- E o que você vai fazer agora, além de chorar e tentar não ser morta pela sua mãe? - Kevin questiona, ajeitando seu corpo sobre minha cama.

Estreito os olhos e respiro fundo. Talvez não tivesse sido uma boa ideia contar para Kevin, ele é meu melhor amigo, mas as vezes têm a língua maior que a boca.

O olho por cima de meu ombro e nego com a cabeça. Visto minha blusa e logo me aproximo, sentando-me na ponta de minha cama, de frente para o garoto.

- Eu não sei... Ontem, depois que contei tudo a Cheryl, ela disse que eu deveria ir atrás dele. Mas agora? Um mês depois? - gesticulo com as mãos, e em seguida as enfio em meus cabelos. - E na real, eu nem sei por onde começar.

- Eu queria poder te ajudar, B. Mas sinceramente, eu estava tão bêbado quanto você, e além disso, eu namoro o Joaquin a pouco mais de três meses. - suspira e dá de ombros. - No dia do aniversário dele, foi quando eu conheci noventa por cento dos amigos dele. Mas, você, pelo menos, lembra o nome dele, ou como ele é?

- Não... - suspiro frustrada, e um tanto quanto envergonhada, logo abraçando meus próprios braços. - Foi estranho, ele se aproximou e uma tensão sexual monstruosa, que eu nunca senti com ninguém, tomou conta do lugar que estávamos. Não trocamos nomes nem nada, apenas nos beijamos e todas as coisas que já te contei... Mas obviamente, por mais bêbada que eu estivesse, eu lembro exatamente de cada detalhe do rosto dele.

- Bom... Amanhã começam as nossas aulas, então durante a semana vai ser difícil escapar do meu pai, mas, com certeza, no fim de semana, posso inventar uma desculpa pro Joaquin chamar os amigos dele pra fazermos alguma coisa, você vem junto e procura por ele, e se o encontrar, conta o que está rolando.

- Me deixa pensar só por mais alguns dias, ok? Segundo a Cheryl, minha barriga deve começar a aparecer daqui a dois meses, então é mais ou menos esse tempo que tenho pra tentar resolver minha vida. - respiro fundo e passo os dedos por meus cabelos, os colocando para trás da orelha. - Agora acho melhor você ir, Kev. Eu estou exausta, e amanhã preciso chegar mais cedo que o normal na escola para mostrar a escola pra aluna nova. - reviro os olhos e logo me coloco de pé.

Depois de trocar mais algumas palavras com Kevin, me despeço do mesmo e volto em passos rápidos para o meu quarto, numa tentativa de evitar o máximo possível qualquer contato que fosse com a minha mãe. Tomo um banho quente, e não demoro muito para me esconder embaixo das cobertas e logo pegar no sono.

Desligo o despertador no primeiro toque e me forço a sair da cama. Tomo um banho frio, e em pouco menos de meia hora já estou com uma blusa preta de manga cumprida, a jardineira jeans e meu par de tênis surrados.

Pego minha mochila sobre a cadeira e deixo meu quarto em passos silenciosos. Pra minha sorte, estava cedo demais para que minha mãe estivesse acordada, então consigo deixar a casa em paz e sem nenhum aborrecimento já de manhã cedo.

A escola estava praticamente vazia. Apenas os funcionários já estavam no local quando cheguei, e o enjoo matinal que vinha me acompanhando a alguns dias também já estava ali. Respiro fundo e tento limpar minha mente, para não ter que sair correndo para vomitar, e guio meus passos calmamente até a sala do diretor Weatherbee.

Não demora muito para que eu saia da sala do diretor com todas as instruções para mostrar a escola a aula nova, e poucos minutos depois, a encontro no corredor.

- Você deve ser a Veronica. - digo aproximando-me da garota de cabelos escuros. - Weatherbee disse que me esperaria aqui.

- Oi! Sim, sou eu. Ele me disse que me mostraria a escola. - gesticula brevemente e arruma a bolsa em seu antebraço, que, com certeza, pagaria uma boa reforma no auditório da escola. - Elizabeth, certo?

Assinto com a cabeça, e, logo começo a caminhar com a garota nova, mostrando todas as acomodações da escola, desde o banheiro, até o ginásio, e de volta aos corredores, onde esbarramos com Kevin.

Apreço-me em apresentá-los, e logo Kevin começa a falar pelos cotovelos, falando sobre as programações do semestre, dos fins de semana e mais algumas coisas inapropriadas, como de costume.

Sinto um arrepio gelado subir por minha espinha, quando um grupo de garotos e uma menina passa pela porta de entrada da escola, que dava acesso aos corredores. O arrepio me havia sido causado, pois eu havia reconhecido aquela silhueta, em seguida, reconhecido a jaqueta de couro, e por fim, os olhos azuis e os cabelos escuros e bagunçados, o que me fez voltar para algumas semanas atrás. Pra ser mais exata, me fez voltar para o dia do aniversário do Joaquin, na cozinha.

Era ele.

Minha audição ficou abafada e por alguns segundos senti meu jantar voltar para a minha garganta. Manter o controle foi quase impossível, principalmente depois das palavras que saíram da boca de Kevin, provavelmente ao notar minha expressão.

- Meu Deus do céu, Betty... É esse o cara? - questionou curioso.

Meus olhos quase saltaram do rosto. Ninguém sabia de nada, e a boca grande do Kevin poderia a qualquer momento falar alguma besteira na frente da garota nova.

- Espero que não estejam falando do cara da frente... Por que ele é meu namorado.

Aquela notícia me pegou de surpresa.

Aliás, tudo ali havia me pegado de surpresa. O tal garoto, que fez minha vida virar de cabeça pra baixo apenas em uma noite, agora estudava em Riverdale High. E pra piorar, tinha uma namorada. Uma namorada que ele traiu.

Não consigo dizer nada, apenas forço um sorriso e nego com a cabeça.

Até que Veronica começa a me encher de perguntas sobre o tal cara misterioso.

- Foi um lance que rolou em uma festa, eu estava bêbada demais pra pegar o nome ou o telefone dele e nos perdemos. Nada de importante. - minto, e logo dou de ombros. - Kevin e eu temos aula agora. Nos vemos depois. - digo afobada, ao notar o tal garoto se aproximar, e puxo Kevin comigo, para o mais longe possível daqueles corredores.

- O que? O que foi?

Kevin questiona com seus olhos expressivos totalmente arregalados, quando eu o empurro pra dentro de um dos laboratórios. Sabendo que o mesmo estaria vazio, eu bato a porta atrás de mim e praticamente grunho em frustração.

- É ele, Kevin. E você quase entregou o jogo pra uma pessoa que conhecemos a menos de uma hora. - quase grito, enfiando os dedos violentamente em meus fios. - Eu vou matar você, e depois me matar. - jogo minha cabeça pra trás, num ato frustrado.

- E agora? Meu Deus. E agora? Ele namora, Betty. E pra piorar, faz parte daquela maldita gangue com quem o Joaquin está sempre se metendo em problema. - desanda a falar.

- Eu não vou falar nada, nem fazer nada. Eu ainda tenho mais ou menos dois meses até que minha barriga comece a aparecer, e talvez um mês até poder recorrer a uma clínica de aborto. - digo com dificuldade por minha respiração estar descompensada.

- Você precisa conversar com a sua mãe. - ele resmunga.

- Kevin, se você abrir a boca pra falar de qualquer coisa que eu te contei, eu juro, eu nunca mais falo com você. Me entendeu? - me altero. - Eu vou procurar a Cheryl, e enquanto isso, você pensa bem no que vai falar pra qualquer pessoa que seja. Principalmente pra Veronica. - digo dura, e logo explodo para fora da sala, sem me importar com o barulho estrondoso que a porta faz atrás de mim.