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─── capítulo 01 ───

Qualquer um que olhasse para mim nesse momento, veria o desânimo aparente em meu rosto. Toda a euforia e animação que eu sentia por me mudar para Londres, rapidamente se esvaiu quando me vi em uma situação custosa e cansativa para arranjar um emprego.

Como isso pode ser tão difícil?

Na realidade, não era para ser. É Londres. Uma cidade enorme, com várias lojas e lugares que necessitam de funcionários, mas a sorte decidiu não colaborar comigo, e de acordo com as minhas contas, eu já fui rejeitada quinze vezes.

QUINZE VEZES!!! Isso ultrapassa todas as normas de rejeição. Não tenho esse histórico de rejeição nem mesmo com caras, e olha que não sou nada boa no quesito flerte.

─── Relaxa Cindy, uma hora você vai arrumar um emprego. ── A voz de minha prima me tira dos meus pensamentos, me fazendo suspirar e tomar um gole do capuccino que compramos no café do shopping.

─── Será que o problema é o meu cabelo?

─── Em que lugar seu cabelo se encaixa nessa equação? ── Maxine franze as sobrancelhas.

─── Ele é loiro. As pessoas dizem que toda garota loira é burra. ── Passo a mão pelos meus fios loiros, esboçando uma careta. ─── O que é um puta de um preconceito. Minhas notas do Ensino Médio são todas acima de 8 e eu sempre fui a primeira da classe. Mas pensando bem... Acho que eu ficaria legal com cabelo ruivo, o que acha?

Calmamente, Max deposita seu croissant, quase acabado, no prato, em seguida me olha soltando um suspiro longo.

─── Você não vai pintar seu cabelo, fim de papo. Seja positiva, uma hora você encontra um lugar que esteja contratando.

Levantando os ombros, eu solto um murmúrio frustado.

─── Ser positiva não está na minha lista de qualidades.

─── Esqueci que você é capricorniana. ── Max revira os olhos em deboche.

─── E eu esqueci que você acha que sempre tem razão, não é?

─── Eu sou escorpiana, tá no meu sangue... ── Ela dá de ombros, sorrindo ladino.

Suspiro profundamente, murchando os ombros em derrota. Acho que o universo me odeia.

Me mudei há pouco mais de uma semana para o Reino Unido. Confesso que não foi nada fácil deixar meu querido território americano, e muito menos minha família. Mas após ser demitida do meu antigo trabalho, trancar mais uma faculdade ao qual eu percebi que não era pra mim e levar um pé na bunda do cara que eu amava - sim, esse fato com certeza é a cereja do bolo -, eu precisava esfriar a cabeça.

Para a minha sorte, Maxine se mudou para Londres aos dezenove anos, e por todos os 5 anos que esteve aqui, sempre deixou claro que eu seria bem vinda em seu apartamento quando quisesse. E finalmente, surgiu um motivo para aceitar seu convite. Deixei minha pacata vida em Atlanta e usei todas as minhas economias nessa viagem. Agora, mais do que depressa, preciso de um emprego que me faça receber de volta tudo o que gastei. Fora que, eu preciso me ocupar no período em que ficar aqui e também para conseguir ajudar Max no que ela precisar.

─── Realmente não há nenhuma chance de trabalhar com você? ── pergunto, mesmo já sabendo a resposta.

─── Cindy, eu trabalho numa livraria onde à cada três horas aparecem dois clientes. ── ok, isso é deprimente. ─── Então, tecnicamente, a Senhora Brown nem precisa de mim, mas me contratou porque está doente e não tem mais condições de cuidar do lugar sozinha.

Solto um murmúrio desanimado. Começo a passear o dedo pela borda da xícara de café, em sinal de distração.

─── Não vou poder ficar muito tempo em Londres se não começar a trabalhar. ── falo. ─── Não posso te deixar bancando tudo sozinha. Aliás, como é que eu voltaria pra casa sem dinheiro? ── arregalo os olhos. Eu não tinha pensado nisso... ─── Max, estou presa em Londres até ter dinheiro pra ir embora! Estou muito ferrada!

─── Credo, prima! Da forma que você fala parece que vou te chutar pra fora por não me ajudar a pagar a conta de luz.

─── E você não vai?

Maxine estreita os olhos para mim em uma expressão quase que ofendida.

─── Eu nunca faria isso com você, Cindy. ── ela pega minhas duas mãos e as puxa na sua direção. ─── O pior que pode acontecer é eu te deixar dormir no corredor. ── Ela ri de leve e eu logo percebo que está brincando.

─── Presta atenção, meu pai me deu o apartamento de presente, e meu salário na livraria cobre todos os meus gastos. Não ligo de pagar tudo sozinha até você achar um emprego, tudo bem?

Encaro Maxine relutante. Não queria ser um peso para ela e toda essa situação me deixaria desconfortável. Mas eu gosto de Londres e mesmo em pouco tempo já simpatizei com a cidade. Não queria ter que voltar pra Atlanta. Não ainda.

─── Tudo bem... ── Um sorriso se abre no rosto de minha prima, mas antes que ela diga algo, eu continuo: ─── Duas semanas. Se eu não conseguir emprego nesse tempo, eu vou embora. De um jeito ou de outro.

Ela revira os olhos mas balança a cabeça concordando.

─── Agora ── Max deixa o dinheiro do café na mesa e se levanta, pegando sua bolsa. ─── Vamos andar por algumas lojas.

Max recebeu folga da livraria em que trabalha, então viemos ao Westfield Stratford City, um shopping tão chique que me sinto uma intrusa no meio de tantos usuários da Chanel e Balenciaga. Mas ninguém precisa saber que minha bolsa com símbolo da Gucci é falsa. E também não precisam saber que paguei 15 dólares nela.

Hoje é uma quarta feira ensolarada apesar da sensação térmica ser de 20°C. Sério, Londres é a cidade dos sonhos, mas tinha que ser tão fria? Dizem que a época mais quente da cidade é em meados de julho e agosto, e faltam apenas algumas semanas para o mês de maio acabar. Só preciso aguentar mais um pouco fingindo ser a Elsa.

Solto um Ai quando um cara tromba no meu ombro e continua andando. Mal educado, penso.

─── Aqui é sempre tão lotado mesmo durante a semana? ── questiono à minha prima, observando ao redor a grande movimentação de pessoas e todo aquele falatório confuso.

─── Ouvi dizer que tem uma banda aqui fazendo sessão de autógrafos. ── ela responde, totalmente concentrada na vitrine da Victoria's Secrets.

─── Você conhece?

─── Não me lembro bem do nome... ── ela morde os lábios, como se estivesse forçando a lembrar. ─── The Vase, Van... The Valley?

─── Que tipo de banda se chamaria The Vase?

─── The Vamps. Esse é o nome.