V - Carta
Abaixo alguns personagens apresentados nesse capítulo:
Marcos Gregori
Darck Gregori:
Adam Gregori:
Azura
Depois de longos minutos apenas caminhando pelos os corredores de Adalasiah, finalmente chegamos até meus aposentos, onde Mike se despediu e disse que em breve nos veríamos novamente. Acenei para o caído até ele sumir, e então abri a porta do cômodo.
Era enorme, maior do que algum dia eu poderia imaginar ter. Completamente pintado de branco, assim como seus móveis e o único objeto colorido que havia ali era a cama, com seus lençóis completamente pretos. Apesar de parecer um tanto intimidante, me senti acolhida. Principalmente, após ver o que esperava por mim em cima do colchão e da cabeceira ao lado.
Na cômoda ao lado havia meus livros, todos aqueles que pappa me presenteou um dia e suas incontáveis dedicatórias ao longo das páginas; minha história, nossa história. Suspirei tentando conter a emoção, e minhas orbes vagaram até a outra surpresa; meu all star vermelho, perfeitamente limpo, e apesar de não haver nenhuma nota ou recado, eu sabia que Nowa era o responsável por isso. Se Adam era seu amigo, ele entendia o que aqueles objetos significavam para mim.
Rapidamente, sentei na cama deixando o envelope que ainda segurava ao lado, apanhei meu all star e pressionei contra meu peito com força, com gratidão e por fim, voltei a calça - los, pois até o atual momento, permanecia descalça mesmo recebendo o segundo olhar de desgosto de Sophia.
Agora eu me sentia próximo de estar completa, eu conseguia sentir que pappa estava outra vez comigo, com um braço sobre meus ombros dizendo: 'você é corajosa, por que tenta me enganar? Eu te conheço anjinha, mais do que você mesma se conhece', o peso das palavras nunca fez tanto sentido, e um riso amargo e triste deslizou pelos meus lábios, preenchendo o vazio do ambiente.
Restava apenas uma coisa a se fazer; ler a carta.
Reenconstei- me nos travesseiros de maneira confortável, e observei os detalhes do envelope, passando meus dedos delicadamente pela superfície, a letra tão elegante e antiga, tão diferente da minha que se assemelhava a uma confusão no papel. Agarrando a coragem que havia no meu interior, rompi o lacre, tendo certeza que aquele era um passo sem volta, nada mais seria como antes.
O papel estava completamente branco, me pegando desprevenida. Virei a folha e não havia nada ali, o desespero por um segundo me abateu. Seria alguma piada de mal gosto do demônio?
Deixei a folha cair sobre a cama.
Ou eles simplesmente pegaram a pessoa errada?
Respirar, eu tinha que respirar.
As batidas incessantes do meu coração se acalmaram aos poucos e logo a mudança começou. O colar em meu pescoço esquentou perigosamente, irradiando a luz sinistra e dourada, exatamente como em todas as ocasiões que manifestei meus poderes e por fim a mesma letra cursiva do envelope foi surgindo aos poucos, inundando o papel com palavras elegíveis, como pura mágica. Ofeguei, e no instante que meus dedos encostaram na página, eu fui engolida pelo passado.
♡
A moiçola estava diante do piano, apenas sentada encarando o instrumento musical com certo pesar.
Sua matriarca, foi a mulher que lhe ensinou a tocar, a mulher que lhe ensinou a apreciar cada nota, cada ressoar da música dentro de si e seu pai, ele lhe ensinou a cantar, não só com a voz, ademais com amor, o mesmo amor que ressoava naquele lar, e no coração da família que habitava a residência. Agora, ambos se foram.
Por segundos, ela sentiu lágrimas impertinentes querendo deslizar pela sua face, no entanto estava cansada de chorar.
As mãos por ventura, apertavam o tecido preto da sua roupa com força, tentando de alguma forma, manter o controle. No instante seguinte, uma figura masculina deslizou ao seu lado, e pela primeira vez, não havia um sorriso nos lábios de Adam - seu tio, irmão da sua mãe e pai de Darck.
─۫─̸ Por que não toca algo? ─۫─̸ Ele perguntou em voz baixa, e Luna até considerou a pergunta por alguns segundos.
Poderia tocar? Poderia fazer isso pelo seu tio? Não, não poderia fazer isso nem por si mesma.
─۫─̸ Eu...eu não consigo tio...─۫─̸ A jovem confessou pela primeira vez.
Uma parte sua queria fazê - lo, queria homenagear seus pais com uma ótima música. No entanto, não seria naquele dia.
Adam acenou positivamente com a cabeça e apanhou a destra da sua sobrinha. A sua dor era tanta, que era impossível para Luna não senti - la, e não misturar com sua própria dor, com seu próprio pesar e seu próprio luto. Ele chorou e ela o abraçou, as mãos em volta do corpo do maior transmitiam um pouco de paz, um pouco de calma, porque mesmo que ela não se sentisse bem, não queria que seu tio, irmão ou primo, sofressem e era sua tarefa como querubim, aliviar a dor deles.
─۫─̸ Está tudo bem tio, está tudo bem...
─۫─̸ Um dia Luna...─۫─̸ Ele murmurou se afastando o suficiente para encarar as orbes azuladas da menor ─۫─̸ Você vai voltar a tocar e quando esse dia chegar, toque algo para todos nós, tudo bem? ─۫─̸ O questionamento veio com um suave sorriso e era impossível para a querubim não retribuir.
─۫─̸ Tudo bem... ─۫─̸ Ela respondeu, descansando a cabeça no ombro do seu tio e fechando as pálpebras ─۫─̸ Mas, quando esse dia chegar, estaremos todos juntos, porque nunca abandonamos uns aos outros... ─۫─̸ A promessa da família deslizando pelos os lábios.
─۫─̸ Nunca Luna... ─۫─̸ Adam concordou, e abraçou outra vez a pequena anjinha.
A moiçola não entendia o teor dos sentimentos que transbordavam do seu tio. A tristeza, não se devia somente a perda do pai e da mãe da garota, ademais ele sabia que seria o próximo a partir e teria que deixar seu filho e seus dois sobrinhos. Jovens demais para lidar com o peso das responsabilidades de um mundo destruído.
Naquele mesmo dia o anjo foi raptado, acusado de traição e forçado a cair. Porém, Adam Gregori nunca quebrou sua promessa. Ele amou sua família até seu último suspiro.
♡
A garota se encontrava deitada de bruços em uma nuvem qualquer.
Os tons rosa e azul enfeitando aquele dia em específico, exatamente do jeito que ela adorava.
O olhar vago estava direcionado para o mundo abaixo de si, um mundo de oportunidades, desejos, e talvez...liberdade, um mundo repleto de humanos e livre arbítrio. De modo geral, ela sempre considerava os homenzinhos como uma obra de arte, admirava os mesmos, os invejava. Este era seu passatempo favorito e secreto.
O forte ressoar de asas batendo lhe despertaram dos devaneios, a moiçola desviou suas orbes até a origem do barulho encontrando Darck próximo de si, as asas brancas abertas e estendidas, mantendo - o com os pés fora das nuvens, planando perfeitamente. Ela sorriu, mas seu primo não retribuiu, mantendo a expressão séria e familiar, o maxilar trincado, os olhos se destacando mesmo de longe, tão azuis que assimilavam - se ao branco em alguns momentos e os cachos escuros como todos os dias, se encontravam rebeldes, talvez o único detalhe fora de ordem no visual impecável do anjo guerreiro.
─۫─̸ Que careta feia Gregori! Seu rosto é bonito demais para ser deformado de tal forma... ─۫─̸ A manceba murmurou irradiando diversão. Não havia uma só ocasião que ela levasse algo a sério, sua alma era leve, assim como suas asas.
O rapaz como resposta bufara, cessando o bater de suas asas e se sentando ao lado do cupido que tanto amava.
Em alguns momentos, imaginava se a intensidade desse sentimento não se devia graças aos poderes de sua prima, será que ela não o manipulava, mesmo sem ciência disso? Um pensamento estúpido, imaturo e preconceituoso, porque bastava um simples olhar para o rosto jovial e sonhador de Luna Gregori para entender que ela nunca usaria seus poderes para estes fins, não daria argumentos para aqueles que já lhe julgavam. Não, sua prima sempre demonstrou força, rebeldia, alegria e tudo isso quando era esperado o contrário dela.
Luna, Luna, Luna...
Nunca houve no Céu ou na Terra ser tão puro.
─۫─̸ O que estava fazendo anjinha? ─۫─̸ O guerreiro questiova enquanto ele próprio se deitava ao lado dela com o olhar voltado para baixo, visualizando as diversidades de indivíduos caminhando há centenas de quilômetros abaixo dos dois, tão alheios na suas rotinas. Ele sabia a resposta da sua própria pergunta, porém da mesma forma, gostava de ouvir as palavras sinceras deslizando pelos lábios do cupido. Uma prova de que ela confiava nele tanto quanto ele confiava nela.
─۫─̸ Será que um dia irei descer até lá Darck? ─۫─̸ As pernas da manceba balançavam distraidamente, as asas estupidamente grandes para sua altura mínima estavam soltas, repousando livres, cada uma ao lado do seu corpo. As mãos apoiadas no rosto em uma expressão pensativa, os olhos azuis nublados com desejo.
─۫─̸ Não há nada interessante lá embaixo anjinha. Apenas dor, sofrimento e tragédia... ─۫─̸ O mais velho respondeu com um franzir de cenho.
─۫─̸ Tudo o que também possuímos aqui em cima...─۫─̸ Ela cantarolou, se sentando na nuvem e suspirando.
Bastava de fugir da realidade por aquele momento. Seu irmão Marcos logo estaria na residência e estaria a sua espera para recepciona - lo, ela seria sua companhia naquele dia fatídico.
Uma noite importante para todos - no Céu, Terra e talvez até mesmo no Inferno. O aniversário de Jesus. Todavia, os seres angelicais não se atavam a esse detalhe, porque vinte e cinco de dezembro também era o aniversário da guerra que tirou tanto de muitos.
─۫─̸ Luna...─۫─̸ O nome fora dito com tanta devoção e amor fraternal.
Os sentimentos do guerreiro transbordaram em direção ao querubim que os recebia com gratidão e a moiçola apanhou a destra do rapaz apertando com carinho, levando até os lábios e deixando sua reverência, beijos delicados nos nós dos dedos que muitas vezes estavam machucados com ferimentos de batalha.
─۫─̸ Está tudo bem, não sou como vocês. Já aceitei isso há muitas luas atrás...─۫─̸ A garota deu de ombros, um mínimo sorriso em seus lábios.
Darck se aproximou, colando sua testa a dela e fechou as próprias pálpebras.
─۫─̸ Tem razão anjinha, és melhor. E um dia o mundo vai conhecer seu nome Luna Gregori...
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Comemorações nunca fizeram parte do favoritismo do cupido, porque está sempre se sentiu deslocada no meio da multidão, pois sabia que todos os olhares se viravam em sua direção, perguntando que tipo de atrocidade poderiam esperar dela.
Céus, ela odiava cada minuto disso, e não culpava Lucifer por querer fugir dali.
A cidade dourada - o lar dos anjos, dos primeiros filhos de Deus, e estes nada tinham de melhores que os humanos. Bastou um pingo de sentimento em seus corações e se tornaram apenas na sombra do passado, transformaram tudo em Caos. Deus desapareceu e muitos daqueles que permaneceram bons, foram massacrados.
Luna odiava fingir que estava tudo bem, que era forte e por isso ela sempre fugia quando tinha uma oportunidade, como naquele instante.
A manceba abandonou o espaço dominado por seres celestiais e estava outra vez deitada sobre uma nuvem, encarando o mundo abaixo de si. Se perguntando sobre seu tio, se estava bem ou com saudades ou se sentia que estava livre, ela apostada nos dois últimos...
─۫─̸ Não é apreciável fugir no meio da festa irmãzinha... ─۫─̸ A voz de Marcos ressoou, e como resposta a manceba grunhiu em frustração, mantendo a atenção no mundo abaixo de si.
Diferente de Darck, o irmão sentia medo e principalmente receio de que um dia, perdesse Luna assim como perdeu todos os outros e não aprovava o apreço da menor pelos humanos, sempre os vendo como inferior, indignos da vossa presença. O homem se sentou ao lado da garota e encarou seus belos traços, sempre tão surpreso em como ela parecia com a matriarca.
─۫─̸ Não vai dizer um oi?
─۫─̸ Desculpa, não sou fã de ambientes hostis ─۫─̸ A Gregori levantou a cabeça, uma careta dominando sua expressão e o acompanhante sorriu, sabendo exatamente o porquê da escolha das palavras.
Marcos assim como os demais Gregori possui olhos tão azuis que assimilam - se ao branco e apesar de Darck ser o mais sério da família, é Marcos que mantém o rosto de poucos amigos a todo momento.
─۫─̸ Você não é uma covarde Luna Gregori, não haja como uma, entendeu? ─۫─̸ Apesar da voz suave, o questionamento era sério e a manceba concordou com a cabeça.
Ela era sua irmã, mas também devia se tornar uma líder um dia e Marcos não sabia lidar com nada diferente da vitória, fracasso não fazia parte do seu vocabulário, principalmente tratando - se de um Gregori. O maior ofereceu o dedo mindinho para sua ela e esta logo engatou o próprio mindinho ao dele sorrindo.
─۫─̸ Somos uma família, certo? Nunca abandonamos um ao outro...
─۫─̸ Nunca...─۫─̸ Ela repetiu, a promessa que ressoava na alma de todos os membros daquele clã.
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O caos estava instaurado.
Gritos ressoavam por toda parte e Luna não conseguia distinguir sequer seus próprios.
Ela queria ajudar, queria acalma - los, queria liberta-los. No entanto, ao procurar a chama de poder dentro de si, não restava nada, estava vazia.
As orbes presas na visão diante de si, tantos anjos que pareciam lutar contra eles mesmos, as mãos sobre a cabeça, pedindo por clemência, algo que não aconteceria. Eles gritavam, choravam e então vinha o silêncio, e a manceba sabia que a partir daquele momento, se tornaram apenas soldados, marionetes.
A pior parte era saber que toda a dor, todos os indícios, eram provenientes dela.
Seu corpo estremeceu com o toque brusco de Marcos tentando fazer a garota voltar para a realidade. A atenção se voltando para o irmão, ele nunca pareceu tão desesperado em toda sua vida.
─۫─̸ Você precisa ir, entendeu? Ele vai te controlar como os demais, ou vai te prender para a eternidade, precisa fugir Luna! ─۫─̸ Era necessário gritar por cima dos sons para poder ser escutado.
Doía no mais velho ter que abrir mão da sua anjinha, mas não havia outra forma. Darck e ele precisavam ficar, precisavam torcer para que os anéis funcionassem; uma forma de sobreviver ao controle de Miguel, conseguir o colar de volta com os poderes da querubim e por fim, entregar para ela. Contudo, a moiçola parecia se culpar pelo o que acontecia naquele cenário, e não parecia dar ouvidos ao mais velho.
─۫─̸ Luna...Luna...Luna...─۫─̸ Ele repetiu, algumas lágrimas se acumulando em seus olhos, as mãos segurando o rosto da mesma, forçando- a a encara - lo ─۫─̸ É a nossa única chance, por favor você precisa cair...
─۫─̸ Nunca abandonar Marcos, não abandonamos família...─۫─̸ A cupido argumentou, sua voz nada mais que um sussurro fraco, prestes a quebrar.
Logo em seguida, Darck surgiu. O rosto sujo de sangue e um corte superficial na boca.
Bastou um olhar entre os homens para que ela entendesse, eles já haviam decidido, iriam se sacrificar por ela. A garota negou com a cabeça, ela se recusava - a perder mais alguém.
─۫─̸ Não, venham comigo por favor...
─۫─̸ Não podemos Luna, é arriscado demais. Será mais seguro se ele pensar que estamos sendo manipulados e que você fugiu sem os poderes... ─۫─̸ Darck murmurou puxando a mais nova para si e abraçando-a, um beijo suave sendo deixado na testa da mesma ─۫─̸ Te enviaremos o colar e você consertará tudo Luna, te prometemos isso...
─۫─̸ E estaremos juntos outra vez? ─۫─̸ Ela questionou como uma garotinha que não entende o porquê dos pais a deixarem. Então, Marcos se juntou ao abraço, os três unidos como um naqueles poucos segundos.
─۫─̸ Juntos outra vez...─۫─̸ Marcos sussurrou e Darck concordou com a cabeça. A manceba deixou apenas uma lágrima escapar e foi egoísta ao ponto d ter um último olhar para o rosto da sua família.
Respirando fundo, ela se desvencilhou do abraço, limpou seu rosto, e deu um sorriso travesso. Não iria se deixar abater, jamais. Era melhor do que Miguel, mais inteligente! Eram seus poderes naquele colar e ela os teria de volta, e mataria aquele arcanjo arrancando seu coração com as próprias mãos, porque ninguém lhe separava da sua família e saia impune. Ninguém.
Luna Gregori é um querubim, a única da sua casta e nunca aprendeu a perder, não começaria agora.
Ela virou nos calcanhares e correu, como se sua vida dependesse disso e não olhou para trás em nenhum momento, pois saberia que se sentiria tentada a voltar no mesmo instante.
Conforme se aproximava do centro da cidade dourada, as nuvens uma vez em tons claro; escureceram, tomadas por uma tempestade de fúria. A querubim correu mais ainda em direção ao trono, em direção ao centro de tudo, não porque queria chegar lá, mas Miguel acreditaria que sim, e esse era o plano.
A adrenalina percorria cada célula do seu corpo, a respiração entrecortada. Faltava poucos metros e seria expulsa do céu.Já haviam decorado o plano antes, mesmo que Luna nunca concordasse com ele.
Darck e Marcos ficariam, iriam resistir graças aos anéis feitos pela própria manceba, porque neles restava a última centelha de poder dela, justamente o que ela abriu mão para salvar os dois - eram escudos.
Luna não se permitiu pensar mais além, não se permitiu pensar que eles poderiam fracassar em suas missões e que Miguel poderia descobrir tudo e escravizar eles.
Não, não, não.
Ela ergueu a cabeça e continuou a correr, o trono entrando em sua visão, e então deu mais alguns passos, esticando a destra para alcança- lo. Como previsto, o chão abaixo de foi desfeito e a Gregori caiu, engolida pela escuridão, sentindo as gotas de chuva molharem seu rosto, mesclada com as próprias lágrimas. Não havia mais volta. Ela se deixou cair porque era a única maneira de salvar a todos, era a única maneira de salvar sua família.
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─۫─̸ Você não pode se arriscar assim, é loucura! ─۫─̸ A voz masculina rosnava diante do rosto da manceba, raiva dominando suas feições. Contudo, uma névoa parecia encobrir suas feições, tornando impossível de reconhecê- lo. As mãos estavam sobre os ombros dela, e o desespero estampado nas orbes ─۫─̸ É uma armadilha! Miguel vai mata - la Luna!
─۫─̸ Ele vai tentar...─۫─̸ Um sorriso presunçoso estava nos lábios da garota.
Ela sabia do seu destino, sabia o que havia acontecido na noite passada dentro de si, se sentia mais fraca e não conseguia mais vislumbrar suas asa ou invoca - las. Porém, não mencionou uma palavra sequer para o homem a sua frente, pois sabia que ele nunca permitiria que ela fosse, ele nunca abriria mão dela, e este era um dos motivos pelo qual o amava tanto.
A mão da moiçola segurou a armadura prateada puxando - o para si e sem pensar duas vezes, colou seus lábios aos dele. O beijo era uma despedida, era uma promessa, seu desejo mais sombrio e egoísta. O homem arfou contra a boca da moiçola e no momento seguinte ela estava contra a parede de pedra, o corpo másculo engolindo-a enquanto explorava cada centímetro da sua boca, até estarem sem ar.
Luna encerrou o contato, a testa colada a testa dele, encarando as orbes do mesmo, encarando o seu futuro perdido.
─۫─̸ Se puder, não me esqueça...
─۫─̸ Eu nunca seria capaz disso... ─۫─̸ Ele murmurou contra a palma em seu rosto.
A garota deu um meio sorriso triste, enxugando uma das lágrimas que deslizaram pela bochecha do maior ─۫─̸ Vou te esperar pela eternidade se precisar e será uma existência medíocre demais, então por favor... ─۫─̸ Ele implorou ─۫─̸ Volte para mim Luna Gregori.Volte para mim anjinha...
Contudo, a querubim nunca respondeu. Ela voltou a beija - lo, porque sabia que aquela seria uma promessa egoísta. Se um dia ele descobrisse como viver sem Luna Gregoro, deveria seguir em frente e ser feliz, pelos dois e pela sua trágica história de amor.
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Adalasiah sempre reconhecia o sangue correndo em suas veias, Adalasiah sempre reconhecia um Gregori.
As catacumbas da cidade eram consideradas um local sagrado, principalmente pelo fato de abrigar o primeiro túmulo, a origem de todo o poder. Somente o arcanjo Gabriel ou um Gregori poderia entrar ou convidar alguém para dentro.
O local se encontrava iluminado apenas por tochas, espalhadas pelos extensos corredores de pedras até o centro de tudo. Luna conhecia o percurso, saberia andar por aqueles corredores mesmo de olhos fechados e seus passos eram tão silenciosos quanto podia, mesmo sabendo que isso não ajudaria em nada.
Na sua costa estava sua espada, no traje adagas escondidas por todo seu corpo. Em outro momento, ela jamais empunharia uma arma, sequer precisaria porque seu poder garantiria que qualquer um se ajoelhasse caso ela quisesse, mas ela não possuía mais seus poderes e nem sua imortalidade. Uma casca vazia.
O primeiro túmulo foi onde tudo iniciou. A única querubim que não caiu na guerra, a única que permaneceu na cidade dourada por não seguir Lucifer - se chamava Adalasiah. Ela foi o primeiro alvo de Miguel, antes mesmo que Luna sequer existisse. O arcanjo pretendia roubar os poderes da mesma forma e fazer dela sua companheira como garantia, entrelaçaria sua imortalidade a dela. Contudo, Adalaasiah não o amava, não confiava em Miguel e era apaixonada por Gabriel mesmo antes do expurgo ou da maldição, e quando os sentimentos surgiram, Gabriel começou a retribuir e a amou intensamente.
Juntos planejaram fugir, mas Miguel descobriu tudo e assassinou a querubim, dizem que ocorreu na frente do próprio irmão de casta, jogando o corpo do céu, sem direito a uma cerimônia fúnebre celestial e a o se chocar no chão, a Terra o abraçou e acolheu, e dessa forma, Adalasiah foi erguida. Em seu último ato de resistência, a querubim criou sua casa - o lar que desejava ter com o seu amado. Gabriel nunca mais foi visto desde então.
Em determinado momento, o chão deixou de ser pedra e se tornou grama - verde, bela e repleta de flores. Ao centro uma árvore crescia, majestosa e carregada de frutos; o primeiro túmulo.
Luna sempre se sentia em casa ali, ela sempre prestava suas condolências pela manceba e pedia perdão por não poder ajuda - la com seu amor. Era irônico que denominadas como criaturas responsáveis pelo amor, ambas tiveram suas próprias histórias destroçadas.
Porém, diferente das outras vezes, o local não estava vazio.
Atrás da árvore havia um pequeno lago, o portal entre Céu e a Terra, justamente o portal que somente Gabriel ou um Gregori poderiam ceder a passagem e dali surgiram três indivíduos. O primeiro tinha olhos castanhos, uma expressão fechada e as mãos atrás do corpo, uma perfeita marionete, Luna o reconheceu como um dos soldados de seu primo imediatamente; Roy Gardier - um anjo de guarda. Ao seu lado, estava Miguel, com uma coroa sobre sua cabeça, uma expressão presunçosa e instantaneamente a querubim retirou a espada das costas, empunhando a mesma na direção do arcanjo. Contudo, no momento que suas orbes encontraram a terceira pessoa, seu coração parou de bater por breves momentos.
Marcos.
─۫─̸ Irmão ─۫─̸ Ela sussurrou e ele sorriu, apesar de manter as mãos atrás das costas, como Roy que permanecia imóvel.
O maior correu até Luna, segurando - a nos braços e abraçando - a com força. Por um momento, o aperto sobre a espada se tornou leve, tomada pela surpresa e pelas emoções, a querubim se deixou envolver, mesmo sabendo que tudo se tratava de uma ilusão, mas não importava, aquele já era seu fim de toda a forma, era preferível morrer nos braços de seu irmão. Antes que pudesse dizer algo, ela sentiu a dor perfurando seu estômago, seu âmago. A própria adaga que antes estava na sua bota, agora estava sobre o punho de Marcos enquanto era cravada no interior da pequena querubim.
O ar se tornou rarefeito demais e tudo virou cinza. Os olhos de Marcos, não pareciam dele, havia escuridão ali e bastou um olhar para as mãos do mesmo para notar que não havia indício de nenhum anel.
Luna sorriu, ainda o segurando nos braços do homem. Aquela era a sua primeira morte, o início da sua maldição.
─۫─̸ Prometo nunca desistir ou abandonar. Um dia ─۫─̸ Ela tossiu sangue, seu peso caindo sobre o corpo dele ─۫─̸ Estaremos juntos outra vez...
Não houve sinal nenhum de reconhecimento e Marcos deixou que o corpo da querubim cai - se no chão. Ele girou nos calcanhares e voltou para seu lugar ao lado de Miguel, se deixando cair no portal outra vez como uma maldita marionete. Luna ainda respirava e encarava a cena do chão com o pesar de um coração já morto. Não seria digna nem mesmo de falecer com a visão do seu irmão diante de si.
─۫─̸ Acabe o serviço e traga o corpo dela para o portal Roy ─۫─̸ O arcanjo ordenou.
E Roy deu um passo. No entanto, ao invés de cumprir as ordens de seu rei, ele cravou uma faca por entre as costelas do mesmo, pegando - o completamente desprevenido, não era um golpe para mata - lo, porém era o suficiente. Durou apenas alguns segundos, mas Roy golpeou o arcanjo, puxou o colar de seu pescoço e por fim empurrou o homem dentro da água, obrigando- o a atravessar o portal.
Nas mãos ensanguentadas, era possível notar um dos anéis familiares que Luna forjou, a centelha de poder e essa foi a última visão que Luna Gregori teve antes de se deixar ser levada pela escuridão. Roy correu até ela, segurou a mesma em seus braços desesperado e colocou o colar sobre o pescoço dela, porém não adiantava mais, o coração havia parado e o corpo aos poucos estava se desfazendo sobre o toque do maior, se tornando poeira. Ele gritou com dor, com raiva, enquanto observava a garota partir, até não restar mais nada, somente o sentimento de fracasso.
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Minha respiração estava acelerada, assim como as batidas do meu coração e meu rosto se encontrava úmido. Sequer saberia dizer em que momento comecei a chorar, provavelmente desde o primeiro instante.
Não havia outra forma de descrever a experiência, além de surreal. Sentir o que ela... eu senti?
As perdas, o medo, o amor, o poder...
Olhei outra vez para a carta, minhas mãos tremendo visivelmente. Eu não tinha uma opinião formada sobre tudo o que havia visto, entretanto algo era certo, eu salvaria Darck e Marcos, salvaria todos os anjos e depois arrancaria o coração de Miguel com minhas próprias mãos, assim como prometi milênios atrás. Com afinco, comecei a ler o conteúdo:
'Eu fui amaldiçoada por Bridget Bishop, a líder do coven do Caos - a mesma desejava ser tão poderosa quanto a deusa Hécate e também queria o esposo da deusa - Cerunos, por isso fez um trato com Miguel e realizou seu pedido, me amaldiçoar. Estou fardada a ser prisioneira em corpos mortais durante a eternidade e dessa forma, não sou resistente para meus próprios poderes. Viverei uma vida comum, morrendo jovem e por fim retornarei cem anos depois; um outro rosto, um outro nome. Provavelmente esquecerei como meu rosto original era, provavelmente esquecerei de todos que me rodeiam e esquecerei da minha família.
Mas, lembre - se; algo mais poderoso que o Caos, é a Ordem unida a ele.
Ademais, Hécate lhe deve um favor, cobre - o, você vai precisar.
Talvez ao fim de tudo, nada importe. Talvez, o amor que eu sentia não é o mesmo que você sente agora.
Acredite, eu sei que você não sou eu e eu não sou você, porém estamos no meio termo disso e eu preciso da sua ajuda. Não conheço sua história, mas te mostrei a nossa.
Pode dizer que por nada disso vale a pena lutar, tofavia acredite, eu não mudaria um segundo sequer de tudo isso se significasse ter a chance que você está tendo agora. Algo nessa vida aconteceu para que esteja lendo isso, então eu peço; não vire às costas, não ignore e não pense que não és capaz.
Eu confio em você, não porque se chama Luna Gregori. Na verdade porque também possui outro nome, outra história para acrescentar a nossa e diferente da minha, torço para que a sua tenha um final feliz. Você é melhor do que já fui um dia e sobretudo, não esqueça; nunca desistimos ou abandonamos uns aos outros.'
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Assim que terminei de ler, levantei da cama rapidamente, saindo do quarto com o papel em mãos.
Como digerir todas as informações? Não havia como.
Meus passos faziam o mesmo percurso que realizei mais cedo com Mike, no entanto agora não existia mais a paz ao olhar para fora de Adalasiah, apenas a sensação de um dever não cumprido.
Azura ou Luna, não importava. Eu lembrava deles e eu precisava salva - los! Meu coração pedia por isso, minha alma pedia por isso!
Ao chegar quase em frente a porta do escritório de Nowa, senti um aperto no meu braço - unhas fincando na minha pele e no momento seguinte fui atirada na parede com tamanha força que o ar foi retirado dos meus pulmões por alguns segundos. Sophia me encarava com um sorriso ardiloso nos lábios e na sua outra mão, uma adaga estava pressionada no meu pescoço.
─۫─̸ Onde pensa que vai anjinha? ─۫─̸ Tentei escapar, em vão. A loira riu ─۫─̸ Tão fraca, tão estúpida...─۫─̸ A adaga antes no meu pescoço, deslizou até minha bochecha, um deslize suave ─۫─̸ Vou falar apenas uma vez. Se você machucar Mike ou Nowa, eu acabo com sua raça! Se atente em suas ações querubim e seja útil uma vez na vida...
Havia ira em seu olhar e também, sinceridade.
Eu até poderia entender sua lealdade com seus iguais, entretanto isso não lhe dava o menor direito sobre minha persona. Ninguém na verdade teria mais direito sobre mim. Não iria mais abaixar minha cabeça, nunca mais.
Sentindo o colar em volta do meu pescoço aquecer, o poder dominou meu interior outra vez.
─۫─̸ Me solta! ─۫─̸ Ordenei e assim ela o fez sem pensar duas vezes. Minhas orbes refletidas em seus olhos, dava para notar que estavam completamente vermelhas ─۫─̸ Dê - me a adaga ─۫─̸ Ela fez como dito ─۫─̸ E agora, ajoelhe - se...
Eu conseguia sentir o quanto ela tentava lutar contra minha ordem, o quanto se contorciano interior, em vão. Sorri satisfeita quando a succubus se ajoelhou perante minha presença, então eu estava deslizando a adaga pelo rosto da mesma, sem machuca - la. Apanhei seu queixo com força, obrigando-a a me encarar.
─۫─̸ Se você ousar contra mim outra vez, se me ameaçar...Juro por Deus primeiro que arrancarei suas costelas, seus dentes e por fim, pisarei na sua cabeça até ela explodir e restar apenas os seus miolos no chão. Entendeu? ─۫─̸ O demônio grunhiu. Apertei seu queixo com mais força repetindo a pergunta ─۫─̸ Entendeu?
─۫─̸ Sim...─۫─̸ A voz era apenas um sussurro.
Tão de repente quanto surgiu, o poder foi embora. Um pigarreio se fez presente e no momento que ergui o olhar, encontrei não somente Nowa me encarando estupefato, como também Roy - meu melhor amigo.
O mundo pareceu parar por alguns instantes e meu coração parecia querer saltar pela boca. Ele estava lá, na minha morte, esteve lá durante todo o tempo. Engasguei com o próprio ar e corri até o mesmo, abraçando-o com toda a força, meus braços rodeando seu corpo com medo dele desaparecer a qualquer momento.
─۫─̸ Anjinha...─۫─̸ Ele suspirou contra meu cabelo e se afastou apenas o suficiente para encostar sua testa na minha. Naquele momento, não havia nada em volta, apenas nós dois ─۫─̸ Você tá viva, você tá viva...─۫─̸ Roy repetia como um mantra e outra vez voltou a me abraçar.
Dessa vez, arrisquei um olhar para a direção de Nowa, o príncipe permanecia de braços cruzados, o cenho franzido. Quando notou meu olhar, voltou a pigarrear.
─۫─̸ Já está na hora de começarmos. Luna iniciará o treinamento comigo, Mike e Sophia alternadamente...─۫─̸ A voz era fria e cortante outra vez.
Sophia estava em pé, parecia ferver por dentro de raiva.
─۫─̸ Roy encontrará uma maneira de reaver todas as suas memórias, assim saberemos o que fazer com o colar e como...─۫─̸ Ele gesticulou para mim ─۫─̸ Te consertar...
─۫─̸ Ela não precisa de conserto... ─۫─̸ Roy lançou um olhar irritado na direção de Nowa.
─۫─̸ E eu não pedi sua opinião. Se querem manter o romance adolescente de vocês, recomendo um quarto e um momento em que quase toda a população celestial não foi escravizada...
─۫─̸ Nós não temos um caso romântico! ─۫─̸ Murmurei com as bochechas vermelhas, me afastando de Roy que parecia bastante decepcionado. Não saberia dizer se com a distância, ou minhas palavras.
─۫─̸ E eu vou dizer mais uma vez... ─۫─̸ Nowa se aproximou, tão perto que me obriguei a dar passos para trás até sentir a parede atrás de mim. O demônio não desviava sua atenção da minha persona ─۫─̸ Eu não me importo com seu romance, com sua vida ou com você. Temos um objetivo; libertar os anjos e tirar Miguel do poder e por isso estou aqui lidando contigo. Não pense por nenhum outro momento que seja outra coisa, entendeu? ─۫─̸ Ele rosnou as palavras em meu rosto, e a fúria outra vez tomou conta de mim.
Estava cansada da pose aristocrata, estava cansada de ser inferior. Eu não era, nunca fui. Ergui meu joelho e acertei em cheio o demônio no saco.
─۫─̸ Ótimo, porque eu também não me importo com você... ─۫─̸ Dei de ombros, observando o maior se curvar com dor. Então, abaixei meu olhar com um sorriso sereno nos lábios ─۫─̸ E da próxima vez que me tratar como menos do que nada, me certificarei de acertar mais do que o meio das suas pernas...
Sophia e Roy me encaravam alarmados e em parte, eu também estava. Qualquer que fosse a mágica dentro da carta, ela havia me mostrad realmente quem eu sempre estive destinada a ser e com toda certeza, eu não seria uma covarde, nunca mais.
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