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O olhar de Melody estava fixo sobre o exemplar de "Chronicle of the Pharaohs" que segurava em uma das mãos enquanto mordiscava a parte traseira da caneta de metal, deixando o objeto com algumas marcas. Sobre a mesa estavam espalhados muitos outros livros relacionados ao seus estudos, anotações e o notebook aberto num artigo deveras interessante publicado por seu ex-orientador, ela teria bastante trabalho para arrumar toda aquela bagunça antes de sair. Seus cabelos que antes estavam presos num rabo de cavalo, agora caiam como cascata nos ombros e o elástico vermelho apertava o pulso.

Melody estava tão concentrada em seus estudos que não chegou a notar que o dia havia partido e a noite abraçava o mundo ao seu redor, diminuindo o barulho da movimentada Nova York. Ela espreguiçou na cadeira de modo desajeitado e retirou os óculos de descanso que utilizava apenas para leitura, colocando o objeto em cima de suas anotações.

— Preciso respirar um pouco, caso contrário não sairei disso. — Resmungou a jovem pondo-se em pé.

O cheiro de naftalina exalado pelos livros e produtos antimofo estavam incomodando seu nariz e fazendo seus olhos arderem, além de causarem dor de cabeça quando combinado com seu bloqueio criativo. Ela espreguiçou pela segunda vez, esticando os braços e tocando as pontas dos pés com os dedos das mãos. Graças as sessões de Yoga sua flexibilidade continuava intacta.

Largando a bagunça em cima da mesa do escritório do tio, ela colocou o celular no bolso da calça junto com as chaves da porta, a qual trancou assim que deixou o aposento. Não que Larry pudesse roubar qualquer coisa que tivesse, mas odiaria vê-lo remexer sua pesquisa antes de estar devidamente pronta para enfrentar uma bancada. 

Desenrolou com um pouco de dificuldade os fones de ouvido e plugou na entrada do celular, ao notar que ambos os lados estavam pegando ela colocou uma playlist animada para tocar. Melody era o tipo de pessoa que possuía uma playlist para cada ocasião de sua vida, desde seus momentos de estudo até faxina. O som ressoava alto dos fones, impedindo a mesma de escutar qualquer ruído externo que não fosse suas canções favoritas.  Ela sabia que aquilo um dia arruinaria sua audição, porém não importava, pois aquele era seu único prazer fora dos estudos. Fosse na escola ou na faculdade, Melody não possuía muitos amigos e evitava festas, mantendo o foco no futuro perfeito que planejava. Qualquer coisa que pudesse arruinar seus planos era colocado em segundo plano, incluindo todo tipo de relacionamento existente. Primeiro ela, depois os outros.

Com a voz graciosa de anos frequentando o coral do colégio, Melody começou a cantarolar "Only The Good Die Young" do Billy Joel enquanto saltitava alegremente pelas galerias do museu. Sua atenção era focada somente na música e em sua coreografia, parando no caminho algumas vezes batendo palma acima da cabeça e requebrando o quadril, imaginando estar presa dentro de um clipe musical. Ignorava completamente o fato de que os quadros pendurados nas paredes e algumas esculturas haviam ganhado vida e a assistiam dançar e cantar pelos corredores no ritmo da música. 

Ao virar para a direita em um dos corredores, entrando saltitante no novo ambiente, a jovem mulher acabou esbarrando na estátua dourada de Colombo, quase caindo sobre a mesma enquanto derrubava um dos seus fones de ouvido.

— Desculpe por isso, Colombo! — Pediu Melody gentilmente, como se estivesse conversando com alguém vivo e normal, seguindo seu caminho animado. Entretanto ao dar alguns passos a frente, ela repensou sobre seu ato e virou para trás em busca da estátua, a qual já estava fora de sua vista — Okay... Eu acho que estou ficando louca! Deveria ter ouvido titio, preciso MESMO descansar.

— Falando sozinha? — Perguntou Larry após trancar a área dos animais empalhados. 

— Ah! Oi, Larry! — Melody desligou o som do celular e guardou no bolso os fones de ouvido. — É um costume meu.  Aconteceu um negócio engraçado agora, acho que devo estar ficando louca.

— Que negócio? — Larry parecia levemente aflito ao fazer a pergunta.

— Tive a impressão que esbarrei no Colombo, tipo, na estátua do Colombo. Mas ela não estava no corredor. — Ela soltou um riso fraco. — Isso é tão estranho.

— Sobre isso...

Melody não permitiu que Larry prosseguisse com seu discurso, interrompendo o segurança quando uma movimentação estranha dentro da ala dos animais empalhados chamou sua atenção.

— Larry, tem algo estranho com os animais. — Seus olhos estavam fixos do outro lado da grade recém trancada. Lentamente ela aproximou da mesma. — É como se eles estivessem. AI MEU DEUS.

Os olhos da garota arregalaram enquanto ela pulou para trás, ficando mais pálida que uma folha de papel. Os animais não estavam parados como deveriam estar, mas VIVOS, como se nunca tivessem morrido e sido empalhados. Ela mordeu o lábio inferior e sentiu as mãos gelarem, desacreditando do que estava vendo.

— Larry, o que está acontecendo aqui? — Ela perguntou aflita enquanto se virava na direção do segurança.

— Então, sobre isso...

— Olá, a senhorita deve ser a senhorita McPhee. — Um homem montado em um cavalo e utilizando vestes do exército aproximou dos dois, interrompendo a explicação do Larry mais uma vez. Em sua garupa havia uma índia, ela segurava firmemente em sua cintura — Eu sou Theodore Roosevelt, vigésimo sexto presidente dos Estados Unidos e essa é Sacajawea, estávamos ansiosos para lhe conhecer.

— Você dança e canta muito bem — Elogiou Sacajawea sorridente.

Assustada, Melody andou alguns passos para trás, afastando do cavalo e das estátuas de cera que pareciam pessoas reais. Ao fazer isso ela deu com as costas em Átila, o Huno, o qual resmungou algo em sua língua natal. Como se tivesse lembrado como respirava, Melody juntou todo o ar no pulmão e soltou um grito estridente enquanto corria em direção a saída. 

— Eu pedi para que esperassem, ela não está acostumada com isso. — Comentou Larry aos seus amigos do museu. — Mas não me ouviram, tinham que assustá-la.

— Estávamos curiosos para conhece-la, já que a jovem fará parte de nossa equipe noturna. — Falou Teddy sorridente.

— 'Tá, 'tá! Agora vamos atrás dela, pelo menos não lhe dei a cópia da chave da porta de entrada. — Suspirou Larry aliviado, se ela abrisse a porta e seria provável que os neandertais acabassem fugindo.

Considerando aquilo estranho e com medo de tudo à sua volta, Melody continuou a correr até o salão de entrada. Ela fez uma pequena pausa para tomar fôlego, apoiando ambas as mãos sobre os joelhos e hiperventilando. Ao erguer os olhos para vislumbrar a porta a porta de saída, Melody sentiu falta de um dos maiores exemplares do museu.

— Onde está o dinossauro? — Ela perguntou com a voz tremula, temendo imensamente pela resposta.

— Atrás de você, pernuda. — Falou um dos bonequinhos do tamanho de palitos de fósforo pelo microfone da recepção.

Assustadiça e tremendo dos pés a cabeça, ela virou lentamente para trás dando de cara com o gigantesco fóssil do museu, o qual soltou um urro assustador que fez os cabelos de Melody balançarem. Antes que pudesse raciocinar, o medo tomou conta de cada extensão do corpo da mulher, fazendo com que ela visse toda sua vida passar diante dos seus olhos antes de cair desmaiada no chão gélido de mármore.

— Eita, a pernuda desmaiou! — Anunciou Jedediah no microfone constatando o óbvio.

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