Capítulo 20

Com apenas a tela do celular ligado em meio ao meu quarto, procurei o contato de Joalin entre todos que eu tinha. Quando apertei em ligar e levei o celular para a orelha, fiquei esperando por vários toques, e nada de ela atender.

No relógio marcavam dez e meia da noite. Minha mãe ainda não havia chegado e eu não tinha com quem conversar sobre o desastre que essa noite foi.

Depois que eu sai praticamente correndo após afastar Alex, um táxi passou bem na hora, e eu não hesitei em fazer sinal para que ele parasse e me levasse para casa. Alex havia me mandado várias mensagens querendo saber se eu estava bem ou se eu pelo menos estava em casa. Apenas disse que estava tudo bem, mas ele continuou me enviando mensagens.

Rolei pela lista de contatos e parou na parte J do alfabeto. Vi o contato do Josh e pensei duas vezes antes de apertar o botão de ligar, e nessas duas vezes que pensei, era o pensamento de: ligue para ele.

Coloquei o celular na orelha e engoli seco quando começou a chamar. 5 toques passaram-se e ele ainda não havia atendido. Eu estava quase desistindo e tirando o celular da orelha, pronta para dormir e esperar que vinhesse o dia de amanhã. Mas ele atendeu.

O que aconteceu? - perguntou diretamente.

— Eu — comecei a tentar explicar, mas as palavras não queriam sair. — Não é nada. Eu vou desli...

Não acredito mais em você. Me diga o que aconteceu — ele pediu firmemente.

— Eu beijei o Alex — falei rápida. Joguei a cabeça para trás e apertei a mão livre. Minhas unhas fincaram na palma da minha mão e eu segurei o choro, dando um longo e suspiro.

Você me ligou para dizer que beijou outro cara? — Josh questionou, parecendo surpreso.

— Eu estraguei tudo — coloquei a mão no rosto e uma lágrima começou a descer pela minha bochecha. — Foi horrível porque eu não sabia beijar.

Você está chorando? — perguntou ele, soltando uma risada abafada.

— Foi um erro ligar para você pensei alto. Tirei o telefone do ouvido e desliguei. Me segurei para não jogar o celular no chão.

Meu coração estava acelerado. Minhas mãos suando e doendo pelo jeito que eu apertei segundos atrás. Eu apenas não queria ter iniciado aquele segundo beijo, que foi pior do que o primeiro. Por que beijar parece ser tão difícil?

As pessoas tem ótimas histórias de primeiros beijos, eu já ouvi várias quando eu tinha 13 anos. Minha roda de amigas, todas haviam beijado, mas eu não. Lembro-me de inventar uma história sobre como havia sido meu primeiro beijo para me encaixar no grupo delas. Mas hoje eu me arrependo por isso.

Forcei meu corpo para trás e senti o travesseiro macio. Coloquei meu cobertor sobre meu corpo e tentei relaxar. Fechei os olhos esperando o sono vir, para que eu me esquecesse de todo aquele desastre.

Comecei a sentir um vento gelado, mas eu também sentia que ainda estava com o meu cobertor sobre o meu corpo. Apertei o tecido grosso e abri lentamente os olhos quando ouvi um barulho vindo de dentro do meu quarto.

Me mexi para o lado e vi alguém na minha janela, que havia acabado de entrar. Eu não me assustei, apenas pelo fato de saber quem ele era. Sua sombra; seu cabelo; sua postura; seu jeito; Eu já conhecia tudo isso com apenas um olhar rápido.

— Me desculpe ter dado risada de você — ele começou dizendo. — Foi coisa momentânea.

Continuei em silêncio.

Sentei na cama e abracei meus joelhos, encolhendo os ombros. Josh começou a se aproximar lentamente, até sentar-se no final da minha cama. E, ainda no escuro, eu conseguia ver os seus olhos brilhando e o seu cabelo bagunçado.

— O Alex falou alguma coisa para você? — perguntou cautelosamente. Abaixei o olhar e balancei a cabeça.

— Eu pensei que ia sair tudo bem — minha voz saiu fraca. Dei um riso sem humor e balancei a cabeça, sentindo que lágrimas logo viriam, mas com um suspiro eu fiz com que elas não saíssem. — Eu me lembrei do que você disse sobre eu gostar tanto da pessoa que eu não iria nem lembrar que era meu primeiro beijo. Mas eu queria beija-lo!

— Você achava que queria, S/a — ele corrigiu. — Um beijo, não vai definir os outros que você terá. Não fique assim.

— Eu não consegui nem dar a droga de um beijo direito — bati no colchão — Por que é tão difícil?

— Não se torna difícil quando você está relaxada — ele inclinou a cabeça para o lado. Ele forçou você? — perguntou. — Eu espero que você esteja me falando toda a verdade, caso contrário, eu vou quebrar o nariz dele.

— Ele não me forçou — afirmei. — Iniciamos um beijo e não foi bom por minha causa. Então eu iniciei um segundo, e foi horrível por minha causa também — expliquei. — Por que isso tinha que acontecer comigo? Ele nunca mais vai me chamar para um encontro.

— E quem liga para isso? — Daniel fez uma careta. Tem vários outros garotos que podem estar interessados em você. Não fica pensando no que o Alex pode falar, se ele te tratar mal ele é um babaca — assegurou. — E depois de chama-lo de babaca, eu vou quebrar o nariz dele.

— Eu só queria nunca mais sair daqui reclamei, jogando a cabeça para trás.

— Mas você vai! Amanhã vamos para qualquer lugar que você quiser — Josh afirmou. Desviei os olhos para o seu rosto e vi que ele estava falando sério. — Para fazer um piquenique.

— Eu não quero sair, Josh — reclamei.

— Não perguntei se você quer sair, eu perguntei um lugar que você quer ir para fazer um piquenique — ele sorriu. — E ai?

— Eu não...

— Ótimo. Parque Hampton! — afirmou. — Amanhã eu passo aqui bem cedo para pegar você. Avise a sua mãe que vamos passar a tarde inteira fora — ele se levantou, preparado para ir embora.

— Você pode me distrair um pouco mais? — perguntei baixo.

Josh piscou várias vezes com a minha pergunta e então se sentou na ponta da cama novamente, pronto para começar a falar sobre alguma coisa. Fiquei feliz por ele não ter recusado, e feliz por ele estar tentando mesmo me distrair. Como um melhor amigo.

— Como você conseguiu vir para a janela do meu quarto? — perguntei antes de tudo. — É muito alto. A árvore é difícil para subir.

— Eu cair de uma árvore não seria nada comparado ao machucado que teria aqui dentro — ele apontou para o seu peito, especificamente, no coração. —  Se você ficasse magoada por eu ter dado risada no momento errado.

Fiquei boaquiaberta com as suas palavras. Logo dando um sorriso de lado e encostando minha cabeça no travesseiro novamente, observando Josh falando comigo sentado na ponta da minha cama.

Seus olhos brilhavam como estrelas, e brilhavam ainda mais, quando ele conseguia me fazer dar um sorriso. Pela maneira que ele me olhava, parecia estar satisfeito por estar conseguindo atender ao meu pedido.

Na manhã seguinte coloquei meu laço amarelo no cabelo ao invés de prendo-lo com um elástico simples. Fiquei satisfeita pelo laço combinar com o meu macacão de calças jeans e a minha blusa de frio listrada, que eu usava por baixo.

Minha mãe entrou no meu quarto, me analisando terminar de finalizar o rímel que eu estava passando. Resolvi optar por alguma maquiagem hoje, porque de alguma forma minha cara parecia estar inchada. Nos lábios, eu já usava um gloss transparente.

— O que aconteceu ontem? — ela perguntou para mim, como se já soubesse apenas por olhar nos meus olhos.

— Nos beijamos — contei. Pelo espelho, vi que ela abriu um sorriso de orelha a orelha, mas então, resolvi completar depressa: — E foi horrível porque eu não sei beijar.

— Querida... — minha mãe cessou o sorriso e se aproximou de mim, colocando a mão no meu ombro. Virei para olha-la, e percebi seu olhar de pena. — Se você estava nervosa, não deveria ter beijado ele. Deveria ter ido com calma.

— Eu estou bem – forcei um sorriso. — Me distrai quando cheguei em casa.

— Eu sei que o Josh ajudou nisso — ela contou. Meu coração parou por um segundo, e eu acho que fiquei mais pálida do que eu já sou. — Vocês não estavam nem se dando ao trabalho de gargalharem baixo.

— Ficamos apenas conversando —  assegurei.

—  Ele é um amigo muito bom para você, S/a — ela acariciou a minha bochecha. — Não o deixe escapar.

— Às vezes ele é mesmo um ótimo amigo — concordei, fazendo uma careta. — Mas não diga isso á ele, se não ficará se achando — pedi seriamente. Minha mãe sorriu e concordou com um aceno.

— O que o Alex disse para você depois do beijo? Ele tratou você mal? — ela perguntou rapidamente. — Eu posso pedir para alguém quebrar o nariz dele se você quiser.

Por que todos querem quebrar o nariz do Alex?

— Ele não teve tempo de dizer nada porque eu sai correndo — expliquei. — No primeiro beijo, quando nos separamos, ele disse que se eu não estivesse preparada eu não deveria ter feito aquilo.

— Depois você precisa conversar com ele. O coitado deve estar totalmente confuso.

— Eu fui tão mal que até ele percebeu que era o meu primeiro beijo — balancei a cabeça negativamente e me virei para o espelho. Mas eu preciso me preparar para falar com ele pessoalmente.

— Faça as coisas no seu tempo — ela pediu. — Sempre.

— Certo — disse em concordância. — Vou esperar o Josh lá fora. Acho que no fim da tarde estarei aqui.

— Tome cuidado — disse firme.

Sorri e peguei a minha bolsa, saindo do quarto.

A bolsa era pequena, eu não estava levando mais nada além disso pelo simples fato de Josh ter dito que ele levaria toda a comida para o piquenique. Tenho toda certeza que ele iria exagerar.

No caminho até o lado de fora da minha casa não tinha encontrado o Noah. Não conversávamos por mais de 5 minutos já faziam alguns dias, e mesmo que ele às vezes me tratasse como se fosse uma criança, eu gostaria de passar um dia inteiro com ele.

Ano que vem ele vai para a Universidade de Londres. Não vamos mais ter esses momentos juntos, a não ser que eu viaje para Londres. Apesar, que isso também não adiantaria muita coisa. Quando Noah foca em alguma coisa, como os estudos, é difícil ele querer se distrair com alguma coisa.

Não passou mais de 2 minutos e o Josh chegou. Mas dessa vez, ele estava com um carro diferente. Era o mesmo carro vermelho que eu tinha visto aquele dia na sua garagem.

Ouvi o som alto tocando uma música animada. Ele abaixou o vidro do passageiro e inclinou o rosto para frente. Tirou seus óculos de sol e deu um sorriso para mim.

— Não estou querendo insinuar nada, mas já insinuando, essa vai ser a melhor tarde da sua vida — ele garantiu, me fazendo sorrir.

Entrei no carro sem pensar duas vezes e senti um cheiro de perfume bom, parecia estar vindo da jaqueta que ele usava. Seus cabelos loiros; calça escura; um completo badboy.

— Eu vi que você ficou encarando esse carro uma vez quando chegamos na minha casa — ele comentou, apertando o botão de levantar o vidro e deixando o ar condicionado no quente. — Estava esperando o momento certo para usa-lo.

— Momento certo? — repeti.

— O momento que fôssemos sair apenas nós dois — contou, franzindo levemente a testa e ainda de olho na estrada. Ergui as sobrancelhas e olhei para frente também. — Está melhor?

— Estou — dei de ombros.

— Você está mentindo — ele afirmou. — Mas eu trouxe morango com chocolate. Tenho certeza que isso vai te deixar bem feliz em uma certa porcentagem.

— Que mais? — perguntei ansiosa, me referindo a comida.

— Pães de queijo, suco de goiaba natural, suco de caju, muitas frutas, barras de chocolate, sanduíches, biscoitos de chocolate, torta de frango, balas — ele foi falando, e a cada palavra eu arregalava os olhos. E também torta de morango, para a sobremesa.

— Isso é muita coisa, Josh — avisei, incrédula.

— Sério? Eu ia trazer mais algumas coisas, só que não deu tempo — ele contou. Dei uma gargalhada e ele sorriu, satisfeito mais uma vez por ter me feito sorrir.

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