Depois de alguns minutos quando Josh foi embora, eu fiquei mais um tempo naquele canto, em silencio, absorvendo toda aquelas coisas que estavam acontecendo e me deixando culpada. A cada vez que pensava em dizer a ele que iria embora, eu ficava mais desesperada em pensar na sua reação. Na da minha mente, ele não reagia da melhor forma possível. Eu já tinha presenciado seu olhar triste uma vez, então eu tinha certeza de que agora seria mil vezes pior.

Quando estava subindo as escadas da arquibancada para pegar um lugar, vi que Sofya estava na oitava fileira, me observando subi as escadas. Segui para a sua fileira, me perguntando o que ela estava fazendo ali.

- Pensei que não te encontraria. - ela disse, quando cheguei perto o suficiente para ouvir. Pedi licença para poder passar e parei no lugar vago ao seu lado. Ela abriu os abraços e me abraçou.

- O que faz aqui? - perguntei, ao me separar do seu abraço.

- Josh me disse que não ia ficar para o jogo, e perguntou se eu poderia te fazer companhia. Só não chamei mais gente do grupo, porque não sei com quem você está de bem.

- Todos. Menos Alex. - resmunguei. É claro que ainda estávamos na mesa, Sofya deve pensar que essa minha informação foi tosca. Eles devem conversar muito sobre isso. Da mesma forma que Joalin me disse de quando saiu para conversar com ele. - Mas não tem problema. Que bom que está aqui.

Heyoon não iria subir até a bancada. Ela precisava torcer pelo time junto com as outras torcedoras. Eu não tinha contato o suficiente com mais ninguém daquele colégio.

De repente, muitos alunos começaram a gritar, mas era apenas o diretor e o treinador dos times entrando até o campo. Olhei em direção ao meio do campo, e sentei no banco, assim como vários alunos. Sofya fez o mesmo.

- Está tudo bem? - perguntou ela, chamando a atenção do meu olhar. Balancei a cabeça e ela inclinou a sua para o lado, parecendo não acreditar muito nas minhas palavras. - Estou sentindo que você está tensa.

Pensei por alguns segundos sobre contar á ela da viagem para Londres. Mas lembrei sobre estarmos em um jogo mega barulhento, e não daria para prestar muita atenção ou ouvir muito bem o que ela me diria, já que os outros alunos iam estar gritando e torcendo pelo nosso time no campo. Assim, como as pessoas da outra escola, estava no lado oposto do nosso da arquibancada, e também fariam um barulho e tanto.

- Não é nada. - menti, tentando passar uma boa confiança para ela. Eu não sei se deu certo, até porque eu não tenho essa confiança.

- Tudo bem. - deu e ombros. Olhei para frente novamente e me senti aliviada. Eu acho que ela havia acreditado.

- Som, som! - disse o diretor, para testar o microfone. - Caros alunos de Webster - ele apontou para o nosso lado da arquibancada, e os alunos começaram a gritar e levantar as suas cartolinas cheias de glittler, combinando com o uniforme das torcedoras e bem provavelmente dos garotos também cinza, vermelho e preto. - E também de Sinclair! - apontou para o outro lado da arquibancada. Todos gritaram e começaram a também levantar suas cartolinas. - O treinador de Webster, O'Donnell, irá falar algumas coisas. - ele avisou, passando o microfone. O treinador agradeceu e começou todo o seu discurso.

Ele dizia que independentemente de quem ganhasse, ele iria ficar orgulhoso dos seus garotos. Ele mencionou os nomes dos garotos e que não foram escalados para estar neste jogo, mas deixou claro o quanto todos esses são bons. Por fim, ele me deixou surpresa, dizendo o nome do Josh e comentando sobre a sua lesão, que o tirou do jogo.

- O Joshua é um panaca mesmo! - Sofya se inclinou para o lado, para que eu pudesse ouvir. - Se ele não tivesse treinado naquela vez, estaria ai jogando. Sei da historia toda e se eu estivesse aqui, daria um soco nele. - sorri com a sua declaração e balancei a cabeça, logo, voltando a prestar atenção nas palavras do treinador.

As coisas não estavam boas para nós.

Lamar havia caído e se machucado feio no meio do jogo, tendo que haver uma substituição. Eu não sabia aonde certamente ele havia se machucado, mas era algo sério para colocar outro garoto no seu lugar.

Depois que Lamar saiu, as coisas desandaram um pouco. Um garoto, que pelo o que as garotas da frente tanto reclamavam, se chamada Tracey. Esse nome era familiar, e lembrei que era ele quem o Josh tinha brigado naquele dia que conheci Lamar e Heyoon, oficialmente.

As garotas diziam que ele não estava repassando. Não estava trabalhando em grupo. Era apenas ele por si mesmo. Ele queria fazer todos os gols para ter um reconhecimento. Eu tenho certeza.

Por certa parte, fiquei aliviada de Josh não estar aqui para ver isso acontecendo. Ele, com certeza, gostaria de entrar no campo e bater no Tracey.

O céu estava azul escuro. O vento estava fresco, mas eu estava com um pouco de calor por ter muita gente ao redor. Inclusive, Sofya, ao meu lado, comia seu segundo saco de pipoca e segurava uma lata de refrigerante entre os joelhos.

- Você quer? — perguntou de boca cheia, ao ver que eu a encarava.

- Não, obrigada.

Sofya quase derrubou seu saco de pipoca pelo susto que tomou quando todos gritaram e se levantaram pelo gol que havíamos feito. Estávamos na frente. Lamar estava confiante antes. Por isso fez piada sobre o autógrafo.

Em meio da multidão, senti que certos pares de olhos me encaravam. Pares de olhos da Heyoon. Apontei para Lamar  sentado em um banco, com as mãos no cabelo suado e os cotovelos apoiados nas coxas. Ela pareceu saber o que eu estava querendo dizer, que balançou a cabeça e fez uma careta, dando a entender que as coisas não estavam legais.

Lamar deveria estar chateado por não poder jogar nesses dez minutos que restam. Porque mesmo sendo apenas dez minutos, ainda é muito tempo para fazer gols.

- Se aquele cara não passar a bola, eu entro naquele campo e quebro a cara dele. - falou Sofya, enfiando um monte de pipoca na boca. - Como é o nome daquele egoísta? - ela cutucou uma menina que estava sentada na sua frente.

- Tracey. - a garota respondeu, franzindo a testa.

- Egoísta, você não acha?-perguntou Sodya, bebendo seu refrigerante. - Depois que perde, não sabe porque. - resmungou, impaciente.

- Ele...

- PASSA A BOLA, GAROTO! - ela gritou, em meio a arquibancada, me interrompendo. Arregalei os olhos e tentei evitar retribuir os olhares que caíram sobre nós. Mas Sofya não estava nem aí. — Eu vou descer lá. - ela ia se levantando, pegando seu refrigerante na outra mão. Eu puxei a sua cintura, a impedindo.

- Fica quieta ai. - pedi. Ela bufou e revirou os olhos para mim.

- Cara idiota. - torceu o nariz e suspirou.

Sorri com a sua reação ao Tracey e voltei a me concentrar no jogo.

Os próximos três gols haviam sido do time rival. Dois deles, foi pelo fato de Tracey ter evitado passar a bola para os caras perto da bola. Ele queria chegar lá sozinho, sem a ajuda de ninguém. Com certeza, isso era para ganhar o crédito sozinho.

Precisávamos de dois pontos para passar a escola rival. Estávamos nos últimos dois minutos de jogo, e deu para perceber o quanto todos estavam tensos. Aquele era o jogo mais importante que teríamos naquele ano. Era o jogo que os garotos mais tinham se preparado.

Mesmo Tracey estando com capacete, deu para ver a sua cara de fúria. Como quem queria ganhar a qualquer custo.

E ele fez isso, quando fez o gol que valeu por dois, e naquele exato momento, deu os últimos cinco segundos do jogo, deixando todos os outros garotos aliviados por saber que já haviam ganhado. O outro time não conseguiria chegar até o outro lado do campo para fazer gol em apenas cinco segundos.

No decorrer da loucura de pular e gritar, Sofya derrubou a sua pipoca. Confesso pensar que no começo do jogo ela não estava tão animada quanto está agora. Ela gritou tanto, que um certo momento a sua voz até falhou. Algumas pessoas olhavam para ela dando risada.

- Vamos lá para fora! - ela falou, vendo que todos estavam indo para outra parte da escola. Com certeza, era o campo da entrada, pois logo depois os garotos do time com certeza apareceriam lá.

Eu nem consegui ver direito os garotos comemorando pela vitória. Só deu tempo de ver as líderes de torcida correndo até o meio do campo. Algumas até pularam nos jogadores.

- Posso bater naquele Tracey agora? - perguntou Sofya, quando chegamos em uma das mesas vazias do campo. Alguns alunos ocupavam as outras, conversando entre seus grupos. Eu estava sentindo um cheiro de suor imenso com aquele tanto de pessoas a nossa volta. - ela fez uma careta. - Imagine só os garotos do time, o cheiro bom que o uniforme deles deve estar. — torceu o nariz.

Ficamos alguns minutos em silêncio. Eu apenas observava as pessoas ao nosso redor. Não estava tão falante aquela noite como eu geralmente ficava, e eu sabia que Sofya tinha percebido. Ainda mais pelo seu olhar em cima de mim a cada cinco segundos.

- Vai me contar de uma vez o que está acontecendo ou eu vou mesmo precisar perguntar? - ela questionou.

- Não sei do que está falando. - sorri de nervoso. Sofya ergueu uma sobrancelha e estalou a língua.

— Eu estou falando do que está preocupando você é a noite inteira. — insistiu, fazendo com que eu encarasse seu rosto. Está mesmo tudo bem, S/n?

- Agora não é hora para falar sobre isso. - engoli seco.

- Quando vai ser, então? - perguntou, me intimidando com o seu olhar.

Fugi do seus olhos e agradeci por ver que Heyoon corria em direção a nossa mesa. Fiquei a encarando, e logo Sofya percebeu que eu observava alguém. Ela seguiu o olhar para Heyoon também, que logo me deu um abraço apertado.

- Você vai para a festa pós-jogo, certo? — perguntou para mim, com o braço em volta do meu ombro. Eu tinha certeza que ela não deixaria de comentar sobre a festa. - Não aceito um não como resposta.

-S/n. - Sofya chamou, querendo saber o que estava acontecendo. Eu respirei fundo e olhei para Heyoon.

- O que você vai fazer ano que vem? Em relação a sua faculdade? — perguntei para a garota, mesmo já sabendo da resposta. Mesmo já sabendo exatamente aonde ela iria.

- Londres. - ela disse animada, mas ao mesmo tempo desconfiada. Ela inclinou a cabeça para o lado e ergueu a sombrancelha intercalando os olhares entre mim e Sofya.

- Então... - falei por fim. Sofya abriu a boca em surpresa e franziu a testa.

- Como assim você vai para Londres? - Sofya disse alto. Coloquei a mão na testa e senti Heyoon me abraçar, saltitando.

- Está brincando? - ela me balançou, animada.

-S/n, como assim você vai pra Londres? - Sofya questionou.

- Eu disse que essa não era hora para conversar sobre isso. - resmunguei.- Agora eu vou na festa com a Angeline.

- Você vai? - Sofya ergueu as sobrancelhas.

- Vou. - afirmei.

Aquela era a única maneira de me livrar daquela conversa com Sofya. Eu agradeci muito por Sofya não querer ir também.

Respirei fundo e senti Heyoon pegar na minha mão, me arrastando pelo campo.

- Foi um prazer te conhecer, garota! - - Heyoon gritou para Sofya, que apenas deu um sorriso e acenou.