O SOM DA MINI VAN DE JOHNNY LAWRENCE estrondava ao som de We're  Not Gonna Take It, uma das músicas mais famosas da banda Twisted Sister e que eles costumavam sempre ouvir. O solo de guitarra era altamente viciante e o refrão que gritava as mesmas palavras do título da música, era cantada com muita facilidade. Ao lado do sensei Johnny Lawrence, agora, do Miyagi-do, estava Kwon Hasashi Bo-ra, dedilhando a batida da música com seus óculos escuros no rosto. No banco de trás, Robby Keene e Miguel Diaz, que também usavam óculos escuros ─ assim como Johnny, balançavam a cabeça enquanto curtiam. Atualmente, essa era uma das cenas mais comuns de todas as manhãs ou tardes.

Os três jovens acordavam, tomavam seu banho, café da manhã, recebiam seus lanches de Rosa, ou melhor, a Yaya, avó biológica de Miguel ─ e que agora também considerava Bo-ra e Robby como seus netos e iam para escola com o Lawrence. Depois, passavam a tarde treinando no Dojo. Após a prisão de Terry Silver e a queda do Cobra Kai, eram tempos de paz. Apesar de John Kreese ter conseguido mais uma vez escapar da prisão, Daniel não acreditava que ele voltaria.

Era o último ano do colégio, busca pelas faculdades e treinamento para o torneio mundial do Sekai Taikai. Finalmente os senseis Lawrence, LaRusso e Toguchi haviam entrado em um acordo mútuo e decidido que o Miyagi-do competiría no torneio. Então, tudo parecia estar finalmente em ordem.

Lawrence parou na frente do Miyagi-do, estacionando como sempre de qualquer jeito. Os quatro desceram do carro, pegando suas bolsas e caminhando diretamente para a parte de trás do local. A maioria dos alunos, já vestidos corretamente com o karatê-gi, alongavam-se antes do treino começar. Os outros dois senseis já estavam lá, conversando dentro da casa de madeira onde ficava um dos santuários do senhor Miyagi ─ e onde eles também treinavam a parte de equilíbrio emocional.

─ Vão trocar de roupas, pirralhos, já vai começar. ─ Johnny apontou para os três, indo falar com Daniel e Chozen.

─ Até quando ele vai chamar a gente assim, em? ─ Indagou Robby, soltando uma risada.

─ Acho que sempre. ─ Respondeu Miguel, dando de ombros.

A Kwon se aproximou dos dois novos irmãos de vida, jogando os braços por cima de seus ombros e os abraçando. Aqueles três estavam quase sempre juntos. Treinando, saindo, no colégio ou onde quer que fosse. Bo-ra tinha uma grande amizade com Tory Nichols e Samantha LaRusso, apesar de já ter entrado em conflito com as duas algumas vezes ─ algo mais comum do que se poderia imaginar entre eles, mas os garotos realmente se tornaram uma grande família para ela.

─ Eu soube que você tá indo com o Eli e o Demetri visitar a faculdade do Vale de San Fernando... ─ Ela olhou para o Diaz, dando uma piscadinha. O Moskowitz havia comentado com Bo-ra. ─ Tem espaço pra mais uma?

─ Você tá pensando em fazer a faculdade de West Valley? ─ Miguel perguntou, parecendo até mesmo um pouco mais feliz com essa notícia. Entre seus amigos, ele devia ser o único procurando por uma faculdade perto de casa e com pouca referência.

─ Claro que não, ela deve querer ir só pra se divertir. ─ Keene comentou. Bo-ra sempre disse que não tinha todo esse desejo de ir para uma faculdade, então ele, que sabia que não entraria em nenhuma delas, se lembrava.

─ Exatamente! ─ Exclamou a garota, dando algumas batidinhas no ombro de Robby. ─ Você não sabe? Eles tem ótimas festas pra quem tá visitando.

─ Você é igualzinha ao sensei Lawrence. ─ Diaz falou, balançando a cabeça. ─ Claro, você pode ir... mas eu vou ficar na sua cola.

─ Eu também. ─ Robby disse. Miguel arqueou a sobrancelha, achando estranho. O Keene nunca se ofereceria para isso. ─ Qual foi? Só vou porque tenho que ficar de olho nela.

─ Como vocês são chatos, eu em! ─ Bo-ra empurrou os dois, revirando os olhos. Os dois, que já tinham namoradas, faziam questão de sempre se meter na vida de Kwon Bo-ra. ─ Vamos treinar, tô a fim de bater em alguém!

( . . . )

O campo de West Valley era tão grande quanto mostrava no panfleto distribuído pela faculdade. O guia estudantil, enquanto caminhava, explicava aos alunos onde se localizava cada lugar, além de como as aulas eram ministradas e atividades extracurriculares. Nenhum dos cinco estavam tão animados para saber sobre o campus ou o que diabos ele tinha de bom, mas ficaram o tempo todo seguido o passeio por causa de Miguel. Mesmo querendo os para Stanford, o fato da universidade ser muito cara e seus pais não terem dinheiro para pagar acabava dificultando tudo. Então, o que lhe restava era ver todas as opções próximas e de baixo custo, já que uma bolsa ainda não parecia ser uma esperança.

─ Se a faculdade de Phoenix não fosse online, ela seria assim! ─ Demetri criticou, achando o local péssimo. Claro, ele só pensava no MIT e desprezava todas as outras.

─ Para de ser chato, só estamos visitando. Ninguém aqui vai te passar nenhuma doença não. ─ Scar retrucou, olhando para o campus com as duas mãos nos bolsos da jaqueta branca. Ela odiava aquando Demetri começava a criticar tudo que ele não gostava. ─ Sem ofensas, você sabe que eu gosto de você.

E ela realmente gostava, só não tinha muita paciência quando ele começava a falar sobre essas coisas sem parar.

─ Você só está falando isso porque não vai pra uma faculdade! ─ Falou Alexopoulos em seu tom normal.

─ Não preciso de faculdade, sou a melhor no que eu faço. ─ Bo-ra nunca cresceu pensando em se inscrever em uma faculdade, por mais que na Coreia do Sul eles fossem pressionados por isso o tempo todo. ─ Mas quando você criar alguma coisa bem legal me manda, quero testar.

Eli soltou uma risada.

─ E você vai fazer o que então? ─ Perguntou Eli Moskowitz, já sabendo da resposta.

─ Vou ser sensei. ─ Bo-ra disse com a resposta na ponta da língua. ─ Eu te disse quando a gente namorava, você se esqueceu?

─ Não, só perguntei pra te provocar. ─ Zombou, dando língua.

─ A Moon não acha estranho você dois serem amigos? ─ Demetri perguntou, curioso.

─ Demetri. ─ Os quatro falaram, o repreendendo.

Ele levantou os braços, se rendendo.

De repente, um rapaz de mais ou menos um metro e setenta, forte, esbarrou contra o guia estudantil, o derrubando. Um outro garoto, um pouco mais baixo e mais magro, correu na direção deles, comemorando o que eles chamaram de "ponto". Os karatecas olharam bem para a figura na frente deles e deram de cara com Kyler, o ex inimigo deles e ex Cobra Kai. O mesmo que fez bullying Miguel, Eli, Demetri e Bo-ra no primeiro ano do ensino médio. Mas bom... isso era uma história passada e depois de tantas brigas, eles até já superaram.

─ Galera? ─ O rapaz apontou para eles, sorrindo abertamente.

─ Você tá estudando nessa faculdade? ─ Miguel questionou, boquiaberto.

─ Não não, essa faculdade de ta me estudando!

─ Pelo visto aqui eles aceitam qualquer um... você não vai vir pra cá não. ─ A Kwon respondeu baixo, sussurrando para o Diaz. Robby riu do instinto protetor dela, que sempre tentava ajudar os dois.

─ E você, Brucks? ─ Indagou Eli.

─ Eu tô só visitando... eu estudo no MIT. ─ Brucks, que também fazia bullying com outros alunos, respondeu.

Os cinco encararam o rapaz com cachos loiros, desacreditados. Se tinha uma coisa que aquele outro garoto não gostava de fazer era estudar, então, com certeza era surpreendente saber que ele havia passado em uma das melhores universidades do mundo.

─ Então, galera, bora sair juntos? ─ Kyler puxou Scar para perto dele, ignorando totalmente o último Mae geri, ou também chamado de chute frontal, que ela deu nele.

─ Agora você está falando a minha língua! ─ Bo-ra deu dois tapas fortes no peitoral do garoto, o fazendo tossir por causa da força distribuída.

─ Achei que você me odiasse.

─ Às vezes eu abro excessões.

Estava no final da tarde quando Bo-ra e os garotos entraram na festa de universidade de uma das fraternidades do campo ─ essa, a que Kyler queria entrar. Ele estava no primeiro ano, então, sendo um calouro, precisava entrar em uma das fraternidades para continuar. Só pelo lado de fora dava para ver que a fraternidade era grande, já que tinha pelo menos quatro andares, excluindo o porão. Do lado de dentro, as pessoas dançavam ao som de músicas atuais e bem conhecidas pela maioria dos jovens. O cheiro de bebida, cigarro e maconha exalava nós corredores e as luzes coloridas davam um ar de balada para a sala de estar da fraternidade. Um pequeno bar improvisado foi montado na lateral e na cozinha, outro.

No bar montado no canto da sala de estar, Kyler enchia alguns copos de bebidas para os antigos colegas do West Valley. No entanto, um cara mais velho e um tanto mais alto do que ele, se aproximou. O cara falou um pouco alto e sua expressão de superioridade dava para entender claramente o que ele estava fazendo. Intimidando. Miguel e Bo-ra foram os que notaram, de canto, enquanto conversavam com os outros. Quando Kyler voltou, fingindo que estava tudo bem e trazendo três copos de bebidas, para Bo-ra, Eli e Demetri, foi impossível não perguntar.

─ Qual foi, vai deixar ele falar assim com você? ─ A Kwon indagou, dando um gole na bebida. O gosto de vodka com refrigerante e frutas críticas era forte, mas muito apetitoso ao paladar. ─ Por muito menos você já queria bater nos outros.

─ Ah, que isso, somos amigos! ─ Disse o rapaz, fingindo que estava tudo bem. ─ Quando o trote acabar eu vou mandar nisso aqui.

─ Se você diz.

Nenhum deles havia ficado convencido.

( . . . )

Os universitários gritavam em conjunto as palavras "espeto" e "anime", apelidos referentes a Eli Moskowitz e Kwon Hasashi Bo-ra, já acostumados a receber apelidos de acordo com seus esteriótipos. Os dois competiam para ver quem bebia mais, e atualmente estavam empatados. De longe, dos amigos, eles eram os que mais bebiam. Eli, que passou de um nerd considerado como "fracassado", para um cara legal e Scar, que fora dos padrões coreanos e um tanto hipócritas em que foi moldada, preferia fazer o que quisesse, independente das opiniões alheias.

─  Cadê meu aspirador? ─ O rapaz da fraternidade perguntou olhando ao redor. Era o mesmo idiota que havia falado mal de Kyler. ─ Aí aspirador, limpa isso tudo.

─ Não cara, eu tô de boa. ─ Kyler respondeu, intimidado.

O tal Zenker gritou com ele, chamando a atenção das pessoas. Scar e Eli se aproximaram, tomando o último gole de bebida de seus copos e os jogando de lado.

─ Se liga bafo de bosta, quer entrar aqui? ─ Ele continuou com as humilhações. ─ Vai pra o chão e seja o aspirador!

─ Ele vai entrar? ─ Miguel interveio.

─ Que tal ficar fora disso?

─ Olha como você fala com meu irmão, ke sekiya. ─ O apelido se referia em coreano a "filhote de cachorro", o que em inglês queria dizer basicamente "seu filho da puta maluco".

─ O que você disse? ─ Ele deu dois passos para frente, se aproximando.

─ Afasta. ─ Disse Robby.

Miguel e Robby puseram a mão na frente do corpo de Zenker, o impedindo de avançar ainda mais. Kyler afastou os três, fazendo o que o rapaz mais velho queria. Ele colocou suas pernas para cima e apoiou as mãos no chão, deixando que o outro segurasse suas pernas como se estivesse segurando um aspirador. Quando o universitário falou "ativar modo sucção", Kyler começou a pegar o resto de comida do chão, como se estivesse sugando a comida. As pessoas ao redor começaram a rir, achando graça.

─ Acabou! ─ Miguel gritou. ─ Porque você não fala a verdade.

Zenker soltou Kyler e encarou o Diaz.

─ A verdade sobre o que? ─ Indagou Kyler, confuso.

─ Isso imbecil não vai aceitar você. ─ Bo-ra apontou para o rosto dele, sem medo. ─ Fala a verdade.

─ A verdade é que você nunca e eu digo nunca vai entrar nessa fraternidade. ─ Zenker falou olhando diretamente nos olhos de Kyler.

─ Problema teu.

Kyler o olhou com raiva. Vendo o primeiro copo de bebida passar na sua frente, ele o pegou e despejou totalmente na cabeça do capitão da casa de fraternidade. Dessa vez, as pessoas riram da cara dele. Zenker, furioso, tentou atacar Kyler, no entanto, o mesmo devolveu mil vezes pior, defendendo um Oi zuki, um soco do mesmo lado que vai avançar, gritou o braço do rapaz, o apertando com força e soltando um Empi, uma cotovelada com o outro braço. Começando assim, uma briga generalizada entre os, agora, colegas de Kyler e os de Zenker.

─ Essa festa ficou bem mais animada. ─ A Kwon falou, defendendo um Uchi uke, bloqueio de punho fechado de dentro para fora. Depois, devolveu com um Shuto uke, uma defesa de mão aberta que também serve como ataque, atacando diretamente na goela do outro, o fazendo cair no chão sem ar.

O caos estava completamente instalado., com todos eles metidos na briga. As pessoas ao redor se afastaram, ficando chocados o quanto os novatos eram bons. Apesar de alguns erros de vista ou de execução na hora, não tinha como os outros vencerem. Os karatecas estavam acabando com todos eles.

─ Então, bonitinha, é que eu não bato em mulher. ─ O melhor amigo de Zenker se aproximou dela, achando que se daria bem. Ele não a levou a sério. ─ Mas, se você largar esse idiotas e ficar com a gente, prometo que vai valer a pena.

─ Azar o seu. ─ Scar o chutou bem nas costelas, o afastando e criando um espaço entre eles. ─ Mas... continue sem bater!

Se sentindo humilhado, ele foi atrás dela. Bo-ra passou por de baixo do chute de Miguel e se esgueirou pelo canto quando Robby agarrou um pelo braço. A Hasashi chutou um outro que vinha na direção dela, o impedindo de se aproximar e socou o rosto de um segundo quando ele iria atingir a cabeça de Eli por trás. Ao chegar no espaço ao lado das escadas, onde o ping pong com bebidas estava acontecendo, a garota pulou em cima da mesa, tendo uma boa visão da situação.

─ E agora? Ficou sem saída. ─ Ele riu, ainda se achando superior.

Bo-ra soltou uma gargalhada, colocando a mão no estômago ao sentir uma daquelas dorzinhas de quando você ri sem parar. O celular tocou no seu bolso de trás da calça moletom, bem na hora da luta. Scar o tirou, vendo o nome passarinho e um coração do lado na tela. Era Kwon Jae-sung ligando.

─ Oi irmãozinho. ─ Scar atendeu o telefone, pegando um dos copos de bebida e jogando no rosto do garoto na sua frente. Que claro, se afastou ao sentir o álcool entrar em contato com seus olhos. ─ Você sempre me liga na pior hora.

─ Que barulho é esse? ─ Ele a ignorou. Kwon sempre a ligava na hora que ele queria e nunca perguntava se podia ou não. Fazia de propósito. ─ Você tá em alguma festa?

─ É... mais ou menos isso. ─ Ela pulou em cima da mesa quando seu oponente tentou puxar seu pé, e devolveu a tentativa de ataque pisado na mão do mesmo. ─ A gente tá brigando com uns universitários idiotas.

O universitário gritou de dor.

─ Olha só, você agora briga com universitários. ─ Ele disse todo orgulhoso, com aquele tom de voz convencido de sempre. ─ Aqui não está tão divertido... mas tenho uma novidade.

─ Qual? ─ Perguntou. Claramente estava demorando para finalizar sua luta com o homem na sua frente por estar no telefone.

─ Acabei de me tornar o melhor aluno do Dohk Sa. ─ Ele soltou uma risada vencedora. ─ Acabei com aquela marra do Yoon Do-jin!

O nome Yoon Do-jin não era o que ele gostaria de escutar naquele momento. Kwon sabia que ela evitava ao máximo falar sobre ele, mas preferia falar e fazê-la superar, do que ficar evitando algo assim. Distraída, se deixou ser puxada pelo pé, caindo com as costas na mesa. Felizmente, tendo um tempo de reação rápida, ela devolveu, chutando bem no meio do estômago. Quando o outro tentou avançar, ela se levantou, segurou em uma das barras da escada de madeira e pulou em cima do rapaz, quebrando a mesa com tudo e o fazendo desmaiar no mesmo segundo.

─ Eita porra! ─ Eli gritou.

Os garotos levantaram as mãos para o alto, gritando e comemorando o feito. Eles haviam derrotado Zenker e todos os universitários que eram seus amigos.

─ Porquê isso agora? ─ A Kwon perguntou ao irmão, achando estranho. Ele era a última pessoa que ligava se Do-jin era o melhor aluno da academia ou não. ─ Desde quando você quer isso?

─ Nós também vamos para o Sekai Taikai e não teremos nada de compaixão para nenhum deles. ─ A voz de Kwon estava ainda mais sombria do que antes. Algo havia mudado. ─ Agora, eu sou o melhor.