Capítulo 1
O PRIMEIRO VÔO E O RETORNO DE ZAIEVA
Sete anos haviam se passado desde que Agave recuperou o reino de Νεrάιδα, se casou com Fergus e, juntos, reconstruíram a magia e as casas do reino. Aos poucos, estavam restaurando o prestígio que Νεrάιδα tinha outrora. Agora, sete anos depois da queda de seus tios, Agave voltava a sonhar com algo mais a proteger: a pequena Amarílis, sua filha, que naquele dia completava cinco anos. Tudo estava perfeito.
O aniversário de cinco anos era o mais importante para uma fada, pois era quando as asas apareciam e elas precisavam aprender a voar sozinhas. As asas de Amarílis haviam surgido há poucos minutos, brilhando em lilás. Agave e Fergus preparavam um grande banquete para comemorar a ocasião e, logo após, Amarílis teria a oportunidade de voar sozinha pela primeira vez. Agave e Fergus estavam apreensivos, afinal, a princesa nunca havia ficado sozinha por mais de 30 segundos, e deixá-la saltar de um precipício para aprender a voar era uma tarefa difícil. Mas era o que precisava ser feito; ninguém poderia ajudar.
— Chegou a hora. -
Disse Agave, pegando sua filha no colo.
Todos voaram até Limder, um local no reino onde as fadas costumavam aprender a voar, um grande precipício.
— Hoje, Amarílis, minha filha e futura rainha de Νεrάιδα, se torna uma de nós saltando do precipício de Limder, assim como eu fiz em meu aniversário, e como todos os súditos de Νεrάιδα fizeram em seus aniversários de cinco anos. Este é um marco importante na vida de todas as fadas. - Explicou Agave.
Todos aplaudiram. Agave se ajoelhou diante de sua filha e perguntou:
— Está pronta, minha filha?
— Estou com medo, mamãe. - Sussurrou Amarílis, quase inaudível.
Fergus se ajoelhou também e, com um tom reconfortante, disse:
— Posso te contar um segredo, filha?
Amarílis acenou com a cabeça.
— Quando eu tinha cinco anos, também estava com muito medo de saltar. Então, fechei meus olhos, corri de olhos fechados e, quando percebi, estava caindo. Mas ainda não abri os olhos. Pensei naquilo que eu mais amava no mundo. Quando abri os olhos, estava voando. Então, faça como eu fiz: feche os olhos, corra e, quando sentir que está caindo, pense naquilo que você mais ama.
— O mais importante, minha filha, é não ter medo. Você consegue. - Concluiu Agave, levantando-se.
Fergus também se levantou, e Amarílis viu seus pais se afastarem, deixando-a sozinha na beira do precipício. Ela olhou para trás, viu seus pais e todos no reino a observando. Olhou para o horizonte à sua frente, fechou os olhos e correu, caindo no abismo. Enquanto mergulhava, não sentiu medo e se lembrou do que seu pai disse, pensando no que mais amava. Amarílis percebeu que o que amava mais era a sensação de sentir o vento preenchendo seu corpo. Assim que suas asas tocaram o vento, elas a levantaram instantaneamente. Começou a bater as asas e a rir de felicidade, voando sobre todos que aplaudiam, especialmente seus pais. Ela não queria parar e continuou voando, querendo explorar o alcance de suas asas.
— Eu vou atrás dela. - Disse Agave.
— Não, Agave! Você sabe que ela deve aprender sozinha. Deixe-a ir, ela voltará. - Respondeu Fergus.
— Mas, Fergus...
— Sabe que estou certo. É o primeiro vôo dela. É um marco importante.
Agave sabia disso, mas tinha um pressentimento ruim.
___
Amarílis voava velozmente pelos campos floridos e luminosos, até que algo chamou sua atenção. Não muito longe, ela viu um lugar cinza e opaco, sem brilho.
— Uau! É Mediocris, quero ver como é lá! - Sussurrou para as flores e voou na direção.
Mediocris era um lugar feio e curioso. Tudo parecia triste e o sol se recusava a entrar lá. Enquanto estava perdida em seus devaneios, esbarrou em alguém e caiu no chão junto com o garoto que ela esbarrou. Ele parecia ter uns oito anos, com asas negras e roupas sujas e rasgadas. O garoto a olhou de cima a baixo e falou com tom ameaçador:
— Você deveria olhar por onde anda, garota! Aliás, o que alguém como você faz aqui?
— Como assim, alguém como eu? - Perguntou Amarílis.
O garoto deu um sorriso debochado.
— Alguém de lá. - Apontou para o campo florido onde Amarílis estava antes. - Vestida de rosa e com asas recém-nascidas. Uma garotinha da mamãe.
— Não sou! - Gritou Amarílis, irritada.
— Aposto que é. - Respondeu o garoto, rindo e se virando para ir embora. - Aqui eu não preciso de ninguém, eu tomo conta de mim mesmo. -
Ele disse enquanto se afastava.
Amarílis, interessada no que o garoto dizia, começou a seguí-lo.
— Sério? - Perguntou.
O garoto sorriu.
— Siga-me.
Ele abriu suas asas negras e levantou vôo. Amarílis, com alguma dificuldade, conseguiu seguir o garoto, o que fez com que ele soltasse uma gargalhada. Quando se deu conta, estava voando.
— Vou pegar você! - Disse Amarílis, voando atrás dele.
As crianças passaram horas brincando de pega-pega, rindo e se divertindo. Cansadas, pousaram no campo de flores e se deitaram, olhando o céu anoitecendo, rindo como nunca. Amarílis até sentiu a barriga doer de tanto rir.
— Meu nome é Helianthus. - Disse o garoto.
— E eu sou Amarílis. Vamos brincar de magia?
—Como assim? - Perguntou Helianthus.
— Brincar soltando magia um no outro. - Explicou Amarílis.
Helianthus se levantou.
— Você começa, Amarílis.
A pequena princesa se levantou, estendeu um dos braços com a palma virada para cima e fez sair inúmeros pontinhos de luz que se lançaram em direção a Helianthus.
— Agora você
pediu Amarílis.
Helianthus estendeu um braço com a palma virada para a princesa, mas antes que pudesse lançar qualquer magia, Agave apareceu com Fergus e dois guardas, ameaçadores. Helianthus ficou assustado e uma fada adulta surgiu por trás dele.
— Zaieva! - Exclamou Agave.
— Agave, Fergus. Há quanto tempo. - Disse Zaieva com um sorriso sinistro mas com um tom de voz amigável como se fossem velhos amigos.
— Saia agora de Νεrάιδα! - Exigiu Agave.
— Sair de Νεrάιδα? Na verdade, Νεrάιδα pertence a mim e a Verse.
— Nós banimos você para Mediocris! - Respondeu Fergus.
— Onde tem pouca comida e quase nada de água, sem falar na magia escassa. - Ela falou ensaiando uma voz triste e dramática e levemente tremida.
— Já chega, Zaieva! Você sabe muito bem qual é a sentença para alguém de Mediocris que volta a Νεrάιδα! - Disse Agave.
— Mas a criança não conhece as leis. - Ela olhou para o garoto. - Então, Helianthus, meu filho, se você precisa de comida, vá em frente e pegue o que quiser. - Disse Zaieva, empurrando o garoto, que caiu de joelhos aos pés de Agave.
Helianthus começou a chorar em silêncio. Agave olhou-o com desprezo.
— Pegue e voltem para Mediocris. Isso acaba aqui!
— Não, Agave. O pior está por vir. - Disse Zaieva, começando a rir, puxando Helianthus pelo braço e levantando vôo.
Agave jurou que nunca mais Amarílis ficaria sozinha. Zaieva, por sua vez, já estava traçando um plano para recuperar o poder em Νεrάιδα.
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