𝘊𝘈𝘗Í𝘛𝘜𝘓𝘖 1
Estava andando de um lado para o outro, esperando que alguém viesse me dar notícias sobre o estado de saúde de Samira. Ela havia entrado em trabalho de parto em casa. E justamente hoje.
Sentia-me péssimo com isso, não pude acompanhá-la, estava em uma reunião importante na empresa em que trabalho. E para completar, ainda seria meu último dia lá, já que eu estava prestes a entrar de férias.
Conversando com Samira, eu disse que para mim seria importante ficar pelo menos o primeiro mês em casa, cuidando dela e de nossa menininha, Aurora.
Mas meus planos foram por água abaixo, já que minha pequena Aurora decidiu que queria nascer uma semana antes da data prevista.
Minha mãe até se ofereceu para ficar com Samira, mas não achei necessário naquele momento, já que eu estaria em casa.
Então, assim que acabou a reunião e eu recebi a ligação de Samira, vim correndo para o hospital.
Samira sentiu algumas dores e rapidamente pediu um motorista de aplicativo que a deixou aqui dentro do hospital.
Para minha sorte, isso não fazia muito tempo, então eu poderia assistir o nascimento da minha filha. Era tudo o que eu mais queria naquele momento.
— Oi, boa tarde!!! Gostaria de saber qual é o quarto em que minha esposa se encontra? Ela deu entrada aqui, a pouco tempo — perguntei assim que pisei meus pés na recepção do hospital.
— Olá, senhor! Qual é o nome da sua esposa por gentileza? — perguntou-me a mulher. Ela era morena, cabelos longos e cacheados, usava camisa e calça social. Na camisa tinha a logo do hospital e o crachá com seu nome, que naquele momento eu nem enxerguei qual era. Eu só queria ver como Samira e nossa filha estavam.
— Samira Maia Borges — respondi.
A mulher digitou alguma coisa no teclado e olhou na tela do computador.
— Sua esposa está no terceiro andar, no quarto 203, senhor — informou-me.
— Tudo bem, muito obrigado — agradeci e segui até o elevador para subir no quarto informado.
Cheguei no quarto em que Samira estava, provavelmente era o que ela ficaria depois de nossa filha nascer.
Minha mulher estava deitada sobre a cama, com uma roupa hospitalar e uma touca cobrindo seu cabelo. Podia ver o suor escorrendo por sua testa e o semblante levemente cansado, mas ao me ver, abriu um lindo sorriso.
— Ei, meu amor! Parece que a nossa princesinha vai vir ao mundo, não é mesmo?! Como você está se sentindo nesse momento ao saber que em pouco tempo estaremos com nossa filha nos braços? — perguntei, beijando sua testa.
— Acho que se nesse momento eu não estivesse sentindo dores e com contrações, eu estaria pulando de alegria — respondeu-me rindo, mas logo fez uma careta de dor.
— Ainda não te deram nenhuma anestesia? Por que ainda está sentindo dores?
— A enfermeira me disse que daqui alguns minutos ela vem colocar os remédios em minha veia — respondeu. E assim que fechou a boca a enfermeira chegou com o acesso para colocar em sua mão.
— Olá! Bom, vou diluir alguns remédios no soro que será aplicado em sua veia, para amenizar as suas dores. E vou fazer alguns monitoramentos sobre os batimentos cardíacos do seu bebê e sua dilatação. Nesse momento o doutor está fazendo um outro parto, então não vai ser possível ele te atender agora — explicou a mulher.
Fiquei nervoso nesse momento, mas tentei me controlar, ou Samira ficaria muito nervosa, além de sentir as dores.
— Ele vai demorar muito? Porque só de olhar para a cara da minha mulher, dá para perceber o quanto ela está sofrendo com as dores.
— Creio que duas horas mais ou menos e ele estará aqui — respondeu-me a mulher.
Alguns minutos depois, a enfermeira fez o exame de toque em Samira e logo depois foi buscar o aparelho para fazer o cardiotoco , voltando logo em seguida colocando toda a aparelhagem na barriga de Samira, para saber como estava a minha princesinha Aurora. E de acordo com o aparelho, o coração da nossa menininha estava perfeitamente bem.
A cada minuto a enfermeira vinha checar Samira e vê-la ainda sentindo dores, me fez querer trocar de lugar com ela. Samira estava sendo uma mulher maravilhosa. Eu a admirava por isso, ela e todas as mulheres que tinham que passar pelas dores para ter um filho. São todas guerreiras.
Duas horas mais tarde o doutor apareceu, conversou comigo e com Samira, que ainda não tinha nem 3 dedos de dilatação e foi então que o doutor resolveu fazer uma cesárea.
Duas enfermeiras adentraram o quarto em que minha esposa estava e fizeram a transferência dela para uma maca. Acompanhei todo o trajeto até chegarmos ao centro cirúrgico, antes que eu pudesse entrar fui levado à uma sala anexa, para poder fazer a higienização e trocar a roupa, quando enfim fui liberado acompanhei com o olhar as enfermeiras presentes ajudando Samira a sentar-se naquela minúscula cama e com isso preparando-a para que o anestesista aplicasse a raquidiana nela.
Logo em seguida, Samira já estava deitada, com um pano acima de sua barriga, tampando tudo o que estavam fazendo ali.
A fotógrafa que havíamos contratado, já estava lá dentro também, me fazendo ficar espantado com o quão aéreo eu estava, que nem ao menos me lembrei dela. Mas provavelmente minha mãe se lembrou e a chamou.
Em algum momento enquanto eu estava a caminho do hospital, liguei rapidamente para avisá-la.
Fiquei perto da sua cabeça, segurando sua mão e acariciando-a.
Alguns minutos depois, escutamos um chorinho, o que me fez olhar. E lá estava ela. A minha princesinha.
Meus olhos se encheram de lágrimas. A emoção estava tão grande, que era inexplicável.
A enfermeira me chamou para cortar o cordão e eu fui. Aurora era tão linda, e eu não me importava nem um pouco que ela estivesse suja de sangue ainda. A fotógrafa aproveitou para tirar uma foto e eu olhei para a câmera e sorri. Tenho certeza que eu ia parecer um bobo naquela foto, mas nada me importava, por Aurora eu seria um bobo.
Depois de cortar o cordão, voltei para perto de Samira e uma das enfermeiras veio colocar Aurora perto do rosto dela. E olhar para as duas, me fez sentir um homem ainda mais apaixonado. Beijei a testa de Samira e comecei a falar com Aurora que ainda chorava um pouco naquele momento.
— Oi princesinha do papai, não chora meu amor, o papai e a mamãe está aqui. — E ao ouvir minha voz o choro foi acalmando.
— Oi amor da mamãe, como você é linda...
Samira deu um beijo na testa de nossa filha e foi só isso. Os minutos seguintes foram perturbadores.
Samira começou a passar mal quando ainda estava sendo costurada e a enfermeira se afastou com a nossa filha, os outros começaram a se movimentarem rapidamente lá dentro e eu e a fotógrafa precisamos sair do quarto.
Eu ainda tentava raciocinar.
Samira estava bem, tirando as dores que sentia e que eram normais, estava bem...
Tive que ficar na sala de espera e lá encontrei com a nossa família. Que ao me ver vieram correndo para saberem das notícias.
— Como minha filha está, Ian? — perguntou minha sogra.
— Estava tudo bem até ela passar mal e me tirarem da sala de parto — respondi.
Me fizeram mais perguntas e eu as respondi no automático. Meu corpo estava ali, mas minha mente ainda permanecia naquela sala, no momento em que Samira começou a passar mal.
Alguns minutos depois, que para mim pareceram horas, o doutor veio com a notícia de que Samira não tinha resistido. Aquilo para mim foi um choque. Mil coisas passavam pela minha cabeça.
No porquê de aquilo tudo estar acontecendo? Como eu e minha filha ficaríamos sem a mãe dela? Era surreal, parecia um grande pesadelo.
Mas não era.
O doutor Augusto havia explicado que Samira teve pré-eclâmpsia. Sua pressão subiu sem que conseguissem controlar e então ela veio a óbito. Tentaram reanimá-la, mas não obtiveram resultados.
Aquilo foi a única coisa que eu ouvi. Depois disso, desabei no chão.
Samira teve uma gravidez tão boa, em nenhum momento apresentou os sintomas de pressão alta, nem nada que a gente soubesse que afetaria sua vida e de nossa filha.
Nossa filha... Meu Deus, eu não podia acreditar que Aurora não ia ter a mãe dela em sua vida.
A mãe que a desejou em todo momento. Samira e eu planejávamos ter filhos desde os 2 anos de namoro. Mas Aurora só veio 10 anos depois. E agora ela não poderia ser a mãe que tanto queria ser.
Minha mãe me amparou enquanto eu estava no chão. Eu não ouvia nada do que era me dito. Meu ouvido parecia estar tampado e eu estava em outro mundo.
A única coisa que eu desejava, era que tudo aquilo fosse uma mentira.
Quando enfim recobrei a consciência, percebi que o local que estávamos esperando, estava um caos. Minha sogra desesperada com o seu marido a amparando e o doutor estava conversando com minha irmã.
Que sabe-se lá Deus de onde ela saiu.
— E minha filha, como ela está? — perguntei, levantando meu rosto para olhá-lo.
— Foi levada para o berçário, está tudo bem com ela, nasceu completamente saudável. Assim que for feito todos os exames , você poderá levá-la para casa.
Balancei a cabeça em um sinal afirmativo.
— Quanto a sua esposa, em breve o corpo dela será liberado para ir para o IML .
— Sinto muito por isso Ian, fizemos tudo o que estava ao nosso alcance.
— Uhum.
— Se me derem licença, o dever me chama. — Após sua fala, saiu nos deixando na sala de espera.
— Vou ver minha filha — falei e levantei-me do chão.
Saí andando à procura do berçário e sabia que estava sendo seguido, mas não me importei, só queria ver minha filha para tentar acalmar o meu coração. Sabia que seria inútil tentar isso, mas precisava vê-la.
Quando cheguei ao berçário, havia vários bebês, uns chorando, outros dormindo...
E tinha Aurora, a minha princesinha. Estava de olhos abertos naquele momento. E só então eu vi a cor deles. Eram idênticos aos meus, castanhos.
Ela estava de touquinha, então não mostrava a cor de seus cabelos. Mas pelo pouco que consegui ver na sala de parto, eram iguais aos da mãe, com fios claros.
Aurora era uma mistura de nós dois.
Entrei no lugar, e a minha família ficou para trás, eles sabiam que não seriam permitidos entrar. Era muita gente.
A enfermeira que estava cuidando dos bebês, me pediu para higienizar minhas mãos e retirar a roupa hospitalar que eu ainda usava.
Fiz o que ela pediu e voltei para pegar a minha filha. Eu não estava nervoso por pegá-la pela primeira vez. Pelo contrário, eu estava necessitando segurá-la, sentir o seu cheiro.
E sinceramente? Foi mágico.
Um momento maravilhoso. E eu só queria que Samira estivesse ali para dividir comigo aquela sensação.
Depois de cheirar minha filha e beijar sua cabecinha, fui até o vidro do berçário para apresentá-la para a nossa família.
Vi a emoção nos olhos das quatro pessoas que estavam ali.
— Quando ela fará os exames? — perguntei para a enfermeira depois de me afastar do vidro.
— Amanhã de tarde, pai — respondeu-me.
— Tudo bem.
Fiquei mais um pouquinho e depois precisei sair dali.
Não queria, queria ficar mais tempo com minha filha, mas precisava resolver as outras coisas.
Minha mãe e irmã se despediram, e foram para casa delas.
Mas antes, minha mãe me fez prometer que ligaria para ela quando já estivesse em casa.
— Vou com você Ian. Não adianta me impedir, é a minha filha e assim que ela nasceu, prometi que faria tudo o que eu pudesse ou não fazer — disse Tereza com a voz chorosa.
Seu rosto estava entristecido.
— Tudo bem — respondi.
Não ia contrariar sua vontade, ela tinha todo o direito de ir. Apesar de eu achar que ela deveria ir para casa e descansar, o dia de amanhã seria longo...
Mas não disse nada.
E então seguimos, eu fui em meu carro e eles em outro, até funerária da cidade para começar a resolver as coisas. Mas antes disso, fui conversar com o médico para pegar o atestado de óbito de Samira.
Eu pretendia voltar à noite para ver minha filha, sabia que não conseguiria dormir e eu não a deixaria por muito tempo sozinha naquele hospital.
Olá amores!
Como vocês estão? Espero que bem. O que acharam do primeiro capítulo de Acompanhante de Luxo? Espero que tenham gostado.
Votem e comentem bastante, adicionem na biblioteca e indiquem para as amigas.
Vejo vocês depois do fim das postagens de Não Desista de Nós.
Beijos, amo vocês! 🥰💜😘
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