cap. dezoito
A voz de Harry parecia distante, um murmúrio que se perdia no ar enquanto Nox encarava sua xícara de café. As palavras dele chegavam até ela, mas sua mente estava longe demais para registrá-las. Pensamentos incessantes a consumiam, criando um bloqueio quase intransponível. Era como se o mundo ao redor tivesse desaparecido.
De repente, algo atravessou sua bolha de isolamento mental.
— E cachorrinhos dançando balé são muito fofos — disse Harry, com um tom levemente divertido.
Nox piscou, finalmente voltando à realidade, e o encarou com um olhar confuso.
— O quê?
Harry arqueou uma sobrancelha e inclinou a cabeça, claramente esperando uma resposta.
— Você não ouviu nada do que eu falei, ouviu? — Ele a encarou com uma mistura de exasperação e diversão.
Nox suspirou, um pouco constrangida.
— Desculpe... Estou longe. — Passou a mão pelos cabelos, tentando se recompor. — Pode repetir, por favor?
Harry colocou o copo de suco na mesa com um movimento controlado, mas carregado de intenção.
— Eu disse... — Ele a olhou nos olhos. — Eu acho que encontrei uma maneira de retardar a doença.
As palavras dele cortaram o ar como uma lâmina, puxando Nox completamente para a conversa. Ela largou o garfo que segurava, deixando o prato de lado enquanto o encarava, os olhos fixos nos dele.
— Mesmo? — Sua voz saiu rápida, quase ansiosa. — Como?
Harry hesitou por um momento, como se medisse o impacto de suas próximas palavras.
— Sangue do Homem-Aranha — disse, por fim, com firmeza.
Nox piscou, surpresa.
— Não entendo. — Sua testa franziu enquanto ela tentava processar a informação.
Harry inclinou-se levemente para frente, explicando com um tom mais calmo.
— Ele é geneticamente mutante. — Seus dedos traçaram a borda da xícara enquanto falava. — O sangue dele carrega propriedades únicas que podem me ajudar a retardar a doença... talvez até curá-la.
A ideia era tão inesperada que Nox riu, um som carregado de alívio e emoção.
— Isso é... fantástico, Harry. — Seus olhos brilharam por um momento, mas logo sua expressão tornou-se mais séria. — Mas...
— Mas como vou conseguir o sangue dele? — Harry completou, com um sorriso breve e sem humor. — Aí está o problema.
Ele pegou o jornal dobrado sobre a mesa e o abriu, revelando a manchete da manhã. No centro da página, uma foto do Homem-Aranha em plena ação, capturada com precisão.
— Conheço alguém que conhece o Homem-Aranha — disse ele, sua voz carregada de determinação.
Nox sentiu um calafrio percorrer seu corpo. Um pressentimento desconfortável a invadiu.
— Mesmo? Quem? — perguntou, tentando manter o tom casual.
Harry pousou o dedo sobre a linha de créditos abaixo da foto. O nome "Peter Parker" estava claramente estampado ali.
— Peter Parker — respondeu ele, convicto. — É fotógrafo. Ele trabalha para o jornal. Vou falar com ele ainda hoje.
Nox sentiu uma pontada de inquietação enquanto seus olhos permaneciam fixos no nome. Algo sobre a situação parecia errado, mas ela não queria transparecer.
— Quer estar presente? — Harry perguntou, segurando a mão dela com um toque gentil. — Quero que você veja isso. Você sempre esteve ao meu lado.
Nox hesitou, procurando por uma desculpa.
— Eu tenho uma reunião importante hoje. — Ela desviou o olhar por um momento, antes de encará-lo novamente. — Não posso, meu amor. Desculpe.
Harry apertou levemente a mão dela e sorriu, compreensivo.
— Tudo bem. — Ele levou a mão dela aos lábios, selando-a com um beijo carinhoso. — Eu entendo.
Enquanto ele voltava sua atenção ao café, Nox desviou o olhar para a janela, sua mente já traçando possibilidades. Algo lhe dizia que o encontro com Peter Parker não seria tão simples quanto Harry esperava, e ela não podia ignorar a sensação de que isso era apenas o início de algo muito maior — e potencialmente perigoso.
[...]
— Ele disse não. — A voz de Harry cortou o ar como uma lâmina, carregada de frustração e desespero.
Nox estava sentada na ponta da cama, os olhos fixos em um ponto invisível à sua frente. Suas mãos estavam juntas, os dedos entrelaçados com tanta força que os nós estavam brancos. A palavra ecoava em sua mente como um grito sufocado.
"Não."
Peter Parker havia dito não. Não para salvar a vida de seu melhor amigo.
Como alguém assim poderia ser chamado de amigo?
Harry suspirou, passando a mão pelos cabelos bagunçados, e sentou-se ao lado dela. Ele queria consolá-la, mas sabia que suas próprias emoções estavam à flor da pele.
— Eu preciso ir a algum lugar. — A voz de Nox soou baixa, mas firme, interrompendo o silêncio.
Harry ergueu os olhos para ela, preocupado.
— Quer que eu vá junto? — perguntou, o tom cuidadoso.
— Não, eu ficarei bem. — Ela se levantou abruptamente, pegando o casaco que estava jogado sobre a poltrona. Antes que Harry pudesse dizer qualquer outra coisa, ela já estava saindo do quarto.
...
A noite em Nova York era fria, e o vento parecia cortar sua pele enquanto Nox descia as escadas da residência Osborn e chamava um táxi. Entrando no carro, ela deu o endereço de Peter Parker com um tom direto, quase brusco. Durante todo o trajeto, seus pensamentos fervilhavam.
Como ele pôde?
Ele era o melhor amigo de Harry. Isso não significa nada para ele?
Quando o táxi parou em frente ao prédio modesto onde Peter morava, Nox pagou o motorista rapidamente e saiu do carro. Ela atravessou a calçada com passos decididos, seu coração batendo forte no peito. A raiva a movia, e cada segundo de espera parecia insuportável.
Ela tocou a campainha uma vez. Nenhuma resposta. Tocou novamente, desta vez mais insistentemente. Pelo vidro da porta, viu Peter se aproximar, hesitante, quase como se considerasse não atendê-la. Ele parou por um instante, respirou fundo e então abriu a porta.
— Nox? — Ele parecia surpreso e desconfortável ao mesmo tempo.
Ela o encarou com uma intensidade que parecia perfurá-lo.
— Você disse não? — Sua voz era baixa, mas carregada de fúria contida.
— Olha, eu... — Peter começou, mas Nox o interrompeu imediatamente, avançando um passo.
— Não, olhe você, Parker! — Ela apontou o dedo para ele, a voz elevando-se. — Harry está morrendo! Morrendo! — A última palavra saiu como um grito, seu tom quebrado pela emoção. — Você tem noção do que é ter apenas 20 anos e saber que vai morrer?
Peter piscou, claramente desconcertado, mas tentou manter a calma.
— Meu sangue pode ser tóxico para ele — disse, com a voz defensiva. — Pode matá-lo.
— Ele já está morrendo! — Nox rebateu, o desespero em seu tom fazendo Peter dar um passo para trás. — Seu sangue pode ser a única chance que ele tem. Você entende isso?
Peter balançou a cabeça lentamente, seus olhos carregados de culpa.
— Nox, eu... Eu sinto muito. — Ele suspirou, a voz falhando ligeiramente. — Não é tão simples assim. Se algo der errado, se meu sangue fizer mal a ele... isso estaria nas minhas mãos.
Nox estreitou os olhos, sua respiração pesada.
— Que tipo de amigo você é, Parker? — perguntou, sua voz quase um sussurro, mas com uma intensidade que o fez desviar o olhar. — Como você pode olhar para Harry, que confiou tanto em você, e simplesmente dizer "não"? Ele faria qualquer coisa por você.
Peter abriu a boca para responder, mas não encontrou palavras. O silêncio entre eles era tão denso que parecia sufocante.
— Sabe o que eu acho? — continuou Nox, sua voz agora cheia de desprezo. — Você tem medo. Medo de tentar. Medo de falhar. E, enquanto isso, Harry está lutando pela vida dele sozinho.
Peter fechou os olhos por um momento, como se estivesse tentando afastar as palavras dela. Quando os abriu novamente, sua expressão estava carregada de arrependimento.
— Eu não sou um herói perfeito, Nox. — Sua voz era baixa. — Eu só... Eu não quero piorar as coisas.
Nox deu um passo para trás, seus ombros caindo levemente enquanto tentava conter as lágrimas que ameaçavam transbordar.
— Ele não precisa de um herói perfeito, Peter. — Sua voz estava quebrada agora, cheia de dor. — Ele só precisa de você. E, francamente, ele merece mais do que um amigo que o abandona quando ele mais precisa.
Sem esperar uma resposta, Nox virou-se e começou a descer os degraus da entrada. O vento frio a envolveu novamente enquanto ela se afastava, deixando Peter sozinho, parado na porta, com o peso de suas escolhas pendendo sobre ele como uma sombra.
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