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11 de novembro de 2010

Hannah Grimes.

Viver em um apocalipse zumbi é exaustivo. Não que a vida que eu levava antes do fim não fosse, mas viver dia após dia com o aperto no peito e o pensamento de "será se estaremos aqui amanhã, ou um bando irá invadir nosso acampamento e matar todos?" É desgastante. Já se passaram semanas e não houve nem sinal de civilização em nenhum lugar do estado, o rádio continuava mudo e o silêncio chega a ser sufocante.


Agora, estou escorada em meu carro enquanto surto com o Glenn.

— são só algumas horas, Hannah – repetiu pela terceira vez. — eu volto antes do anoitecer.

— você pode não voltar, cabeça oca! – rolo os olhos

Glenn quer ir até a cidade, sozinho. Shane acha que é uma boa ideia, já que ele é o mais ágil para isso, mas para mim, mandar o Glenn para uma cidade cheia de podres é o mesmo que o jogar para a morte.

— não pode morrer, Glenn. O que eu falaria para a sua irmã se isso acontecesse? Não conseguiria mantê-la na linha por tanto tempo, eu surtaria.

— eu não vou morrer, Hannah. – fala passando a mão pelo rosto, tendo um pequeno surto — estamos ficando sem comida. Ou eu vou até a cidade ou todo mundo morre de fome.

— nós podemos caçar – rebato já sabendo que era mentira.

— ninguém além dos irmãos Dixon sabem caçar, Hannah.

— podemos aprender.

Glenn rola os olhos, talvez sua paciência já tenha ido embora há alguns minutos atrás. Suspiro em derrota ao reconhecer a verdade. Estamos prestes à morrer de fome, até mesmo as minhas comidas estocadas estão no fim.

— tudo bem! só prometa voltar inteiro e sem nenhum pedaço faltando, sem sangramentos e arranhões. – me rendo, coçando a testa.

Glenn sorri pequeno e me puxa para um abraço apertado. Eu realmente não gosto da ideia, mas sei que essa é a nossa única opção. Confio no Glenn, sei que ele irá voltar vivo e inteiro, e se não voltar, eu acabo com aquele policial desgraçado do Shane.

— fique inteira, e não inventa de entrar na mata sozinha.

Solto um riso nasal e finalizo o abraço, Glenn beija minha testa.

— volto antes do anoitecer, nem vai notar que eu estou fora, prometo – estica o mindinho. Dou risada, mas entrelaço o mindinho ao dele

— promessa de mindinho é sagrada, Rhee. Tome cuidado.

Não sei porquê me dei o trabalho de tentar segurar o Glenn aqui se ele já tinha as coisas arrumadas e um carro ao seu dispor. Assisto ele falar algo para a irmãzinha e adentrar o carro, arrancando dali em poucos segundos.

Daryl caminha até mim com a mesma expressão de sempre, está com sua besta nas costas pronto para uma caçada. Aposto que está saindo 'pra fazer isso agora mesmo.

— fala ai, loirinha – deu um meio sorriso, o que para mim já é muito se levar em conta que o sorriso de um Dixon é quase escasso. — o que tá pegando?

Daryl e eu nos aproximamos bastante nesses últimos dias e eu tenho que dizer, o cara é tão perfeito que chega a irritar. Daryl está sempre ali, cuidando de mim e impedindo que eu cause minha própria morte por uma razão idiota, o que o deixa irritado algumas vezes.

— o Rhee decidiu ir a cidade – bato o braço contra minha coxa — foi sozinho.

Daryl cerra os olhos, desconfiado.

— é perigoso, Daryl.

— tenho certeza de que ele sabe se virar, afinal não é a primeira vez que o garoto vai até a cidade.

Bufo, inconformada com aquilo. Daryl passa a mão pela minha cabeça, a aproximando de seus lábios e deixa um beijo casto em meus cabelos.

— ele vai ficar bem, você vai ver.

Apesar de sentir meu corpo inteiro vibrar com o seu toque em minha pele e a voz tão perto, eu me mantenho com os pés no chão e respiro fundo, dando um sorriso pequeno como resposta quando eu tenho borboletas cheias de glitter e flutuando em meu estômago.

— e você, onde vai? – indago ao cruzar os braços.

Ele disfarça olhando para as pedras ao redor, me fazendo o encarar ainda mais.

— Merle e eu vamos dar uma caçada – fala, recolhendo seu braço de meu ombro. — ouvimos dizer que estão racionando os enlatados e que metade da comida já se foi, combinei com o cabeça oca de irmos caçar esquilos.

— tomem cuidado – dou um sorriso sem dentes — diga ao Merle que o mandei ir a merda.

Daryl assente. Merle e eu sempre tivemos uma relação de amor e ódio, o cara é extremamente irritante a maioria das vezes e as piadas dele me dão embrulho no estômago, mas ainda assim o cara é foda e consegue ser um bom amigo quando quer. Merle é um bom irmão, ele é um ótimo irmão, e por este fato, eu tento suportá-lo.

[. . .]

Daryl Dixon.

Não sei ao certo o que sinto por Hannah, nem sei como o meu coração ainda acelera quando me aproximo dela, nem como o seu perfume ainda é o meu cheiro favorito. Ou talvez eu saiba e só não quero admitir. Ainda assim prefiro acreditar que o motivo para tudo isso é por estarmos no fim do mundo e não porque eu nunca consegui superar um namoro antigo de fundo de baú.

Merle e eu estamos na floresta há pouco mais que meia hora. Obunda mole já conseguiu um esquilo e se gaba por eu ainda não ter pego nada. Quando o assunto é caça a disputa para ser o melhor é acirrada ao extremo entre mim e Merle.

— e a Hannah? –  pergunta, quebrando o grande silêncio da floresta. Merle não é um idiota iniciante que acha que pode conversar tranquilamente durante uma caçada, ele sabe muito bem que deve permanecer em silêncio até o fim.

— está no acampamento.

Ouço sua risada sarcástica no pé de meu ouvido, me causando agonia. Eu realmente odeio as risadas do meu irmão, principalmente se o motivo for a perturbação do meu juizo fodido.

— você e ela voltaram?

— você e a Lara estão juntos?

Merle me lança um olhar zombeteiro. Parece que pressionei o lugar certo.

— Lara e eu somos um caso indefinido, você e Hannah já foram algo a mais.

— terminamos há quase quatro anos, qual o seu problema em superar um relacionamento que nem é seu?

— então só são amantes?

Bufo, sabendo que aquilo não iria parar. Ele sabe que odeio falar da minha vida pessoal, principalmente da Hannah, com qualquer pessoa que não seja invisível.

— somos amigos, Merle. Amigos!

Ele deu outra de suas risadas de quem desacredita da verdade. Alguém que parece ter uma escuta dentro da minha mente só para saber o que eu estou pensando o tempo inteiro.

— sabe o que acontece quando ex-namorados se tornam amigos? – vira o rosto para mim, seu sorriso cínico expõe os pensamentos nada convenientes. — recaída.

Tomara

— não seja idiota. A Hannah não quer nada comigo, sabe disso.

— sei mesmo? – levanta uma sobrancelha, me fazendo suspirar — o que eu sei foi o que Lara me contou, e não condiz com o que acabou de afirmar

Merle ganha minha atenção, ele solta uma risada baixa, me deixando ainda mais curioso.

— vai falar ou não vai?

— talvez, em uma conversa entre irmãs e a cunhada magricela, Hannah possa ter dito que veria até onde a amizade de vocês iria, então a mãe do garotinho murmurou um "para a barraca dele" e Hannah prontamente murmurou outro "tomara". – me olha — parece que ela não está afim? Porque para mim, me parece que os dois não superaram e querem um ao outro.

Merle nunca apoiou um relacionamento sério, ele dizia que mulher nenhuma poderia o segurar, muito menos me segurar, dizia que isso era bobagem, até ele ver o quanto a Hannah me fazia bem. Eu fiquei impressionado em ver o quão bem ela se deu com o meu irmão, eles viraram amigos em algumas semanas e quando eu pisquei, Merle estava dando risadas com ela em nossa cozinha.

— vocês deveriam se acertar. O mundo acabou, cara, e mesmo assim o universo resolveu dar outra chance a vocês dois sortudos do caralho – ele começa, a voz baixa por estarmos caçando — ela morava em Atlanta, quais eram a chance dela cair no mesmo grupo de sobreviventes que nós dois? Quais a chance que ela tinha de sobreviver se estivesse na cidade? Sabemos que a Hannah é estabanada, ela acabaria morrendo no segundo dia.

— não sei não – torço o lábio, analisando nossos pontos de vista. — ela é complicada.

— vocês são complicados – ele corrigiu — faça o que quiser, eu já expressei minha opinião, agora é com você.

Eu não costumo falar sobre a minha vida com ninguém, e era meio óbvio que eu não falaria meus sentimentos ao meu irmão mais velho. E mesmo não falando uma palavra sobre o que sinto, Merle sabe bem o que acontece, sei que sabe. O resto da caçada foi silenciosa, como deveria ter sido desde o início. Conseguimos uma boa quantidade de esquilos para alguns dias e um coelho bonitinho, carne no jantar.


Já era noite quanto voltamos para o acampamento, a fogueira estava ascesa e de longe eu podia ver Hannah com a sobrinha mais nova nos braços, ela conversava com a outra loira magricela que, atualmente, eu não me lembro o nome, enquanto jantavam ao redor do fogo.

Deixo os esquilos com o Merle e desço para o lago, com o intuito de me refrescar já que a noite estava mais quente do que o normal e eu estava realmente fedendo a suor. Fiquei ali por um bom tempo, quase meia hora, apenas apreciando o silêncio absoluto e o cantar dos grilos.

(...)

Deitado em minha barraca, escuto a movimentação ao lado de fora, passos pesados e delicados, os reconheço antes da voz suave e baixa chamar meu nome. Puxo o zíper da barraca, revelando Hannah parada em minha frente.

— você não jantou – fala, erguendo uma vasilha tampada com carne dentro — então eu pensei, já que sou uma boa amiga, vou guardar para ele e esperar ele voltar

Ela sorri docemente, fazendo meu corpo entrar em um pequeno surto interno. Estico o braço, alcançando a vasilha amarela.

— não seria uma desculpa para ver o meu lindo rostinho? – ergo uma sobrancelha, lhe dando um olhar zombeteiro.

— não se ache tanto, Dixon. – faz um bico debochado — e não, não foi. Eu arrumaria uma desculpa melhor se quisesse te ver

— suas desculpas não são muito impressionantes, Grimes. Sabemos disso – ela sorri.

Gosto de ver Hannah sorrir, me causa algo estranho no estômago que torna tudo ainda mais interessante. Como se ela já não fosse interessante o suficiente.

— seu modo de disfarçar também não são os melhores – deu de ombros, ela sorri divertida.

Meus olhos encaram seus lábios pequenos e carnudos que me atraem ao máximo. Sem pensar muito sobre o assunto puxo Hannah pela cintura, a fazendo entrar em minha barraca e colo seus lábios aos meus, iniciando um beijo lento e cheio de saudades.

Sua língua se encontra com a minha, se movimentando em uma perfeita sincronia. Sua mão esquerda está em meu rosto, o acariciando levemente durante o beijo enquanto eu tenho as mãos ao redor de sua cintura. Nos separamos apenas pela falta de ar, abro os olhos aos poucos, vendos o lindo par de olhos azuis me encarar enquanto um sorrisinho habitava seus lábios vermelhos.

— andou praticando ou eu só havia me esquecido o quão bem você beija?

— não estraga o momento, Isabel – sussurro, a beijando outra vez.

Beijar Hannah me causa um arrepio pelo corpo inteiro, um frio estranhamente bom na barriga e um choque em todo o corpo. Beijar a Hannah me trás um sentimento bom, tão bom que eu poderia repetir o beijo durante toda a noite.

Ok, eu admito, eu ainda amo Hannah Grimes.































Feliz natal, leitores<3 (p/s na minha cidade ainda é dia 25)

Finalmente esse beijo saiu, meus amigossss

Agora o cabaré se inicia emmmm

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