Eu faria.
LILI REINHART.
Um mês e uma semana haviam se passado. Hoje era meu penúltimo dia aqui. A dor que diziam que diminuiria com o tempo só fazia aumentar. A única diferença é que agora eu havia me conformado, me acostumado, talvez, e as lágrimas que antes faziam parte do meu rosto, agora vinham apenas quando eu deitava a cabeça em meu travesseiro na hora de dormir.
Durante esse mês que passei no Brasil fui dormir quase todas as noites ouvindo o choro de minha mãe no quarto ao lado, e acordei de madrugada inúmeras vezes tendo pesadelos com o que aconteceu com meu pai. Aquela situação inteira era horrível, a forma como ele e várias outras pessoas morreram, era horrível.
Minha mãe estava devastada, mas fingia o tempo inteiro estar bem, tentando se fazer de forte. Eu implorei a ela várias vezes que fosse para os Estados Unidos comigo, mesmo que fosse apenas por algumas semanas, mas ela não queria, não queria deixar de trabalhar e ocupar a cabeça com alguma coisa, foi por isso que eu acabei ficando mais tempo.
Camila tentou de todas as formas conseguir minha autorização para vir me ver, mas eu não deixei, não tinha porque mais uma pessoa ficar no meio daquela tristeza inteira, que nem a pertencia. KJ, Cami, Charles, Haley, Kian e Jc nos ligavam todo santo dia, pelo menos uma vez no dia. Bella e Elly me ligaram apavoradas quando souberam, e nós mantínhamos contato diário por mensagem. Até Nate, Johnson, Gilinsky, Kylie, Hailey e Justin chegaram a me ligar para saber se eu estava bem, o que me deixou muito agradecida. Sarah falava diariamente com Cole, várias vezes ao dia - o que me deixava de certa forma irritada - e em algumas dessas vezes perguntou como eu estava. Eu ainda teria que agradecer à ela pelo que havia feito por mim, ela deixou as diferenças de lado e me ajudou, no momento em que eu mais precisei, no momento onde ela era a única que podia me confortar. É nessas horas difíceis que nós vemos com quem podemos contar.
Passar por isso com Cole ao meu lado havia sido sem dúvidas menos difícil, ele estava comigo o tempo inteiro, cuidando de mim, me incentivando a comer, me animando, me ajudando a distrair minha mãe. Ele foi como um anjo para nós duas. Eu sinceramente não saberia o que fazer se ele não tivesse vindo comigo.
Cole e minha mãe se deram super bem - a pesar de as vezes ele demorar para entender o que ela falava, e vise e versa. - e as poucas vezes em que a vi sorrindo ou rindo foi graças a ele.
Infelizmente a gente ficou o mês inteiro praticamente trancados dentro de casa, não só por conta do luto, mas também porque a única vez que tentamos colocar o pé na rua, quase não voltamos vivos, pois saiu fã de todo lugar e nós não tínhamos segurança. E na zona norte do Rio de Janeiro, onde praticamente ninguém famoso vai, colocar um, o que podemos chamar de ídolo teen, sem nenhuma segurança, era completa loucura. Mas quem sabe um dia a gente volte num clima melhor e ele possa aproveitar mais.
{•••}
Abri os olhos e me espreguicei, levei as mãos ao rosto e o esfreguei. Sentei-me na cama e olhei para os lados procurando Cole, que não estava deitado ao meu lado. Estiquei meu corpo, quase caindo da cama, e peguei meu celular na mesa do computador. Eram quatro horas da tarde. Eu precisava parar de tomar aqueles remédios pra dormir.
Ouvi a porta do banheiro sendo destravada e vi Cole sair de dentro do mesmo, com uma calça jeans escura apertada que deixava a sua cueca a mostra. Ele estava sem camisa e secava o cabelo em uma toalha de banho preta. Sorri involuntariamente ao vê-lo e ele retribuiu imediatamente.
Era tão maravilhoso tê-lo ali comigo. Saber que eu virei noteis deitada naquela cama, conversando com ele a não sei quantas milhas de distância, e ele estar ali agora, saindo do meu banheiro depois de ter passado a noite ao meu lado. Cole era a única coisa que me deixava feliz nesse momento tão triste e conturbado pelo qual eu venho passando.
- Não vai levantar? - Cole falou sorrindo e se aproximou colocando a toalha ao redor do pescoço.
- Por mim eu ficaria jogada nessa cama pro resto da vida. - Falei me jogando na cama.
- Ei - Cole falou se sentando ao meu lado na cama. - eu já conversei contigo sobre isso. - Ele me lançou um olhar sério e passou a mão pelo meu cabelo.
- Ok... Desculpa. - Falei sinceramente.
- Vem cá. - Cole falou me puxando calmamente e me abraçando de lado em seu colo, como se eu fosse um bebê. - Eu vou buscar as nossas passagens agora. - Ele falou e selou nossos lábios. Assenti. - Fala com a sua mãe, vê com ela uma última vez pra ver se ela não muda de ideia.
- Vou falar... Você espera aqui? - Falei olhando pra ele e ele assentiu, selando nossos lábios novamente.
O abracei e me soltei dele, saindo da cama em seguida. Caminhei até o banheiro, escovei os dentes, lavei o rosto e prendi meu cabelo em um rabo de cavalo pra não assustar minha mãe. Saí do banheiro e Cole estava deitado em minha cama mexendo em seu celular super concentrado. Desci as escadas calmamente a procura de minha mãe, e logo a encontrei sentada na sala, encarando o vazio.
- Mãe? - Chamei baixinho para não assustá-la e logo me aproximei sentando-me ao seu lado.
- Oi minha filha. - Ela falou se virando para mim.
- A senhora tem certeza que não quer ir com a gente? Mesmo que só por pouco tempo? - Falei segurando uma das mãos dela.
- Lili, eu não quero viajar para me distrair, e voltar para esse vazio depois. - Ela falou e suspirou pesadamente. E eu a entendia. Apenas assenti. - Eu prometo que vou fazer de tudo pra talvez arrumar uma transferência, ir pra lá, ficar mais perto de você. - Eu assenti. Minha mãe trabalhava na mesma empresa a anos, e ela é uma multinacional, talvez ela realmente conseguisse aquilo. - Mas ir só por ir, eu realmente não quero, me desculpa.
- Tudo bem mãe... eu te entendo. - Suspirei. - Eu só não quero mais ficar longe de você. - Acariciei o dorso de sua mão com o polegar. - E com a faculdade sendo lá fica difícil. Eu quero ficar com você, mas também quero realizar meu sonho. Eu sei que estou sendo egoísta, mas-
- Lili, para. - Minha mãe falou segurando firmemente minhas mãos. - Você já ficou tempo demais aqui. Um mês perdendo aula é absurdo, eu não quero que você perca sua vaga. E menos ainda quero que você desista do seu sonho por minha culpa. Ok? - Ela falou olhando dentro dos meus olhos. - Agora promete pra mim que isso é um assunto encerrado?
- Desculpa. - Suspirei. - Eu prometo, mãe. - Sorri de canto e ela me puxou pros seus braços.
- Saiba que seu pai está muito orgulhoso de você. - Ela falou me apertando em seus braços e eu senti meus olhos marejarem.
- Eu também tenho muito orgulho dele. - Sussurrei.
- Agora - minha mãe falou dando um sorriso triste e me soltou, voltando a olhar para o meu rosto - vai arrumar suas coisas, porque eu sei que seu namorado está indo buscar as passagens daqui a pouco, eu o ouvi conversando com o pai no telefone. - Ela riu.
- Ok mãe. - Beijei sua testa e me levantei do sofá. Quando eu estava prestes a sair minha mãe levantou e segurou meu braço calmamente. - O que houve mãe? - Falei me virando para olhá-la.
- Me desculpa por ter achado que esse menino era invenção sua. - Ela falou rindo sem graça. - Porque, claramente, não é. Não só ele não é invenção, como o que ele sente por você também não é. - Eu sorri involuntariamente ao ouvir aquilo. - Dá pra ver claramente nos olhos dele que ele te ama tanto quanto você o ama, talvez até mais. - Ela riu.
- Você não faz ideia do quanto é importante pra mim ouvir isso de você. - Falei a abraçando apertado e sorrindo feito idiota.
- Faço sim, eu conheço você. - Ela disse sorrindo assim que nos soltamos.
- Eu te amo, dona Amy. - Beijei a testa dela.
- Eu também te amo. - Ela falou beijando meu rosto.
Saí da sala com um sorriso bobo estampado no rosto e subi as escadas calmamente. Abri a porta do quarto e me deparei com um Cole emburrado vestindo sua camisa. Me aproximei dele e franzi o cenho, tentando entender o porque de tamanha irritação.
- Ei, o que foi? - Falei o abraçando por trás e poiei meus lábios na nuca dele.
- Nada. - Ele falou visivelmente irritado e levou as mãos para trás as colocando em minha cintura. - É que tem coisas que eu vejo que fico irritado, só isso. - Ele falou se soltando de mim, se virou para me olhar e me abraçou. - Não consigo entender pra que essas pessoas espalham ódio sem motivo. - Ele falou frustrado e passou a mão nos cabelos os colocando para trás.
- É triste... - Falei acariciando a bochecha dele com o polegar. - mas infelizmente as pessoas são assim, amor, a gente tem que tentar ignorar. - Sorri de canto.
- Sim, eu sei. - Ele franziu o cenho e me soltou. - Mas enquanto estão falando de mim tudo bem, eu já me acostumei - ele deu de ombros e pegou a carteira e chaves do carro que ele havia alugado, em cima da mesa do computador e colocou em seu bolso. - mas falar das pessoas que eu amo me machuca pra caralho. - Ele bufou irritado.
- Ei! - Falei me aproximando dele. - Olha pra mim... - Segurei seu rosto entre minhas mãos. - É horrível, eu posso imaginar, mas saiba que nada que ninguém diga, espalhando ódio gratuito, é válido. Não vale a pena dar atenção. - Falei olhando nos olhos dele e ele assentiu com um sorriso triste.
Odeio vê-lo desse jeito.
- Eu vou lá buscar as passagens. - selou nossos lábios demoradamente. - Sua mãe não vai mesmo? - fiz que não com a cabeça e ele assentiu.
- Cuidado Cole, por favor. - Falei apreensiva. - Vê se não dá bobeira, você viu o que aconteceu quando fomos no shopping da última vez.
- Relax, baby - riu e beijou meu maxilar. - O máximo que elas fariam se me "pegassem" seria me abraçar, e beijar. - ri junto com ele, afinal era verdade.
- Mesmo assim, cuidado. - Falei selando nossos lábios rapidamente e Cole assentiu saindo do quarto.
Cole saiu do quarto e eu fiquei um longo tempo me encarando no espelho, lembrando de cada momento daquele mês que havia passado. Pensando que eu deveria ter aproveitado mais meu pai, dito mais vezes que o amava. Apoiei minha mão no espelho e respirei fundo, encostei minha testa no mesmo ainda encarando a imagem que ele refletia.
Quando tudo isso aconteceu? Quando eu deixei de ser a garotinha que acordava de madrugada e corria pra cama dos pais com medo? O tempo passou tão rápido diante dos meus olhos, e só agora, eu percebi que havia crescido. Crescido e perdido uma das pessoas mais importantes da minha vida.
Saí de perto do espelho e me joguei na cama. Só de pensar em voltar pra casa, pra faculdade, e ter que tocar no assunto da morte do meu pai já me deixava exausta. Quando eu estava quase pegando no sono ouvi a porta ser aberta e abri olhos encarando a mesma e vi minha mãe.
- Lili, eu vou ao mercado, comprar algumas coisas, você quer algo? - Ela perguntou franzindo o cenho.
- Não mãe, obrigada. - Falei baixo.
- Ok, fica bem, eu não demoro. - Ela jogou um beijinho no ar e saiu fechando a porta. Me deitei novamente e peguei no sono em menos de dez minutos.
- Corre, pai! Corre! - Eu gritava chorando no meio daquele imenso lugar que pegava fogo. - Por favor pai, corre! - Eu chorava desesperada, correndo na direção dele que não se movia. - Pai!!
- Vai embora Lili, corre você! Eu não consigo sair! Corre, minha filha! - Ele gritava.
- Não! - Gritei me debatendo na cama.
- Lili, calma, eu tô aqui! - Ouvi a voz de Cole, sentindo seus braços ao me redor em seguida e abri os olhos.
Outro pesadelo.
Respirei fundo e o abracei apertado, escondendo meu rosto completamente molhado pelas lágrimas no pescoço dele.
- Calma, está tudo bem. - Ele falou acariciando meu cabelo e eu apenas assenti.
- Pesadelo, de novo. - Funguei secando meu rosto com o dorso da mão.
- Se eu pudesse tirar a sua dor e colocar um sorriso em seu rosto, eu faria. - Cole falou olhando em meus olhos e acariciou minha bochecha com o polegar. Sorri involuntariamente e selei nossos lábios. Era incrível como só a voz dele conseguia me acalmar.
- Eu conheço essa frase. - Disse umedecendo os lábios e sorrindo de canto, agora bem mais calma.
- Eu sei. - Ele piscou e riu. - Então... eu tenho uma coisa pra te contar. - Ele falou coçando a cabeça e fez uma careta.
- Ai não. - arregalei os olhos. - Cole, o que você fez?
- Hm... - Ele riu. - Bom, já que sua mãe resolveu mesmo não ir com a gente... - Ele pausou e eu o encarei esperando que ele continuasse. - Nós vamos pra Carolina do Norte. - Eu arregalei os olhos. - Eu já conheci sua mãe, agora é a sua vez de você conhecer a minha.
- Cole, você é louco! - Coloquei as duas mãos na boca. - E as minhas aulas?
- Uma semana a mais ou a menos não vai fazer tanta diferença, eles sabem da sua situação. - Ele deu de ombros. - E além do mais, você precisa descansar um pouco, se distrair. Ok? - Eu assenti e sorri. - Camila e Charles já estão lá, eles vão buscar a gente no aeroporto quando chegarmos.
- Eles também vão? - Perguntei sorrindo e empolgada.
- Vão. Você precisa da sua melhor amiga perto de você - ele riu - e vamos combinar que eu também preciso do meu melhor amigo perto de mim. - Ele ficou sem graça, com as bochechas vermelhas e eu gargalhei.
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amy 💛💛💛💛💛💛😭
aiai essa viagem é ao mesmo tempo amorzinho e ao mesmo tempo motivo de passar raiva!
cole foi um príncipe nesse capítulo né af
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