BÔNUS²
CAPÍTULO BÔNUS:
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A dor de Leah.
Leah Clearwater se jogou na cama, com o rosto afundado no travesseiro, sentindo como se o peso do mundo estivesse sobre suas costas. Os lençóis já estavam úmidos pelas lágrimas que ela nem mais fazia questão de conter. Sua mente insistia em revisitar cada detalhe doloroso, como se quisesse torturá-la um pouco mais.
Sam. A imagem dele invadia seus pensamentos com uma brutalidade que a deixava sem ar. Ela se lembrava do tempo em que tudo era simples, quando ele a abraçava e o futuro parecia seguro. Ela acreditara, de coração, que passariam o resto da vida juntos, construindo algo sólido, algo que sobrevivesse às tempestades. Mas ela não previu o terremoto que viria.
Ele a deixou. Sem aviso, sem explicações. Sumiu por semanas, e ela, preocupada, o procurou, foi atrás dele em todos os cantos da reserva, desesperada por alguma resposta, por qualquer sinal de que ele estava bem. Como uma idiota. Agora ela sabia.
E então, como um fantasma, ele reapareceu ─ não como o homem que ela conhecia, mas como uma sombra, uma versão distante dele mesmo. Sam não apenas voltou para partir o coração dela, mas para arrancar dele tudo o que restava. Ele confessou, com uma culpa envergonhada nos olhos, que agora amava Emily, sua prima e melhor amiga.
─ Eu sinto muito... ─ Ele dissera naquela noite, com a voz baixa, como se aquelas palavras vazias pudessem suavizar o impacto.
Mas não suavizou. Nada poderia.
A dor explodiu dentro dela, cada palavra dele era uma punhalada. Leah sentiu seu mundo despedaçar-se ali mesmo, na frente dele, na frente de quem ela achava que a amava.
Amava, pensou Leah com desgosto, segurando o travesseiro com força. Ela amava Sam. Amava tanto que seu coração parecia estar sendo comprimido, esmagado pelo próprio peso desse amor não correspondido. Mas o ódio crescia junto, misturando-se a essa dor e criando um veneno corrosivo. Ela o odiava, odiava tudo o que ele havia feito, e, mais ainda, odiava Emily. A traição dela, a traição de uma irmã de coração, doía tanto quanto a de Sam, talvez até mais.
Ela apertou os olhos com força, como se isso pudesse bloquear as memórias. As semanas após a confissão dele foram um borrão de dor e humilhação. Cada vez que via Sam e Emily juntos, um pedaço de si se despedaçava ainda mais. A vida que ela tinha sonhado, os anos que passara ao lado dele, tudo se desfazia como cinzas ao vento.
Era ridículo e surreal como depois tudo, todos agiam como se fosse a coisa mais natural do mundo. Como se fosse fácil seguir em frente e ignorar todos os anos que ela passara apaixonada por Sam Uley. Como se ela fosse a amargurada que não entendia o amor verdadeiro. Foda-se o amor verdadeiro! Leah quis gritar. Eu o amei verdadeiramente e o que ele fez? Arrancou tudo de mim! Não. Ela jamais trataria aquilo como natural.
Pensava que nada poderia ser pior do que a forma como eles haviam partido o seu coração, e então, como se o destino quisesse provar que as coisas podiam piorar, Harry Clearwater morreu. A morte do seu pai foi o golpe final, o que a empurrou para um abismo de escuridão. Leah sabia que nunca mais seria a mesma depois disso. Não havia mais espaço para sentimentos leves, para felicidade. Só restava a amargura e o vazio. A dor da perda.
O luto consumia sua alma, e com ele, uma nova revelação veio à tona: as lendas que sempre ouvira, aquelas histórias sobre os lobos, não eram apenas mitos. Ela agora fazia parte delas. Como se seu mundo já não estivesse confuso o suficiente, Leah havia se transformado em um lobo gigante, assim como seu irmão mais novo, Seth, que ao contrário dela, parecia ter aceitado toda essa loucura bem até demais.
No início, ela achou que havia enlouquecido. As transformação fora dolorosa, violenta, e a sensação de perder o controle a apavorava. Mas nada, absolutamente nada, a preparara para a humilhação de ser obrigada a fazer parte da mesma matilha que Sam. Pior ainda, de ter que vê-lo ao lado de Emily, enquanto sua própria vida se despedaçava ainda mais a cada encontro.
A voz de sua mãe ecoava em sua mente, sempre falando sobre como era importante se juntar à matilha, sobre como eles a ajudariam a controlar suas transformações. Mas Leah não se importava com isso. Ela não queria ajuda. E, principalmente, não queria estar perto de Sam e Emily.
Nunca.
Se lembrava da voz insistente da sua mãe lhe pedindo para reconciderar, para se juntar a matilha de Sam.
─ Leah, Sam é o alfa. Ele pode te ajudar a controlar isso, assim como ajudou os outros garotos e a Robin. Você não pode correr o risco de machucar alguém… como ele machucou Emily. ─ Ela dissera com preocupação.
Leah, no entanto, mal conseguiu conter o desprezo em sua resposta.
─ Talvez ela tenha merecido isso. ─ Respondeu com um sorriso amargo, mais para si do que para sua mãe.
Ela pode ver perfeitamente o choque nos olhos da mulher, mas não se importou. O que ela deveria dizer? Que sentia muito? Porque ela não sentia. Ela mesma despedaçaria os rostos dos dois, mas eles não valiam apena.
O que importava? O resultado era o mesmo. Seu coração estava despedaçado, e sua vida, uma ruína.
Leah rolou na cama, fitando o teto. A sensação de vazio dentro dela só crescia, misturada com a raiva. Ela não podia suportar viver assim. Não mais. Não queria ser parte dessa maldita matilha, não queria estar perto de Sam ou de Emily.
─ Eu não vou passar por isso. ─ Murmurou para si mesma, a voz rouca e embargada pelas lágrimas. ─ De jeito nenhum.
A Clearwater se sentou na cama, enxugando as lágrimas com raiva. Ela precisava de uma solução, algo que a tirasse dessa prisão emocional. Não importava o que os anciãos ou sua mãe dissessem. Ela não seria subjugada, não deixaria que Sam ou qualquer outra pessoa ditasse o que ela deveria fazer ou o que deveria aceitar.
. . .
Leah Clearwater encarou a garota à sua frente, uma sobrancelha arqueada, avaliando Robin Miller com uma mistura de ceticismo e curiosidade. Elas estavam sentadas na lanchonete em que em que a Clearwater trabalhava. O horário de pico já havia passado e o lugar estava quase vazio, por isso não teve desculpas para não receber a Miller. Infelizmente seu próprio gerente havia a liberado.
Ela queria xingá-la e botá-la para correr, como fizera quando Seth tentou convencê-la a "para de ser cabeça dura e se juntar a matilha de uma vez", palavras do mesmo. Mas Robin parecia diferente. E esse era o problema.
─ Olha, acredite, eu entendo o que você passou com Sam e Emily, mais do que pode imaginar ─ Robin começou, a voz firme, mas cheia de compaixão. ─ E sim, sei que conviver com um traidor desgraçado pode ser odioso e que muitas vezes tudo o que queremos é abocanhar a cara dele e...
Ela parou abruptamente. O tom, antes empático, ficou carregado de uma emoção que Leah reconheceu de imediato. A raiva. Mas havia algo mais nas palavras de Robin que soava pessoal demais, como se estivesse falando de suas próprias feridas. Leah se segurou para não rir, surpresa pela intensidade da garota.
Robin, por sua vez, percebeu o deslize e tentou se recompor.
─ Desculpe, eu exagerei um pouco ─ Admitiu com um sorriso amarelo.
Leah balançou a cabeça, desta vez séria, seus olhos escurecendo ao se fixarem nos de Robin.
─ Não. Você não exagerou. É exatamente isso que eu iria querer fazer se tivesse que ver esses dois na minha frente de novo.
Cada palavra da Clearwater estava impregnada de amargura, o que só fez Robin se encolher internamente. Ela sabia que havia tocado em uma ferida aberta.
Ela não podia fingir que sabia exatamente o que Leah sentia, mas entendia o suficiente para se compadecer. Entendia que para Leah seria o inferno ter que conviver com Sam e Emily todos os dias. Ao mesmo tempo em que entendia que a matilha havia a ajudado a controlar o monstro dentro dela. Mas, ainda assim, não se achava a melhor opção para convencer Leah a se juntar a matilha.
Um silêncio tenso se instalou entre as duas, até que ela ouviu Leah sussurar algo baixinho.
─ Além de tudo é um covarde...
Robin levantou o olhar, embora soubesse a quem Leah se referia. Queria que a garota esclarecesse.
─ O quê? ─ Ela perguntou.
Leah suspirou, seus olhos cheios de ressentimento.
─ Sam. Ele te mandou aqui para tentar me convencer a me juntar à matilha. É típico dele. Um covarde de merda.
A raiva estava presente em cada palavra. Robin sentiu um peso familiar no peito. Tinha sido mandada para isso, claro, mas não era apenas isso. Ela queria, de verdade, ajudar Leah, mesmo que as circunstâncias fossem uma merda.
─ Eu sinto muito. ─ Disse Robin, em um impulso, tocando de leve a mão de Leah sobre a mesa.
Leah olhou para o toque, seus olhos castanhos se fixando nas mãos de Robin por longos segundos. Robin se questionou se tinha ido longe demais, invadido o espaço de Leah sem ser convidada. Rapidamente, retirou a mão, temendo que aquele gesto, por mais genuíno que fosse, pudesse romper a frágil linha de confiança que começava a se formar entre elas.
─ Se você quiser se juntar à matilha ─ Continuou Robin, tentando manter a calma ─ eu estarei lá. Vou fazer de tudo para que seu tempo com a gente seja o menos desconfortável possível.
Robin sentiu o peso das próprias palavras, desejando que Leah acreditasse nelas, que pudesse sentir que, diferente de Sam, ela não estava ali apenas por obrigação. Mas o silêncio de Leah era ensurdecedor. Seus olhos permaneciam indecifráveis, mesmo que a dor em seu rosto dissesse mais do que qualquer palavra.
─ Mas, ─ Robin retomou, não querendo deixar a conversa morrer ali. ─ se for demais para você, eu ainda assim estarei aqui. Se precisar de ajuda com as transformações... ou se só quiser companhia para correr por aí e extravasar a raiva.
Ela tentou um sorriso, esperando quebrar o gelo. Leah franziu o cenho, confusa.
─ Por que faria isso? ─ Perguntou a Clearwater genuinamente curiosa.
Robin respirou fundo, ponderando sua resposta por um instante antes de finalmente dizer:
─ Bom, eu preciso de uma amiga. ─ Ela se levantou da cadeira, ajeitando a alça da bolsa no ombro. ─ E algo me diz que você também.
Leah ficou quieta, a testa ainda franzida enquanto observava Robin. Havia algo na sinceridade da garota que a incomodava. Era como se Robin não tivesse segundas intenções, e isso era difícil de engolir. Em seu mundo, confiança era algo frágil demais para ser dado de graça.
Robin pegou uma caneta e anotou algo no guardanapo sobre a mesa, estendendo-o para Leah.
─ Esse é o meu número. Me ligue sempre que precisar de uma amiga. ─ disse com um sorriso genuíno, antes de se virar e caminhar até a saída.
Leah observou Robin se afastar, ainda confusa. A proposta da garota parecia genuína, e essa era justamente a parte que Leah não conseguia entender. Por que alguém se importaria? Ela balançou a cabeça, apertando o guardanapo entre os dedos, sem saber se deveria rir ou simplesmente descartar aquela oferta como uma tentativa patética de amenizar sua dor.
Olhou para o pedaço de papel. O número estava lá, rabiscado com pressa, mas ainda legível. Leah sentiu o impulso de amassar o guardanapo e jogá-lo fora, mas algo dentro dela hesitou. Ela tinha dito que odiava Sam e Emily ─ e não era mentira ─ mas o que Robin falara despertava outra verdade que Leah relutava em admitir: a solidão.
Por fim, ela dobrou o guardanapo com cuidado, guardando-o no bolso. Talvez, um dia, ela ligasse. Talvez.
Ou talvez não.
Quando o som do sino da porta soou novamente pela lanchonete, Leah ergueu os olhos novamente, esperando ver Robin de volta, talvez para pegar algo que tivesse esquecido. Mas não era Robin.
Um homem havia entrado.
Ele era alto, com uma postura confiante. Seu cabelo escuro estava perfeitamente arrumado, mas com um ar de casualidade, como se ele não precisasse se esforçar para ser impecável.
Ele era nitidamente bonito, e pelo perfil ele parecia ter traços asiáticos, detalhes que Leah notou de imediato, mas não deu importância. Ou ao menos tentou não dar. O olhar da Clearwater estava mais focado na saída rápida que planejava fazer dali do que no desconhecido que acabara de entrar.
Porém, quando os olhos dele se encontraram com os dela, o mundo parou.
Foi como se uma força invisível, antiga e implacável, tivesse puxado o chão sob seus pés. Leah sentiu o ar se esvair dos pulmões, seu coração disparando com uma intensidade que a pegou completamente desprevenida. Tudo dentro dela mudou. O que era aquela sensação? Ela mal conseguia pensar, mas sabia. Imprinting.
Seu corpo, seus sentidos, sua alma... tudo parecia ter sido arrastado em direção a ele, como se ele fosse o centro do seu universo naquele momento. A palavra ecoou em sua mente como um trovão, e o desespero começou a tomar conta. Não, isso não pode estar acontecendo...
Ela, Leah Clearwater, que jurara jamais se permitir amar de novo, que suportara a dor de perder Sam para o imprinting, estava agora vivenciando o mesmo destino cruel que tanto amaldiçoara. E o pior: com um completo desconhecido. Um homem que ela nunca tinha visto na vida.
Seus olhos se fixaram nos dele, o mundo ao redor dissolvido, os sons da lanchonete abafados como se tudo estivesse longe demais. Seu rosto era uma obra de arte esculpida em linhas afiadas e traços perfeitos. As maçãs do rosto eram altas e bem definidas, enquanto o queixo afilado e o maxilar esculpido complementavam a simetria impecável. Os lábios eram finos e bem delineados, a cor suave, quase sutil demais em comparação com o restante de sua aparência marcante. Seus olhos eram profundos, dois abismos escuros que Leah sabia, estava prestes a se perder.
Definitivamente o homem mais bonito que vira em toda a sua vida.
Leah tentou afastar o olhar, se forçar a quebrar aquele laço estranho que se formava entre eles, mas era impossível.
O desespero tomou conta da Clearwater quando ele decidiu se aproximar.
Merda. Merda. Merda, Leah praguejava mentalmente, tentando reunir qualquer migalha de autocontrole. Isso não pode estar acontecendo.
─ Oi... ─ Ele começou, a voz baixa e suave, mas com uma certa hesitação. ─ Você está bem?
Leah o encarou por um segundo que pareceu uma eternidade. As palavras estavam presas em sua garganta. O que ela poderia dizer? "Oi, sou uma loba e acabei de ter um imprinting por você?"
Ela respirou fundo, tentando manter a calma. Seu corpo inteiro tremia com a intensidade do que estava sentindo. Ela precisava sair dali. Precisava pensar, se afastar.
─ Claro, claro. Estou bem. ─ Ela finalmente conseguiu dizer, embora tivesse soado tão idiota, ao seu ver.
Ele estreitou os olhos em sua direção, Leah estava quase tendo um colapso nervoso.
─ Leah, ─ Ele murmurou seu nome e só então ela percebeu que ele estava lendo o seu crachá. ─ Você trabalha aqui, certo?
─ Ah, sim! Claro. Desculpe.
Ele balançou a cabeça.
─ Tudo bem, será que pode me arrumar uma mesa?
─ É claro! Me acompanhe. ─ Ela sinalizou com a mão. Seu coração ainda desparado.
Que merda acabou de acontecer aqui?
Sem revisão.
Relevem os erros ortográficos.
Oioi, amores!
Finalmente dei as caras por aqui.
Parece que uma certa lobinha já teve um imprinting...😏
(Será que vem spin-off por aí?
Então, estou organizando um cronograma para TENTAR atualizar as fics disponíveis no perfil semanalmente.
Vou fazer de tudo para manter o foco e terminar as fics que estão no perfil, aí conforme eu for terminando as fics, eu voltarei com as demais gradativamente.
Enfim, espero que gostem do capítulo. Pretendo postar o próximo amanhã, então até lá.
Xoxo!😚👋🏼💖
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