19. s.o.s prima

Paulo entrou na casa e encostou as costas na porta, resistindo à vontade de voltar lá fora e ouvir a explicação que Lucas queria dar. Lágrimas tentavam escapar, mas ele as segurou firmemente.

— Já chegou, querido? — disse sua avó, vindo da cozinha.

— Sim — respondeu Paulo, tentando respirar fundo e não deixar as lágrimas caírem.

— E como foi?

— Foi muito bom. — Exceto a parte da noite que ele acabou de presenciar. — Já vou para o meu quarto. Boa noite — disse, dirigindo-se à escada.

— Paulo?

— Sim. — Ele interrompeu sua subida pela escada e se virou para sua avó.

— Que barulho era aquele lá fora? Parecia que tinha alguém discutindo.

Paulo piscou e focou seu olhar na porta pela qual tinha acabado de entrar, enquanto tentava inventar algo convincente para dizer à sua avó.

— Era um cara bêbado que queria quebrar a caixa de correio da senhora. — Paulo mentiu descaradamente. — E o Lucas não deixou, o homem ficou nervoso, mas deu tudo certo.

— Nossa, que situação. — Sua avó engoliu a mentira. — O álcool realmente pode fazer coisas estranhas com as pessoas.

— Verdade. — Paulo forçou um sorriso. — Agora vou subir para o meu quarto, boa noite.

— Boa noite, querido. — Sua avó respondeu, enquanto ele subia os degraus.

Assim que chegou em seu quarto, Paulo tirou suas roupas e entrou no banheiro, ligando o chuveiro. Ele tomou um banho longo e gelado na tentativa de esquecer um pouco o que havia acontecido. Após o banho, vestiu roupas leves para dormir, sentou-se na cama e observou o ambiente ao seu redor. Tudo parecia tão tranquilo.
Estão, seus olhos se fixaram na escrivaninha, e Paulo se levantou para se sentar na cadeira próxima a ela. Ele pegou um dos papéis que estavam sobre a mesa, juntamente com alguns lápis de cor, e começou a rabiscar o papel em branco, dando vida a um desenho. Era uma maneira de escapar de tudo o que estava sentindo.

Quando os primeiros raios de sol entraram pela janela do quarto, o garoto abriu os olhos lentamente, sentindo seu rosto dormente. Quando olhou mais atentamente, percebeu que havia dormido na cadeira, com a cabeça apoiada na mesa. No entanto, o que mais chamou sua atenção foi o desenho em um dos papéis sobre ela. Cada traço e cor foram feitos com delicadeza, formando um lindo desenho de um rosto. Era o rosto de Lucas. Durante toda a noite, ele não saiu dos pensamentos de Paulo.

Ele guardou o desenho e suas coisas na gaveta e, em seguida, esticou os braços para aliviar a tensão dos músculos doloridos do corpo.
Minutos depois, caminhou até o guarda-roupa, escolheu um par de roupas e dirigiu-se ao banheiro para tomar um banho quente e aliviar o desconforto da noite mal dormida.

Assim que saiu do banheiro vestido, ouviu batidas na porta, mas a pessoa falou antes que ele pudesse abrir.

— Paulo, tem alguém te esperando lá embaixo — disse Helena.

— Já vou descer, vovó. — Ele respondeu, e apenas uma pessoa vinha à sua mente: Lucas.

Apesar do acontecimento da noite passada, o garoto não conseguia esquecer o mais velho, especialmente o beijo que compartilharam, que foi a melhor coisa que aconteceu. Sempre que fechava os olhos, seu coração retornava a esse momento especial.

Ele não demorou muito para descer, e quando colocou os pés na sala, avistou as costas de um homem sentado no sofá. Um sorriso surgiu em seu rosto. No entanto, assim que ficou de frente para o cara, sua felicidade desapareceu, e tudo o que ele queria era expulsá-lo a pontapés.

— O que você está fazendo aqui, Bryan? — Paulo resmungou, cerrando os dentes.

— Oi, vamos conversar —apontondo para o sofá.

— Estou ouvindo, o que você quer conversar?

— Olha, não sei o que você teve com o Lucas, mas vai acabar. — Bryan fixou seu olhar no garoto, sem piscar um segundo. — Eu estou com ele, já faz quase um ano.

Toda esperança que Paulo tinha em relação ao mais velho desmoronou com essas palavras. Ele permaneceu calado, e o homem à sua frente continuou:

— A gente tinha um relacionamento aberto, e ele ficava com alguns caras de vez em quando só por diversão. — Ele parecia se divertir enquanto dizia isso para o garoto. — Você foi apenas uma aventura, e quanto mais rápido você entender isso, melhor será.

— Para de falar — pediu, fechando o punho, e seus olhos estavam cerrados.

— Mas uma coisa, se eu souber que você está se encontrando com o Lucas, eu vou pessoalmente dizer para a sua avó que você estava tendo um caso com o ele — sorriu com deboche para o jovem. — Parece que ela não sabe que você é gay, então fique longe do que é meu — ameaçou, em seguida, se levantou e saiu, deixando Paulo processando tudo o que ele havia dito.

O garoto se sentia usado, incapaz de acreditar que tinha sido apenas uma aventura para Lucas. Só de pensar que as declarações sinceras que o mais velho havia feito na noite passada eram, na verdade, mentiras, despedaçava seu coração em inúmeros pedaços. Paulo estava realmente apaixonado, e agora tinha esse novo problema com a ameaça de Bryan de contar tudo para Helena sobre seus sentimentos por Lucas. Ele não poderia permitir que isso acontecesse. Sua avó não podia saber que ele era gay; ele já conseguia imaginar a decepção nos olhos dela quando soubesse.

Paulo voltou para o quarto e começou a procurar seu celular, finalmente o encontrando na mesinha de cabeceira onde estava o abajur. Assim que pegou o aparelho, procurou um contato e fez uma ligação.

— Alô — disse assim que a pessoa atendeu. — Preciso falar com você, vou te esperar no meu quarto.

Minutos depois, Paulo ouviu alguém bater na porta do quarto e, como já tinha uma ideia de quem era, pediu que entrasse.

— Que bom que você veio.

— Para isso que servem os primos. — Lili brincou, e no mesmo instante o garoto a abraçou.

Sem entender o que estava acontecendo, ela olhou para o primo e disse:

— Pare com essa tristeza, ninguém morreu, e você vai me contar tudo o que aconteceu. — Ela se sentou na cama e cruzou as pernas. — Pode começar, estou ouvindo.

O jovem se sentou ao lado dela e, sem enrolação, contou tudo da noite passada e da manhã seguinte, com todos os detalhes.

— Eu escutei bem? Vocês se beijaram... — seus olhos brilhavam de felicidade.

— De tudo que te contei, você só ouviu isso?

— Claro que não, mas o beijo foi o que mais me chamou atenção — respondeu, ao se deitar de costas na cama. — E como foi?

— O quê? — a pergunta deixou o garoto confuso, já que tantas coisas aconteceram.

— O beijo, foi bom, ruim... — Parou quando percebeu que o primo estava ficando vermelho.

— Bom.

— Só isso? — Lili fez careta e acrescentou: — Você pegou aquele cara maravilhoso/gostoso e só achou o beijo bom?

— Não né, foi incrível, algo que nunca vou esquecer.

— Aí meu Deus, a noite foi ótima então.

— Só piorou quando voltamos, e aconteceu o que te falei. — deitou ao lado dela.

— Olha, não sei se o que esse cara falou é verdade, o Lucas nunca brincaria com os sentimentos de alguém. — Ela voltou a ficar sentada na cama macia, sua voz estava firme, e acrescentou: — Não sei, mas você deveria conversar com o seu "boy" para ouvir a versão dele da história.

— Será? — Ele franziu a testa, ao se sentar também.

— Será não, certeza. — Ela corrigiu. — Ele estudou comigo, e sei que é um homem bom, que nunca te usaria e se aproveitaria dos seus sentimentos.

— Vou confiar em você. — Paulo se levantou e andou em direção à porta do quarto, mas hesitou e voltou.

— O que foi? — perguntou ficando de pé ao lado dele.

— Se eu chegar perto do Lucas, o Bryan vai contar para a vovó que sou gay, lembra? — explicou, fazendo a garota cerrar os punhos.

— Verdade, tinha me esquecido — colocou as mãos na cintura, tentando pensar em algo, então acrescentou: — Espera alguns dias, aí depois você vai falar com ele, eu dou um jeito de vocês se encontrarem sem o Bryan saber.

— Você vai me ajudar?

— Você ainda duvida? — Lili riu, fingindo estar ofendida. — Quero te ver feliz, e vejo que o Lucas também gosta muito de você.

Quando a noite caiu, Paulo estava sentado à mesa, olhando para o prato à sua frente, perdido em pensamentos há alguns minutos.

— O que houve, querido? — Sua avó perguntou, estranhando o comportamento do neto, que normalmente já teria terminado a refeição.

— Nada.

— Como assim, nada? Você mal tocou na comida — Ava disse, olhando preocupada para o filho.

— Só estou sem fome, posso ir para o quarto? — respondeu apenas isso.

— Claro.

Antes de subir, ele deu boa noite para as duas, deixando um beijo na bochecha de cada uma.

Assim que chegou no quarto, Paulo tirou suas roupas, vestiu uma camiseta e um short fino, então se jogou na cama e pegou o celular. Sem perceber, ele acabou navegando pelas fotos de Lucas no Instagram, apenas olhando para não parecer que estava stalkeando.

Então, uma notificação de mensagem chamou sua atenção. Era de Raphael, perguntando se Paulo ainda estava interessado em tomar aquele café. Sem hesitar, ele respondeu com um simples "sim". O loiro então enviou o horário e o nome do café onde os dois iriam se encontrar: 8:30 da manhã, Caffè e Dolci.

Lili aconselhou Paulo a esperar alguns dias antes de falar com Lucas, então ir tomar café e fazer uma nova amizade era uma maneira de esquecer os problemas por um tempo.

Quando amanheceu, os raios de sol iluminavam o imponente edifício Alba, famoso por seus apartamentos luxuosos.

Raphael, em seu quarto, andava de um lado para o outro, procurando seu celular enquanto ajustava o nó de sua gravata vermelha. Até que finalmente ele encontrou o aparelho, um modelo de última geração. Digitou um número e fez a ligação, segurando o telefone perto do ouvido enquanto esperava a pessoa atender.

— Alô, Bom dia, Sol? — Ele cumprimentou com gentileza.

— Bom dia, em que posso ajudar, senhor? — A voz de Sol respondeu do outro lado da linha.

— Por favor, cancele tudo o que tenho agendado para hoje. — Ele disse enquanto abotoava seu elegante paletó azul escuro. — Vou ter um compromisso importante e quero dedicar toda a minha atenção a ele.

— Claro, senhor. Vou cancelar e remarcar para outra data. Mais alguma coisa que precise? — Sol perguntou.

— Isso é tudo, obrigado. — Raphael respondeu.

— Boa sorte, Raphael. — Antes de desligar, ela acrescentou: — Depois quero todos os detalhes.

— Claro, depois te conto tudo, vou desligar agora. — O homem sorriu e, em seguida, encerrou a ligação.

Bạn đang đọc truyện trên: AzTruyen.Top