Capítulo 16

Já era tarde de segunda-feira. Sentei na arquibancada do colégio e mandei uma mensagem para Josh me avisar quando estivesse saindo. Pelo o que tudo indica, ele havia sido pego fazendo alguma coisa que eu não sei o que é. Ainda.

O livro que eu estava lendo quando o Josh me encontrou aquele dia no campo do colégio para pedir ajuda das aulas, não havia sido terminado. Ainda faltavam boa parte das páginas para terminar, mas com a correria que a minha vida anda tendo, relaxar está se tornando algo impossível.

Antes que eu pudesse abrir o livro aonde eu parei, o brilho forte do meu celular em cima da bolsa chamou a minha atenção. A foto de Alex apareceu na tela e eu sorri. Arrastei o dedo no toque verde para atender a chamada, e coloquei no viva voz.

- Tudo bem-ele começou dizendo, mas não parecia ser uma pergunta para mim. -, sexta feira, está marcado ainda? De pé? - perguntou, ofegante.

- Você está correndo? - perguntei curiosa, desviando o assunto sem querer.

- Fazia tempo que eu não saia a tarde para correr-ele deu de ombros.

- Entendi - balancei a cabeça, mesmo que ele não pudesse me ver. - E você me ligou ontem a noite querendo saber se ainda estava de pé - dei risada. - Mas não se preocupe, nada mudou e não vai mudar até sexta feira para que eu possa desistir.

- Fico aliviado em ouvir isso - disse ele, ainda mais ofegante de quando me ligou. - Você está aonde? Poderíamos nos encontrar para um café? Uma companhia agora a tarde cairia bem.

- Desculpe, mas eu já tenho um compromisso - mordi o lábio inferior e levantei, colocando a alça da minha mochila nos ombros. - Podemos fazer isso amanhã, o que acha?

- Estamos tendo vários pré encontros - ouvi sua risada fraca do outro lado da linha. - Amanhã está ótimo. Eu posso ir te buscar ai no colégio?

- Claro - sorri, entusiasmada. - Até amanhã.

- Até amanhã, S/a- ao desligar o telefone, um sorriso bobo surgiu nos meus lábios pela maneira doce que ele disse meu apelido.

- Se ficar apaixonado significa sorrir bobo dessa maneira, eu prefiro continuar eu mesmo - dei um pulo para trás ao ouvir o Josh.

- Eu não estou apaixonada! - coloquei a outra alça solta nos ombros e soltei um suspiro, fazendo uma fumaça, por conta do frio, sair dos meus lábios.

- Fico feliz em saber disso - ele falou, forçando um sorriso, e eu consegui ver o quão estava sendo sarcástico.

- Por que estava na diretoria? - perguntei, cruzando os braços.

- Porque eu apenas fui pedir um cigarro para o Toby - Josh franziu a testa e colocou as mãos no bolso da jaqueta. - Esqueci que o meu havia acabado.

- E então o diretor pegou vocês?

- Não. O Toby começou a ficar desesperado dizendo que não fumava. O inspetor viu e o Toby abriu a boca - Josh resmungou uma palavra suja e eu fiquei sem entender.

- Sei que você não é inteligente, mas tão burro á ponto de pedir um cigarro para qualquer um desse colégio? - apontei.

- Eu confundi os nomes. O garoto que fuma é o Tomy - ele explicou e eu dei risada.

Os seus olhos estavam com um brilho intenso de diversão. Seus lábios formaram um sorriso sincero e espontâneo, e o Josh que eu conhecia havia voltado por poucos segundos. É ironia termos discutido na festa e hoje estarmos agindo como se fossemos amigos.

Eu comecei a andar pelo estacionamento que estava quase vazio. Quando avistei o carro preto do Josh fui rapidamente em direção a porta do passageiro, querendo me livrar do frio. Quando ele destrancou o carro, antes que eu pudesse entrar, ele fechou a porta novamente, e eu senti que ele estava muito próximo atrás de mim.

- Eu estava um pouco bêbado na festa, mas me lembro de cada palavra que você disse - ele começou a dizer, e eu não fiz questão de me virar para olhar em seu rosto, pois tenho certeza que ficaríamos mais próximos que o normal. - E eu não mudo quando estou em certos momentos com você - ele afirmou, e suspirou. Eu sentia sua respiração no meu pescoço. - O Josh que estava na tarde de quinta feira com você, é o mesmo Josh quem você conversou naquela festa antes de ir embora.

- Não. Não é - o interrompi, com a voz falha.

- O Josh que passou aquela tarde com você é o mesmo que bebe e fuma até o amanhecer. É aquele Josh que diz não estar nem ai para o amor. É aquele Josh que mente para conseguir o que quer - franzi a testa, sem entender o que ele quis dizer com a última frase. - Eu não sei como você consegue separar ações e reações como se fossem duas pessoas diferentes. Mas eu sou o mesmo Josh o tempo inteiro.

- Eu não consigo acreditar - respirei fundo antes de me virar para encara-lo, e como eu bem suspeitava, estávamos mais próximos do que deveríamos. - Que o Josh que tem o sorriso bonito e sincero e com brilho nos olhos, seja esse mesmo garoto que bebe e fuma.

- O que você tem contra bebidas e cigarros, S/n? - ele questionou, se aproximando mais de mim. Minha respiração por um momento falhou. - Esse sou eu! Nada que você diga vai mudar.

- Eu não tenho nada contra bebidas e cigarros até o momento que você bebe e você fuma, porque fica alguém que eu não gosto de conversar. Alguém que eu não gosto de olhar. Alguém irreconhecível.

Ele ficou em silêncio.

Seus olhos analisavam meu rosto, e eu podia ver que ele tinha uma certa raiva. Eu estava perdida;

Sem saber se deveria empurra-lo e pedir para Noah vir me buscar. Se eu deveria esperar e ele se afastar por livre e espontânea vontade e irmos para a sua casa estudar. Sem saber se eu deveria continuar dizendo o que penso, até ele finalmente concordar comigo. Ou se eu apenas deveria esperar, para o garoto que eu conheço voltar logo.

Um trovão. Um trovão foi o que fez ele dar um passo para trás.

- Eu posso estar com muita raiva de você, mas não quero que fique gripada por conta de uma chuva tosca - ele declarou e deu a volta no carro, e antes de entrar, consegui ouvi-lo completar: - Eu ainda preciso das aulas.

Fechei o livro que havíamos precisado para as aulas naquele dia. Eu fiquei contente e relaxada, pois ainda não chegou a ser o final da tarde, o que significava que havíamos conseguido terminar mais cedo hoje.


Coloquei as minhas coisas lentamente na minha mochila, enquanto Josh permanecia sentado do outro lado da cama em total silêncio. Mas eu resolvi dizer alguma coisa.

- Parece que apenas mais 3 dias e você estará livre de mim - comentei. - Você já está quase pronto para fazer a prova. Consegui acelerar as coisas atrasadas e...

- Se você pudesse continuar com as aulas, pelo menos até o dia da prova, por mim vai estar tudo bem- ele me interrompeu. Levantei o rosto para encara-lo, e me surpreendi quando percebi que ele já me olhava. - Estou querendo dizer que eu posso esquecer toda a matéria

-Ok- engoli seco. E amanhã não vou conseguir te dar as aulas. Tudo bem?

- O que vai fazer? - perguntou com curiosidade.

- Joalin disse que precisava da minha ajuda para alguma coisa - menti. Eu não sabia qual seria a reação dele ao dizer que eu não daria as aulas para ele porque iria sair com o Alex. Resolvi não arriscar deixar as coisas entre a gente mais estranhas do que já estava.

- Tudo bem - ele deu de ombros, e eu soltei um suspiro relaxado. Me senti um pouco mal, já que um dos pedidos dele seria apenas para que fossemos honestos um com o outro. Mas eu duvido, que Joshua Kyle Beauchamp, nunca tenha mentido para mim depois desse pedido que ele mesmo impôs.

Com o silêncio, eu pude raciocinar melhor e percebi que estava chovendo lá fora. Nessa época de inverno, eu acho que foi realmente a primeira vez ou segunda vez que choveu dessa maneira. Ao perceber que eu encarava a janela grande, Josh perguntou:

- Quer que eu já te leve para casa? - voltei a olhar para ele, sem saber ao certo o que deveria dizer. Eu queria ficar ali mais um pouco, porém, Joshua poderia entender isso de uma maneira diferente. Isso não seria nada bom. Mas para inverter a situação de ficar estranha, resolvo dizer:

- Eu acho melhor deixar a chuva diminuir um pouco - sugeri, mordendo o lábio interior em nervosismo por ele pensar do jeito Josh.

-Tudo bem - ele disse. - Eu não gosto mesmo de molhar meu carro. Não com gotas de chuva. - comentou.

Respirei fundo pelo silêncio que ficou. Não sabia se deveria dizer alguma coisa, ou deixar as coisas do jeito que estavam, apenas com o barulho da chuva. O assunto que ele com certeza queria conversar, poderia causar uma discussão.

Quando eu estava prestes a começar dizer um assunto que com certeza não acabaria em desavenças entre nós dois, ouvimos dois toques leves na porta e logo ela sendo aberta.

- Joshu... - ouvi uma voz feminina. Virei e olhando por cima do ombro, vi uma mulher de cabelos loiros, em pé e me encarando. - Joshua - dessa vez a voz da mulher saiu como se estivesse o repreendendo.

- Mãe - Josh se pronunciou, levantando da cama. Reparei mais no rosto da mulher e vi que os olhos dela pareciam com os do Josh, azuis. Ela era tão bonita quanto era nas fotos de revistas em que o seu rosto estava estampado.

- Achei que já tínhamos conversado sobre trazer garotas aqui. Pelo menos, essa não parece usar pedaços de panos que não cobrem nada - ela reclamou e ficou me encarando. Enquanto eu estava paralisada, sem saber o que dizer e porquê ela achava que eu estava desse jeito com o Josh. - Achei que a casa do lago era para isso.

Tudo bem, a primeira coisa que pode passar pela cabeça de alguém quando vê uma garota no quarto do seu filho é: uma das suas ficantes, querido? Isso só não passou pela cabeça dela, como ela faz questão de insinuar em voz alta.

- Essa é apenas a S/n, mãe - Josh se levantou da cama e ficou ao lado da mulher. ― uma amiga. — completou. A Sra. Beauchamp arregalou os olhos e voltou a me olhar.

- Uma amiga? E desde quando você tem amigas? - ela questionou para o filho.

- Eu estou apenas o ajudando com...

- Estamos fazendo um trabalho de ciências juntos - Josh me interrompeu. Franzi a testa sem entender porquê ele havia mentido.

- Bem - a mãe dele olhou para mim. - Desculpe, querida. Mas vocês realmente são só amigos?

- Sim - Josh disse com a voz dura. - Por favor, mãe.

-Tudo bem, tudo bem - ela se rendeu, dando um sorriso para mim. Fiquei aliviada por ela ter ido com a minha cara sem eu precisar ter dito mais palavras. Aliás, fui interrompida para que uma mentira fosse contada. E eu com certeza iria querer saber o porquê ele havia mentindo depois. - Apenas vim avisar que a sua prima chegará de viagem na sexta-feira.Esteja aqui cedo!

- Eu sempre estou aqui cedo - Josh avisou. - S/n vem aqui também. Esse trabalho é grande!

- Você é muito bonita, S/n - a Sra. Beauchamp mudou de assunto rapidamente.. Você tem cara de ser animadora de torcida - comentou, e então se virou para o Josh e perguntou: - ela vai torcer por você no próximo jogo, querido?

- Ele não vai participar desse jogo. Não se...

- Ela não faz parte das líderes. Se bem que o uniforme ficaria bem nela - Josh mentiu de novo. A Sra. Beauchamp sorriu e juntou as mãos em frente ao corpo. - Mas ela com certeza vai estar na plateia. Não é mesmo, S/a?

- Com certeza - espremi os olhos e forcei um sorriso.

- Parece que já terminaram uma parte do trabalho - Sra. Beauchamp aponta com o queixo para a cama sem qualquer papel de anotações que eu tinha, já que tudo estava dentro da bolsa. - Está com fome, S/n? Pedi para prepararem um café da tarde para mim, mas já que temos visita ficarei feliz em uma companhia.

- Ela apenas quer esperar a chuva passar para ir embora mãe - disse Josh

- Mas não seja por isso. Ela pode esperar a chuva passar enquanto come - ela deu de ombros. Não demorou muito para que ela pegasse a minha mão e me levasse para fora do quarto de Josh, que ficou nos encarando de uma maneira como se estivesse preocupado com alguma coisa.

- Enquanto isso vou tomar um banho - ouvi ele avisar, quando já estava quase descendo as escadas, ainda com a Sra. Beauchamp apegada na minha mão. Josh ficou incerto se entrava ou não, mas logo fechou a porta branca e assim ela permaneceu, até que eu perdi a visão daquela parte do corredor.

- Pareço empolgada com uma nova amizade do Josh, desculpe - disse Sra. Beauchamp - Desde que ele aprendeu o que é beijar, nunca mais o vi com alguma amiga. Vocês já se beijaram?

- Isso nunca vai acontecer- tentei soar o mais delicada possível. Ela ergueu as sobrancelhas, parecendo surpresa com a minha declaração. Fiquei pensando se foi certo dizer o que estava mesmo na minha cabeça, ou se eu deveria ter permanecido em silêncio.

- Qual o seu sobrenome? - ela me perguntou. Eu tinha certeza que ela gostaria de saber se conhecia ou já teve algum encontro com membros da minha família. Eu acho difícil isso ter acontecido, mas não demorei para responder:

- Urrea.

- Urrea - ela pareceu dizer isso mais para si mesma. ― ótima combinação.

- Obrigada - falei incerta se deveria ter agradecido. Eu me incomodo por falar com pessoas importantes dessa maneira e que eu não conheço, pois uma palavra errada, e ela pode me odiar pelo resto da vida.

Quando chegamos na mesa aonde já estava uma boa parte do café da tarde, franzi a testa e me perguntei se ela havia pedido para preparar tudo aquilo para ela. É confuso. Tinha praticamente um banquete ali para convidar a família inteira e ainda chamar alguns amigos.

Eu posso até estar exagerando um pouco, mas ela não avisou á cozinheira que havia convidados.

- Você passa a tarde aqui todos os dias? - me perguntou, sentando-se no lugar aonde ficava uma única cadeira. Olhando para frente de onde ela estava, dava para se ver uma visão ampla da mesa inteira. — Desde que vocês começaram o trabalho.

- Sim - respondi, ao caminhar e me sentar em uma das cadeiras que ficava próximo da Sra. Beauchamp. - Mas amanhã não vou conseguir vir.

Quando bati o meu pé na perna da mesa, fiz uma careta pela dor momentânea. Foi mais intensa pelo fato de eu estar usando apenas meia. Fui arrastada tão rápido para fora do quarto que não tive tempo de perceber a falta dos meus tênis.

Me sentei normalmente, tentando demonstrar que estava tudo bem e que não tinha afetado nada nos meus dedos. A não ser pelo fato de eles estarem latejando.

- Não estava conseguindo sair cedo do trabalho nessas últimas semanas. Muitas coisas para administrar - ela comentou, pegando algumas torradas que estavam em um pote de vidro e pegou gentilmente o copo de geleia, que parecia ser de morango nas mãos. - Ainda mais agora com a ausência do Ron.

- Desculpe. Quem é Ron? - perguntei, desviando o olhar do seu rosto para pegar uma torrada também.

- O pai do Josh - respondeu. Ela parecia estar com a expressão mais abatida sobre esse assunto que estava sendo falado. Ou melhor, que havia acabado de se formar. - Ele é mais reconhecido como Ron pela família.

Ela tinha razão. Nas vezes que eu ouvi falar do pai do Josh era apenas:  Sr. Beauchamp.

- Por que a ausência dele? - fiquei curiosa em saber. Josh nunca havia comentado que o seu pai estava ausente. E não era por separação, aliás, isso sairia em várias revistas de fofocas. Assim como foi quando acharam que o Sr. Beauchamp estava traindo a sua esposa, mas foi tudo um mal entendido, já que a mulher com quem foi flagrado nas fotos era a sua irmã.

- Viagem longa de negócios - Sra. Beauchamp soltou um longo suspiro e levou sua taça de suco até a boca. Espremi os olhos e não sabia se deveria dizer mais alguma coisa. O que eu diria? Não tinha nada em mente, e o Josh não descia logo. Meu constrangimento ia embora de certa parte.

Olhei para uma janela grande que ficava na lateral do cômodo. Ainda chovia, mas não como quando eu estava no quarto do Josh.

Os minutos foram se passando e havia apenas Sra. Beauchamp e eu na sala de jantar. Ela tentou puxar assunto comigo sobre coisas que eu gostava de fazer, e falou um pouco sobre o Josh. Fiquei ainda mais curiosa quando ela falou sobre o álbum que ela tinha de quanto ele era criança.

Eu fiquei com vontade de ver, mas triste em saber logo em seguida que a maioria estava na casa do lago que eles tinham.

Quando terminamos o café eu já estava satisfeita. Avisei á ela que precisava subir para saber o que o Josh estava fazendo, para que eu pudesse ir embora. Ela concordou e agradeceu pela minha presença.

Assim que sai da sala de jantar, meus ombros se relaxaram como se eu estivesse carregando um peso nas costas por horas.Ainda sentia um incomodo quando subia as escadas depressa e passava pelo corredor correndo.

Abri a porta do quarto e me deparei com o Josh sentado em uma poltrona perto da sua janela com um livro nas mãos. Franzi a testa e logo quando ele percebeu a minha presença, fechou o livro rapidamente e se levantou.

- O que eu acabei de presenciar aqui? perguntei abrindo um sorriso nos lábios. Fechei a porta atrás de mim e Josh revirou os olhos.- Desde quando você gosta de ler?

- Desde quando isso é da sua conta? - ele fez uma voz fina. Balancei a cabeça negativamente e observei-o dar as costas e ir até uma prateleira nada visível no seu quarto.

Encarei seus ombros largos e que estavam nus. Em pleno inverno, o querido Joshua Kyle Beauchamp gosta de ficar sem blusa o tempo inteiro dentro de casa. Talvez devesse ser pelo seu ar condicionado, pois até eu fiquei com calor.

Por curiosidade, segui os passos do Josh e observei a prateleira cheia de livros. Arregalei os olhos ao reconhecer bons romances que eu já havia lido.

- Um amante de livros secreto - pensei alto. Josh se inclinou e sussurrou próximo ao meu ouvido, me causando um arrepio involuntário.

- Isso é um segredo, S/a.


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