Isso não vai dar certo.

LILI REINHART:

Alguns dias haviam se passado, e as coisas voltaram praticamente ao normal. Eu havia voltado a faculdade. Estava tentando correr atrás do tempo perdido e me esforçando ao máximo para não ficar mais enrolada que já estava, e Bella e Elly estavam me ajudando nisso. Eu precisava adiantar as coisas da faculdade o máximo que eu pudesse, já que no próximo mês eu passaria a estudar em casa, pela internet, por conta do filme.

Aghata havia explicado para mim, que, estudantes, sendo eles universitários, recebiam essa "ajuda", já que o filme acabava até contando ponto para algumas, na verdade quase todas, as matérias do curso. Então, sendo assim, quando o semestre fechasse, eu passaria a fazer a faculdade online, e só voltaria para as aulas normais no próximo semestre, que seria no ano seguinte.

Eu estava tão animada com toda aquela situação, mas ao mesmo tempo com um pouco de medo. Era estranho pra mim. Eu cresci numa vida corrida, procurando sempre dar o meu melhor no cursinho, no balé, na escola, mas aquela correria perto da que eu estou lidando hoje em dia, era fichinha.

Eu havia assinado o contrato e resolvido todas as coisas sobre o filme, dois dias depois que cheguei de Nova York. Inclusive, o triste fato de que, eu provavelmente teria que levar o meu cabelo loiro e virgem ao vinho.

Cole estava lá, e foi bem estranho, já que ele estava se esforçando ao máximo para me deixar confortável e conseguir se passar apenas por meu amigo. E sinceramente, eu fiquei feliz com aquilo, mostrou que ele estava amadurecendo e respeitando meu espaço, porém, me deixou ainda mais confusa.

Passei todos esses dias bem distante do pessoal, - exceto por Johnson, que eu via as vezes quando ia no estúdio ver como estavam ficando os arranjos para a música que eu havia feito para o meu pai, de resto não vi praticamente ninguém - pois eu queria conseguir pensar e raciocinar toda a conversa que eu havia tido com Duan. Até Camila, Jc, Kian e Haley que moravam comigo, quase não me viam, pois ou eu estava enfiada no quarto decorando o script, ou eu estava na faculdade. O mísero tempo livre que me sobrava eu usava para dormir.

Minha felicidade só ficaria mais completa se eu não estivesse recebendo tanto hate, aparentemente, sem motivo. Era estranho pensar que eu havia feito alguma coisa, e não sabia o que era. Esse era o único motivo para que estivessem sentindo tanto ódio de mim, assim de uma hora para outra. Mas, infelizmente, aquilo seria uma coisa que eu teria que aprender a conviver daqui pra frente, e tentar focar apenas nas coisas positivas.

Estava dentro do closet, o revirando de cabeça para baixo atrás de uma roupa para eu usar. Eu sairia com o Justin dali a algumas horas, e mais tarde teria uma festa na casa dos meninos, pois Shawn - que eu ainda não conhecia pessoalmente - estava na cidade. Ouvi meu celular tocar, e em seguida a porta de meu quarto abrir. Saí do closet à procura do ser que havia invadido meu quarto e à procura de meu celular. Eram Camila e Madchën, claramente quem ligava era Madchën.

- Oi Madchën! - Disse com o sorriso na voz e fiz sinal para que Camila entrasse no quarto. - Procura uma roupa pra mim. - Sussurrei tampando o microfone do celular. Camila assentiu e entrou em meu closet logo sumindo.

- Oi querida, como está? - falou animada e eu me sentei na cama.

- Eu estou bem, e vocês, como estão? - Perguntei. Pude ouvir a vozinha da Trinity de fundo pedindo "deixa eu falar, eu quero falar com ela" e ri ao ouvir Madchën a pedindo silêncio.

- Estamos todos ótimos, porém a Trinity está em cólicas para falar com você, mas antes preciso falar, ok? - Eu ri abertamente e murmurei um "uhum" para que ela continuasse a falar. - Então, a Trinity me falou sobre a Disney, e eu liguei para o Cole, para saber se não era invenção dela... E ele disse que ela havia ligado para ele, e dito que você a levaria... Você sabe alguma coisa sobre isso? - Perguntou apreensiva.

- Sim, claro que sei. - Ri e fiz sinal negativo com a cabeça para Camila que veio com uma combinação de roupa bem estranha. - Foi ideia minha, já que não poderei ir até aí vê-la. - Expliquei. - E eu gostaria muito que você permitisse que ela fosse comigo. O que me diz? - Falei com a voz manhosa e ri.

- Por mim está tudo bem... Eu já até falei com John, e ele também permitiu. Decidi resolver tudo com ele antes de te ligar, para se caso ele não deixasse, não te daria falsas esperanças. - Explicou e eu quase dei um pulo da cama por tamanha animação. - Mas, tem um porém... - Madchën deixou a frase morrer e eu me sentei novamente. Murmurei um "qual?" bem desanimado e ela suspirou. - Como eu te disse... Eu falei com o Cole, e ele pediu que eu só deixasse a Trinity ir, se ele fosse junto... - Ela falou sem jeito e eu arregalei os olhos.

- Ué? Mas porque? Ele não confia em mim? - Perguntei incrédula e já me sentindo mal, quase desistindo de ir.

- Não Lili, eu acho que meu filho só quer uma desculpa perfeita para passar um fim de semana com você. - Ela falou rindo e eu senti meu rosto esquentar de vergonha.

- O que aconteceu? Você está parecendo um tomate. - Camila falou rindo e em português. Acompanhei a risada dela e apenas fiz que não com a cabeça.

- E então, vocês vão? Quando vão? Como vai ser? - Madchën questionou chamando minha atenção, e eu pude ouvir Trinity gritando "nós vamos sim, nós vamos" e comecei a rir.

- Por mim pode ser no próximo fim de semana, eu converso com Cole, e um de nós dois vai buscá-la. - Falei pensativa.

- Nesse próximo fim de semana mesmo? - Ela falou e ficou um pouco em silêncio, como se estivesse pensando. - O Dylan vai vir para cá na segunda, e vai embora na quinta, talvez ele possa levá-la, assim vocês não precisam vir até aqui, e depois trazê-la de volta.

- Isso é ótimo! Vou conversar com os dois hoje a noite, e daí eu peço para o Cole te ligar e contar tudo o que resolvemos, ok? - Falei animada e me levantei da cama.

- Tudo bem então, combinado! Até mais Lili, e obrigada por deixar minha pequena tão feliz. Ela está aqui pulando igual a uma pulguinha de tanta animação. - Madchën falou rindo e eu a acompanhei.

- Não precisa agradecer, eu amo vocês como se vocês fossem minha família. - Disse sorrindo e Camila finalmente saiu do closet.

- Nós também somos sua família. - Sorri ao ouvir aquilo. - Se cuida, tchau!

- Tchau, um beijo. - Disse finalizando a ligação.

- E aí, qual dos dois? - Camila falou parando em minha frente com dois vestidinhos curtos na medida certa, um era preto de meia manga e decote canoa, e o outro era rosa escuro com um enorme decote nas costas.

- Vou com o preto. - Falei sorrindo e peguei da mão dela. - Obrigada amiga.

- Você vai na festa na casa dos meninos hoje, ou vai sair com o Justin? - Camila perguntou sentando-se na cama.

- Eu vou almoçar com o Justin daqui a pouco, e não sei o que vamos fazer depois. Mas eu vou dar uma passada na festa sim, tenho que conversar com o Cole. - Expliquei enquanto colocava meu vestido, por cima da lingerie preta que estava usando.

- Então, vocês vão voltar? - Camila perguntou animada e eu neguei com a cabeça.

- Eu não sei, Camila. - Suspirei e tirei a toalha do cabelo. - Eu estou com medo ainda, mesmo querendo mais que tudo dar outra chance a ele. - murmurei enquanto penteava o cabelo.

- Então você vai ficar com o Justin? - Camila questionou e eu já começava a me sentir incomodada.

- Eu não sei, Camila. - Bufei. - Eu estou confusa... O Justin me faz super bem, eu o admiro mais que tudo, mas não sei... Parece não passar disso. - Suspirei. - É como se eu ficasse o tempo todo comparando as pessoas com o Cole, sabe? - Larguei a escova em cima de minha penteadeira. - Tipo, se o Justin sorrir pra mim, a primeira coisa que deveria vir na minha cabeça seria algo como "nossa, que sorriso lindo", pois eu sempre fui apaixonada pelo sorriso do Justin, desde que o vi pela primeira vez atrás de uma tela de computador. - Falei andando de um lado para o outro e Camila me acompanhava com os olhos. - Mas não, o que eu penso é "ah, o Cole fica com covinhas na bochecha quando sorri", entende o que eu quero dizer? - Bufei frustrada e Camila assentiu.

- Foi exatamente o que a Duan falou, você fica procurando ele em outras pessoas, procurando semelhança, procurando algo para te deixar mais próxima dele. - Camila falou olhando pra mim, que continuava andando igual a uma doente pelo meio do quarto. - Eu acho que o melhor que você pode fazer, é dar um tempo para você mesma. Você não precisa voltar com o Cole, mas também, não deveria ficar com o Justin, nem com nenhum outro cara agora. O que você precisa é deixar o pobre do seu coração descansar.

- De fato, você tem razão... - Suspirei.

Entrei em meu closet e peguei meu coturno preto que era o que tinha o cano mais alto. Sentei-me na cama ao lado de Camila e calcei o mesmo. Camila começou a afagar meu cabelo. Terminei de me calçar e afundei o rosto nas mãos, apoiando os cotovelos em meus joelhos, e uma onda de tristeza invadiu meu corpo. Meu coração apertou, e meu olhos logo começaram a arder.

- Pode chorar... Eu sei que você quer, eu te conheço. - Camila falou baixinho e me abraçou, fazendo com que eu deitasse a cabeça em sua perna e desabasse, deixando as lágrimas saírem. - Você está guardando muita coisa pra você, Lili. Chora, coloca pra fora. - Camila falava baixo, e eu só fazia chorar.

Meu choro era alto, minha garganta doía. Eu me sentia sobre carregada.

Eu me sentia como Lucky, a personagem de um dos clipes da Britney Spears, que eu amava assistir. Eu estava com tudo em minhas mãos, eu tinha meus amigos por perto, estava começando a construir uma carreira, estava fazendo a faculdade dos meus sonhos, estava morando no país que eu sempre quis morar desde pequena, mas me sentia vazia. Era como se nenhum dos sorrisos que eu desse fossem verdadeiros, era como se todos eles estivessem cheios de lágrimas e gritos de dor escondidos.

"If there's nothing missing in my life then why do these tears come at night?"

- Mais calma? - Camila questionou assim que meu choro foi diminuindo. Levantei minha cabeça e assenti secando minhas lágrimas com as palmas das mãos. - Você precisa parar de guardar essas coisas pra você, Lili... - Camila suspirou me ajudando a secar meu rosto enquanto eu fungava repetidas vezes. - Chega de desforrar seus problemas no cigarro, e em coisas que te fazem mal. Você precisa colocar o que te incomoda para fora, mas de forma saudável, sabe? Sei lá, vai a praia, grita pela rua, escreve uma música, chora, mas chega de se machucar, ok? Por favor? Por mim? - Camila praticamente suplicou e eu apenas assenti com a cabeça.

Infelizmente, eu já havia viciado no cigarro, não conseguia ficar mais que duas horas sem fumar pelo menos um, porém, agora, eu precisaria me esconder muito melhor, pra não decepcionar ainda mais as pessoas.

Nós ficamos um longo tempo ali, em silêncio, esperando que eu me acalmasse. Camila fez suas palhaçadas, que em maioria não tinha nenhuma graça, e era exatamente isso que mudava meu humor. Cair na gargalhada porque ela estava tentando ser engraçada, sem nenhum sucesso.

A pesar de Camila e eu termos nos distanciado bastante, por conta de falta de tempo, por conta de eu ter me fechado durante um bom tempo, e todas essas coisas, apenas fortaleceu ainda mais a nossa amizade. Me mostrou que pra você ser amigo de verdade, você não precisa ver ou conversar todo dia, e sim, as coisas não mudarem mesmo depois de meses sem se ver ou se falar. Mas só de pensar que dali a pouco tempo eu ficaria longe dela de novo já me apertava o coração. Por mais que eu tivesse feito novas amizades, Camila sempre seria a Camila, sempre seria minha melhor amiga, que age como uma mãe.

- Eu preciso terminar de me arrumar. - Levantei da cama de supetão e suspirei. - Não quero me atrasar. - Camila assentiu. - Sabe o que eu estou pensando aqui? - Falei fazendo Camila voltar sua atenção para mim. Ela murmurou um "hum?" e eu voltei a falar enquanto começava a me maquiar. - Eu acho que vou vender meu carro e comprar uma moto, o que você acha? - Falei super empolgada.

- Eu acho super perigoso. Porém, você usa mais a moto do Kian que o seu carro, então, acho que seria uma boa. - Camila falou e nós rimos.

- Vou falar com o Kian sobre isso, ver se ele consegue vender meu carro ou sei lá, não sei como essas coisas funcionam, e aí assim que ele conseguir eu compro a moto. - Disse sorrindo e finalizando minha maquiagem, que se baseava na pele mais leve, iluminada e bronzeada possível, bastante rímel nos olhos e os lábios apenas com chapstick de cereja, que deixava a boca levemente avermelhada.

- Se você quiser, assim que ele chegar em casa eu falo com ele pra você, assim você não se atrasa. - Camila se ofereceu e eu assenti sorrindo.

- Eu quero sim, amiga, obrigada. - Falei dando uma última olhada no espelho. - Dessa vez ele volta de vez, ou vai voltar pro set na segunda? - Perguntei pegando meu cardigã azul navy que estava nas costas da cadeira do computador.

- O Jc falou que sim, e parece que os dois vão sossegar o facho em casa. - Camila falou rindo. - Sendo assim já sabe que a bagunça vai voltar toda de novo, né?

- Claro que sei! E ainda bem, já estava sentindo falta. - Ri. - Bom, amiga, eu já vou indo. Só tenho meia hora pra chegar até o restaurante. - Falei pegando tudo o que precisava e colocando dentro da minha bolsa.

- Bom almoço, e até a noite. - Camila acenou deitando-se em minha cama em seguida.

Acenei de volta e desci as escadas correndo. Haley estava parada na entrada da cozinha falando no celular, mas quase não dava para ouvir a voz dela. Provavelmente estava falando com o Dylan, e como Jc estava na sala, não ia querer que o mesmo escutasse, para o Kian não ficar sabendo. Me despedi dos dois com um beijo rápido no rosto, desviei dos cachorros e da gata, que a pouco havíamos descoberto ser gato, e saí em direção a parte externa da casa para pegar meu carro.

Cheguei no restaurante em que havia combinado de encontrar Justin, coisa de uns dez minutos atrasada, já que o trânsito estava um inferno, e eu não estava com a moto de Kian para cortar caminho. Informei meus dados na recepção do luxuoso restaurante, e me arrependi amargamente por não ter me vestido melhor. Um rapaz muito bem vestido, que devia ser uns seis anos mais velho que eu, me conduziu até a mesa onde Justin me aguardava. Ele estava lindo, como sempre. Bem arrumado mas nada exagerado, o que me deixou um pouco mais confortável com minha roupa. Me aproximei dele e o beijei no rosto, recebendo um abraço apertado em resposta.

- Me desculpa a demora.. - Falei enquanto me sentava. - O trânsito estava horrível, e o meu amigo que sempre me empresta a moto não estava em casa hoje. - Expliquei.

- Não tem problema, foram só dez minutos, e por você eu esperaria dez horas aqui sentado se fosse preciso. - Justin respondeu num tom galanteador segurando minha mão direita, e nós caímos na gargalhada em seguida.

- Só você mesmo! - Disse rindo e apertei sua mão. - Então, vamos comer? Tô faminta! - Disse rindo e Justin fez o mesmo. Intimidade não é uma coisa legal com relação a mim, ainda mais quando se trata de comida.

Justin e eu almoçamos, e ficamos mais ou menos duas horas dentro do restaurante apenas conversando. Era estranho como o tempo com ele passava super rápido. Nós gargalhávamos das coisas mais idiotas possíveis e conversávamos sobre coisas extremamente aleatórias. Eu sempre me divertia ao estar com ele, e a prova disso era que eu nem me lembrava de checar as horas no celular.

Depois daquelas quase duas horas no restaurante, Justin resolveu que queria me mostrar uma pista de skate. Foi até que tranquilo sair do restaurante, não tinha tanta gente como eu esperei que fosse ter, mas mesmo assim os dois enormes seguranças dele escoltaram a gente.

A pista de skate era privada, e nós demoramos por volta de uns quarenta minutos para chegar lá. Eles nos cederam skates, e nós passamos a tarde inteira brincando e tentando manobras na pista. Eu, obviamente, paguei enormes micos. Afinal, Lili sem mico, não é Lili. No fim do dia eu já estava completamente descabelada, suada e suja, de tanto que havia caído, mas havia sido extremamente divertido. Nós passamos o dia como dois amigos de infância, e nem fizemos esforço para isso.

Eu sabia que não teria um relacionamento com Justin, não só por ainda amar o Cole, mas pelo fato de que nossos mundos ainda eram muito diferentes, e nossas "agendas" nunca batiam. Mas, uma coisa que eu tinha absoluta certeza, era que eu nunca iria querer perder a amizade ele.

- E aí, vamos pra casa? Eles vão abrir a pista. - Justin falou assim que me aproximei dele. Arrumei o skate em baixo do braço e passei a mão pelos cabelos úmidos de suor.

- Já? Que pena... - Fiz uma espécie de beicinho e Justin riu, beijando a ponta de meu nariz.

- Se você quiser nós ficamos mais, eu falo com o pessoal. - Ele falou passando a mão por meu queixo rapidamente.

- Não precisa, obrigada. - Disse sorrindo e ele se aproximou selando nossos lábios.

- Vai querer que eu deixe você em casa ou prefere pegar seu carro? - Justin questionou acariciando minha bochecha.

- Eu prefiro pegar meu carro... Tenho uma "festa de boas vindas" de um amigo hoje. - Simplifiquei.

- Tudo bem, você que manda... Mas antes, eu posso te fazer uma pergunta?

- Uhum, pode, sem problemas.. - Falei franzindo o cenho.

- Isso aqui... - Ele falou apontando para mim e em seguida para ele. - do que chamamos isso? O que estamos tendo? Estamos nos pegando? Namorando? Temos uma amizade colorida?

- Hm? - Murmurei e abaixei a cabeça tentando conter o riso.

- É sério, Lili. Eu estou parecendo a mulher da relação. - Justin falou sério e levantou meu rosto.

- É que... eu... - Fiquei encarando Justin, tentando pronunciar alguma palavra, mas nada saia da minha boca. Eu não sabia o que dizer, o que fazer. Eu não queria tomar nenhuma decisão pela qual eu fosse me arrepender depois.

- Lili? - Justin falou chamando minha atenção para o seu rosto. - Você não precisa me responder agora, ok? Eu não quero te pressionar... Eu sei que você ainda gosta do Cole... Mas eu realmente quero que isso dê certo... - Ele suspirou. - Vamos fazer assim, um mês, daqui a um mês você me dá a resposta, ok?

- Como assim, isso é o que? Um pedido de namoro? - Perguntei franzindo o cenho. - Justin... Nós ficamos poucas vezes, e não se esqueça... acima de qualquer coisa, eu ainda te vejo como meu ídolo, eu não quero destruir isso. - Falei o olhando nos olhos.

- Não é um pedido de namoro, é o pedido de uma chance, pra gente se conhecer, não como amigos ou ídolo e fã, e sim como homem e mulher. - Justin explicou calmamente. - E se não for isso que você quiser daqui a um mês, nós esquecemos essa história, e eu voltarei a ser apenas seu ídolo e seu amigo. - Ele sorriu e acariciou me bochecha, fazendo com que eu sorrisse também. - Eu sou maduro o suficiente pra entender o seu lado, e não te tratar de forma diferente, eu juro. - Assenti e ele selou nossos lábios novamente.

- Eu não quero iludir você, Justin... Eu ainda gosto do Cole. - Confessei.

- Eu sei, Lili. E é exatamente por isso que você não vai me iludir. E eu tenho vinte e um anos, não sou nenhuma criança... Eu sei lidar com a verdade tranquilamente, é por isso que estou te dando um tempo pra pensar. - Justin explicou e mordeu o lábio inferior.

- Tudo bem. Mas daqui a um mês, eu faço o que? Apareço do além e digo se quero ou não ficar com você? - Questionei confusa.

- É, tipo isso... Só que você não vai "aparecer do além", porque nós não vamos nos afastar, a não ser que seja isso que você queira. - Falou me olhando nos olhos.

- Eu acho que isso não vai dar certo... - Falei passando a mão pelo cabelo. - Sabe, eu gosto de ficar com você, você me faz esquecer o mundo, é incrível. Porém, quando eu não estou contigo a única coisa que eu penso é o Cole. E eu não acho justo com você. É como se eu estivesse contigo apenas para esquecer ele, mas eu não quero esquecer ele.

- Então, você não quer nem um tempo pra pensar? - Justin umedeceu os lábios. - Prefere que sejamos apenas amigos? - Falou calmamente enquanto analisava meu rosto.

- Eu prefiro, de verdade. Eu não quero nunca destruir a ligação que nós temos, eu ficaria extremamente chateada em perder sua amizade. Então, prefiro apenas manter nossa amizade. - Expliquei.

- Tudo bem. - Justin forçou um sorriso e segurou minha mão apertando levemente a mesma. - Se é isso que você quer, por mim está tranquilo. Saiba que eu vou estar sempre aqui pra você. - Ele me puxou pra um abraço apertado, que eu retribuí na mesma intensidade. - Vamos, eu vou te deixar em casa. Nós estamos parecendo duas crianças de tão sujos que estamos. - Disse rindo e eu o acompanhei.

{•••}

Cheguei em casa por volta das nove da noite. A casa estava completamente vazia, provavelmente porque todo mundo já havia ido pra festa na casa dos meninos. Tomei um banho rápido, tirei toda a pouca maquiagem que ainda tinha em meu rosto e vesti uma roupa fresca. Estava um calor infernal. Andei pela casa atrás da chave da moto de Kian, e a encontrei em cima do balcão da cozinha com um bilhete.

"Camila falou comigo, não vejo a hora de você parar de usar minha moto, hahaha. Brincadeira. Só pega a moto se não for beber, ou se for dormir por lá, se cuida, amo você."

Ri com o bilhete de Kian e o deixei no mesmo lugar, apenas pegando a chave da moto, e saindo de casa à procura da mesma. Peguei a moto e saí de casa, dirigindo o mais rápido que a moto permitia. Passei por vários lugares antes de me colocar em direção a casa dos meninos, apenas para relaxar, sentir o vento no rosto. Depois de tocar e andar de skate, aquilo era o que mais me relaxava. Cheguei na festa com toda a paz do mundo habitando meu corpo. A música tocava exageradamente alta, e algumas pessoas já alcoolizadas demonstravam que eu estava um tanto quanto atrasada.

Fui em direção à primeira pessoa conhecida que encontrei, KJ. Ele estava conversando e ria abertamente com um garoto enorme e de costas largas, que eu não sabia quem era já que o mesmo estava de costas para mim, e com uma menina loira, linda de morrer. Me aproximei meio devagar, tentando não atrapalhar a conversa dos três e parei ao lado de KJ, que logo que notou minha presença abraçou-me de lado. Levantei o rosto para ver o tal garoto e era o Shawn. Não era possível que aquele garoto conseguia ser maior, e com mais aparência de anjo que nas fotos.

- Lili, esse é o Shawn. Shawn, essa é a Lili. - KJ nos apresentou enquanto me soltava, e Shawn abriu um sorriso estonteante. Sorri em resposta e o abracei desajeitadamente.

- Prazer! - Falei ao soltá-lo. - Você manda muito bem!

- Obrigada! - Ele sorriu meio envergonhado. - Você também manda super bem, eu vi seu clipe.

- Meu Deus, é sério? - Falei rindo de nervoso. - Obrigada! - Shawn assentiu e sorriu como resposta.

- Lili, essa é a Priscila, minha namorada. - Shawn falou puxando a tal garota que eu havia visto e achado linda, para perto dele. Ela abriu um sorriso e me puxou para um abraço, que eu retribuí na mesma intensidade.

- Prazer! - Falei empolgada. - Ei, você é brasileira? - Perguntei ao me soltar dela.

- Não, minha mãe é, por isso meu nome. - Ela disse sorrindo.

- Ei, nós vamos dar uma volta, já voltamos ok? - Shawn informou e beijou Priscila demoradamente. - Não aprontem. - Ele riu e saiu logo com KJ.

- Vem, eu preciso falar com resto do povo. - Disse rindo e peguei Priscila pela mão, a arrastando pela festa atrás de mim.

Fazer o que, mania minha. Trato as pessoas como se fossem meus amigos de infância, ainda mais quando a energia é boa.

Falei com todo mundo que conhecia na festa, e fui apresentada a algumas pessoas que ainda não conhecia, tudo isso fazendo Priscila me acompanhar. Agora, estávamos em uma roda conversando. Priscila, Hailey, Camila e eu, obviamente falando sobre o Brasil, e Duan tentava acompanhar a conversa, mas na maior parte das vezes ela xingava uns palavrões em russo ou sei lá que língua era aquela, que até então eu não sabia que ela falava, e fazia com que começássemos a rir.

Outside do Calvin Harris tocava exageradamente alta, e nós dançávamos ainda naquela mesma "rodinha". Eu já estava um pouco alterada por conta do álcool recentemente ingerido.

Meus olhos pela primeira vez naquele dia encontraram Cole, infelizmente. Ele estava sentado em uma cadeira perto da parede, bem próximo de onde eu estava, com Bree e Sarah, uma sentada em cada perna, a mão dele envolta das cinturas das duas. Elas se beijavam com ele no meio, os três estavam se beijando ali, bem na minha cara. Mas o que eu podia fazer além de sentir raiva? Nada. Ele era livre pra fazer o que bem quisesse, e eu também.

- Aqui, toma isso. - Duan gritou, por causa da música alta, chamando minha atenção. Me entregou uma latinha de Arizona de raspberry já aberta. - Pra você não ficar bêbada. - Alertou. - Tomei a latinha de sua mão sem muita paciência e agradeci apenas acenando com a cabeça. Tomei um longo gole do liquido e olhei de relance na direção onde Cole estava.

Me subiu uma raiva tão grande ao ver aquilo, meu sangue ferveu. Na verdade, ferveu tanto que evaporou. Peguei a latinha e a taquei com toda força, acertando em cheio a cabeça de Sarah e molhando Bree.

- Lili! Você é maluca? - Ouvi a voz de Priscila me tirar do transe e logo fui puxada bruscamente para fora da sala.

- Você tá louca? Como você taca uma latinha cheia na cabeça da Sarah, quer matar a garota? - Duan me repreendeu assim que chegamos a parte externa da casa, mais precisamente na quadra.

- Sinceramente? - Ri sem humor. - Quero. - Bufei.

- Mas gente, o que essa menina te fez? - Priscila perguntou arregalando os olhos.

- Pegou o namorado dela, ou ela pegou o namorado da Sarah, já nem sei mais. - Hailey falou confusa.

- Calada, Hails. - Camila a repreendeu. - Eu vou lá pra dentro, ver se alguém notou que foi a Lili. Você, vem comigo. - Camila falou puxando Hailey e elas voltaram para dentro de casa.

- Vamos sentar ali, vem. - Duan falou me dando a mão e me guiou até a mureta da quadra. - Vamos nos distrair... - Duan ditou. - Vai Pri, conta pra gente, como conheceu o Shawn...

- É, conta. - Falei realmente interessada.

- Antes de contar... Você está bem mesmo, Lili? Você pareceu tão, sei lá, desnorteada... - Priscila falou preocupada.

- Eu estou bem... Já me acostumei com ele fazendo essas coisas... E afinal, ele tá solteiro, é direito dele ficar até com cinco ao mesmo tempo, se quiser. - Priscila sorriu de canto e segurou minha mão acariciando a mesma com o dedão.

- Tenho certeza que vocês vão se acertar. - Ela deu um sorriso reconfortante e eu retribuí.

- Agora chega de fossa, me conta... como você e o Shawn se conheceram? - Sorri de canto e Duan assentiu em concordância.

- Bom - ela começou a falar e no mesmo instante em que pareceu pensar, seus olhos instantaneamente começaram a brilhar. - nós nos conhecemos ano passado, quando ele ainda abria os shows da Taylor, eu fazia parte da banda dela, eu toco guitarra e violão... - Explicou e nós a observávamos com curiosidade e entusiasmo. - No primeiro dia dele na tour, ele estava extremamente nervoso, e eu percebi isso. Como eu já havia passado por aquilo, resolvi tentar ajudar... Nós ficamos por umas duas horas apenas tocando violão, e cantarolando algumas músicas, e dali pra frente passamos a fazer aquilo antes de todos os shows. Ele dizia que era o ritual dele para ter sorte. - Falou sorrindo e eu e Duan soltamos um "awwwwwwn" em conjunto e Priscila riu de nós duas.

- Conta mais. - Pedi sem esconder a curiosidade.

- Fala tudo, nós queremos saber até o dia que isso aconteceu, hora se possível. - Duan brincou. - Porque né, a vida alheia é sempre mais interessante. - Gargalhamos.

- Ok, vou terminar de contar. - Priscila falou rindo e nós nem nos incomodamos se estávamos invadindo a privacidade dela ou não.

Ela contou como foi o primeiro encontro, o primeiro beijo, como ele a pediu em namoro. E como já era de se esperar, vindo de Shawn, tudo perfeitamente romântico. Nós suspirávamos a cada história, e soltávamos inúmeros "awn". Agradeci mentalmente por Priscila não ter pedido pra eu contar do meu rolo com Cole, eu com certeza assustaria a menina na primeira história.

Ficamos uns bons quarenta minutos do lado de fora, Priscila contando sobre as fofuras de Shawn, Duan contando como tudo aconteceu entre ela e Creig, e eu apenas ouvia e suspirava. Estava sendo legal ficar sem falar de mim, ouvir as experiências de outras pessoas. Ultimamente eu venho focando tanto em mim, que minha vida chega a ser insuportável aos meus olhos.

- Duan? O que foi? Você está verde! - Priscila falou com Duan, e acabou por chamar minha atenção.

- Ela vai vomitar! - Alertei me levantando da mureta. Eu já conhecia a peça, conhecia aquela cara. Ela estava enjoada e iria vomitar a qualquer momento. - Pri, fica aqui ok? Eu vou levar a Duan no banheiro rapidinho e já venho. Priscila assentiu e eu saí daí correndo com Duan, indo em direção ao banheiro.

Nós obviamente atropelamos algumas pessoas no percurso e eu tive que tirar uma garota de dentro do banheiro quase a base de tapas, já que estávamos na parte de trás da casa, onde estava fechada, e provavelmente não era para ter ninguém ali.

Duan entrou no banheiro as pressas e eu fiquei do lado de fora, encostada na parede, esperando que ela terminasse de vomitar, já que ela não deixava nem o próprio Creig segurar o cabelo dela quando ela estava passando mal.

Ouvi uns murmurinhos vindo da cozinha e me estiquei um pouco para ouvir o que estava acontecendo.

- Vai Cole, come! - Era a voz de Bree e ela ria escandalosamente. - É gostoso e vai te dar uma onda legal. - Ela insistia.

- Não, Bree... Eu tô muito bêbado, não preciso de mais onda. - Cole negava com a voz embargada por conta da embriagues.

- Anda, Cole, só um pedacinho. - Ela falou fazendo manha e eu me aproximei para ver do que se tratava. Ela estava com um doce bem pequeno na mão, parecia uma espécie de Marshmellow.

- Já disse que não, Bree. - Cole falou afastando a mão dela que estava quase na boca dele.

- Não seja fresco, amorzinho... - Ela disse rindo e enfiou o doce na boca dele, e tapou sua boca. - Engole isso... É gostoso e não vai te fazer mal... - Eu observei aquilo meio desnorteada.

Ela estava drogando ele?

- Vamos? - Tomei um susto com a voz de Duan atrás de mim e me virei bruscamente.

- Você está melhor? - Tentei disfarçar. Duan apenas assentiu e saímos dali, voltando para a festa.

As horas foram se passando e eu não conseguia tirar aquele sentimento estranho do peito. Desde o acontecimento na cozinha eu não havia visto mais Cole na festa, e Bree menos ainda. Eu não sabia se era pra ficar com raiva ou preocupada. As meninas conversavam e dançavam perto de mim, mas eu só conseguia encarar um ponto fixo e pensar no que poderia estar acontecendo.

- Gente, eu já volto. - Falei informando as meninas e logo saí dali, indo em direção ao quarto do Cole.

Eu sabia que podia estar indo de encontro com a última coisa que eu gostaria de ver, mas a preocupação era maior que o medo.

Subi as escadas correndo e quanto o volume da música diminuía mais o volume de gemidos estranhos aumentava. Parei na porta do quarto de Cole e conseguia ouvir nitidamente coisas como "para", "ai, você está me machucando", "sai daqui", "socorro", e coisas desse tipo, em uma voz masculina, que soava mais como choramingo que qualquer outra coisa.

Meti a mão na maçaneta, pedindo mentalmente a Deus que a porta estivesse destrancada e por sorte estava. Abri a porta bruscamente e meus olhos quase saltaram de meu rosto com o que vi.

Não é possível!

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gente...

o surto da lili, eu ri, desculpa

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