Capítulo 22

Entre Espinhos: O Caminho do Perdão

Amarílis estava desolada. Não podia acreditar na verdade que Helianthos havia confessado. "Você... é aquele criminoso terrível?" As palavras ecoavam em sua mente como um pesadelo incessante. Ela conhecia o coração dele, ou ao menos acreditava que conhecia. Havia enxergado sua alma através daqueles olhos que, antes, pareciam tão puros.

Mas agora, a verdade era inegável. O juramento não permitia mentiras; qualquer desonestidade levava à morte instantânea. E ele havia dito cada palavra. Helianthos admitira, com a voz trêmula, que estava envolvido em crimes que Amarílis jamais imaginara. Agora, sozinha em seu quarto trancado, sentia-se sufocada. Agave, na tentativa de protegê-la, encantara a janela e a porta para que permanecessem fechadas o tempo todo. Guardas mantinham vigília do lado de fora, mas nada disso importava. Não era o quarto que a mantinha cativa, mas seus próprios pensamentos.

As lembranças das mortes no reino vieram à tona como um golpe certeiro. Cada vida perdida parecia pesar sobre seus ombros. E entre essas vidas estava a mais dolorosa: a de seu próprio pai, morto pelas mãos da mãe de Helianthos. Essa verdade cortava Amarílis como lâminas invisíveis. Como podia ela amar o filho de uma assassina? Como podia confiar em alguém que carregava o sangue de uma mulher responsável por tanto sofrimento?

Ela apertou as mãos contra o peito, como se pudesse conter a dor que ameaçava devorá-la. Apesar de tudo, algo dentro dela resistia à condenação completa. Amarílis sabia, no fundo, que Helianthos a amava. Isso era inegável. Ela podia sentir, mesmo agora, em meio à tempestade de dúvidas. Mas o amor dele seria suficiente para apagar as sombras do passado? Seria justo ignorar as feridas que ele e sua família haviam causado?

Trancada naquele quarto, cercada por paredes encantadas, Amarílis não tinha respostas. Apenas perguntas. E um coração partido que insistia em não desistir do homem que, de alguma forma, ainda amava.

***

Antúrio  ainda tentava entender a profecia e também tentava entender o que Íris queria dizer, ele queria negar para si mesmo, mas amava tanto Íris; ela era tão linda, ainda mais agora que suas asas de alguma forma mudaram e estavam esplêndidas ele sentia vontade de calar a boca de íris com um beijo e a levar para algum lugar isolado mas ele não fez isso, ele estava fingindo que estava entendendo tudo que ela estava falando mas estava com a cabeça em outro lugar .

- Sendo assim, Antúrio, Helianthos fez o que fez manipulado por nossa mãe, você não sabe como é lá, às vezes temos que...

Íris explicava, mas Antúrio não prestava atenção, ele concordava com a cabeça sem saber sequer que estava concordando. Notou, a uns 20 minutos, que Petúnia e o tal de Caladiun sumiram, ele até imaginava o que eles estavam fazendo.

Por um momento ele os via em sua mente.  Petunia e Caladiun, ele próprio e Íris. Ele envolveu Íris em um abraço e...

- E é por isso que eu  preciso falar com amarilis...

Íris terminou de falar ao mesmo tempo que Petúnia e Caladiun voltavam, Petúnia ajeitando o cabelo e Caladiun fechando o último botão de sua camisa.

- Antúrio, fala... A Lis está bem?

Antúrio demorou para responder, pois Petúnia  repetiu a pergunta, muito aflita.

- O que... Amarilis?... Ela está ótima... Digo na medida do possível. Zaieva causou muitas mortes por aqui, sabe, nosso pai... Zaieva o matou.

Petúnia correu até ele e deu um abraço retornando a chorar.

- Fergas! Não Antúrio... Eu sinto muito...

- Obrigado Petúnia. Fergas ele... Ele era um ótimo pai e um ótimo rei... Mas ontem a batalha foi terrível... Acho que você não acabou participando, pois você teria morrido muita gente boa morreu, acredito que você estava em sua casa...

Petúnia não respondeu, apenas olhou para Antúrio, depois para Íris, depois fixou seus olhos no homem que estava apaixonada, Caladiun. Até que Antúrio voltou a falar:

- Minha mãe, se é que é possível, está mais neurótica. Está arrasada pelo meu pai, acha que - e com razão - que Zaieva vai voltar. Ela baniu Helianthos, e...

- Íris juntar Amarílis e Helianthos não será fácil. - Caladiun falou  se sentando na beira de um poço.

Petúnia disse, zangada:

- Caladiun, não seja pessimista.

- E tem mais... - Disse Antúrio e todos olharam para ele. - minha irmã está trancada no quarto dela, sem autorização de sair, com guardas a vigiando, não sei como ela e Helianthos se encontrariam.

Íris, que estava muito quieta e pensativa, disse:

- Antúrio, arranja um jeito de me levar  até o quarto de Amarílis, e o resto eu arranjo.

***

Amarílis permanecia trancada em seu quarto, perdida em seus pensamentos enquanto lia um livro que ela havia tirado de sua prateleira (O vizinho perfeito) era o que estava escrito na capa,  quando um som inesperado a tirou do torpor. Do lado de fora, vozes exaltadas juntamente com o farfalhar  de asas impacientes  e passos agitados preenchiam o corredor. Ela reconheceu imediatamente a voz de seu irmão, Antúrio, em uma discussão acalorada com os guardas.

- Eu disse, abram essa porta agora!

A voz de Antúrio era uma mistura de autoridade e raiva, como uma tempestade prestes a explodir.

- Tenente  Antúrio, com todo o respeito...— Começou um dos guardas, mas sua voz falhou ao encarar o olhar furioso de Antúrio. O mesmo olhar determimado e furioso já conhecido dos guardas. Quando o Tenente Antúrio estava prestes a explodir de raiva.

- Com todo o respeito? — Antúrio  rebateu, avançando um passo que fez o guarda recuar instintivamente.

- Eu sou o primeiro Tenente  da guarda e, mais importante, o filho da rainha e irmão da princesa. E vocês acham que podem desobedecer a uma ordem minha? Saiam da frente!

- Mas, senhor, a rainha foi clara... - O outro guarda tentou argumentar, visivelmente desconfortável.

- Não ousem mencionar minha mãe para mim, como se vocês soubessem mais do que eu! - Rugiu Antúrio, com uma intensidade que fez os dois guardas se entreolharem, incertos. - Se minha mãe quiser questionar depois, ela que o faça. Agora saiam do meu caminho ou vou pessoalmente garantir que nenhum de vocês veja mais um dia como membro da guarda real!

Os guardas hesitaram, trocando olhares inseguros antes de finalmente darem um passo para o lado, permitindo que Antúrio pegasse a chave. Ele girou a fechadura com um movimento brusco e empurrou a porta.

Amarílis deu um passo para trás, surpresa, ao vê-lo entrar com passos firmes, seguido por Petúnia e duas figuras   desconhecidas.

- Antúrio! O que você pensa que está fazendo? Quem são essas  fadas? - Perguntou Amarílis, a voz carregada de confusão e um toque de indignação.

Antúrio fechou a porta com força atrás de si, lançando um olhar de advertência para os guardas do lado de fora antes de se virar para a irmã.

- Estou tentando consertar essa bagunça, antes que fique ainda pior. - Ele disse, o tom ainda irritado, mas agora mais contido.

- E essas pessoas...

  Ele indicou Íris e Caladiun.

- São aliados, então seria bom você escutá-los.

Íris deu um passo à frente, as asas brilhando suavemente, o que chamou a atenção de Amarílis imediatamente. A jovem princesa piscou, intrigada com a figura que parecia irradiar uma presença etérea.

- Amarílis, eu sei que você não me conhece, mas meu nome é Íris. Eu vim para ajudá-la a entender a verdade sobre Helianthos. Ele não é quem você pensa, mas também não é o monstro que todos pintam.

Amarílis cruzou os braços batendo as asas com indignação , ainda mais defensiva. Quem  aquela garota achava que era?

- E por que eu deveria acreditar em você? - Ela perguntou, olhando de Íris para o outro desconhecido. - Não conheço nenhum de vocês, e tudo isso parece uma loucura.

Antúrio deu um passo à frente, as mãos fechadas em punho.

- Lis, escute o que Íris tem a dizer. Ela e Caladiun  arriscaram muito para chegar até aqui.  Não temos tempo para brigas agora!

Petúnia, que estava ao lado de Íris, parecia inquieta, lançando olhares para a porta e para amarilis, enquanto o homem com ela, que Amarílis supôs ser Caladiun, mantinha-se em silêncio, os olhos avaliando a princesa com cuidado.

Amarílis hesitou, os olhos ainda desconfiados, mas não disse mais nada. Ela sabia que o irmão não agiria de forma tão impulsiva sem motivo, mas isso não significava que confiava cegamente naqueles que ele trouxera consigo.

Antúrio colocou uma mão firme no ombro dela, forçando-a a encará-lo.

- Vou garantir que você tenha a chance de ouvir a verdade, Lis. Helianthos precisa ser entendido, não apenas julgado. Ele ama você e você ama ele.

Amarilis abriu a boca para responder, mas  Antúrio colocou o dedo indicador entre os lábios da irmã e disse:

- Não negue, Lis.

- E você acha que pode me tirar daqui? - Amarílis ergueu uma sobrancelha, cética. - Você sabe tão bem quanto eu que nossa mãe ordenou que eu ficasse trancada.

- Eu sou o primeiro Tenente  da guarda, e, mais importante, seu irmão! - Ele retrucou, os olhos faiscando com determinação. - Se alguém pode passar por cima das ordens da nossa mãe, esse alguém sou eu.

Íris assentiu, aproximando-se de Amarílis com uma calma contrastante à tensão de Antúrio.

- Por favor, confie em nós. Não viemos até aqui sem um plano.  Mas antes de tudo você tem que entender. Helianthos não é um monstro que você está achando que ele é.

Então ela contou tudo. Agora Antúrio prestava atenção no que ela dizia Ela contou tudo o que aconteceu desde o dia em que Helianthos conheceu Amarilis, como foi manipulado desde criança a seguir os passos de Zaieva, e como ele não queria mas contra sua vontade, fez tudo que a mãe ordenou a ele, mas que se apaixonou verdadeiramente por Amarílis. Ela não contou da profecia, não precisava, Amarilis sentia desde que viu o olhar de Íris, que o único jeito de acabar com a guerra era ficar junto a Helianthos.

- O que eu devo fazer? - Perguntou Amarílis olhando de um rosto para outro.

Íris sorriu e abriu a porta.

- Vá atrás dele.

Petúnia correu até a amiga e a abraçou forte, antes de dizer:

- Voe rapido, o mais rápido que você conseguir Lis.

Antúrio deu um beijo na bochecha da irmã

- Siga o seu coração que você o achará.

Caladiun dirigindo a palavra para a princesa pela primeira vez, apenas disse:

- Você tirou ele da escuridão,  agora é só fazer de novo.

E depois disso ela sorriu abraçou todos eles e começou a voar para fora do quarto o mais rápido que conseguia. Os guardas até tentaram alcançá-la, mas Caladiun e Antúrio o os impediram.

Agora Amarilis já estava longe.

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