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˖◛⁺⑅♡ chapter eighteen

O silêncio da biblioteca e o cheiro de poeira eram quase reconfortantes, o silêncio era quebrado apenas pelo som suave das páginas que Regulus folheava. Ele estava concentrado em um livro de aparência antiga, a luz dourada do fim da tarde pintando o contorno de seu rosto e realçando suas feições pensativas.

— Conseguiu? — Regulus perguntou sem desviar os olhos do livro, como se já soubesse a resposta.

— Sim. — Tirei o espelho do bolso, colocando-o na mesa entre nós.

Ele se inclinou, os olhos fixos no objeto como se este fosse a chave para todos os segredos do mundo.

— Como foi? — ele perguntou, a curiosidade evidente.

— Complicado, não gosto de mentir para a minha tia. — comecei, tentando manter a voz firme. — Mas encontrar o espelho foi... mais fácil do que achei que seria.

Regulus tocou a moldura entalhada com cuidado, como se temesse ativá-lo acidentalmente. — Você sabe como ele funciona?

— Apenas o básico. — Me sentei, cruzando os braços sobre a mesa. — Ele mostra ecos do passado ligados a objetos ou pessoas, tornando assim mais fácil a tarefa de rastrea-los, mas exige um sacrifício.

— Sacrifício? — Regulus ergueu as sobrancelhas, curioso e, talvez, um pouco apreensivo.

Assenti. — Não sei exatamente o que é necessário. Minha tia nunca explicou. Só disse que não era algo para se usar levianamente. — Olhei para o espelho, sentindo uma mistura de fascinação e medo. — O que sei é que pode ser perigoso, e que ele cobra seu preço.

Ele permaneceu em silêncio por um momento, pensando. Finalmente, disse: — Não importa o que seja, vamos descobrir como usá-lo. Ah alguma chance da sua tia saber mais sobre ele?

A pergunta me atingiu como um feitiço desferido sem aviso. Minha mente voltou ao olhar atento de tia Celeste, à forma como ela parecia saber mais do que deixava transparecer.

— É possível. — Olhei para o espelho novamente, o brilho da moldura parecendo mais intenso sob a luz da tarde. — Mas prefiro não envolvê-la nisso, não quero colocar mais ninguém em perigo.

Regulus apenas assentiu, concentrado no espelho. Ficamos assim por alguns minutos, cada um imerso em seus próprios pensamentos.

Então, um som ecoou pela casa, interrompendo a tranquilidade. Passos rápidos no corredor, seguidos por Monstro entrando na biblioteca, os olhos arregalados e a respiração curta.

— Mestre Regulus — ele disse, com um leve tom de urgência. — O senhor Black voltou, e pediu que o chamasse. — anuncia o elfo doméstico com urgência.

O som dos passos pesados do senhor Black vindo do andar de baixo faz meu sangue gelar, a simples presença dele era sufocante, e o que quer que dissesse a Regulus nunca era bom.

Fiquei imóvel, escondida entre as estantes de livros, os ouvidos atentos à conversa no andar inferior. As palavras eram abafadas, mas o tom de desprezo na voz de Orion Black era inconfundível.

— Você é uma decepção, Regulus. Como sempre. Não sabe cumprir nem as tarefas mais simples.

A resposta de Regulus foi firme, mas baixa, quase sussurrada, como se temesse provocar mais a ira do pai. Não consegui ouvir o que ele disse, mas o barulho de algo sendo derrubado — um copo ou talvez uma cadeira–ecoou pela casa logo em seguida.

Meus dedos se apertaram em punho, mas não havia nada que eu pudesse fazer. Respirei fundo, tentando manter o controle, procurando algo para me esconder.

A porta da biblioteca foi aberta lentamente, e me abaixei atrás de uma das poltronas grandes perto da estante. Quando espiei vi Monstro adentrando o cômodo.

— Você precisa sair daqui, senhorita Aponi. — Murmurou o elfo doméstico. — Mestre regulus me mandou aqui para tira-lá da casa com segurança e discrição.

Engoli em seco, a culpa crescendo dentro de mim. Sabia o peso que Regulus carregava por estar em uma família como aquela, mas vê-lo assim tornava tudo ainda mais real.

— Tudo bem. — Minha voz saiu baixa. — Acha que consigo sair pela passagem lateral? — questionei ao elfo.

Ele assentiu, os olhos encontrando os meus por um instante. — precisamos ser rápidos, senhorita.

Me afastei, pegando o espelho novamente e escondendo-o em meu bolso. O corredor estava escuro e estreito, iluminado apenas por uma fresta de luz que vinha de um lustre em um dos andares inferiores. Monstro liderava o caminho, seus passos leves e rápidos contrastando com os meus, que pareciam ensurdecedores em minha mente.

Quando alcançamos a passagem lateral, Monstro estalou os dedos, e a parede de pedra começou a se mover, revelando uma pequena porta escondida.

— A magia que a sela é antiga, mas já está aberta. — explicou ele, olhando para trás para garantir que não estávamos sendo seguidos.

Eu assenti e me abaixei para passar pela porta baixa, usada como entrada de serviço pelos elfos. O ar do lado de fora era frio e fresco, um alívio em contraste com a atmosfera opressiva da casa. Antes que pudesse dar mais um passo, virei-me para Monstro.

— Obrigada. Por tudo. — sussurrei, ciente de que ele havia arriscado muito para me ajudar.

— Não me agradeça, senhorita Aponi. — Monstro balançou a cabeça, sua expressão rabugenta e contrariada. — Agradeça ao jovem mestre. Ele se preocupa mais com você do que consigo mesmo.

Essas palavras me atingiram como um golpe inesperado no estômago, mas não tive tempo de processá-las. Monstro fechou a porta atrás de mim com um último estalar de dedos, e eu me vi sozinha na escuridão do beco.

Caminhei rapidamente, o espelho escondido em meu bolso pesando como uma âncora. A rua estava silenciosa, e o medo de ser seguida fazia meu coração bater ainda mais rápido. Não olhei para trás até chegar a uma distância segura, onde a casa dos Black não era mais visível.

Parei para recuperar o fôlego e me apoiar em uma parede, tentando organizar meus pensamentos. Regulus estava lá dentro, lidando com o desprezo do pai e carregando o fardo que essa missão exigia. Fardo esse que nós compartilhávamos.

Com uma última olhada para a direção de onde eu havia vindo, jurei a mim mesma que encontraria uma forma de retribuir. Se o espelho era a chave para resolver parte do que estávamos enfrentando, então eu descobriria como usá-lo.

Com essa determinação renovada, respirei fundo e segui em direção à noite.

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