_ᴇᴄᴏs ᴅᴏ ᴘᴀssᴀᴅᴏ_
O tempo parecia estar se arrastando em Stonebridge. As semanas passavam em um ritmo desconcertante, e Emma se sentia cada vez mais distante de tudo e todos ao seu redor. Ela tentava se concentrar nas aulas, mas sua mente estava sempre no diário, que agora parecia um peso constante em sua mochila.
Naquela manhã, o céu cinza e as nuvens pesadas pareciam refletir o turbilhão em sua mente. Durante o intervalo, Emma foi até a biblioteca, um local silencioso e solitário onde costumava se esconder dos olhares curiosos dos colegas. Ali, com a porta trancada e o silêncio pesado, ela sentiu que tinha mais espaço para pensar. Sentou-se em uma mesa no canto mais afastado, tirou o diário da mochila e o colocou sobre a superfície de madeira.
O diário agora parecia mais estranho, mais ameaçador. Não apenas porque estava começando a ter influência nas memórias das pessoas ao seu redor, mas pela sensação de que ele estava se tornando parte dela. Ela se sentia cada vez mais ligada a ele, como se de alguma forma ele soubesse coisas que ela ainda não entendia.
Lentamente, ela abriu a capa preta e, como da primeira vez, o encontrou vazio, exceto por uma nova frase que surgira na segunda página. "O esquecimento é o preço a pagar para nunca mais lembrar."
A frase parecia se encaixar com o que ela sentia: a ideia de que algo estava sendo retirado de sua memória, de sua vida, mas ao mesmo tempo, ela não conseguia mais entender o que estava desaparecendo. Era uma sensação inquietante. Emma olhou para a página em branco seguinte, tentando racionalizar tudo o que estava acontecendo.
Não se atreveu a escrever, mas passou os dedos pela página, sentindo a textura do papel, como se isso a ajudasse a entender algo. Nada. Não havia resposta.
No entanto, algo a incomodava mais do que o diário em si: as pessoas ao seu redor estavam agindo de maneira estranha, como se estivessem se esquecendo de coisas... e de pessoas. E uma delas era Alex.
Ela tentou lembrar do rosto dele, dos momentos que passavam juntos, mas tudo parecia um borrão. Ela se lembrava dele na sala de aula, rindo das piadas sem graça que fazia, se lembrava das brincadeiras, dos olhares trocados durante as aulas, mas agora tudo parecia... apagado. Como se nunca tivesse acontecido. E o pior: ninguém mais parecia lembrar dele.
Ela sabia que ele estava ali. Sabia que ele era real. Mas por que ninguém mais parecia se importar?
Decidida a tentar entender mais sobre isso, ela foi até o refeitório naquela tarde, sentando-se à mesa onde costumava ficar com os outros. O ambiente estava agitado, como sempre, mas Emma estava distante. A sensação de estar em um lugar onde as pessoas não a reconheciam mais, onde tudo parecia um eco distante, estava começando a se tornar insuportável.
— Ei, você está bem? — A voz de Ivy a tirou de seus pensamentos. Ela estava ali, parada ao lado da mesa, com um olhar desconfiado.
Emma olhou para ela, tentando disfarçar o desconforto. Ivy parecia ser a única pessoa que ainda notava quando ela estava diferente. A única que parecia perceber que algo não estava certo.
— Estou... sim. Só cansada. — Emma forçou um sorriso, mas não era o suficiente para convencer Ivy. Ela a estudava atentamente.
— Aconteceu alguma coisa? Está com essa cara de quem está escondendo algo. — Ivy se sentou ao seu lado, cruzando os braços.
Emma hesitou. Ela queria contar. Queria gritar que havia algo de errado, mas não sabia como. Não conseguia colocar em palavras o que estava sentindo. O diário, a falta de memória das pessoas, o nome de Alex... tudo estava se emaranhando em sua mente, e ela não sabia como separar.
— Não é nada. Só... não estou conseguindo me concentrar nas coisas.
Ivy arqueou uma sobrancelha, mas não insistiu. Ao invés disso, a olhou de um jeito que Emma não conseguia entender muito bem. Como se estivesse avaliando se deveria continuar perguntando ou simplesmente desistir.
— Está mais quieta do que o normal. Pode me contar quando se sentir pronta, você sabe. Não sou boa em deixar as coisas passarem sem entender. — Ivy se levantou e foi embora, sem esperar resposta.
Emma ficou ali, olhando para o prato vazio à sua frente, o peso do diário na mochila a lembrando de tudo o que estava acontecendo. Quando olhou para os outros alunos ao redor, teve a sensação de que todos estavam vivendo em uma realidade diferente, uma realidade onde ela não se encaixava mais. A falta de Alex era apenas a ponta do iceberg. Algo muito maior estava acontecendo, e ela estava cada vez mais envolvida nisso.
Sentiu o impulso de pegar o diário novamente, mas não o fez. Não ainda. Ela precisava entender o que estava acontecendo com ela, antes de enfrentar o que o diário poderia revelar. Mas uma coisa ela sabia: nada mais seria o mesmo. Ela estava no centro de algo que não poderia mais ser ignorado.
No dia seguinte, durante a aula de História, uma nova sensação a tomou. Olhou para o quadro, onde o professor escrevia no giz, e sentiu como se o tempo estivesse se dobrando ao seu redor. Era como se ela estivesse vendo a cena pela segunda vez, ou talvez pela terceira. Como se o presente e o passado estivessem se misturando em uma linha tênue. Seu coração acelerou. Olhou ao redor e percebeu que o olhar das pessoas parecia mais distante, como se estivessem olhando para ela, mas não a vissem realmente.
Foi quando ouviu o sussurro, quase inaudível:
— Você vai esquecê-los. Todos eles.
Quando a voz sussurrou em sua mente, Emma congelou. A frase foi clara, cortante, e a sensação que veio em seguida foi de uma solidão avassaladora, como se o mundo à sua volta estivesse sumindo aos poucos. "Você vai esquecê-los. Todos eles."
Ela ficou imóvel, tentando processar o que acabara de ouvir. O som da caneta do professor riscando o quadro parecia agora distante, abafado, como se estivesse acontecendo em outro lugar. Olhou para os colegas ao redor, mas seus rostos estavam borrados, como se ela estivesse vendo-os através de uma névoa densa. Era como se tudo o que ela conhecia estivesse começando a desaparecer, a se desintegrar diante de seus olhos.
O frio percorreu sua espinha. A sensação de estar sendo observada, mas não reconhecida, aumentou. Emma apertou os dedos contra a mesa, tentando se ancorar, tentando sentir que ainda estava ali, que aquilo ainda era real. Mas, em algum lugar no fundo de sua mente, uma dúvida começou a crescer: e se tudo isso fosse apenas um reflexo de algo que ela já tinha perdido?
O nome de Alex passou por sua mente, mas quando tentou concentrar-se nele, a imagem dele se desfazia como fumaça. Ela se lembrou do sorriso dele, dos momentos em que trocavam olhares furtivos, da risada baixa que ele dava quando fazia uma piada, mas quando procurou mais fundo, não conseguiu lembrar mais nada. Não conseguia mais encontrar sua voz, sua presença, sua essência. Era como se ele tivesse sido apagado, como se nunca tivesse existido.
A sala de aula parecia desmoronar ao redor dela. As palavras do professor, as conversas dos colegas, tudo parecia irrelevante. Emma se levantou lentamente da cadeira, sem perceber que os outros a observavam. Seus passos eram pesados, como se ela estivesse se afastando de algo que não conseguia mais compreender. Ela sentia que precisava sair dali, que não poderia mais ficar naquele espaço que estava começando a se desfazer.
Quando a porta da sala se fechou atrás dela, Emma não olhou para trás. Ela não sabia o que estava acontecendo, mas sabia que tinha que encontrar uma resposta, e que essa resposta estava no diário. Não importava mais o que ela encontraria ao abri-lo novamente, o que importava agora era que ela não podia permitir que o vazio continuasse tomando conta dela.
Com o coração acelerado e a mente turva, ela se dirigiu rapidamente à biblioteca, o único lugar onde sentia que poderia finalmente entender o que estava acontecendo com ela. Mas o que mais a assustava era a sensação de que, talvez, ela já soubesse a resposta. E, ao mesmo tempo, não se lembrasse mais de nada.
E, no fundo, ela sabia que não poderia mais voltar atrás.
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