cap. vinte e cinco

Nox estava sentada ao lado de Peter no topo de um prédio, observando a cidade que se estendia abaixo deles. O silêncio pairava entre os dois, mas não era desconfortável. Pelo contrário, era um silêncio carregado de compreensão mútua, um momento de trégua contra o caos que os cercava.

Ela finalmente quebrou o silêncio, levantando-se devagar e ajeitando a máscara em suas mãos.

— Seus amigos viram. — murmurou, olhando para ele com um semblante sério. — E tem algo que você precisa saber.

Peter ergueu o olhar, confuso.

— O que é?

Nox hesitou por um momento antes de encará-lo diretamente.

— Você não trouxe só a mim e aos vilões, Peter. — disse, sua voz baixa, mas carregada de preocupação. — Você trouxe algo a mais.

Peter franziu a testa, sentindo um nó se formar em seu estômago.

— O que eu trouxe? — ele perguntou, a inquietação evidente em sua voz.

Antes que Nox pudesse responder, a voz familiar de MJ ecoou pelo ar.

— Peter! — MJ apareceu correndo, com Ned logo atrás dela. Ambos se aproximaram e envolveram Peter em um abraço apertado.

Peter tentou sorrir, mas seu olhar logo foi atraído para Nox, que estava olhando fixamente para o telhado de um prédio próximo. Seguindo seu olhar, ele viu as figuras de dois homens — dois outros Peter Parkers, cada um de um universo diferente, observando a cena de cima.

— Tem umas pessoas aqui. — MJ disse, apontando para eles.

Peter balançou a cabeça com frustração, afastando-se do abraço.

— Não! — exclamou, a voz carregada de determinação. — Vou fazer o que deveria ter feito desde o início. Vou mandar todos vocês de volta para casa. Eles são do universo deles, são problemas deles, não meus! Não me importa se eles morrerem ou não.

O grupo ficou em silêncio com a explosão de Peter. Nox deu um passo à frente, os olhos fixos no garoto.

— Peter... — ela começou, a voz calma, mas cheia de urgência.

— Eu deveria ter feito isso desde o início! — ele continuou, a voz tremendo. — Eles estão certos. Eu sou um erro.

O Peter Parker do universo de Nox, que estava observando tudo do telhado, saltou para o chão com um movimento ágil, pousando ao lado do garoto. Ele se aproximou devagar, os olhos cheios de compreensão.

— Não, Peter. — começou, sua voz carregada de empatia. — Você não é um erro. A única coisa que você fez foi tentar salvar seu universo. Até está tentando salvar inimigos que nem são seus. Isso não é um erro, é uma prova de quem você realmente é.

O Peter mais velho, o terceiro deles, se juntou ao grupo, pousando suavemente ao lado.

— Meu tio Ben costumava dizer... — começou o Peter de Nox. — "Se você puder fazer coisas boas para as outras pessoas, você tem a obrigação de fazê-las."

O Peter mais velho assentiu, completando o pensamento.

— Não se culpe por algo que não foi sua responsabilidade. Você fez o melhor que pôde, e isso é o que importa.

Os dois Peters trocaram olhares antes de falarem em conjunto.

— Com grandes poderes...

O jovem Peter completou a frase, com os olhos marejados.

— Vêm grandes responsabilidades. Foi o que a Tia May me disse... antes de tudo.

Nox permaneceu onde estava, observando a cena com atenção. De onde estava, ela podia ver algo claro como o dia: todos aqueles Peter Parkers tinham algo em comum. Eles eram definidos pelas perdas que sofreram. Cada um havia perdido alguém importante — um tio, uma tia, ou alguém que era a base de seu mundo. E, no final, todos carregavam o mesmo peso: estavam sozinhos, enfrentando o universo à sua maneira.

Ela respirou fundo, dando um passo à frente.

— Vocês não estão sozinhos. — disse, sua voz firme, mas suave. — Não precisam estar.

Os três Peters a olharam, surpresos por um momento, mas então assentiram lentamente. Porque, no fundo, eles sabiam que ela estava certa. Apesar das perdas, apesar do peso insuportável que carregavam, eles tinham uns aos outros agora. E isso fazia toda a diferença.

[...]

Nox piscou algumas vezes, tentando ajustar seus sentidos à iluminação fria e estéril da sala de química do colégio. As prateleiras de vidro alinhadas com tubos de ensaio e frascos rotulados pareciam surreais, como se ela estivesse presa em um cenário que não pertencia a sua realidade. Ao seu lado estavam os três Peters, MJ e Ned, todos empenhados em criar a cura para os seres multiversais que haviam surgido naquele complexo.

Enquanto os outros se concentravam na mistura precisa de reagentes e fórmulas rabiscadas em um quadro branco, Nox permaneceu sentada, posicionada atrás de seu Peter Parker. Ela observava com atenção o leve arquejo de suas costas enquanto ele trabalhava, mas seus pensamentos vagavam entre a complexidade de suas circunstâncias e a improbabilidade daquele encontro.

Peter Maguire quebrou o silêncio com sua voz grave e nostálgica:
— Você tem alguém? — perguntou, sua atenção voltada ao Peter de Nox.

O Peter Parker dela hesitou, a pergunta parecendo pesar no ar. Ele ergueu os olhos, apenas para olhar por cima do ombro na direção de Nox. Ela estava concentrada, mordendo de leve o lábio enquanto anotava algo em um caderno emprestado.

— É complicado — respondeu ele, desviando o olhar rapidamente.

Peter Maguire inclinou a cabeça, observando Nox com uma curiosidade cuidadosa.
— Ela veio de outro universo?

— Basicamente — respondeu Peter, soltando um suspiro que parecia carregar memórias inacabadas.

— A minha também — murmurou Peter Maguire, um leve sorriso surgindo em seus lábios. — Nebulosa é o nome dela.

Peter de Nox ergueu as sobrancelhas, genuinamente intrigado.
— É um bom nome. — Ele fez uma pausa antes de continuar, quase como se estivesse medindo as palavras. — Ela também é uma deusa?

Peter Maguire soltou uma risada suave, como se lembrasse de algo que ninguém mais ali poderia entender.
— Com toda certeza.

Os dois compartilharam um riso baixo e cúmplice, uma ligação inexplicável entre versões diferentes de uma mesma alma.

— A minha também — acrescentou o Peter de Nox, seu olhar suavizando enquanto ele, por um instante, contemplava a mulher sentada atrás dele.

Nox ergueu os olhos, captando o riso abafado entre os dois Peters.
— O que foi? — perguntou, sem esconder sua desconfiança.

— Nada — respondeu Peter Maguire, sorrindo de maneira enigmática. — Só reconhecendo um padrão.

Ned olhou para eles do outro lado da bancada, arqueando uma sobrancelha.
— Vocês, Peters, são mesmo cheios de mistérios.

MJ suspirou, cruzando os braços.
— E a gente aqui tentando salvar o multiverso enquanto vocês ficam filosofando sobre deusas.

Nox apenas balançou a cabeça, um sorriso discreto surgindo em seus lábios. Ela sabia que havia muito mais do que palavras naquele momento, mas decidiu deixar a conversa fluir. Afinal, o multiverso estava em jogo, e o tempo era precioso.

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