01. A garota nova.
Aurora se fitou no espelho do quarto pela terceira vez. Ela não sabia se devia ter se arrumado tanto. Na verdade, ela nem queria sair da cama naquela manhã. Mas tinha que voltar a estudar.
Um fim de semana havia se passado desde que chegou a Forks, e desde então ela não colocou os pés para fora da casa, nem mesmo quando seu carro novo chegou. Ela simplesmente não tinha nenhuma vontade de conhecer Forks, ou qualquer outra coisa.
Seu celular não tocara uma só vez desde que chegou. Nem mesmo uma mensagem. Ela até esperou alguém perguntar como havia sido a viagem, ou se ela estava bem, ou se estava viva.
Bom, para todos os casos ela estava viva, mesmo que nesse momento ela achasse que não fazia diferença.
Ela sentia que havia deixado um pouco de seu ânimo em Londres. Talvez agora estivesse saltitando em direção ao seu carro, cantarolando animada. Talvez... se ela ainda achasse que precisava provar algo a alguém. Mas ela não achava mais. Não faria diferença.
Ela tirou sua terceira troca de roupa e jogou sobre a cama. Tudo era tão... ideia de Celeste White. Sua adorável mãe que lhe criticava desde a cor que pintava as unhas, até o comprimento do cabelo. Sua adorável mãe que não estava ali para palpitar.
Pensando nisso, Aurora vestiu uma calça branca de cintura alta, camisa branca de botões, botas pretas de salto e cano longo, até acima dos joelhos, sobretudo preto, e cachecol vermelho. Então, ela passou um batom também vermelho.
E Aurora sorriu para o que viu no espelho. Era confortável, ela se sentia elegante, e era mais simples que todas as produções que fazia antes. Ela se sentia bonita, sem ninguém por perto para dizer como ela deveria se vestir, ou o que precisava realçar em sua própria beleza.
Aurora pegou sua mochila e o celular e saiu do quarto. Agora sim, ela teria que enfrentar o inferno de frente. Porque não era boba, as escolas americanas eram bem diferentes das britânicas. E ela sabia que não era para melhor.
A pior parte na imortalidade? Jasper com certeza sabia que, para ele, era o sentimento de estar sempre em um loop infinito. Fazendo sempre, de novo, e de novo, as mesmas coisas. Lá estava ele, no colegial pela... ele nem sabia o número certo mais.
Céus, Jasper odiava o colégio. Talvez por causa de seu dom, que lhe permitia saber tudo o que os outros ao deu redor sentiam. Não havia nada mais confuso que sentimentos adolescentes. Jasper todos os dias sentia-se quase violado pela enxurrada de sentimentos intensos: pânico, inveja, excitação, desejo. Se ainda fosse humano, teria sérios problemas com enxaqueca.
E ainda havia aquele cheiro. Aquele maldito cheiro que lhe fazia sentir uma queimação dolorosa na garganta. Sangue. Corações batendo para todos os lados, sangue fluindo, veias pulsando. A escola era um banquete livre, e Jasper estava de dieta. Essa era a melhor analogia.
Ele nem queria estar lá para início de conversa. Podia muito bem passar o resto da vida sem pisar em outra escola. Ele já sabia tudo, e mais ainda.
Mas ele sabia porque estava. Alice. A bendita anã de jardim que lhe forçava todos os dias a aparecer na escola. Sempre sorridente e animada, dizendo que "valeria o esforço". Ele nem sabia o que aquilo significava. Às vezes ele gostaria do poder de Edward, só para saber o que sua irmã pensava.
Ali estava Alice novamente, após sair da BMW de Rosalie, saltitando e batendo algumas palminhas.
— Hoje vai ser ótimo. — Ela dizia alegre. Jasper franziu um pouco o rosto ao se encostar no Jeep de Emmett.
— O que vai ter de tão especial hoje? — Emmet perguntou curioso.
— Ela não vai contar. — Jasper disse apertando os olhos na direção da irmã, que sorriu como uma criança quando está aprontando. Edward riu encarando Alice. Ele, é claro, também sabia.
— É tão injusto os poderes de vocês. — Rosalie resmungou fazendo um bico. Emmett riu e abraçou sua loira, estalando um beijo em sua bochecha.
— Nos dê uma pista. — Emmett pediu. Alice fez um bico pensativo antes de dizer.
— Está bem. — Os outros três irmãos lhe olharam em expectativa. Ela sussurrou, como se contasse um segredo: — Olhos no estacionamento. — E com os olhos, apontou a vaga vazia do outro lado do estacionamento lotado.
— O que tem de tão importante lá? — Rosalie perguntou.
— Nada. — Alice disse, antes de sorrir. — Ainda.
Edward riu. Rosalie rolou os olhos e Emmett olhava agora muito concentrado para a vaga vazia, como se esperasse o chão se abrir e dele sair um anão tocando banjo. Já Jasper, olhou de Alice para Edward, muito sério.
— Não vão mesmo dizer o que estão escondendo? — Os dois se entreolharam, Alice balançando a cabeça em negação, e Edward abrindo a boca para responder.
Mas antes que qualquer som saísse de sua boca, os ouvidos apurados dos Cullen tiveram sua atenção atraída por um potente som de motor virando a esquina.
— Eu reconheço esse som. — Emmett sorriu como uma criança quando ganha um doce.
Demorou apenas cinco segundos até que o som ficasse mais próximo, e o carro apontasse na entrada do estacionamento, atraindo assim os olhares de absolutamente todos que estavam ali, que acompanharam atentamente a trajetória do Bugatti Veyron branco, até ele estacionar na vaga que Alice tinha indicado.
Os vidros de insulfilme não lhes permitia ver com clareza quem estava no carro, mas os Cullen podiam ouvir um coração. O estacionamento todo estava em silêncio, e Jasper podia sentir as ondas de curiosidade e expectativa. Não os culpava. Afinal, não era sempre que alguém novo chegava no meio do semestre. Não era sempre que algo interessante acontecia em Forks. Jasper achou que assim, pelo menos por um tempo, ele e sua família deixariam de ser foco de holofotes.
Jasper se perdeu em sua linha de pensamentos no momento em que a porta do motorista se abriu, e uma garota desceu graciosamente. Jasper viu a brisa leve jogar algumas mechas de seu cabelo ruivo para longe do rosto, revelando as bochechas rosadas, e os lábios pintados com um batom vermelho que realçava ainda mais a cor de seus olhos. Jasper achou que não existia um tom de verde tão bonito quanto os dos olhos dela. Ela era o ser mais bonito que Jasper havia visto andando pela Terra.
Ela deu uma olhada breve no estacionamento, apenas para focar seus olhos no prédio da escola e travar o carro com a chave. Ela caminhou tranquilamente, com uma leveza e graça que Jasper havia visto apenas em vampiros. As mãos escondidas nos bolsos do sobretudo preto, seus saltos mal faziam barulho no chão. Ela não parecia ligar para a quantidade de olhares sobre si, ou alguns muitos murmúrios espalhados pelo estacionamento.
E assim como chegou, ela sumiu dentro do prédio, e logo depois a falação se tornou mais intensa.
— Foi melhor do que eu tinha visto. — Alice saltitou animada. — Pareceu coisa de filme. — Ela comentou sorridente.
— Tá legal. — Rosalie falou. — E por que estamos prestando tanta atenção em uma humana? — Ela franziu o rosto em confusão.
— Uma humana com um carro irado. — Emmett falou. — Hey, posso ter um igual? — Ele perguntou com um olhar pidão.
— Você... — Jasper apontou para Emmett. — chega de carros. — O maior fez um bico emburrado. — E você... — Apontou para Alice. — quer explicar o que está acontecendo? — Alice negou com a cabeça, e sacudiu as mãos.
— Nem pensar. — Ela disse, como se estivesse ofendida. — Contar estragaria toda a diversão. — Rosalie rolou os olhos.
— Você precisa redefinir seus conceitos de diversão, Alice.— A loira disse. Alice deu de ombros.
— Bom, eu vou indo. — Ela disse pegando sua bolsa tiracolo. — Tenho a primeira aula com a garota nova e sinto que seremos boas amigas. — Sorriu abertamente. — Melhorem o humor, e sejam gentis se esbarrarem com ela. — O último pedido foi em um tom um tanto sério que eles não esperavam, e suspeitaram que houvesse muitas coisas sobre a garota nova que Alice não iria contar. — Tchauzinho. — Ela acenou antes de dar as costas e caminhar para dentro do prédio.
— Isso foi tão estranho. — Emmett disse rindo. — Devemos impedi-la de ser amiga de uma humana? — Ele perguntou trocando olhares com a esposa e os irmãos.
— Não vai adiantar. — Edward falou pela primeira vez. — Minha sugestão e sentar e esperar. — Ele sorriu de lado e deu de ombros antes de também entrar na escola.
— Jasper? — Rosalie chamou pelo irmão, que estava parado feito uma estátua, ele mal piscava. — Concorda com isso? — Ela perguntou. Jasper piscou duas vezes, e olhou pensativo para a irmã.
— Deixe isso, Rose. — Ele disse. — Ela é só uma humana. O que pode haver de mal nisso? — Ele sorriu fraco e beijou a testa de Rose antes de também se afastar.
— O que diabos aconteceu com todos hoje? — Rose perguntou indignada, vendo Emmett erguer as mãos, com uma expressão confusa no rosto, como se também não tivesse entendido nada.
Com seu mapa e horários na mão, Aurora bateu na porta que indicava ser a aula de literatura. Ela abriu, para logo depois se arrepender, pela terceira vez no dia, de ter saído da cama. A segunda havia sido no estacionamento, quando sua chegada pareceu uma atração de circo. E ali, novamente, todos lhe encaravam. Olhar era uma coisa, principalmente quando alguém acaba de entrar em uma sala que aparentemente estava silenciosa antes. Mas encarar... era o que eles faziam.
— E você é...? — O professor falou lhe olhando com curiosidade. Ela entrou, fechando a porta atrás de si.
— Aurora White, senhor. — Ela se apresentou em um tom claro, para que todos já ouvissem, e não precisasse fazer de novo, ao menos naquela sala.
— Ah, sim. — O rosto do professor se iluminou um tanto animado. — Pessoal, essa é Aurora White, ela foi transferida de Londres. Sejam gentis com a Srta. White. — Aurora sentiu certo desconforto pelos burburinhos que se espalharam. — Esse semestre estamos fazendo leituras e análises em duplas. Então, sente-se com... — Ele olhou a lista em sua mesa, vendo quem ainda estava sem duplas. — a Srta. Cullen, por favor. — Completou. — Srta. Cullen, erga a mão. — Aurora olhou ao redor, vendo de mão levantada uma garota pálida, de cabelos escuros e espetados, e um sorriso gentil no rosto. Ela se apressou em se sentar na mesma bancada que a outra, para sair do foco dos outros. Alguém devia ensinar bons modos às pessoas dessa cidade.
— Olá, eu sou Alice. — A garota lhe cumprimentou. Ela era toda sorrisos, e Aurora notou que não era nada forçado. Ela acabou por sorrir também.
— Aurora. — Estendeu a mão para Alice, que aceitou prontamente seu cumprimento. — É um prazer, Alice.
— Então, Londres? — Alice perguntou apoiando os cotovelos na bancada, e o rosto nas mãos. — Seria rude perguntar o que faz tão longe? — Aurora riu pela pergunta.
— Não seria. — Ela respondeu. — Mas também não é algo que eu sei responder. — Ela franziu as sobrancelhas. — Acho que estou fugindo. — Disse em tom de brincadeira. Alice riu.
— Forks é um ótimo lugar para se esconder. — A morena disse. — Ninguém em juízo perfeito te procuraria aqui. — Aurora sorriu genuinamente. Afinal, mesmo que Alice estivesse brincando, era o que Aurora queria: se esconder ali para sempre, recomeçar, sem nada lhe puxando de volta.
— Acho que estou no lugar certo então. — Ela murmurou com um sorriso leve no rosto.
As quatro horas que se passaram foram as mais incômodas de toda a vida estudantil de Jasper. Sua audição lhe permitiu ouvir cada uma das conversas ao seu redor, as fofocas e suposições. Todas sobre a aluna nova. Ele já sabia que seu nome era Aurora White, que ela era britânica, que foi transferida de Londres, e que não falara com quase ninguém, exceto por Alice.
Essa mesma Alice que era sua irmã, e que lhe encontrou no primeiro intervalo e não parou de falar do quanto Aurora era legal, e fofa, e mais um monte de coisas que Jasper nem conseguiu entender.
Ele sentia toda a mistura de sentimentos das pessoas ao redor quando falavam sobre Aurora. Nenhum desses sentimentos valia a pena ser mencionado. Agora a garota ruiva era o foco dos holofotes. E aparentemente todos tinham algo para falar. Por um momento ele sentiu pena que ela fosse o alvo agora. Ela honestamente parecia legal demais para ter que aguentar tudo aquilo.
Mas durante o almoço, quando se sentou novamente junto aos seus irmãos, com pouca comida em suas bandejas, apenas para disfarçar, ele pôde observar melhor a garota.
Ela se sentara em uma mesa um pouco longe deles, sozinha. Mas, aparentemente, não ligava para isso. Ela parecia bem confortável estando desacompanhada, lendo um clássico de Mary Shelley enquanto comia seu sanduíche natural e tomava seu suco.
Jasper reparou que ela tinha a mania de batucar os dedos na mesa com a mão que estava desocupada, e de morder o canto da bochecha, realçando uma de suas adoráveis covinhas.
— Eu não ouço... — Edward resmungou, com uma feição frustrada e incomodada. Seus irmãos lhe olharam confusos. — Os pensamentos dela, não ouço. — Todos ficaram surpresos e curiosos, era a primeira vez que isso acontecia.
— Será que está com interferência no sinal, Eddiezinho? — Emmett zombou, levando um olhar cortante de Edward.
— Estou dizendo, não tem nada para ouvir. — Ele disse. — É como se toda vez que tentasse eu me deparasse com um monte de névoa. Eu nem sei para onde olhar.— Disse surpreso.
— O que? — Rosalie achou ter ouvido errado.
— Quer dizer, como se ela fosse imune à você? — Alice perguntou, estranhamente animada.
— Eu não sei. — Edward respondeu frustrado.
— Ela parece bem tranquila pra mim. — Jasper disse, fitando a expressão concentrada de Aurora. — Na verdade, é a pessoa mais serena desse refeitório. — Suspirou aliviado, como se a serenidade de Aurora também trouxesse a sua. E Deus sabe como Jasper precisava de serenidade nesse lugar.
— Eu acho que Jasper quer levar a humana pra casa. — Emmett brincou, fazendo Jasper sorrir de lado, sem nem se dignar a olhar para ele. De fato, havia algo mais interessante para olhar.
Olhando de Jasper para Aurora, Alice sorriu. Alice adorava ver o futuro, e principalmente ver como ele se tornava nítido e real diante de seus olhos.
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