minha irmã e Nicholas, que dessa vez tinham viajado para a Carolina do Norte pra passar o Natal com os avós dele. Isso me deixou chateada de certo modo, Tina e eu sempre passávamos o Natal juntas.

O pior de deixar para comprar os presentes em cima da hora é que parece que todos deixam também. O shopping estava lotado, as pessoas passavam com milhares de sacolas por todas as direções e não estavam nem ai para atropelar jovens perdidos. Demoramos muito tempo para escolher os presentes e mais tempo ainda nas filas gigantescas das lojas. Foi literalmente um inferno.

Depois de horas batendo perna estávamos esgotados e querendo ir logo pra casa tomar alguns drinks e comer torta. Compramos bolinhos e suco de limão pois ainda teríamos que esperar até de noite e comemos na ida pra casa de Nicole. Acho que desde os dez anos passava o Natal com a Nicole então quando comecei a namorar o Josh sempre juntávamos às famílias, a minha, a da Nicole e a dele. Nesse ano teríamos também a de Calum, que estava pra lá de empolgada para se enturmar por aqui graças ao bebê.

— Feliz Natal família! — Josh grita assim que passamos pela porta largando nossas sacolas no chão.

— Meu Deus pra quê essa gritaria? — a mãe dele pergunta com uma tigela em suas mãos.

Ao seu lado estavam a minha mãe, a de Calum e a da Nicole. Todas com a mão em alguma coisa, a minha com farinha até os cotovelos, vejo meu pai e o de Josh do lado de fora bebendo um copo de whisky. Uma música agitada tocava no ambiente o que me fez perguntar de onde estava vindo isso, não fazia muito o estilo do nosso Natal.

— Desculpa mãe. — ele murmura.

Cumprimento todas elas deixando a mãe de Josh por último.

— Olá querida. — ela diz me dando um abraço

Sorrio.

— Oi. Onde está o Antony?

— Calum. — é tudo o que ela responde.

Josh e eu nos entreolhamos e então vamos para a sala. Calum estava ao lado do som com o pequeno Antony pendurado em seus braços e a garota que parecia ser sua irmã batia algumas fotos deles.

— Antony cuidado com o Calum ele é meio doidinho. — é a primeira coisa que eu digo.

— Ele me jogou pro alto duas vezes. — responde quando Cal o coloca no chão.

Antony sai correndo em direção a Josh e agarra sua perna.

— Você o quê? — indaga Josh incrédulo, encarando Calum.

— Ele pediu cara. — tenta se explicar.

— Parece que está tudo muito movimentado por aqui. — murmuro.

Ele dá risada.

— Os Hood invadiram a festa de Natal de vocês, imagina se os...

Suspiro e antes mesmo que eu pudesse fazer careta imaginei como seria se Luke estivesse aqui, sua mãe com a minha fazendo torta e nós dois jogando sinuca do lado de fora. Tiraríamos uma foto em grupo, faríamos sexo em frente a lareira e trocaríamos presentes.

Alguma coisa em mim estalou ao sentir toda a saudade que estava tentando reprimir por todo esse tempo de uma vez só. Respiro fundo para que nenhuma lágrima apareça em meus olhos.

— Mau momento, cara. — censura Josh dando um tapa no ombro de Calum.

Ele abaixa a cabeça como uma criança arrependida. Queria dizer que não tinha problema, afinal ele nem mesmo disse o nome mas não conseguiu projetar uma frase completa.

— Foi mal Angie.

Respiro fundo e sorrio.

— É só o Natal que me deixa emotiva. — me viro para a irmã dele. — Você deve ser Mali-Koa? É isso? Pronunciei certo?

Ela sorri mostrando covinhas como as de Calum.

— Pode me chamar só de Mali, você deve ser a Angie. Calum me falou de você.

— Espero que bem.

— Ele contou uma história fantasiosa sobre como a nova amiga dele o ajudou a encontrar o amor de sua vida. — ela ironiza.

— Ei. — Cal se finge de ofendido enquanto e e Josh damos risada.

— E onde está o amor da vida dele por sinal?

Calum faz sinal de silêncio com o dedo e me puxa pelo corredor. Ele abre a porta do escritório e aponta para Nicole deitada no sofá, estava com a cara amassada e coberta por uma manta azul, ressonava levemente como se nada no mundo pudesse incomoda-la.

— Own, nem parece que enche o saco. — sussurro.

Calum dá uma risadinha e fecha a porta.

— Não é? Pelo menos conseguiu dormir um pouco, tem sido difícil pra ela arrumar uma posição confortável com o monstrinho dentro dela.

Reviro os olhos.

— Vocês chamando o bebê de monstrinho só me faz pensar que ele é tipo o da Bella e que está sugando as energias da Nic.

— Olha, as vezes eu acho que está mesmo.

Assim que pisamos de volta na sala minha mãe aparece, dessa vez com as mão limpas e sem farinha.

— Ei vocês aí, que tal colocarem as coisas na mesa?

Às cinco da tarde? Tive vontade de perguntar mas não o fiz, apesar de saber que só comeríamos de noite minha mãe tinha mania de querer deixar tudo pronto com horas de antecedência. Imagine o surto que ela teve quando saí hoje cedo para comprar os presentes em cima da hora.

— Claro mãe. — concordo.

Depois de arrumarmos tudo e enquanto o peru assava decidimos fazer um karaokê. Nicole que já estava acordada abriu um pacote de batatas e se sentou no sofá para ver os garotos cantarem. Calum cantou The Edge Of Tonight do All Time Low, Josh cantou I Want To Break Free do Queen e papai Beat It do Michael Jackson.

Tudo estava muito bem ate Nicole, Calum e Mali decidirem cantar She Looks So Perfect. Senti vontade de vomitar e meus dedos começaram a tremer antes mesmo do refrão. Me levantei e fui até o banheiro, sentando na tampa do vaso sanitário enquanto encarava minhas pernas tremendo.

Droga eu estava cansada disso. Não podia ouvi-lo, muito menos imaginar sua voz. Isso sempre acontecia, a ansiedade me dominava ao lembrar que ele estava longe de mim.

Não sabia o que ele estava fazendo, com quem estava ou se estava bem. Será que precisava de mim ou sentia minha falta? Queria falar com ele, conversar de verdade e dizer que sentia a sua. Deitar no tapete de nosso apartamento e brincar com Petunia e Margarida, era tudo que eu queria para agora. Queria ele aqui, cantando comigo e me zoando por eu ter a pior voz do mundo. Talvez fazendo propaganda para os vocalzones, tanto faz.

Estava cansada de fingir que estava bem pois não estava. Respiro profundamente tentando me acalmar.

Meu celular começa a tocar e o tiro do bolso vendo o nome de Mike brilhando na tela. Uma interrogação surge em meu rosto, de todos os garotos o que eu era menos próxima era ele, por que estaria me ligando? Será que é alguma coisa com a Crystal?

Interrompo os questionamentos e me levanto, atendendo a chamada em seguida.

— Angeline? — a voz dele soa do outro lado do telefone.

Sorrio de empolgação, o que senti ao receber o convite de casamento me invadiu novamente e me fez esquecer a sensação de ansiedade.

— Mike! Que bom falar com você, como vai?

— Eu vou bem, meio maluco com os preparativos do disco do casamento mas nada comparado a Crystal. — ele dá uma pausa. — Ela está no banho mas te mandou um beijo.

— Manda outro pra ela, estou com saudade de vocês. Quando passar a época de festas tratem de vir aqui.

Michael dá risada.

— Com certeza iremos, seu pai conhece bons bar tenders. E você como vai? Não te vejo já tem mais de um mês eu acho...

Na verdade tinha um pouco mais que isso. Eu fui até a casa de Ashley ajudar ela a escolher uma roupa para conhecer a mãe de Ashton e então ele chegou de noite com Michael, Crystal e quatro caixas de pizza. Foi divertido estar com eles um pouco. Desde que terminei com Luke não tenho os visto todos juntos. Ashton morava perto de Calum então sempre o via, pois estava sempre com Cal e Nicole. Agora Mike e Crystal era bem dificil dde ver.

— Eu estou bem, bastante ocupada com a faculdade e o estágio mas estou dando conta. Ah, aproveitar pra dizer que recebi o convite do casamento do vocês, está lindo! Eu vou com certeza, não perderia isso por nada.

— Essa é uma boa notícia, estávamos preocupados que você não fosse por causa de toda a história com o Luke.

Engulo a seco. Vivo dizendo a todos que não tem problema tocar no nome de Luke mas toda vez que tocam sinto como se dessem um murro no meu estômago.

— Isso já passou Mike, não posso ficar de fora de um dia especial como esse. — garanto.

Há uma longa pausa e então Michael suspira.

— Não sei se passou pra ele. — murmura.

Me sento na tampa do vaso sanitário novamente em busca de apoio, estava com medo do que podia vir.

— Como assim?

— Bom, Angie, na verdade eu te liguei por um outro motivo. — admite. — O Luke estava aqui na Austrália com a família, pro natal como todo ano. A mãe dele me ligou e disse que ele saiu de lá dizendo que tinha que voltar pra casa. Ele levou o passaporte e a mochila.

— Espera, o que isso quer dizer? — pergunto, tentando juntar as peças em minha cabeça.

— Ele foi pra aí Angeline. — diz. — Luke foi pra Los Angeles.

Oi gente!
Editei o primeiro capítulo chamado "Epígrafe", mudei as fotos dos personagens e deixei a estética mais bonitinha, se alguém quiser ir lá ver...
Próximo capítulo vamos ver um pouco do Luke finalmente, já comecei a escrever por sinal!
Queria agradecer pelos mil comentários na fic, fico feliz demais com isso! Muito obrigada!

Espero que tenham gostado e até a próxima! <3