𝐌𝐄𝐒𝐒𝐘 𝐇𝐈𝐏𝐏𝐎𝐂𝐀𝐌𝐏𝐔𝐒

*•.✧☽*:⛈︎✧☂.•*
𝐂𝐇𝐀𝐏𝐓𝐄𝐑 𝐅𝐎𝐑𝐓𝐘 𝐎𝐍𝐄

𝐌𝐄𝐒𝐒𝐘 𝐇𝐈𝐏𝐏𝐎𝐂𝐀𝐌𝐏𝐔𝐒

⛈︎彡𝐓𝐫𝐢𝐧𝐭𝐚 𝐚𝐧𝐨𝐬 𝐚𝐩𝐨́𝐬 𝐚 𝐩𝐫𝐨𝐦𝐞𝐬𝐬𝐚.

"QUERIDA CELLY...

Hoje faz mais de trinta anos que fiz a promessa de voltar para você. Já perdi o jeito em escrever essas "cartas que a Celly nunca vai ler". A última vez que fiz isso, foi quando era jovem, e de repente, aqui estou eu... escrevendo mais uma carta na qual a mulher que amo nunca lerá essas palavras.

Eu consegui sobreviver ao apocalipse. Confesso, não foi fácil, Celly. Bem pelo contrário, teve vezes que nem sequer conseguia continuar. Eu pensava em você. Queria morrer, Celly, mas o anseio de te ver novamente me prendia ao mundo, e por isso, às vezes eu me encontrava tentando te esquecer.

Os dois primeiros meses me fizeram ficar na academia. Eu simplesmente não sabia o que fazer. Era ridículo, não? Eu era o único da família que deveria saber tudo sobre o tempo, e nem sequer sabia por onde começar quando me vi ali.

Eu vasculhei os escombros da Umbrella semanas após, e encontrei o livro de Vanya.
"Extra-Ordinária: Minha vida como Número Sete". Aquilo me confortou pra caramba, sabia? Bom, eu posso imaginar que Luther e Diego certamente não levaram numa boa a história do livro, mas Vanya falou de você.

"Celeste foi a primeira a sair de casa. Os abusos psicológicos do nosso pai estavam sendo extremos com ela. Celly amava demais o Cinco, e com a ida dele, tudo pareceu despencar. Este foi o terceiro motivo da Umbrella Academy ser desmantelada. Celeste nunca mais nos viu".

Sinto que faltaram coisas a serem escritas nele, e pretendo saber sobre esses detalhes através de você. Eu só espero que eles não sejam tão complicados como no livro. Sinto muito por ter tornado tudo tão difícil, Celly. Eu realmente gostaria de saber porquê você nunca mais voltou. Óbvio, se o papai estava realmente sendo péssimo com você, isso tudo é compreensível. Mas porquê você não voltou para os nossos irmãos? Isso é algo que eu me pergunto até hoje.

Óbvio que, olhando a passagem de Vanya de outra forma, o "Celly amava demais o Cinco" mexeu comigo, confesso. Convenhamos, Vanya nunca fora a pessoa mais rápida da família para reparar nos sentimentos dos outros. Para ela ter escrito o livro com essa informação, é porque a gente deixava bem na cara, não é?

Cada vez que eu pensava em desistir, eu me lembrava daquilo — obviamente, bastava eu lembrar do restante da página e minha felicidade ia embora em instantes. Mesmo assim, eu sabia que poderia voltar para você, e seria amado tanto quanto te amaria — ou então, é assim que espero.

Os seis primeiros anos no apocalipse se passaram, e eu não tinha nenhuma ideia do que fazer para voltar para você. Até que — depois de várias tentativas —, tive a brilhante ideia de projetar minha consciência. Nunca achei que um cálculo pudesse ser tão demorado para ser resolvido. Entretanto, há exatos vinte minutos atrás eu consegui resolver o que me trará de volta para você amanhã de manhã. Foi engraçado, sabia? Depois que cheguei ao resultado fiquei olhando para a parede, imaginando as milhares de possibilidades que terei de encarar amanhã cedo.

Os meus poderes podem acabar falhando e me levando de volta para o inferno chamado "Apocalipse". Ou então, podem me levar para o momento em que você esperou... dez anos por mim — nem posso imaginar como me sentiria se eu soubesse que tivesse deixado você esperando tanto tempo. E se talvez você nem sequer tenha esperado? E se eu te encontrasse casada? Com filhos... ?

Ou talvez, eu tenha a sorte de voltar para instantes após ter te deixado. Seria ótimo. Teríamos tempo para viver juntos. Você não teria tempo para se apaixonar por outra pessoa. Viveríamos juntos, e um ano antes do apocalipse, poderíamos pensar em impedi-lo juntos.

Sei que, no apocalipse, quando te encontrei, você estava com uma aparência jovem. É muito para se pensar. Mas Luther, Diego, Allison e todos os outros estavam adultos. Isso quer dizer que haviam esperado por mim e eu não havia voltado... mas isso finalmente pode mudar.

Bom, nada disso importa. O amanhã é realmente cheio de possibilidades, e não posso prever o que vai acontecer, eu acho. Independente do que me aguarda daqui doze horas, eu espero te ver viva, e sobre tudo, feliz. Se essas duas coisas estiverem acontecendo, posso afirmar que tudo isso valeu a pena.

Até logo, Celly.

Com o irrevogável e incondicional amor, seu Cinco".

「· · • • • ⛈︎ • • • · ·」

⛈︎彡 𝐃𝐢𝐚𝐬 𝐚𝐭𝐮𝐚𝐢𝐬.

Assim que o trio voltou da peculiar estação de trem, descobriram que Diego havia encontrado alguns documentos importantes. Ainda atordoados, os três rapidamente ficaram atentos. Celeste tinha sensação de que iria vomitar depois de tantas experiências com teleporte, mas segurou como pôde, se apoiando no sofá em que reapareceram e tombando a cabeça para trás, respirando fundo. Quando Cinco pegou em mãos os documentos que o irmão havia achado, após se levantar rapidamente, Celeste e Lila se aproximaram para ver do que se tratava.

— O que é isso? — Celeste perguntou. Diferente de Cinco e de Diego, ela realmente não sabia quase nada sobre a antiga academia que ambos haviam frequentado. Ela ficou ao lado do garoto, olhando de soslaio para Diego, que parecia ansioso para mostrar o que havia encontrado.

𝙰𝚜𝚜𝚞𝚗𝚝𝚘 𝚍𝚘 𝚒𝚗𝚌𝚒𝚍𝚎𝚗𝚝𝚎: 𝙹𝚎𝚗𝚗𝚒𝚏𝚎𝚛. 
𝙼𝚘𝚛𝚝𝚎𝚜: 2
𝚄𝚖𝚋𝚛𝚎𝚕𝚕𝚊 𝙰𝚌𝚊𝚍𝚎𝚖𝚢  14/10/2006

— "Umbrella Academy"? — Cinco murmurou, enquanto Celeste franzia o cenho, tentando compreender a situação. — Isso é impossível. Não existia Umbrella Academy em 2006. — Ele falou, erguendo a cabeça para ver o irmão, que havia se apoiado na enorme mesa do escritório.

— Ao menos não após o reinício, não é? — Celeste perguntou. Ficava feliz quando entendia alguma coisa, mesmo tendo participado de somente um quarto do assunto.

— Exato. Não nessa linha do tempo. — Diego respondeu. O garoto começou a folhear as páginas, meio atônito com a informação. O cenho franzido, buscando compreender tudo aquilo.

— Isso é mais uma prova de que eles… a Jene e o Gene, no caso, estão certos. Eles pertencem a outra linha do tempo.

— Mais um dos artefatos da Jene e do Gene. — Lila mumurou. Achava que havia compreendido toda a excitação do marido no assunto.

— Continue lendo. — Diego pediu. Um sorriso vitorioso nos lábios. Celeste e Cinco se entreolharam, e então, o trio voltou a ler o documento.

— “Dia 14 de outubro de 2006”... ? — Cinco leu em voz alta, ainda sem entender toda felicidade do irmão. Ele semicerrou os olhos, buscando suas memórias para tentar se lembrar de algum acontecimento neste dia. Infelizmente, ele só se lembrou da sua vida no apocalipse. Nesta época, já faziam meses, quase um ano, em que estava preso no inferno.

— O que tem de tão especial no dia 14 de outubro de 2006? — Lila perguntou, olhando para o marido em busca de respostas. Diego se virou de costas, apoiando as mãos na mesa do escritório. Seus olhos vagaram pela janela.

— É… eu também estou confusa. — Celeste falou, dando um passo à a frente enquanto erguia a sobrancelha. A tensão aumentou, enquanto todos esperavam por uma resposta lógica do outro.

— Foi o dia em que o Ben morreu. — Diego falou. O rosto virado para o lado oposto deles. Os olhos pareciam vagar sem rumo, relembrando o momento. Uma pequena tensão, da parte de Cinco, se instalou, assim como uma confusão enorme surgiu de Celeste.

— Mas… o Ben não estava com a gente há pouco tempo? — A garota perguntou. Ela olhou primeiro para Lila, que era mais gentil, mas só foi respondida pelo garoto, que suspirou fundo.

— Não é esse Ben, Celeste. — Cinco explicou, olhando para ela e para o documento. — É o nosso irmão da linha do tempo em que viemos. Isso é uma coincidência. — Cinco respondeu, dando de ombros. Celeste rapidamente pegou das mãos dele as folhas.

— Deixa eu explicar pra vocês. — Diego começou, dando um passo para o lado e indo em direção a cadeira da escrivaninha. — Um cara de uma lavanderia aparece do nada e contrata a gente pra ir até New Grumpson, no Maine, pra resgatar uma garota chamada Jennifer. A cidade inteira pira. Batem no nosso carro e a garota é sequestrada por dois justiceiros num carro velho. Agora, no lixo deles, achamos um documento estrangeiro que tem alguma coisa a ver com a morte do Ben. — Ela falou, se sentando na cadeira e apoiando os pés na mesa. Soltou uma lufada de ar antes de prosseguir o raciocínio, enquanto os outros o olhavam atentamente: — Ou seja… O que quer que esteja acontecendo com a Jennifer tem alguma coisa a ver com o Ben. Ipso facto, sacaram? — Ele perguntou. As sobrancelhas franziram, e ele olhou de forma ameaçadora para o irmão. — Se arrependeu de não ter mandando meu currículo?

Cinco somente olhou para as garotas ao seu lado e suspirou. Colocou as mãos na cintura, enquanto Lila perguntava o que era um "incidente Jennifer".

— Foi um acidente trágico. — O garoto deu de ombros. — Só isso que eu sei. Li alguma vez em um jornal antigo, no apocalipse. Não lembro muito.

— E… como foi que o Ben morreu, mesmo? — Celeste perguntou. Os olhos levemente fechados, ela sentada no braço do sofá. Realmente gostaria de compreender aquilo.

— Eu… não lembro muito. — Diego falou. Levou a mão até o cabelo, coçando-o enquanto tentava lembrar de qualquer informação útil.

— Isso foi há… uns dezenove anos? Não era pra você saber sobre a morte do seu irmão? — Ela rebateu confusa.

— O Ben morreu porque nós falhamos como equipe. — Ele respondeu. Sentia que as palavras simplesmente saiam da sua boca como se ele nem precisasse pensar para falá-las. — Celeste, a nossa Celly, foi responsável… — ele continuou, franzindo o cenho. Abriu a boca, pensando em continuar falando. Cinco o olhou com atenção, dependendo do que o irmão viesse a falar, ele estava disposto a defendê-la. Diego pareceu pensar um pouco, não falou nada. Os olhos vagaram sem rumo, enquanto Celeste esperava ele terminar de explicar. — Não. Eu… não lembro de nada que faça sentido. — Ele murmurou. Diego parecia atordoado, e as palavras seguintes foram tão baixas quanto a anterior. Como se falasse consigo mesmo, tentando buscar respostas. — Por que estou falando isso? Nem me lembro direito o que aconteceu.

O adulto tirou os pés rapidamente da mesa e ficou de pé.

— Tem algo de errado. — Ele murmurou. Olhou para Celeste, que pareceu perceber o que ele queria expressar. Ela somente respondeu um “Vou chamar um táxi para falarmos com o papai” e se retirou dali, deixando Diego em batalha com suas próprias lembranças.

「· · • • • ⛈︎ • • • · ·」

Os quatro desceram rapidamente do táxi quando chegaram à enorme mansão em que Celeste morava.

— Uau. Tudo isso, hm? Eu sabia que você era rica, mas não imaginava que era tanto. — Lila murmurou, atônita diante da enorme mansão branca com colunas à frente.

Um grande pátio se estendia. Guardas cuidavam da entrada da casa, e rapidamente pareceram falar algo nos Walkie Talkie’s quando viram a garota.

— Vamos logo. — Diego pediu, correndo à frente dos três, que andaram com pressa para dentro do edifício.

Eles atravessaram o campo, e os visitantes não se deram ao trabalho de explicarem suas situações aos seguranças, somente entraram com pressa na casa da garota.

— Senhorita Hargreeves, o seu pai te aguarda há dois dias-  — um guarda tentou avisá-la, e a garota somente agradeceu, correndo pelas escadas externas e abrindo com pressa as portas.

— Aí! — Diego gritou, ainda à porta, entrando rapidamente pelo salão. Ainda de longe, os quatro avistaram Allison, Viktor e Luther assentados no sofá da sala com uma mulher de cabelos loiros conversando com eles e Reginald.

Eles realmente pareciam em uma conversa tranquila, apesar da afeição de Luther demonstrar surpresa. O quarteto realmente não se preocupou em procurar saber se estavam interrompendo algo importante.

Lila parecia encantada com as decorações da casa, enquanto Cinco realmente não ligou para nada daquilo, queria saber tanto sobre quando Diego. Quando o assunto girava em torno dela, não havia como ele agir com indiferença. Os quatro correram pelo hall de entrada e finalmente chegaram à enorme sala. As paredes brancas e altas, um enorme e luxuoso lustre decorava o ambiente. Sofás grandes, duas poltronas e uma mesinha de centro. Tudo tão simples, mas elegante na mesma medida.

A mulher de cabelos loiros rapidamente se levantou, olhando para Celeste, que não parecia estar com pressa em dar satisfação aos seus pais.

— Por onde foi que você andou?! — Ela perguntou. Luther, que parecia estar acostumado a ver uma versão compassiva e gentil da mulher, se assustou quando ela demonstrou uma preocupação tão extrema ao ponto de gritar com ela.

— Oi, mãe. — Ela murmurou baixinho, parecia disposta a empurrar as discussões para depois.

— "Oi, mãe"?! Você some por dois dias e chega em casa dizendo isso?! Ridículo, Celeste! — Ela reclamou. As duas se mantendo a alguns metros de distância. O restante dos outros que haviam entrado com a garota, pararam por perto para olhar as discussões. Reginald, sentado na poltrona, somente lançou um olhar de decepção para a filha, e voltou a prestar atenção em sua frente, usando sua audição para acompanhar o caso. — Tem noção da preocupação que seu pai e eu passamos com isso? Ir até New Grumpson?! Você havia acordado em péssimo estado!  — A mulher continuava a demonstrar sua preocupação. Celeste tomou um tom de vermelho tão vivo, que parecia querer se enterrar de vergonha.

— Mãe, eu-

— Deixe ela, minha querida. A garota é adulta. — Reginald impôs, olhando para a esposa, que havia estado certamente preocupada.

— Eu sei que ela é! Mas isso não é motivo para nos preocupar deste jeito!

— Os poderes dela voltaram. Ela nunca esteve em real perigo. — O mais velho deu de ombros. Alguns irmãos se entreolharam. Abigail franziu o cenho. Virou o corpo alguns centímetros, olhando fixamente para o marido, que parecia concentrado em não ficar olhando para as duas.

— Por que não me contou antes? — Ela perguntou. A voz soou como uma reclamação por ter se preocupado tanto.

— Porque tudo se tornaria uma bola de neve. Você faria mais perguntas, depois mais, e cada resposta que eu daria você iria surtar de forma histérica, com todo respeito, querida. — Ele falou. A voz demonstrando tranquilidade no assunto. A mulher relaxou os ombros, suspirando fundo.

Abigail se aproximou da garota, e a envolveu em um abraço apertado. "Me desculpe por isso. Só não me deixe tão preocupada novamente", ela pediu. Os irmãos, meio desconfortáveis com toda a situação, somente esperaram o clima deixar de ficar tão tenso.

— Como foi que sabia dos meus poderes? — Ela perguntou. A voz baixa, esperando uma resposta sincera do pai.

— Minha equipe só percebeu que havia atirado contra você, quando você incinerou eles. — Ele falou. Finalmente olhou para a filha, que agora, vergonhosamente, coçava a nuca. Os olhos autoritários do pai a deixaram empertigada. — Eu perdi trinta e sete pessoas hoje, Celly. Fora os outros dez, que sobreviveram e foram demitidos por não fazerem o seus trabalhos.

— Eu não matei todas as trinta e sete — ela se defendeu. Logo, voltou a ficar envergonhada ao saber brevemente a quantidade correta. — Só... umas dezoito.

— Isso te faz muito mais inocente, não é? — Cinco ironizou. Os lábios levemente curvados em um sorriso, surpreso em saber que ela não era tão empática com mortes como sua Celly.

— Era eles ou eu. — Ela deu de ombros. — Eu tava lutando pela minha vida.

Reginald somente expirou, assim como sua mãe, que deu dois tapinhas fracos no ombro da filha e saiu de perto. Os olhos em um misto de repreensão e conforto — por saber que a filha estava bem.

Diego observou um pouco, e quando percebeu que os olhares de todos estavam sobre eles, ele pigarreou, e começou a falar aquilo com que pensara antes:

— Temos que conversar sobre o Ben — Diego falou, erguendo os documentos encontrados e obtendo a atenção dos irmãos.

Allison foi a primeira a franzir o cenho, sem entender toda a animação e preocupação do quarteto. Celeste, que há poucos instantes estava tensa, agora parecia tão excitada com seus palpites quanto antes. Abigail voltou a sentar-se na segunda poltrona da sala, prestando atenção de forma calma nos outros.

Quando Diego se aproximou da enorme sala, e começou a ler tudo o que os documentos diziam, os irmãos pareciam ainda mais confusos. Eles não compreendam no que aquilo poderia ajudá-los.

— É da Moldávia. — Ele concluiu. — E é claro que tá bem apagado — ele avisou, no momento em Allison pegou os papéis de sua mão. Ela bufou.

— Ótimo. Então não podemos ler nem ver — ela ironizou, baixando seus olhos até as escritas, tentando ler com menos dificuldade que o irmão.

Cinco afastousse das colunas da sala e deu quatro passos até o centro do irmãos, pronto para explicar sua opinião. Celeste somente permaneceu de pé, ao lado de Lila. Suas mãos pousaram na poltrona do seu pai, que a olhou com um natural carinho.

— Pelo o que eu posso dizer, esse documento é da nossa minha do tempo original. Ele explica como o Ben morreu. E se refere ao caso como o "incidente Jennifer".

— Já sabemos como o Ben morreu — Luther falou. Sua voz carregada de normalidade. Parecia estar falando o óbvio.

— Então tá bom. Conta aí. — Cinco pediu. Ele colocou as mãos nos próprios bolsos do paletó, esperando que o irmão contasse tudo o que se lembrava.

— Bom, foi um acidente trágico. O Ben, o nosso Ben, morreu porque falhamos como equipe. A Celly foi responsável e...

O loiro pareceu se perder nas palavras. Também não conseguia completar o acontecimento tão marcante. Cinco perguntou um "E o quê?" esperando que o irmão completasse. Luther deixou seus olhos fixos em um ponto. A boca entreaberta, ele realmente acreditava que pudesse completar a lembrança, mas não conseguia.

— Allison, como o Ben morreu? — Cinco voltou a perguntar, olhando para a irmã, desta vez, que guardou os papéis e voltou a responder com facilidade.

— Foi um acidente trágico. O Ben morreu porque nós...

— ...falhamos como equipe. — Luther completou. Os dois falando ao mesmo tempo. Ambos se entreolharam.

— Celly foi a principal responsável — Diego se juntou ao coro dos irmãos, falando exatamente o que sua boca deixava-lhe escapar. Era automático. Como se já estivessem programados para falar aquilo. — Ben Hargreeves representava o melhor de nós. O Ben era a Umbrella Academy.

Luther foi o primeiro dos irmãos a ficar boquiaberto com o fato de todos terem decorado exatamente a mesma coisa para falarem sobre o assunto. Ele olhou para Allison, que estava completamente confusa. Olhou para Viktor, não entendia como eles falaram aquilo de forma tão natural.

— Eu acho que isso é um pouco pior do que eu imaginava — Celeste murmurou. Os olhos vagando preocupadamente por cada irmão.

— Que joguinho doentio é esse? — Lila perguntou, cruzando os braços em frente ao peito.

— Peraí, algum de vocês lembra como foi que o Ben morreu? — Cinco perguntou, mas ninguém respondeu. A tensão aumentou no ambiente. — Alguém?

— Bom, eu não tava lá — Viktor deu de ombros. Nunca acompanhava os irmãos nas missões.

— Eu também não. Mas o resto de vocês, sim. — Cinco rebateu. — Era pra vocês lembrarem de alguma coisa sobre a morte do irmão querido... mas não lembram.

— Mas o que está acontecendo? — Luther perguntou, buscando compreender o que o irmão insinuava.

— Isso não é óbvio? — Cinco perguntou, olhando para Reginald, que observava a situação de forma fascinada. — Alguém andou brincando com o hipocampo de vocês.

— Mexendo com as nossas memórias. — Diego concluiu. Todos olharam para o mais velho, incluindo Celeste, que temeu estar tão errada sobre o pai.

— Por mais fascinante que isso possa ser, eu garanto que não tenho a menor noção do que se trata. — O mais velho se defendeu. Ergueu sua mão para tocar na mão da sua filha, buscando de alguma forma confortá-la sobre seu respeito.

— Sabe de alguma coisa, velhote? — Diego perguntou, se aproximando do mais velho. Atravessou a sala em passos curtos, olhando meticulosamente para ele.

— Vocês estão especulando sobre ações de uma versão minha completamente diferente de uma linha do tempo completamente diferente. — Ele falou. A voz demonstrando sinceridade e defesa. Poucos segundos se passaram, enquanto ele parecia pensar. —Dito isso, parece mesmo algo que eu faria.

— Pai?! — Celeste chamou. Virou sua cabeça para o lado, desacreditada.

— É. É isso aí — Allison resmungou. Já esperava que ele realmente houvesse feito aquilo.

— Pode, ou não, ter existido um projeto clandestino com uma certa agência de inteligência clandestina. — O homem voltou a falar. Juntou as mãos em frente ao corpo, entrelaçando os próprios dedos enquanto tentava especular suas ações.

— Experimentos com a mente humana. Como eu não pensei nisso? — Cinco murmurou.

Celeste e sua mãe se entreolharam. As duas olharam para o mais velho de forma preocupada. Abigail, tendo conhecido seu marido como conhecera, já esperava que ações de tal tipo pudessem vir dele. Ela sabia o quão ele era ganancioso e esperto para atingir suas metas. Celeste, por outro lado, tinha o problema de depositar completamente sua confiança nas pessoas. Mesmo com os outros constantemente avisando que seu pai não era uma boa pessoa, ela tentava negar a si mesma que a primeira pessoa a se importar com ela realmente tinha um caráter duvidoso.

— A guerra psicológica era o máximo nos anos sessenta. Mas foi só um contrato breve e imensamente lucrativo. — O homem deu de ombros.

— Então você pode apagar memórias? — Luther perguntou. A voz fascinada e preocupada.

— Com a mente humana, tudo é possível, meu jovem. — Reginald respondeu. Celeste ergueu as sobrancelhas. Eram informações demais para assimilar.

— Se pode apagar, também pode restaurar, né? — Lila especulou.

— Com a devida tecnologia...

— ...que nós temos! — Celeste falou instantaneamente. O homem rapidamente olhou para ela. Quando percebeu sua clara vontade de ajudar os irmãos, ele negou:

— Não está neste prédio. — Ele falou. Mesmo que se esforçasse, mentia muito mal.

— É mentira dele — A garota os tranquilizou, dando dois tapinhas leves no ombro do pai e revirando os olhos. O mais velho franziu o cenho, incomodado com toda a situação recaindo sobre seus ombros.

— Muito bem, velhote. — Cinco começou, dando passos na direção do mais velho. — Você vai devolver cada lembrança deles que tiver a ver com a morte do Ben, porque, se você apagou o incidente Jennifer, quer dizer que era alguma coisa importante o bastante pra você se dar ao trabalho de apagar.

— Eu não vou fazer nada! — Ele negou. Franziu as sobrancelhas, e empertigou-se no assento. — No momento, temos que achar a garota antes que seja muito tarde-

— Reggie, por favor. — Abigail se pronunciou. A voz cansada e ansiosa. Ela estendeu sua mão para que o esposo a segura-se.

— Querida, é um trabalho complicado. Pode levar horas, dias...

— E daí? — Celeste perguntou. — Temos tudo o que precisamos. 

O homem a olhou, parecendo pensar. Quando sua esposa começou a tentá-lo convencer de ajudar os outros, então, ele percebeu que realmente não haveria como fugir da vontade delas. Os irmãos presentes na sala, somente olhavam com cautela a situação, e realmente ficaram surpreendidos com a facilidade que o mais velho fora convencido por elas. Ele somente aceitou calado.

「· · • • • ⛈︎ • • • · ·」

A sala que seria usada para os experimentos, agora estava cheia com os irmãos ali presentes. Ela estava completamente iluminadas por luzes azuladas, que saíam das paredes em forma quadrangulares. Era uma sala realmente grande, repleta de maquinários tecnológicos que Cinco pareceu realmente se interessar.

Eles não haviam ido para a sala muito tempo após Reginald ser convencido. Ele logo começou a explicar como funcionava para os três irmãos — Allison, Diego e Luther — que seriam testados, e quando chegaram à sala, logo foram deitados para fazer o experimento.

— É só deitar e relaxar, Luther. — A voz pesada do mais velho falou, terminando de instalar os equipamentos entorno da cabeça do loiro.

— Até parece — ele sibilou com deboche. Parecia realmente nervoso, já que nunca souberam sobre pessoas que haviam usado aquelas tecnologias.

Celeste estava ao lado da sua mãe. Ambas com olhares curiosos para os irmãos. Cinco estava parado em seu lugar, somente observando Reginald instalar as tecnologias.

O mais velho se aproximou da mulher deitada, pondo o cinto de segurança entorno dela — prevenindo caso a dor fosse excruciante ao ponto de tentarem se mover.

— Todo mundo vai ter que fazer isso? — Allison perguntou. — Não dá pra fazer só com um?

— Fragmentos de lembranças originais ainda estão alojados nas suas mentes. Elas são peças que integram um quebra-cabeças maior. — O mais velho explicou pacientemente, terminando de ajustar o equipamento. Ele parecia de fato animado com o projeto.

Quando se afastou da morena, olhou diretamente para os outros, esperando que mais alguém se oferecesse para o teste.

— Também quero ficar conectado. — Viktor se pronunciou.

— Mas... você não tava na missão... — Luther o lembrou. A voz carregada de confusão.

— Eu não tava na equipe na época, mas agora eu tô. E eu quero saber a verdade tanto quanto vocês. — Ele falou calmamente. Todos com suas atenções para ele.

— Excelente. Por favor, sente. — Reggie pediu. Assim que o outro saiu do seu lugar, em direção às máquinas, o mais velho olhou para Lila. — E você?

— Ah, eu prefiro ficar só olhando.

— Idem. — Cinco se pronunciou, ainda parado em seu lugar. As mãos nos bolsos, pensando nos segredos que as mentes dos irmãos poderiam esconder sobre Celly. — Sem ofensas, mas não vou deixar você chegar perto do meu cérebro.

— Muito bem, talvez possam ajudar. — O homem deu de ombros, terminando de ajustar as máquinas em Viktor e Diego.

Celeste notou Lila se aproximar do marido. Os dois pareciam realmente bem. Com algumas palavras dela, foi o suficiente para o homem sorrir, e uma expressão de felicidade tomar conta do seu rosto.

Celeste e Cinco — lado a lado — se entreolharam com os dois.

— Eles são casados há muito tempo?

— Desde o reinício. — O garoto deu de ombros.

— Parecem muito bem. — Ela falou. A voz, demonstrando uma certa felicidade pelos dois, que com poucos dias de vivência, se tornaram, de alguma forma, importantes para ela.

Eles nem notaram quando o mais velho começou a mexer no painel de controle, baixando alavancas e apertando botões como se já houvesse feito aquilo tantas vezes, que já estava acostumado.
Somente perceberam que o teste havia se iniciado, quando a sala saiu de um azul vivo, para vermelho.

Um barulho chato começou a emanar das máquinas, ecoando pela sala. Os irmãos ali deitados, começaram a se sentir mais nervosos que o normal. Deu-se somente o tempo de Reginald terminar de clicar nos botões corretos para que Luther, completamente nervoso, perguntasse: "Espera aí, isso vai doer?". Reginald somente apertou o último botão, e enquanto as máquinas se preparavam para funcionar, ele respondeu, completamente seguro: "Indubitavelmente".

A última alavanca foi baixada, enquanto uma luz amarelada e forte começava a clarear os rosto dos irmãos, os forçando a fechar os olhos e se concentrarem em suas memórias mais profundas. A dor terrível finalmente atingiu seus corpos quando as memórias começaram a ser vasculhadas pela tecnologia. Os gritos foram abafados pelo mordedor enfiado em suas bocas, e Cinco só conseguia querer saber sobre uma coisa: o que Celly havia passado enquanto ele esteve fora?

「· · • • • ⛈︎ • • • · ·」

⛈︎彡 14 𝐝𝐞 𝐨𝐮𝐭𝐮𝐛𝐫𝐨 𝐝𝐞 2006.

A sirene ecoava pelos corredores da academia. A mesma que todos os irmãos já estavam acostumados a ouvirem sempre que uma missão nova os aguardava. Luther, o encarregado de coordenar a organização dos irmãos, costumava sempre manter o astral elevado para o incentivo da equipe — apesar de que, com todas as confusões e conflitos da academia, isso nem sempre funcionava.

— Vamos lá. Todo mundo se aprontando! — Ele pediu, saindo em passos rápidos do seu quarto. Logo na frente, Diego, que realmente gostava das missões, já estava até mesmo vestido. — Fala, Diego. — Luther cumprimentou. O sorriso no rosto enquanto passava pelo irmão no corredor.

— Tô sempre pronto! — Ele afirmou, se escorando na parede enquanto via o loiro passar pelo corredor, a fim de pedir para que o restante dos irmãos fosse tão rápido quanto Diego.

— Vambora, gente. Vambora! — Luther pediu. Sua ansiedade crescia conforme percebia a lerdeza dos irmãos.

O primeiro lugar a passar havia sido no banheiro, onde encontrou Klaus e Allison. O garoto, estava vestido, dentro da banheira. Alisson tentava o puxar para que saísse de lá, mas ele claramente não estava sóbrio.
Luther somente expirou em desapontamento, enquanto Allison dizia um: "Você tá me zoando, Klaus? Você acabou de voltar da reabilitação! Pega leve!".

A garota forçava o irmão para sair dali. Sabiam que o seu pai não tolerava atrasos em nenhum momento, e tudo isso se tornaria pior se ele descobrisse que o filho estava bêbado.

— Vambora, gente. Depressa. O papai tá esperando! — Luther pediu. Não aguardou mais segundos ali, e deixou que Allison resolvesse o problema de Klaus, enquanto caminhava pelo corredor para procurar o restante da equipe.

Enquanto isso, no quarto de Benjamin, Viktor vestia o uniforme da academia — com a tão sonhada máscara, que só aqueles que iam às missões poderiam vestí-la.

Benjamin somente lia, mas parou de prestar atenção na leitura quando notou o irmão se admirando no espelho. Viktor acreditava que a máscara lhe caía bem, mas ambos foram interrompidos quando a porta do quarto se abriu com pressa.

— Ben! Não tá vestido?! — Luther reclamou.

— Eu não vou. — Ele deu de ombros, voltando a prestar atenção às palavras que o prendiam.

— Mas a gente vai ficar desfalcado! Se você não for, é provável que a Celly também não queira ir! — Luther argumentou.

— Relaxa. A Vanya pode ir no meu lugar. — Ele falou. — E não é como se a Celly tivesse tendo muita escolha, não é?

— Eu quero ajudar vocês... — Viktor falou. A máscara ainda em seu rosto, enquanto esperava que dissessem sim.

Luther os fitou por alguns segundos. Os olhos compassivos, mesmo que ele tivesse pressa. Sabia que se Ben ficasse em casa, tudo se tornaria uma bola de neve.

— Pai! — Ele chamou.

Ben somente revirou os olhos, murmurando um "X-9".

O quarto rapidamente foi invadido pela presença séria do mais velho, que perguntou porque o garoto não estava vestido ainda.

— Ele disse que não vai. — Luther falou. Parecia desapontado com todos naquele momento. Reginald desacreditou do que via, olhando para Luther, e depois, para Ben. Nem sequer olhou Viktor, ele não merecia sua atenção.

Ben, sendo pressionado pelo olhar rigoroso do pai, não demorou muito para suspirar, largar seu livro e se levantar da cama. Quando Reginald finalmente deu atenção ao terceiro ali no quarto, se deparou com Viktor vestido de uma forma que ele não aprovava de forma alguma.

— O que acha que está fazendo? — Ele perguntou.

— É que... eu achei que podia ajudar nessa missão. — Viktor falou. A postura envergonhada dianta do pai, mesmo que tentasse demonstrar segurança na situação.

O clima ficou tenso para ele enquanto os olhares do pai o julgavam dos pés a cabeça.

— Tire isso agora mesmo. — Ele falou. — Você está ridícula.

O garoto simplesmente obedeceu, enquanto o pai saía do quarto para dar privacidade ao Número Seis se vestir.

Luther, que estava com pressa, saiu do quarto com rapidez, seguindo em direção ao último quarto daquele corredor. Ele bateu à porta, sem receber respostas audíveis, e então, entrou.

Assim que Celeste, em seu quarto, notou que sua paz seria interrompida, gritou um:

— Sai daqui! — Jogando uma almofada cor-de-rosa nele. Luther somente se defendeu com o braço, enquanto a almofada macia caía sobre o chão.

— Você têm que ir. — Ele falou. A porta estava somente entreaberta. Somente o corpo e peitoral do garoto estavam no campo de visão da irmã.

— Você sabe que eu não fazia isso, Luther. — Ela falou, completamente indiferente. Tinha uma caneta rosa em mãos, escrevendo em um livro pequeno, que apoiava-se em suas pernas. Nem sequer olhou para ele.

— É, mas agora ele se foi! — O garoto falou. Celly, que escrevia em seu diário, somente o olhou. Um olhar suplicante, o pedindo em silêncio para que calasse a boca. — Já faz oito meses, Celly! Vai ficar agindo de forma mesquinha até quando?!

— Não estou sendo mesquinha! Tenho sentimentos, seu brutamonte! Se você já superou o fato do seu irmão possivelmente ter morrido no futuro, que bom! Guarde pra você, pois ninguém é obrigado a ficar ouvindo sua falta de senso! — Ela pediu, se levantou abruptamente, largando seu diário e caneta em cima da cama, caminhando em passos rápidos até a porta. Ela forçou-a para que fechasse, mas Luther, com sua força, manteve-se ali.

Bastou uma troca de olhares, e ele havia se arrependido de como havia agido com ela. Seus olhos demonstravam a maior dor que ele poderia ter encarado em sua vida.

O garoto nem sequer precisou chamar o pai — como havia feito com Ben —, pois a teimosia dela estava sendo tão frequente, que o pai sempre devia ir ao seu quarto convencê-la com sua postura autoritária.

— Número Oito! — Ele a chamou, ainda no corredor. Luther forçou mais a porta, deixando que o pai entrasse no quarto da garota. Celly, ainda de pé, virou o rosto, sem olhá-lo. — Será um desgosto para a academia até quando?-

— Se eu sou um desgosto, é melhor que eu não vá! — Ela rebateu, o interrompendo. Luther, logo atrás, a olhou com um olhar suplicante. Os olhos severos do pai recaíram sobre ela de forma pior.

— Não me interrompa! — Ele pediu. A garota baixou a cabeça. Os outros irmãos se aproximaram para ver no que aquilo resultaria, já que não costumavam ver o seu pai tão irritado pela falta de compromisso dela. Naquele dia, ele parecia completamente cansado das suas teimosias.Os seus poderes são fundamentais para o plano. Este é o momento de você recompensar todo o seu desempenho negativo destes últimos meses.

— E se eu não desejar ir... ?

— Será o mesmo da semana passada. — Ele falou. A tensão subindo entre os irmãos a cada troca de olhares. O mais velho simplesmente saiu do quarto dela. Luther a olhou com olhos de desculpa, e saiu atrás do pai.

Ben e Viktor, que olhavam a situação com mais atenção e compaixão, se apoiaram no batente da porta para ver a garota, que parecia estagnada onde estava. Eles não notaram, mas uma lágrima escorria dos olhos dela.

— É melhor não discutir com ele, Celly. — Viktor falou. A garota os olhou. Seus olhos não eram tristes. Ela estava chorando de raiva.

— Vocês não sabem como é quando ele frita o meu cérebro, pois nunca passaram por isso. Não me digam o que fazer — ela falou. Respirou fundo e então saiu do seu quarto, passando apressadamente pelos irmãos à porta.

Os dois se entreolharam, tristes pela irmã. Eles não sabiam muito sobre como era feito, mas sabiam que Reginald apagava as memórias sobre Cinco para que ela tivesse força para ir às missões. Isso, claro, quando ela não concordava em ir. As memórias dela voltavam aos poucos, semanas depois, e era o suficiente para ela sofrer a ida do garoto como se fosse a primeira vez. Quando ela percebeu o que o pai estava fazendo com ela, comprou um diário para escrever tudo o que se lembrava de Cinco e das coisas boas. Desta forma, mesmo com a lavagem cerebral, ela se lembraria das coisas que a mantinham ali.

Ela rapidamente se trocou. O reflexo no espelho a assustava sempre que ela se via. Ela havia emagrecido. Não comia quase nada durante o dia. Ela sentiu-se horrível olhando para si mesma. Respirou fundo, pensando que em breve tentaria sair dali.

Agora, com todos os irmãos finalmente reunidos na enorme sala de estar da academia, o plano era passado pelo pai. A garota, sentada ao lado de Ben, não parecia querer prestar atenção, então, ficava brincando com suas mãos e olhando suas unhas.

— Um grande traficante de armas da Moldávia conseguiu uma arma nova e letal que está sendo guardada em um contêiner de transporte, esperando por um comprador. A missão de vocês é localizar e destruir a arma antes que a venda seja realizada. — Reginald explicava, mostrando fotos para os Hargreeves. O restante dos irmãos, diferentemente de Celeste, pareciam um pouco mais interessados nas informações. — O Número Um vai comandar a missão.

Luther concordou ligeiramente. Os lábios curvados em um pequeno sorriso. O pai entregou alguns documentos para o loiro, que rapidamente os inspecionou, pronto para, mais tarde, passar o passo a passo para os irmãos. Diego, sentado ao lado do garoto, olhou para os documentos.

— E eu? O que eu tenho que fazer? — Diego perguntou. Sempre estava à espera de ser reconhecido. Olhou para o seu pai, em busca de ser realmente útil e indispensável para a missão. Entretanto, o olhar indiferente do mais velho, logo quebrou suas expectativas.

— Parar de fazer perguntas. — O homem deu de ombros. Diego somente ficou cabisbaixo. Luther, ao lado dele, pareceu indiferente com a questão. Entretanto, Celeste, que estava próxima de Diego, colocou sua mão no ombro do garoto, em algum gesto de conforto. — Agora, crianças, façam o que fizerem, é imperativo que vocês mantenham a arma contida. E, sob nenhuma circunstância, abram o contêiner. — Ele explicou. Celeste olhou para o pai. Havia realmente prestado atenção naquilo, assim como seus irmãos. Os irmãos se entreolharam, se perguntando o porquê daquilo. — Vocês entenderam?

Nenhum filho o contrariou. Luther afirmou com a cabeça. O silêncio de todos os filhos ali na sala havia sido o suficiente para Reginald compreender que os avisos haviam sido entregues.

— Muito bem. — Reginald falou, arrumando sua postura. — Está na hora, crianças.

Não demorou mais de cinco minutos para que todos embarcassem no quinjet e decolássem da academia. Pogo, dirigindo o avião, pediu para que todos colocassem os cintos de seguranças. Celeste, ao lado de Allison, passou o trajeto inteiro dobrando origamis — em uma tentativa de esquecer o que a aguardava em instantes. A viagem havia sido curta, mesmo que em contrapartida, Celly houvesse conseguido dobrar quatro Tsurus — pássaros de papel — para que a ansiedade se esvaisse.

Próximos do local de aterrissagem, Pogo já conseguia notar as enormes chamas que emanavam do edifício. As labaredas subiam fumaças que serprenteavam pelo céu, deixando toda a região com um forte cheiro de fumaça. Quando aterrissaram, todos desprenderam seus cintos e saíram enfileirados, prontos para o início da missão tão importante. Pogo permaneceu no veículo.

Bastaram andar alguns metros, se aproximando do enorme portão de entrada. Luther, que era o primeiro da formação, chamou atenção de Celeste, que ficava por último na fila.

— Apague as câmeras de segurança. — Ele pediu. A voz estava baixa como um sussurro. Ali fora, só conseguiam ouvir o estalar das labaredas de fogo e o vento uivante.

Todos fizeram um paciente silêncio. A garota não precisou de muito para se conectar com todas as câmeras ali presentes, as desligando em uma facilidade enorme. Quando ela tornou a abrir os olhos, todos os irmãos compreenderam que ela havia terminado. Bastou ela balançar positivamente a cabeça, e então, Luther voltou a prosseguir para dentro do local. O portão estava entreaberto. Não encontravam ninguém ali, mesmo que os barulhos dos inimigos já se fizessem presente aos ouvidos dos Hargreeves.

O ambiente era parecido com uma fábrica. Os enormes caixotes cercavam o interior, criando corredores deformados em que todos caminhavam. Percorreram o lugar em silêncio, com passos tão calmos que mal conseguiam ser ouvidos. A cada momento, Luther colocava o pescoço à frente para verificar se não haviam inimigos ali. Demorou-se aproximadamente quatro minutos até Luther levantar o seu punho, avisando silenciosamente aos irmãos que algo estava à frente.

— Inimigos à direita. — Ele sussurrou. Olhou diretamente para Celly, que somente expirou, e então, concordou.

A garota fechou seus olhos, se concentrando nas energias ali presentes. Quando sentiu a energia de dois homens que seriam um risco para a travessia do grupo, ela logo os sabotou, fazendo-os caírem ali onde estavam. O barulho do impacto deles contra o chão, foi o suficiente para Luther chamar o grupo e prosseguir com a missão. O rosto dela começava a ficar mais jovem.

— Vamos, por aqui! — Luther pediu. Todos o seguiram enfileirados, cruzando os caixotes e avançando pelo local.

Eles prosseguiram pelo local com péssima iluminação. Somente as lanternas luziam seus caminhos. Ao se guiarem pelos corredores estreitos formados por caixotes, eles finalmente se depararam com o enorme contêiner.

Luther se aproximou da caixa metálica, procurando com a lanterna as informações gravadas no metal. Quando notou as marcas ali feitas, foi o suficiente para ele concluir que estavam no lugar certo.

— É esse aqui. — Ele falou. Virou seu corpo para os irmãos, que aguardavam o prosseguir da missão. — Vamos lá, vamos lá.

Os irmãos entraram em formação, enquanto o loiro retirava da maleta duas bombas douradas, que foram entregues nas mãos de Ben — aquele que tinha mais cuidado com aquele tipo de trabalho.

Diego ficou ao lado dele, o ajudando em pequenas coisas, enquanto Luther vasculhava a área em busca de algo que os pudesse gerar um transtorno.

— Celly. — Luther a chamou. A garota, que estava ajoelhada próxima à Diego e Ben os auxiliando, rapidamente o olhou. — Pode, por favor, cuidar da área ao norte?

A garota expirou, parcialmente incomodada com o pedido.

— Não precisa matá-los. — Ben sussurrou. Somente Diego, ao lado dele, e a garota escutaram.

— Vamos terminar isso aqui e logo voltaremos pra casa. — Diego a tranquilizou. Seus olhos empáticos olhavam para ela de uma forma que melhorava as coisas.

— Tudo bem. Não façam besteira! — Ela pediu. Os lábios levemente curvados em sorriso.

— Como? O único que faz besteira aqui é o Diego. — Benjamin implicou. Um sorriso de graça surgindo entre eles.

— Celeste! — Luther urgiu-a novamente, demonstrando clara pressa no pedido.

— Tá bem! — Ela reclamou, levantando as mãos em rendição. Levantou-se de onde estava, segundo para a direção que o irmão havia pedido.

Ela parou dentre o extenso corredor de caixotes que se estendia pelo norte da fábrica. Alguns segundos se passaram, ela estava completamente entediada e desconfortável com o uniforme de missões noturnas. Ela expirou, estava com dor de cabeça. Olhou no relógio de pulso, e dois minutos haviam se passado. Ela agora mal conseguia ouvir as vozes dos irmãos ali por perto, mas deu de ombros.

Celly agachou ali, focando em quaisquer ameaça. Ela fechou seus olhos, se concentrando para sentir as energias corpóreas da área. Ela sentiu seus irmãos e irmã... dois homens ao norte e seis ao sul. Haviam quatro à leste e três a oeste... e, por incrível e confuso que pareça... mais uma pessoa à aproximadamente sete metros de distância.

Ela abriu seus olhos repentinamente. Levantou-se de pressa e caminhou com pressa para onde Ben estava. Não estavam muito longe, mas, quando ela se aproximou, Ben estava sozinho.

— Onde está todo mundo?! — Ela sussurrou.

— Problemas com o lado do Luther. — Ele deu de ombros. O silêncio entre eles se instalou por breves segundos, isso somente até o momento em que ela tornou tudo mais tenso, falando:

— Tem alguém aqui. — Sentia a energia de mais uma pessoa. Estava tão próximo deles.

— O quê?! — Ele perguntou. Seu rosto expressando confusão. Ele finalmente havia terminado de configurar a bomba. O garoto ergueu-se, se aproximando do contêiner com a bomba em mãos. O ouvido do garoto foi parar próximo à caixa metálica, tentando ouvir qualquer coisa que confirmasse a teoria da irmã.

Um ruído.

Ambos se entreolharam. A crescente curiosidade sobre aquilo.

— Tem certeza que é uma pessoa? — Ele perguntou. Os olhos sérios enquanto olhavam a irmã.

— Eu tô falando que sim, Ben! Eu sei diferenciar isso. — Ela afirmou.

Ele empertigou-se, temendo o que estava ali. Por que o papai estava tratando uma suposta pessoas como arma?

— Alguém aí dentro? — Ele perguntou. A voz calma e compassiva, mas alta o suficiente para o que quer que fosse, o ouvisse. Se um barulho fosse ouvido novamente, então, Celeste estaria completamente certa.

Os dois se atentaram ao contêiner, esperando a confirmação. Não passou-se mais de cinco segundos, até que um barulho correspondeu às suas dúvidas. Suas sobrancelhas levantaram de surpresa.

— Eu falei! — Ela resmungou. A voz baixa como um sussurro.

Mesmo que Celeste não notasse, Ben sentiu uma vontade imensa de conhecer aquilo que o aguardava. A escada do contêiner em sua frente, logo foi usada por Ben, que subiu calmamente por ela. Quando ele chegou na parte de cima, notou uma espécie de manivela de segurança.

— Tome cuidado, por favor. — Celeste pediu. A voz estava suplicante enquanto o irmão dava passos calmos e medorosos em cima do contêiner.

Agachou-se, temendo estar em um lugar alto o suficiente para os inimigos o verem. Ele caminhou até a abertura, girando sem muita dificuldade. Quando o contêiner foi aberto, ele se deu de cara com uma pequena garota de pele morena. Os cabelos pretos e as vestes brancas pareciam contrastar com a luz vermelha que emanava dentro do lugar frio e pouco espaçoso para ela.

— Tem alguém aí? — Celeste perguntou. As mãos trêmulas de preocupação.

— Têm. É... uma garota. — Ben respondeu. Olhou para a irmã com um pequeno sorriso nos lábios, e então, voltou sua atenção para a menina. — Calma. Eu tô aqui pra ajudar. Qual o seu nome?

A garota o fitou por uns instantes, e então, notou exatamente onde estava. Tinha água até sua cintura, e sentiu uma necessidade enorme de ir embora dali. Ela não pensou muito antes de responder com sinceridade a pergunta dele.

— Jennifer. — A voz melodiosa e gentil da garota ecoou pelo contêiner.

O garoto teve compaixão pela situação deplorável que ela se encontrava, e logo tirou a máscara do seu rosto. Os olhos de ambos se encontraram, e Jennifer pode notar a mais pura benevolência e sensibilidade nas íris escuras do garoto.

— Vou te tirar daí, tá bom? Pode confiar em mim. — Ele sorriu. Logo, ergueu sua mão para dentro do contêiner. Celeste, logo embaixo, observando Ben resgatar a garota, não conseguiu sentir-se preocupada com o que seu pai faria com ela no dia seguinte. Só conseguia pensar em tirar a garota dali.

— Quer ajuda, Ben? — Ela perguntou. A voz carregada de empatia pela garota.

— Não precisa. Segura minha mão, Jennifer.

As mãos de ambos quase haviam se tocado, quando Luther chegou ao local, chamando a atenção dos dois. O restante dos irmãos também estavam ali, mas pareceram encarar a situação de uma forma menos severa que o líder.

— O que diabos vocês estão fazendo?! — Luther perguntou em um sussurro. A voz beirando ao desespero. Haviam violado a lei principal do plano. Abriram o contêiner.

— Tem uma garota ali dentro, Luther! Temos que tirar ela! — Celeste falou. Os olhos claramente preocupados.

— Isso não era parte do plano. — Ele rebateu. Deu um passo à frente, desacreditado com o que os irmãos haviam feito.

— Luther, vai explodir uma garota inocente? — Ben perguntou. O cenho franzido e a expressão irritada.

— Mas o papai disse-

— "Mas o papai, disse"... foda-se o papai, tá legal?!  — Celeste falou. A voz claramente carregada de irritação e falta de paciência com as ironias do irmão. Ben parou de dar ouvidos às discussões da família, e voltou a estender a mão para a garota. — Aquele velho idiota acabou de nos mandar à uma missão em que matamos uma garota da nossa idade. Você está maluco?! Vai concordar com ele até quando?

— Não é essa a questão...

Enquanto Celeste e Luther discutiam sobre a base da missão e sobre o desvio de caráter crescente no loiro, Ben estendeu a mão para Jennifer. Mesmo que somente eles percebessem, foi como se uma corrente elétrica alaranjada os conectassem. Uma aura de poder alumiou por completo o contêiner. A ligação havia sido feita.

Celeste e Luther ainda discutiam quando ele tirou a garota dali, ambos desceram às escadas e se entreolharam. Jennifer fez careta com a crescente discussão do grupo que nem conhecia, mesmo que, de alguma forma, sentia-se feliz ao lado do garoto que havia recentemente conhecido.

— Não... eu estou falando! — Luther discutia. Já não estavam mais preocupados em fazer silêncio, e a tensão entre os irmãos que não participavam da discussão aumentava gradativamente. — Você sempre deu motivos demais para o papai fazer essas coisas-

— Cala a boca! — Celeste pediu. Um frio correndo por sua espinha. Estava sentindo que teria uma visão. Mas... por que a sensação era diferente?

— Não me mande calar a boca-

— Não, eu tô falando sério! Cala a boca, Luther! — Ela pediu novamente. Antes que o loiro retrucasse, Allison pôs a mão em seu ombro, fazendo o garoto calar-se.

Celeste sentiu que algo péssimo aconteceria em breve. Seu corpo virou-se automaticamente para olhar para Ben e Jennifer, que estavam próximos dela.

— Tá bom — Luther protestou, voltando a falar. —, já chega-

Antes mesmo que ele pudesse pedir aos irmãos que parassem de enrolar, um disparo foi ouvido. Celeste gelou em frente a garota. O corpo completamente assustado com o barulho. O sangue dela havia respingado em seu rosto. Outro disparo foi ouvido. Ben havia caído.

Quando os irmãos guiaram seus olhos para o fundo — local de onde a arma havia disparado —, encontraram Reginald. A crescente tensão dentre eles aumentou. Celeste sentiu suas mãos ficarem ainda mais trêmulas.

— Ben?! — Luther gritou. A voz carregada de incredulidade enquanto via o corpo do irmão jogado no chão. O sangue escorria para o vestido branco da garota.

— Eu mandei vocês não abrirem o contêiner. — Reginald falou. A voz simples e compassiva, como se não houvesse tirado a vida do próprio filho.

Celeste, aterrorizada por ter em seu rosto o sangue do irmão e da garota que tentou salvar, olhou para Luther. Os irmãos, atrás dele, olharam para a garota. Ela estava perplexa ao ponto de não conseguir esboçar uma real expressão.

Infelizmente, a memória da garota ensanguentada ficou mantida nas memórias dos irmãos. Reginald não esperava que tudo aquilo fosse acontecer, mas conseguiu manipular o hipocampo dos filhos para que eles viessem a acreditar que Celeste era a culpada por aquilo. Havia sido motivos suficientes para ela ir embora da Academia.

Evidentemente, Reginald teve que também manipular as memórias da garota. Foi um projeto moderadamente mais complicado, mas que surtiu os resultados aguardados: fez Celeste acreditar que não havia sido forte o suficiente para matar um criminoso, e que, pouco depois, este criminoso havia matado Ben.

Reginald jamais quis realmente descartar a filha. Ele planejava torná-la forte. E com a morte inesperada do Número Seis, isso se tornou possível. A garota foi embora, e sentiu a crescente necessidade de mudar. A necessidade de treinar para aquilo que "fez" seu irmão morrer. A necessidade de lembrar que poderia seguir em frente mesmo sem Cinco para matar por ela. E ela conseguiu, mesmo que pouco tempo depois isso tenha se tornado um completo arrependimento.

Mais um capítuloooooo!!!! Vocês não têm NOÇÃO do quanto eu procrastinei esse daqui KKKKKKKKKKKKKKK
Mas ficou bonzinho, vai!
Votem por favorrrrrr!!!!!!!!!!!!!!!!!!!

ENTENDERAM PQ ELA FICAVA ESQUECENDO DAS COISAS?!?!?!?!?!😭😭😭😭😭😭😭😭😭😭😭😭😭 (nem eu acredito que fiz essa história tão sofrida😧 era pra ser toda fofa e linda e se tornou um drama enorme😅)
A partir de hoje, os esquecimentos dela são meu tema sensível (o choro é livre)

Eu tenho até dia 22 pra escrever todos os capítulos e dps acaba a assinatura da Netflix (Tô em surto)
Bjos e bjos pra vocês!

Bạn đang đọc truyện trên: AzTruyen.Top