- Você está pensando que eu sou idiota, Jones? - Veronica tromba em meu peito, impedindo-me de seguir para sala.

A encaro confuso. Ou melhor, a encaro fingindo estar confuso.

- Do que está falando, Veronica? - reviro os olhos.

- Você e Betty Cooper. Eu estou de olho em vocês, e se eu sonhar que você está de papinho com essa garota, com assuntos além do jornal da escola, eu juro, que não vai ser só seu paizinho quem vai parar atrás das grades. - dispara, sem nem uma mísera pausa para respirar.

Trinco o maxilar.

- Você já foi mais autoconfiante. - desdenho. - Até quando vai me ameaçar com isso, hum? Não acha que já passou da hora de estar com alguém que realmente queira sua companhia? - arqueio minha sobrancelha esquerda e tombo minha cabeça levemente para o lado.

A expressão de Veronica me assusta, e aquele sorriso de coringa toma conta de seus lábios, causando um arrepio subir por minha espinha.

- O Reggie não para de olhar você. - insisto, apontando com o queixo para o moreno grandalhão do outro lado da sala.

- Nós temos um trato, Juggie. Lembre-se disso. E, agora, mais do que nunca, tenho outra coisa contra você. Ou você realmente acha que eu não iria descobrir que sua irmãzinha delinquente estava de volta a Riverdale. - sua voz é ameaçadora e meus músculos enrijecem de imediato. - Se não quiser problemas, aja como um bom e fiel namorado. - dita.

Mantenho-me em silêncio. Tinha certeza que qualquer palavra que saísse de minha boca naquele momento, só pioraria minha situação. Situação essa que, para mim, é vergonhosa. Aturar uma "namorada" completamente histérica e obcecada, por que o inferno do sistema dessa maldita cidade é corrupto.
Preciso tomar alguma atitude para me livrar de Veronica. O quanto antes.

Não podia permitir que uma Nova Iorquina mimada tomasse as rédeas da minha vida, enquanto eu apenas assistia tudo acontecer, amargurado em um canto.

Sigo Veronica em direção à sala, e por hora, a obedeço, fazendo o papel de namorado material. Mas, enquanto isso, minha cabeça gira de diversas formas, tentando encontrar alguma saída.

Quando Veronica finalmente se afasta de mim por alguns minutos, decido aproximar-me de Kevin, o melhor amigo de Betty.

- Ei, você tem o número da Betty? - questiono-o, e o mesmo acena com a cabeça, enquanto termina uma garrafinha de cerveja.

- Me dá seu celular. - dita, e logo entrego o aparelho a ele.

Kevin coloca o número de Betty em meu celular, sem fazer nenhuma pergunta, o que eu agradeço. Já que o assunto que eu precisava tratar com ela, não era lá o dos mais fáceis.

Quando finalmente chego em casa, uma sensação de alívio percorreu meu corpo. Meu pai está dormindo no sofá, ainda vestindo o uniforme do Pop's, e Jellybean está na parte de baixo da beliche que meu pai havia colocado no quarto.

Os dois estavam sãos e salvos, e era isso o que importava.

Passo a noite praticamente em claro, maquinando o que fazer, e como pedir a ajuda de Betty, e com isso, acordo por volta das duas da tarde. Exausto.

"Betty, peguei seu número com o Kevin. É o Jughead. Preciso da sua ajuda numa coisa importante. Poderíamos nos encontrar?"

Envio a mensagem e forço meu corpo para fora da cama. Desço as escadas da beliche ainda sonolento, e me escoro na porta do quarto, observando meu pai e Jellybean assistindo à alguma coisa na televisão.

- Não trabalha hoje? - questiono meu pai, enquanto adentro a cozinha para tomar um copo de café.

- Estou no turno da noite hoje. De dez às seis da manhã. - explica, alto o suficiente para que eu ouvisse da cozinha.

Não respondo, apenas sento-me na cadeira diante da pequena mesa que havia na cozinha e saboreio o café amargo que descia pela minha garganta.

- Papai - ouço Jellybean chamar - já que você não vai estar em casa hoje a noite, será que eu poderia dormir na casa da Soph? Ela disse que me ajudaria a pegar as matérias perdidas. - justifica.

Meu pai fica em silêncio por alguns segundos, provavelmente estava pensando, mas logo cede.

- Tudo bem. Eu te deixo lá depois do jantar.

Entre as vozes de meu pai e minha irmã, e o barulho da tv, o que mais soava alto, eram meus pensamentos. Olhar os dois ali, deixava-me ainda mais inquieto. Saber que aquilo poderia acabar para sempre, me destruía por dentro.

Quando minha mãe foi embora com a Jellybean, deixando a mim e ao meu pai para trás, tudo o que fazíamos era tentar resolver nossa vida para trazê-las de volta, mas o que não sabíamos, era que minha mãe estava metida com coisa errada, e envolvendo minha irmã caçula nisso. Tomamos conhecimento do que estava acontecendo, apenas depois que minha irmã foi parar em uma instituição para menores infratores por estar vendendo droga na escola de Toledo.

Minha parecia um completo show de horrores, estava tudo de cabeça para baixo, e a sensação de que só tinha a piorar, era constante. Mas, eu não iria ficar parado vendo tudo desabar, eu tomaria uma atitude, e com sorte, teria ajuda de algumas pessoas.

Betty respondeu minha mensagem por volta das cinco da tarde. Trocamos mais algumas palavras, e por fim, combinamos de nos encontrar na minha casa.

Por volta das sete da noite, depois que meu pai e Jellybean haviam saído, ouvi duas leves batidas na porta, fazendo-me levantar do sofá e ir abrir a mesma.

Era Betty.

Ela estava linda. Os olhos verdes curiosos pintados por uma maquiagem suave, os lábios fartos brilhavam com algum tipo de batom desconhecido por mim, e seus cabelos loiros caíam como perfeitas ondas sobre seus ombros. Betty vestia uma blusa de mangas compridas branca, e uma jardineira rosa clara, com um par de tênis nos pés que combinavam com sua blusa.

Me toquei que a estava encarando há muito tempo e sorri sem graça, dando-lhe passagem para entrar.

- Eu acabei de ver a Veronica, ela parecia meio perdida. - observando, mas apenas neguei com a cabeça e fechei a porta, depois que Betty passou por ela. - Por que me chamou aqui?

- Quer tomar alguma coisa? - ela negou com um movimento de cabeça, fazendo seus cabelos claros flutuarem por um instante. - Vamos sentar e eu te explico.

Guiei Betty até a sala, e deixei que ela se acomodasse, antes de me aproximar e sentar ao lado dela. Ela parecia tensa e seus olhos verdes estavam presos em minha face, num pedido silencioso para que eu dissesse de uma vez o que estava acontecendo.

- Você está me deixando curiosa. - disse, por fim.

- Bem, desde que eu pisei em Riverdale High, fiquei a par da sua fama de jornalista. - disse num tom divertido e ela sorriu. - Andei sabendo que você já se meteu em vários assuntos da delegacia e os ajudou com suas habilidades investigativas, se assim posso dizer.

- Sim... Na verdade, não os ajudei. Fiz o trabalho sozinha e ainda levei uma bela bronca, ambas as vezes. - se gabou.

- Entendo. - pondero por alguns segundos. - Eu preciso da sua ajuda. - suspiro. - Preciso descobrir como desmascarar o Prefeito. E se possível, a advogada dele.

- Por que você iria querer desmascarar o Prefeito, Jones? - indaga.

- Por que, há anos ele persegue a meu pai e a minha família. Não sei o que aconteceu entre ele e meu pai no passado, e para piorar, meu pai não ajuda. - a frustração é clara em minha voz. - Eu preciso saber o que está acontecendo, não só com ele, mas com a futura esposa dele também. Minha família e eu estamos nas mãos dele e de Hermione, Betty. E eu sei que você pode me ajudar. Posso apostar que sua mãe também deva saber de alguma coisa, afinal, ela estudou com meus pais e com a mãe de Veronica.

- Espera, Hermione, a noiva do Prefeito, é mãe da sua namorada? - maneio a cabeça em afirmação, sem ânimo. - Você não vai me dizer o motivo de tudo isso?

- O motivo mais importante eu já lhe disse. Juro. - digo, olhando-a nos olhos e seguro sua mão.

- Tudo bem, eu vou te ajudar. Não nego que esse tipo de assunto me deixa animada. - sorri e acaricia o dorso de minha mão.

- Não sei como te agradecer. - sussurro, aproximando meu rosto do dela.

Quando meus lábios estão quase tocando os de Betty, a porta de minha casa é aberta em um só empurrão, fazendo com que eu e a garota ao meu lado pulássemos do estofado do sofá.

A confusão e o susto tomavam conta de nossas expressões, e quando viramos em direção a porta, nos deparamos com Veronica.

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