[Dia 14]

O nome dele era Jeon Jungkook, bloquinho.

Eu não faço ideia de como descrever como me senti depois disso. Comecei a pensar que tinha enlouquecido de vez, que o garotinho poderia ser mesmo uma alucinação, que aquilo tudo seria apenas mais um sonho ruim... Eu realmente desejei com todas as minhas forças que tudo aquilo não passasse de um pesadelo.

Mas na verdade, tudo era bem real. Ele estava bem na minha frente, ainda com a canetinha preta em mãos, e me encarando. Eu ainda estava segurando a folha na frente do meu rosto, em choque, sem saber como deveria prosseguir.

Se "ele" sou "eu", então, eu não deveria sentir medo, certo?

Abaixei a folha até o meu colo, sem muita certeza ainda do que deveria fazer ou dizer, mas respirei fundo e apontei para os bonecos desenhados.

– você poderia me explicar o seu desenho, por favor? - disse num tom calmo, e logo vi o garotinho rabiscar outra folha branca, e a entregar para mim, logo depois.

Estava escrito: "me machucaram". E isso me fez refletir bastante, pelo fato de todos os bonecos estarem pintados de azul escuro. Mas o "pai" era um pouco menor do que a "mãe", por que?

Eu realmente não estava entendendo nada, mas queria entender toda aquela situação, antes que eu perdesse a cabeça completamente. Porque talvez, eu ainda não estivesse cem por cento maluco.

Devolvi a folha escrita para o garotinho e apontei para ela, mantendo minha voz controlada e a curiosidade também.

– por favor, me explique um pouco mais.. como eu posso te ajudar? - perguntei o encarando quase em desespero, sem saber ao certo como agir em meio aquela situação.

O pequeno "eu" me encarou por alguns minutos, talvez ele estivesse pensando no que eu havia acabado de falar, ou talvez, nem ele saberia como eu poderia ajudá-lo. Eu tinha tantas perguntas, mas ao mesmo tempo receio, não queria que ele me deixasse sem nenhuma resposta.

E então, ele começou a escrever, e parecia bem empenhado no que fazia. Eu apenas observava quieto, sem querer atrapalhar ou interromper, mas na esperança de que teria as respostas que eu precisava.

Quando ele acabou, me entregou a folha novamente, e me encarou com a canetinha preta ainda em mãos. Levantei o papel até a altura dos olhos e analisei cada palavra com cuidado, não querendo deixar nada passar despercebido. Ele havia feito um pequeno texto, dizendo que a "mãe" era a pessoa que mais o machucava, e por consequência, era o maior desenho na outra folha. Já a cor azul escuro, representava o tanto que ele se sentia machucado pela pessoa.

Era estranho como algumas coisas estavam começando a fazer sentido, e outras, acabavam ficando mais confusas.

Também estava escrito que o "pai" o machucava, mas em uma quantidade menor do que a da "mãe". Por isso ele era menor do que a "mãe" desenhada. Mas ainda me incomodava o fato de ter um terceiro boneco naquele desenho, escrito "eu". Aquilo poderia significar que o "eu" mais velho, estava machucando também o "eu" pequeno? Eu esperava que não.

Mas o garotinho apenas escreveu que "eu" estava o machucando também, mas não o mesmo tanto que a "mãe" o machucava.

Abaixei a folha até o meu colo mais uma vez e suspirei, estava surpreso, confuso, com um pouco de raiva e até me sentindo culpado. Eu não queria machucar aquele garotinho, o que eu estava fazendo? E como poderia protegê-lo?

Vi o garotinho soltar a canetinha preta e voltar a abraçar o ursinho de pelúcia, fazendo um pequeno bico nos lábios. Eu não sabia o que fazer, mas sabia que precisava resolver aquilo agora mesmo.

– me desculpe por te machucar, kookie. - disse por fim, abraçando o pequeno um pouco apertado, mas de uma forma que não iria machucá-lo. – eu não sabia que estava te fazendo mal, não foi de propósito. Você me perdoa?

Senti o garotinho me abraçar de volta, não tão apertado quanto eu, mas estava me abraçando, e confortável em meus braços. Isso me fez suspirar baixo, talvez de alívio ou ainda pela culpa, mas eu estava determinado, a partir daquele momento, de não machucar mais o pequeno eu.

– eu posso fazer alguma coisa por você, agora? - perguntei, esperando que ele pudesse me responder com a própria voz, dessa vez.

– mamãe. - ele respondeu, num tom baixo.

– você quer que eu faça as pazes com ela? - vi o garotinho apenas concordar com a cabeça, me encarando.

Fiquei meio perplexo pelo desejo do garotinho. No fundo, eu também queria fazer as pazes com ela. Também queria que tudo voltasse ao normal e que aquela situação toda já tivesse acabado, mas como eu faria isso?

– você está pronto? - perguntei uma última vez, já sabendo que essa não seria uma tarefa fácil, mas se era isso que ele queria, eu faria.

Ele apenas concordou com a cabeça, me fazendo suspirar baixo e assentir em resposta, também.

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