014. O Ideal
— Vou ligar para o Dinho.
Assim que estacionou no Parque Cecap, Giovanna remexeu na sua bolsa à procura do seu celular. Pegou-o e discou o número da casa do vocalista da banda.
— Antes eu duvidava, agora realmente estou achando que vocês têm um caso — enquanto a prima ligava, Raquel se soltou do cinto de segurança. Antes de descer, olhou para Giovanna, que já falava ao telefone com Dinho.
Enquanto se dirigiam para o apartamento, a policial ainda estava presa na ligação. Ela soltava algumas risadas de vez em quando, sinal de que estava se divertindo muito falando ao telefone com o amigo, e enquanto isso Raquel revirava os próprios olhos. Mesmo que achasse aquele lance de romance muito fofo, tinha para si que aqueles dois seriam um casal muito meloso.
Elas entraram no apartamento enquanto Giovanna ainda estava na ligação. Diante disso, todos os olhares se voltaram à ela.
— Por que a sua prima está rindo tanto? — Bento se aproximou de Raquel, porém o seu olhar curioso estava fixo na policial.
— Adivinha? — A sua resposta irônica não atingiu o guitarrista da forma como ela queria, a fazendo suspirar antes de responder. — Gio e Dinho são um casal muito chato.
— Mas a Gio não namora com a Cindy? — Ele fez uma expressão confusa.
— Namora. Mas quem disse que ela e o Dinho só podem ser um casal no sentido romântico?
Bento coçou a nuca após dar de ombros.
— Talvez faria mais sentido eles serem um casal no sentido romântico?
— Só por que a Giovanna é menina e namora outra menina? — A cacheada encarou o japonês com uma expressão confusa.
— Não! Longe disso! — Ele faltou erguer os braços para se redimir. — Um casal faz mais sentido serem namorados!
— Mas pode existir um casal de amigos, irmãos, vizinhos…
— Tá, eu entendi — já entediado com aquela conversa, ele desviou o olhar. — Eles não namoram.
— E também não tem chance disso acontecer, eu acho — a menina concluiu. — A menos que a Cindy dê um fora definitivo na Gio.
Antes que sequer pudesse observar a expressão que o guitarrista esboçou, Raquel foi puxada pelo braço para o sentido oposto do guitarrista. Era Samuel. Ele a puxou para um abraço forte.
— Você está bem? — Ainda agarrado com a menina, ele perguntou. — Eu fiquei tão preocupado.
— Eu estou bem — ela respondeu. — Mas você está me amassando.
Foi só dizer isso que o baixista se afastou dela, mas não muito, apenas o suficiente para a fitar nos olhos.
— O que aconteceu com você na rua?
— Ah, eu não sei bem… Foi só encontrar o pai do Dinho que eu fiquei emocionada. Acho que até demais, porque eu não costumo desmaiar.
— Todo mundo aqui ficou preocupado com você — quem respondeu foi o Sérgio. Ele chegou por trás do irmão e parou ao lado dele, apoiando o seu cotovelo na curva do ombro alheio. — A sua prima saiu correndo para ir te buscar.
— Eu não queria causar tanta comoção, me desculpem.
— Não tem com o quê se desculpar, relaxa — ele sorriu timidamente para ela, que retribuiu o gesto.
Foi neste momento que a conversa deles foi interrompida por um riso bem alto da Giovanna. Foi tão alto que foi o suficiente para fazer todo mundo voltar a sua atenção à ela, que agora estava sentada no sofá, ainda com o telefone no ouvido.
— Você não acha que está alegre demais para alguém que namora, Giovanna? — Sua prima a deferiu tal pergunta. Como resposta, a policial a encarou de uma forma negativa e ainda colocou um dos dedos sobre os lábios, pedindo que a Raquel fizesse silêncio. — Olha para você ver, ainda por cima manda a gente calar a boca — a cacheada falou de forma mais baixa, apenas para que os seus amigos ali perto escutassem.
— Você também é muito chata, tampinha — Samuel se aproximou da garota e apoiou o seu cotovelo por cima da cabeça dela. A sua altura avantajada lhe permitia zoar a garota dessa forma. — Deixa a mulher ser feliz.
Antes que Raquel pudesse pensar em responder alguma coisa para o baixista, a voz da sua prima preencheu o lugar de uma forma mais alta do que antes. Giovanna falava de modo que todos os presentes naquela sala também ouvissem.
— Pois bem, agora que você já sabe que eu cheguei em casa, me deixa desligar… Tem algumas pessoas aqui me enchendo o saco só por estar conversando no telefone contigo.
Ela lançou um olhar furioso na direção da prima e dos integrantes da banda e se levantou do sofá depois que disse tais palavras. Os encarados até estremeceram um pouco, no fundo, pelo jeito que a garota olhou para eles.
— Hehe, eu vou te ligar de novo quando puder. Ou você mesmo pode me ligar, agora que tem o meu número — enquanto todo mundo a encarava com medo, Giovanna disse para Dinho do outro lado da linha e sorriu ao final da frase. — Tá, tudo bem. Agora me deixa ir. Tchau!
E desligou.
Enquanto guardava o seu celular no bolso do seu short, ela respirou fundo para não acabar perdendo a paciência e falando demais pros outros quatro que estavam contigo. Ela reorganizou as palavras do esculacho que planejava dar neles, porém antes mesmo que pudesse lhes falar algo, alguém bateu na porta do apartamento.
Todos se entreolharam com uma expressão de "você esperava alguém?" nas faces. Ninguém precisava responder que não, estava nítido para todo mundo que quem quer que estivesse batendo naquela porta, era uma visita inesperada.
Mas alguém teria que abrir a porta. Mesmo que a visita fosse sem esperar, vai que alguém estivesse precisando de ajuda ou algo do tipo? Vai que um imprevisto aconteceu?
Quem tinha esses pensamentos era Giovanna. Como a boa policial que era, ela sempre pensava em todas as possibilidades de acontecimentos e nunca pensava duas vezes antes de ajudar alguém que precisasse da sua ajuda. Então, depois de um tempo e sem hesitar, ela foi até a entrada e a abriu, revelando uma mulher séria do outro lado da porta.
— Cindy.
A policial abriu um sorriso ladino depois que a asiática adentrou o seu apartamento, chegou bem pertinho dela e ficou nas pontinhas dos pés para alcançar altura o suficiente para deixar um selar nos lábios de Giovanna.
— Eu vim fazer um convite — a sargento disse assim que se afastou. Logo em seguida, voltou-se na direção dos mamonas que ali estavam e de Raquel e cruzou os braços na frente do peito. — Sábado agora eu vou fazer um churrasco no meu sítio, aqui pertinho. Acabei de convidar seus parentes — ela apontou para o Bento —, e eles toparam ir e chamar alguns caras que trabalharam com vocês no passado. O que acham de fazerem uma surpresa pro povo e tocarem na festa? Já vou logo avisando que ninguém vai receber cachê por isso.
Os meninos se entreolharam e não demorou para que um sorriso travesso surgisse nos lábios de cada um deles. Cindy entendeu aquele gesto como um "sim" coletivo. Então se virou para a policial novamente, com os dizeres:
— Você avisa o resto. O show vai começar ao meio dia.
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