01

Você pode me chamar de artista
Você pode me chamar de idol
Ou qualquer outra coisa
Eu não me importo
Eu tenho orgulho disso

Sem mais ironia
Pois eu sempre fui eu mesmo
Pode apontar o dedo pra mim
Eu não dou a mínima

Não importa qual seja
a sua razão para me culpar
Eu sei o que sou
Eu sei o que quero
Eu nunca vou mudar
Eu nunca vou negociar
Eu amo meus fãs, amo minha dança
e meu charme
Idol - BTS

🌑
Kim Seok Jin

Eu não deveria ter vindo pra essa festa.

Em vários momentos, fico pensando como tudo seria se eu fosse mais comunicativo e tão bom em fazer novas amizades.

Durante a maioria das vezes, os meus amigos mais próximos são os meus colegas de grupo, o meu irmão ou os meus pais. 

E confesso que chega a ser estranho, afinal tenho quase trinta anos.

Foi pensando nisso que aceitei vir para mais essa festa. Me preparei para me aproximar das pessoas e começar uma conversa.

Assim como fiz ontem, na festa de aniversário do Jungkook, mas a diferença é que todos os meus amigos estavam lá e me sentia bem confortável.

Agora, o fato de eu estar sentado numa mesa sozinho, com um copo de bebida, é uma explicação bem óbvia de que não deu certo.

Conheço apenas o anfitrião da festa, que não pode ficar sentado na mesa comigo só porque tenho uma timidez para lidar.

Dou mais um gole na bebida sem álcool, pois estou dirigindo e não queria pedir um motorista.

Hoje foi uma tentativa que deu errado. Mas não me sinto culpado. Sou tímido, faz parte de mim. Não é uma festa cheia de desconhecidos que vai mudar isso.

De repente, partindo os meus pensamentos, vejo uma movimentação do outro lado da festa.

Um grupo de pessoas acabou de chegar. As vozes das conversas aumentam e tento descobrir se conheço algum deles. Nunca vi nenhum antes, e isso me deixa desanimado.

Mas, logo fico distraído.

Uma menina caminha até o grupo, cumprimentando todos com um abraço apertado e animado. Ela sorri e faz gestos empolgados com as mãos.

Seu vestido preto justo de longas mangas combina com o coturno que está usando. O cabelo é o que mais chama atenção, além da beleza exorbitante.

Não é totalmente preto liso, e sim ondulado com mechas brancas.

Ela também não é uma menina como pensei, pois quando seu rosto fica bem visível pra mim no meio dessas luzes coloridas, vejo que talvez tenha mais de vinte e cinco anos.

Não que seja velha — muito pelo contrário — apenas tem um olhar maduro e firme.

Tão firme que, quando nossos olhares se encontram no meio da festa, sinto um leve arrepio.

Dou um sorriso de canto discreto, desviando primeiro para que ela não pense que estava encarando tanto.

A festa continua seguindo e a cada minuto que passa, tento não focar em sua direção toda vez que sinto seus belos olhos em mim.

Dou um gole na bebida, resolvendo conferir de novo. Noto que está conversando com um rapaz, mas de repente me encara, como se também sentisse algo.

Ela me lança uma piscada e sorri, fingindo voltar a ouvir o que rapaz diz.

— Olá de novo, Jin. Está se divertindo? — O anfitrião que me convidou surge, me assustando. Com certeza, estou me divertindo muito trocando olhares com essa garota desconhecida.

Sei da sua boa intenção em me convidar e como ficou alegre quando aceitei. Mesmo que ainda esteja considerando fazer patrocínio com esse restaurante, mudei de ideia sobre ter vindo.

— Estou sim, obrigado. A comida está ótima. Parabéns outra vez! — Eu digo, apontando para a acelga refogada muito bem temperada que escolhi para experimentar.

— Ah sim, eu que agradeço por ter vindo. É uma honra te receber. — Ele fala todo animado, juntando as mãos.

Faço um cumprimento ao mais velho e ele também, se afastando da minha mesa. Penso que devo continuar experimentando o kimchi tão bom.

É um prato típico coreano feito com acelga, gengibre e pimenta. Entretanto, nesse restaurante, foi feito com um toque especial que tento descobrir.

Quando estou prestes a fazer isso, alguém puxa a cadeira da minha mesa, parando bem em minha frente.

Levanto os olhos e vejo ela.

Annyon'haseyo. Posso me sentar aqui? — A garota pergunta, dando um sorriso com covinhas nas bochechas e esperando o que vou falar.

Fico impressionado em como de perto ficou ainda mais atraente.

— Claro, pode sim. — Informei, esperando que não tivesse soado meio desesperado.

Ela sentou e cruzou as pernas, colocando o copo que segurava na mesa ao lado do meu. Parece que está me admirando e faço o mesmo.

Seus olhos com o delineado ficam mais finos e me lembram um gato. Seu nariz fino é perfeito e sua boca tem um forte batom vermelho. Além das covinhas nas bochechas.

— Vi que está sozinho. Seu rosto é bem familiar, você deve ser famoso. Acho impressionante que sua mesa não esteja lotada de pessoas. Espero que não tenha problema eu ficar aqui um bom tempo. — Ela começa a dizer, notando os detalhes em mim.

— Não tem problema algum. E sim, pode me considerar famoso. — Digo sincero. Dou um sorriso ainda tímido.

Meu rosto está esquentado um pouco por perceber a forma que está me olhando. Agradeço a pouca iluminação que impede que ela note.

— Meu nome é Hye Ji Woo. Qual o seu nome, caladinho?

Dei risada com o novo apelido que já havia ganhado em tão pouco tempo.

— Meu nome é Kim Seok Jin. — Pensei se deveria falar mais.

Ela aumentou o seu sorriso ainda mais, apoiando o cotovelo na mesa e colocando a mão no queixo, parecendo interessada.

— Ah, você faz parte do BTS, certo? É impossível que ninguém tenha ouvido falar do seu grupo. Por que está aqui sozinho? 

Coloquei mais um gole de bebida na boca, pensando no que poderia responder.

— Queria dizer que tenho seguranças impedindo as pessoas de se aproximarem ou algo assim, mas a verdade é que pensam muito em mim como alguém intimidante. — Respondi o mais sincero possível.

Ela inclinou a cabeça, me ouvindo com atenção e interesse genuíno.

— A primeira coisa que pensei de você não foi que era intimidante. — Começou. — Foi que você é extremamente bonito.

Acabo dando uma risada ao ouvir aquilo. Ji Woo era bastante direta.

— Bem, obrigado. Escuto isso com frequência dos meus fãs. Sei que o problema de não ter muito amigos não tem relação nenhuma com a minha beleza. — Me garanti, dando de ombros.

Isso fez Hye Ji Woo rir, sacudindo um pouco o seu pequeno corpo e tampando a boca. A risada dela era tão engraçada quanto a minha.

Em certo momento, começamos a rir juntos, mesmo que nenhuma das nossas bebidas tivesse álcool. Eram verdadeiras risadas.

— Então, você se garante na beleza, mas não na conversa? — Ji Woo perguntou e continuou se abanando para se acalmar da crise de risos.

Afirmei, sorrindo de canto. Mexi com o garfo na acelga pela metade no prato.

— Você é realmente muito bonito e divertido, Seok Jin. Devia começar a pensar que se garante na conversa também. — Ela mesma me disse, tomando sua bebida.

— Você provavelmente pensa o mesmo de si, já que é extremamente linda, divertida e ainda consegue conquistar todo mundo. — Comentei, sem ter coragem de olhar em seu rosto.

Ouvi uma risadinha lhe escapar. Essa conversa acabou de cruzar a linha de perigo.

— Extremamente linda? Uau. Obrigada. — Ela virou todo o copo de bebida de uma vez e depois jogou o cabelo para o lado.

Esse simples movimento me fez perceber o colar que usava.

Havia um pingente de uma única asa de anjo em prata, que talvez fosse completado por alguém. Ou quem sabe, combine com seu nome.

Hye e Ji significam sabedoria e inteligência. Enquanto Woo significa intervenção divina.

Ela percebe que estou encarando a joia e toca com a mão de leve, como se tivesse esquecido que estava ali.

— Ah, isso? Foi meu pai que me deu. Era o colar dele. — Ela explica sem que eu precise perguntar nada.

— É muito bonito. — Eu digo, dessa vez olhando em seus olhos. 

Não desça o olhar. Não desça o olhar. Não posso olhar para seus lábios vermelhos.

— Obrigada. Podemos dividir o prato? — Ji Woo me questiona, antes que eu confirme, coloca um pedaço da acelga na boca.

Ela saboreia a comida e estendo meu garfo, indo pegar para comer também. No momento seguinte, estamos dividindo comida como grandes amigos.

— Com o que você trabalha? — Acabei perguntando e cedendo à curiosidade.

— Olha só, você finalmente me fez uma pergunta. — Percebe, rindo. — Sou fisioterapeuta. Trabalho no Hospital Universitário de Seul.

Não consigo esconder minha surpresa. Imaginei que ela pudesse trabalhar até demolindo casas, mas não em um dos maiores hospitais da cidade.

— Pela sua cara, não imaginava isso. Gosto de ver a reação das pessoas quando digo minha profissão. Não precisa me contar, eu sei que você é um idol com milhões de fãs. — Hye Ji Woo diz. Gosto que seja falante e sincera.

— Mas talvez não saiba que eu amo pescar e cozinhar no meu tempo livre. Se tivesse mais tempo, faria um curso de gastronomia profissional. — Acabei confessando.

Ela que parece surpresa dessa vez. Fico satisfeito com isso.

— Você é um homem muito interessante, caladinho. No meu tempo livre, eu gosto de cozinhar também. — Me contou. Parecia que eu desejava cada informação dela.

— Por isso está aqui? É patrocinadora desse restaurante? — Pergunto mais. Hye Ji Woo balança os ombros despreocupada.

— Algo do tipo. — Fala misteriosa, dando um aceno ao garçom para trazer mais bebida.

Ele vem estranhamente rápido demais e lhe serve educadamente. Quando me oferece, digo que não. Assim que o garçom vai embora, eu tento continuar a conversa.

— Eu não planejava ser idol. Pensei em ser modelo ou ator, mas quando conheci os meus colegas de grupo, foi impossível abandoná-los. Não me arrependo de nada. — Acabei dizendo. E não me sentia em uma entrevista.

Fico conversando tanto com Ji Woo que não vejo as horas passarem. A conversa é leve e divertida, aquecendo meu peito e esquecendo o quanto estava sozinho. 

Ela ri das piadas que conto e ouço suas histórias engraçadas sobre os pacientes do hospital. Sem perceber, estamos inclinados na mesa conversando sobre receitas.

Quando o anfitrião vem até mim, parecendo feliz por ainda me ver aqui, ignoro que deveria ir embora cedo por conta da visita que vou receber.

Olho em meu celular e vejo que agora já são exatamente onze e vinte da noite.

— Vejo que conheceu minha sobrinha, Hye Ji Woo. — O senhor Hwang diz, revelando.

Sendo pego desprevenido, começo a perceber as semelhanças das covinhas de Ji Woo e do dono da festa.

— Não sabia que ela era sua sobrinha, senhor Hwang. Mas sim, acabei de conhecê-la. — Não arrisquei dizer mais nada além disso.

Você trocou olhares e flertou com ela. Minha consciência me acusa.

— Woo trabalha no Hospital Universitário. Deu muito orgulho para a família ter conseguido tamanha honra. — Ele continua, tocando no ombro da sobrinha, que sorri tímida.

— Sim, eu imagino. É um hospital renomado. Ela me contou algumas histórias. — Dou um sorriso ainda sem graça.

— Contou? — O dono do restaurante encara encantado a sobrinha. — São realmente histórias muito hilárias. Fico feliz que os pacientes gostem tanto da minha Woo.

Além dos dois terem o mesmo sorriso — e pelo visto o mesmo sobrenome — se tratam com carinho. Fico pensando no que aconteceu com o pai dela que deu o colar.

 — Impossível não gostar dela. — As palavras saem da minha boca sem controle. Senhor Hwang ergue a sobrancelha desconfiado. 

Começo a suar frio. Ji Woo me observa curiosa. Um sorriso largo surgindo.

— Bem, infelizmente não posso ficar até o final da festa, está muito tarde e tenho um compromisso para ir amanhã.

— Claro, entendo! Espero que tenha se divertido. Deixe que eu coloco um pouco da comida para você levar. — Senhor Hwang se afasta devagar, indo até a cozinha que já visitei antes.

Eu e Ji Woo ficamos em pé. Meu rosto está quente de tanta vergonha.

— Esse tempo todo pensei que Hwang fosse o sobrenome dele. — Acabei comentando. Enxugo minhas mãos úmidas na calça jeans preta.

— Yong Hwang Woo. Ele não gosta do som de seu nome completo, por isso sempre se apresenta pelo primeiro nome. — Me explicou, apontando em volta. — Restaurante Woo é uma herança.

Sei que devia observar o lugar em volta que ela estava apresentando. Afinal, foi pra isso que vim.

Entretanto, a única coisa que conseguia perceber era que mesmo com seus coturnos altos, Ji Woo se tornava pequena perto de mim agora que ficamos em pé.

— Se quiser, posso te dar meu número. Assim te conto mais sobre o restaurante e a nossa história. — Como eu esperava, ela começa a falar de novo.

Sem esperar por minha confirmação, vai buscar sua bolsa na outra mesa e volta com o celular. Decido fazer o mesmo, tirando meu aparelho da calça jeans.

Gosto de como se incluiu na história do restaurante que um dia será dela. Gosto ainda mais de saber que não mentiu sobre amar cozinhar.

— Seu tio parece gostar de festas. Acha que vamos nos encontrar de novo? — Abri em minha lista e fui anotando o número que me mostrou.

— Com certeza vamos. — Ji Woo confirma, cheia de esperança.

Aceno em confirmação, ansioso por isso. Percebo que o senhor Hwang se aproxima.

— Aqui está, Jin. Volte para casa em segurança. Minha sobrinha irá te acompanhar até a porta. — Ele declarou, me dando um aperto de mão. Saindo para se despedir de outro convidado, não deixa outra opção. 

Eu e Ji Woo fomos andando juntos até a saída.

Paro em frente a porta que leva ao estacionamento. Ela para também, me olhando curiosa com a minha ação repentina.

— Vai me responder quando eu te enviar uma mensagem? — Fiz aquela pergunta boba. Ainda assim, tive que fazer.

Hye Ji Woo sorriu, inclinando um pouco a cabeça como se estivesse achando tudo isso muito interessante. Gostei da forma como me olhou sem julgamentos.

— Sou bastante ocupada com o trabalho no hospital, imagino que você é muito mais naquela empresa. Mesmo assim, vou te responder sempre. Deu pra perceber que amo conversar. — Me fez rir tranquilo.

— Serei compreensível, prometo. — Digo, abrindo a porta do restaurante.

Em certo momento, depois de anos como uma celebridade, você se acostuma com amizades em festas que duram apenas uma conversa.

Por isso, quando Ji Woo me segue até o estacionamento, deixo de ficar surpreso. Ela não parece ser o tipo de amizade de festa que vai desaparecer.

— É melhor eu ir até sozinho. Ser vista comigo não vai ser muito bom pra você. — Lhe explico.

Afinal, essa é a realidade da minha vida. Não queria que isso lhe afetasse tão cedo.

Ela faz o oposto do que eu espero. Hye Ji Woo continua seguindo bem ao meu lado e com um sorriso corajoso surgindo.

— Sabia que eu faço taekwondo? Aprendi uns golpes bem letais na última aula. Se alguma sasaeng vier nos atacar, eu te defendo. — Ela finge dar um golpe no vento.

Não consigo me controlar. Dou uma gargalhada, não apenas da sua ação, mas por querer me defender sendo tão pequena.

Claramente essa mulher é engraçada como eu. E ainda assim, somos tão diferentes.

Sigo para onde meu carro está. Ji Woo me acompanha até o momento que abro a porta do automóvel.

— Queria tanto te mostrar meus golpes, deixa pra outro dia. — Ela brinca, novamente me dando uma piscada. 

Agora entendo como meus fãs se sentem quando pisco para câmera.

— Foi muito bom te conhecer, Hye Ji Woo. — Estendo a mão, recebendo seu aperto firme.

— Eu digo o mesmo, Kim Seok Jin. Até breve. — Se despede, dando um passo para trás enquanto acena.

Entro no carro e ligo o motor, saindo do estacionamento. 

Ji Woo continua ali, me observando ir embora. Sigo a pequena viagem de volta para minha casa, com o sentimento de que deixei algo muito importante para trás.

Depois de poucos minutos chego em casa e pego logo o celular. Tento fingir que é apenas para confirmar o número, então mando uma curta mensagem.

"Olá. Sou eu, Seok Jin. Acabei de chegar em casa. Estou bem."

Fico pensando que ela não vai responder ainda hoje, mas então os pontinhos começam a se mexer na tela. Fico ansioso imediatamente.

"Nossa, foi rápido! Que bom que chegou em segurança. Aproveite sua acelga, fui eu que fiz."

Sempre cheia de surpresas. Pego a vasilha que o senhor Hwang me deu e dou mais uma mordida na comida.

Está muito bom mesmo. Faz sentido que seja sobrinha de um dos maiores cozinheiros da cidade.

"Deve ser a melhor acelga que já experimentei. Depois da minha."

Ela manda um emoji rindo e continua digitando.

"Espero muito te encontrar de novo, Seok Jin. Agora tenho que me despedir dos outros convidados. Boa noite!"

"Boa noite, Ji Woo. Também espero te encontrar de novo."

Ela manda uma figurinha engraçada de um gatinho acenando e percebo que estou sorrindo para tela do celular.

Desligo o aparelho e penso que passou da hora de dormir. Depois de tomar banho e colocar meu pijama azul favorito, fico deitado olhando para o teto.

Essa festa não foi tão ruim. Não foi mesmo. Talvez uma das melhores.

🌑

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