04. Absolutamente rendido.
Com a chegada do final de semana, Aurora se viu completamente sozinha na casa grande e vazia. Se ela se concentrasse, podia ouvir o barulho do vento entrando nos cômodos superiores da casa. Ela descobriu que não gostava tanto assim do silêncio.
Por um momento até sentiu falta das reuniões de família em Londres, onde o que mais ouvia era as vozes de seus primos. Ela quase sentia saudades de Hannah desafinando nas canções de Natal. Ela olhou o celular sobre a cama, cogitando a ideia de ligar para Alice, que havia anotado o próprio número ali durante um dos almoços onde Aurora esteve com os Cullen.
Mas era uma manhã de sábado, e provavelmente Alice já tinha planos. Então, Aurora decidiu não incomodar.
Ao invés disso, ela se aproximou da janela e olhou para o céu. Era um dos muitos dias nublados em Forks, sem sinal de chuva, mas sem sinal de sol também. Era um bom dia para caminhar, e para fazer algo que sentia saudade.
Com esse pensamento, Aurora correu para o closet e começou a se trocar, colocando uma legging, top de ginástica, uma regata e casaco, calçou um de seus tênis de corrida e pegou uma mochila de acampamento - que não usava a realmente muito tempo. Aurora preparou tudo que precisaria para um dia de acampamento. Pegou seu celular com bateria, um carregador portátil, e um rádio de bolso, para o caso de uma emergência.
A garota organizou suas coisas no carro, trancou a casa e saiu em direção ao início da reserva, onde começavam as trilhas para campistas.
Se havia algo errado com algum dos membros da família Cullen, todos sempre saberiam. Porque eles eram assim, conheciam cada sorriso forçado e olhar perdido de seus familiares. Edward sempre saberia o que estavam pensando. Assim como Jasper sempre saberia o que estavam sentindo.
Mas agora, especificamente, o problema era do irmão mais velho da família. Jasper, em sua completa inocência, acabava enviando ondas de tensão e desconforto para os outros presentes na casa. O humor de todos estava caindo, e isso se devia à confusão na mente do Major.
— Se não quiser que algum de nós saia por aí socando árvores, sugiro que respire fundo. — Edward bufou, sem tato algum, correndo para o andar de cima e batendo sua porta. Rosalie e Emmett murmuraram em concordância de seus quartos. Mas Alice olhou para o irmão por cima de sua revista de moda. Ela viu que Jasper parecia-se muito com uma estátua agora, ele mal piscava, tamanha era sua concentração em olhar para o nada.
— O que está tirando sua paz? — Ela perguntou.
— Nada. — Jasper respondeu sério. Alice murmurou um "hum".
— Seu "nada", tem cabelos ruivos, olhos verdes e sotaque britânico? — Ela perguntou como quem não quer nada. Jasper finalmente ergue os olhos, os apertando na direção de Alice de maneira acusatória. — É, foi o que pensei. — Ela sorriu, colocando a revista de lado. — Ela é linda, não acha? — Jasper cruzou os braços.
— Não acha que está na hora de parar com esse mistério? — Ele perguntou um tanto impaciente. — Me diz logo o que foi que você viu. — Alice mordeu o canto da bochecha, insatisfeita com a intimação.
— Conta logo, Alice. — Edward pediu em um tom suplicante, com uma pitada de tédio. A morena bufou, cruzando os braços.
— Vocês são tããão estraga prazeres. — Ela reclamou. Mas Jasper continuava lhe encarando, esperando uma resposta. — Tá legal. — Ela se rendeu. — Eu vi vocês dois. — Ela disse. — Ela vai ser uma de nós, e é sua companheira. — Contou, vendo o olhar de Jasper suavizar um pouco, e ouvindo algumas exclamações no andar de cima.
— Você... Ela é... nós... — Ele se perdeu nas palavras. — Tem certeza do que viu? — Alice rolou os olhos.
— É claro que tenho certeza. — Ela disse óbvia. Jasper massageou a base do nariz e suspirou, mesmo que não precisasse, buscando um pouco de calma. — Não precisa se preocupar, ela parecia muito feliz nas visões... vocês dois pareciam. — Ela contou, para aliviar o estresse que o irmão devia estar sentindo.
— Não posso transformá-la. — Ele disse. — Não sei se consigo. Não quero machucá-la. — Confessou, sem se importar de estar revelando sua insegurança em relação ao sangue humano. A última coisa que Jasper queria era o sangue de Aurora em sua boca, sem conseguir parar.
— Vai conseguir, eu sei. — Alice disse, lhe lançando um sorriso seguro.
Jasper voltou a olhar para o nada, dessa vez menos confuso em relação a Aurora. Afinal, agora havia uma explicação para sua obsessão com a presença dela. Mas não o deixou menos preocupado. Afinal, sua companheira era humana, e transformá-la implicaria em mordê-la. Jasper não queria vê-la agonizando durante a transformação, nem queria ouvir a última batida de seu coração.
Mas agora Jasper também tinha uma certeza, ele adorava a sensação que sua companheira lhe trazia. Era como estar vivo de novo.
A calma e a tranquilidade haviam voltado na casa dos Cullen, e toda a família pôde ficar reunida novamente na sala. Alice e Edward jogando uma interminável partida de xadrez. Jasper se perguntou se algum deles realmente achava que podia ganhar do outro. Ele soltou uma risada breve enquanto voltava a ler. Frankenstein, ironicamente, o livro que Aurora estava lendo durante a semana. Por influência dela, ele havia sentido vontade de ler novamente aquele clássico romance trágico. Era um livro ótimo, e Aurora tinha um ótimo gosto literário.
— Tá caidinho. —Edward falou em um tom zombeteiro, arrancando um olhar severo de Jasper.
— Ele tem uma pequena queda. — Alice entrou na brincadeira.
— Uma pequena queda do Monte Everest. — Emmett provocou, vendo Alice e Edward prenderem a risada, e Jasper rolar os olhos.
— Vocês são tão maduros. — Ele reclamou.
— Do que estão falando? — Carlisle perguntou perdido. Jasper fuzilou Emmett com o olhar quando esse abriu a boca para fazer alguma piada. O maior ergueu as mãos em rendição, rindo.
— Da companheira do Jasper. — Rosalie respondeu. O rosto de Esme se iluminou com um sorriso.
— Querido, isso é sério? — Ela perguntou com visível empolgação. Jasper balançou a cabeça em confirmação. — Qual o nome dela? Como ela é? Quando podemos conhecê-la? — Jasper riu, vendo seus irmãos fazerem o mesmo.
— O nome dela é Aurora White. Ela é...— Alice o interrompeu, quase saltando por cima de Edward e gesticulando.
— Ela parece uma princesa de contos-de-fadas. É tão educada e inteligente. — Esme sorriu, mas Jasper olhou para Alice e ergueu uma sobrancelha, como quem diz "posso falar?". Ela se conteve em seu lugar. — Pode prosseguir.
Todos riram.
— Ela é incrível. — Ele disse, arrancando sorrisos de seus pais e suas irmãs. — E respondendo sua pergunta, ainda é cedo para conhecerem ela. Prefiro me aproximar antes. E sabe... contar. — Eles assentiram, compreensivos.
— Tudo bem, filho. Entendemos. — Carlisle disse.
— Sim. Estou tão feliz por você, querido. — Esme sorriu carinhosa e abraçou Jasper, que retribuiu.
— Mal posso esperar para... — A frase de Alice parou na metade, e ela olhou para o nada, entrando em transe. Imediatamente todos ficaram em silêncio, tensos, esperando a vampira ter sua visão. Edward fez uma careta olhando para Alice. Aparentemente, era uma visão ruim.
— Qual o problema, Edward? — Carlisle perguntou.
— Aurora. — Ele respondeu, apertando os lábios quando viu Jasper se erguer, e em um piscar de olhos estar ao lado de Alice, lhe olhando como se estivesse prestes a ter um surto.
— Qual foi a visão? — Ele perguntou. Edward viu Alice piscar os olhos e e olhar diretamente para Jasper.
— Eu não tinha visto ela tomar essa decisão. — Ela disse, em um tom de desculpas.
— Alice, diga logo. — Ele implorou em agonia.
— Ela vai acampar na floresta, na montanha ao Leste. — Contou. — Perto de onde ficam os pumas, Jasper. — Ele já podia imaginar o que havia os deixado tão alarmados.
— Ela vai ser atacada? — Rosalie perguntou, mas Jasper nem precisou que Alice respondesse, a expressão no rosto dela entregava.
— Quanto tempo? — Foi a única coisa que ele perguntou.
— Quinze minutos, talvez menos. — No instante seguinte, Jasper não estava mais na casa, todos puderam ouvir ele correr para dentro da mata, seguindo o mais rápido que pôde para o Leste.
As árvores eram apenas borrões e ele mal sentia o chão embaixo de seus pés. Jasper se apavorou no momento em que percebeu que não tinha o melhor auto-controle, e se Aurora estivesse sangrando... ele era a última pessoa que devia estar perto.
Jasper viu, um pouco acima de uma montanha, uma barraca, e uma pequena fogueira acesa. O vento soprou em sua direção o cheiro familiar de flores e maçãs. Se fosse dias antes, ele diria apenas que era o cheiro da floresta, mas agora ele sabia que não era só isso.
Jasper se aproximou, cauteloso, subindo a montanha rapidamente, e se posicionando atrás das rochas. Com os olhos ágeis ele buscou Aurora. E achou. Para seu alívio, ali estava ela, sentada sobre um saco de dormir do lado de fora da barraca, iluminada pela luz alaranjada da fogueira, que deixava a cor de seus cabelos ainda mais viva, e seus olhos voltados para o céu, que estava limpo e estrelado. Ela sorria, abraçando o próprio corpo envolto em um cobertor, e os cabelos balançando levemente por causa do vento.
Por um momento, Jasper paralisou. A constatação de que aquela garota estava destinada a ser sua companheira era surreal demais. Porque Aurora era a personificação de tudo o que Jasper sentia falta em sua vida antiga. A felicidade em pequenos momentos, a apreciação em estar sozinha, a capacidade de mudar e evoluir.
Aurora transpirava serenidade, carinho e segurança. Sua idade emocional e psicológica não condizia com seus, apenas, dezessete anos de vida. Quando conversavam, Jasper podia jurar que estava diante de uma mulher que já viveu por séculos, alguém capaz de lhe trazer segurança, inspirar sabedoria e graciosidade.
Mas ele não tinha certeza se a própria Aurora sabia que as pessoas a viam assim.
Aurora era um anjo. E Jasper se sentiu muito pequeno diante dela, como se os papéis estivessem invertidos, e ele não fosse o ser mais perigoso do mundo naquele momento. Era ela. Porque se Aurora pedisse, Jasper sabia que não lhe negaria nada. Se ela se erguesse, ele se ajoelharia. E se ela fraquejasse, ele daria tudo de si para mantê-la de pé. Ele estava absolutamente rendido.
E ele sabia que era questão de tempo para que não pudesse mais existir sem a existência dela.
Ouvindo um ruído atrás de si, Jasper deixou de olhar Aurora e focalizou no puma que se aproximava com cautela, em posição de ataque, olhando fixamente para a mulher perto da barraca. Em um movimento ágil, Jasper saltou sobre o puma, envolvendo o pescoço dele com os braços e torcendo enquanto se jogava com ele para fora da montanha. Jasper ainda ouviu ele rugir enquanto caíam no chão, metros abaixo, e rolavam pela trilha. O vampiro o silenciou quebrando o pescoço.
Jasper olhou para cima, apenas para ter certeza de que Aurora não havia visto ou ouvido nada. Mas ela permanecia distraída, sonolenta.
Jasper aproveitou o puma ali para se alimentar, pois seria uma longa noite naquela floresta, vigiando para que nada acontecesse à Aurora.
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