capítulo quatro: puta merda, você sorriu


A casa na praia é tão bonita quanto é extravagante, e Atsumu não está se divertindo muito nela.

Veja bem, ele gosta de coisas chique, é claro, mas eles estavam literalmente num castelo enorme com mais metros quadrados que o Palácio de Buckingham. Por que eles precisam estar aqui? Sem esquecer de mencionar que tudo já está completamente preparado para os dois príncipes, tira toda a graça de viajar.

Atsumu odeia organização, mas ele tem que admitir que tem algo estranhamente satisfatório sobre desempacotar suas coisas em um lugar novo, em fazê-lo sua nova casa temporária.

"Então...por que estamos aqui?"

Eles estão de pé em um dos vários terraços que dão vista ao oceano (isso parece um espaço desnecessariamente grande para só duas pessoas). Kiyoomi está com o rosto impassível como sempre (porém, agora Atsumu consegue reconhecer DOIS tipos de emoção nele: raiva e absolutamente nada).

"Lua de mel," ele explica, com o entusiasmo de uma pedra - Atsumu não o culpa.

A única coisa que ele sente que eles conseguiriam sendo enviados para essa (extremamente bonita) ilha, é que eles se afastaram tanto do resto da civilização que Kiyoomi poderia o assassinar enquanto dormia e ninguém o escutaria gritar.

Atsumu franze o nariz ao pensar na não-impossível possibilidade.

"Por que?"

"Porque nós nos casamos."

"Ah... é."

Atsumu não diria que ele está exatamente animado com a ideia de passar uma semana inteira com Kiyoomi, mas se tem uma coisa positiva que isso pode trazer é que ele tem uma oportunidade de se dar bem na sua aposta. Kiyoomi Sakusa vai se apaixonar por ele tão fácil quanto um adolescente na escola. É vitória garantida, ele não tem um plano para isso funcionar, mas a sua estratégia da vida é: vai que dá certo.

Romance não deve ser tão diferente do resto, não é?

"Por que? Com medo que eu te mate e esconda o seu corpo?" Se Atsumu não já o conhece um pouco melhor, ele realmente acreditaria que Kiyoomi está falando sério (olha, não é exatamente fácil de ler emoções, quando ele consegue de algum jeito não mexer nenhum dos seus músculos faciais).

"Pra falar a verdade um pouco, sim."

"Relaxa. Eu não posso fazer isso," Atsumu não admitiria, mas ele soltou um leve suspiro de alívio. "Eu sou a única pessoa além de você aqui. Todos saberiam que fui eu, eu sou o único suspeito."

"Ah, isso com certeza fez eu me sentir melhor," como sempre, sarcasmo é sua única arma. Vamos todos ser honestos aqui, é bem mais fácil do que dizer o que você realmente pensa. Atsumu sabe no que isso dá, e nunca termina bem.

Tem uma pausa antes de Atsumu ficar entediado de ficar olhando para o nada e sai do terraço. Atsumu tem uma alma agitada dentro dele, e ele sempre prometeu a si mesmo que se um dia ele se casasse, ele teria uma lua de mel inesquecível, sem um momento de tédio.

A propósito, essa semana toda apenas começou, Atsumu está começando a perceber que a única parte divertida da sua "lua de mel" vai ser incomodando Kiyoomi - talvez ele consiga fazer disso um jogo...

Ele se dirige para a cozinha profissionalmente equipada - ao contrário do que a maioria pensaria, Atsumu realmente gosta de cozinhar por si mesmo. Osamu o ensinou quando eles estavam no ensino médio (o seu sonho de criança era ser um chefe de cozinha antes de ele perceber que seria praticamente forçado a ser rei um dia, já que Atsumu é completamente inútil diplomaticamente).

Atsumu sempre se sentiu mal por isso, não é como se a realeza tivesse muitas opções de carreira. A maior parte de suas vidas são planejadas desde o dia em que nasceram, um fato que deixa pouco espaço para esperanças ou sonhos. E assim que se tornar rei, Osamu vai passar o dia todo respondendo cartas e tendo reuniões com diplomatas estrangeiros - se tivesse qualquer coisa que Atsumu pudesse fazer por ele, ele o faria.

Se existe alguém que merece seguir seus sonhos, é o seu irmão.

Ele acredita que ele esta fazendo o melhor que poderia, com toda a coisa de se casar com seu marido por você.

A geladeira está completamente cheia, um fato que Atsumu aprecia considerando o quão caro produtos frescos são - quando você cresce ridiculamente rico, você nunca percebe o quão caro as coisas são. Quando Atsumu "acordou para vida", se você quiser chamar assim, aconteceu quando ele foi para a casa de seu colega de equipe, Aran. Eles foram fazer compras para fazer uma refeição para a vó dele que estava visitando e porra, quando você tem um limite de 1500.00 yen para gastar e está procurando por frutas e vegetais, esse dinheiro não faz muito por você.

Sua mente viaja por entre os pratos que Osamu o ensinou a preparar, mas seu apetite ganha, então ele só corta fatias de melancia em vez de cozinhar.

"O que você 'tá fazendo?" O coração de Atsumu quase para de funcionar quando ele levanta os olhos da faca e vê Kiyoomi parado, o observando do outro lado do balcão - ok, talvez o seu andar silencioso seja algo que eles ainda vão ter que trabalhar. Você sabe, para prevenir Atsumu de ter um ataque cardíaco espontâneo com apenas vinte e quatro anos.

"Jesus Omi. Por que você não faz barulho quando anda?" Kiyoomi não responde ao seu apelido - Atsumu já esperava essa reação dele. "E pra sua informação, eu 'tô cortando melancia."

"Você sabe, que alguém poderia cortar pra você se não tivesse pedido para todo mundo sair," Atsumu revira os olhos pra isso (ele admite que viver cercado de luxo é legal mas tem uma certa idade na vida de alguém na qual ele gostaria de ser capaz de cortar sua própria melancia como um adulto).

"É, bem talvez eu queira fazer isso eu mesmo porque eu sou um adulto completamente capaz," ele termina de cortar a fruta em pequenos quadrados (não tão perfeitos como Osamu faria mas ele nunca admitiria isso). Ele pega um pedaço e joga para o seu "marido". "Aqui, pega um pouco."

O cubo de fruta fresca acerta Kiyoomi no rosto e ele vai para traz como se tivesse sido um tiro e não melancia, a qual o suco agora escorria pela sua bochecha. Atsumu quase não consegue segurar o riso - ele consegue conter sua expressão para um sorriso de eu-não-queria-ter-feito-isso-mas-foi-engraçado.

"Que merda..?"

"Era pra você pegar, não só deixar acertar sua cara!" a voz de Atsumu está misturada com uma risada, e só olhando para a expressão de Kiyoomi no momento ele consegue perceber que a felicidade não é recíproca. "Isso é o que você deveria fazer quando alguém joga alguma coisa pra você!"

"Você não joga comida nos outros! Não é assim que as coisas funcionam!" Kiyoomi sibila e Atsumu começa a realmente rir agora. Ele não é uma pessoa ruim, ele jura. Ele só não consegue fazer nada, qual deveria ser a reação dele quando o todo bem composto Kiyoomi Sakusa está na sua frente com suco de melancia pingando de seu rosto todo vermelho de vergonha? É um pouco bonitinho.

"Eu tava tentando ser legal e te oferecer um pouco," Atsumu está rindo de mais agora, e não conseguiria parar nem se quisesse enquanto Kiyoomi estava dando a volta no balcão os separando.

O homem de cabelo preto pega uma mão cheia de fruta fresca e a esmaga contra a testa de Atsumu. Os seus lábios se abrem em completo choque enquanto o suco da fruta exageradamente doce escorre em seu rosto para sua boca - quem diria que Kiyoomi Sakusa podia ser tão vingativo? Se Atsumu estivesse sendo sincero, até que deixa ele mais atraente.

"Cê ta brincando?" Atsumu lambe a parte debaixo de seu lábio, sentindo o gosto doce - Ok Omi vamos brigar.

Atsumu pega outro pedaço da fruta e atira em Kiyoomi de pura raiva, acertando em sua pele branca, manchando-a de um rosa delicioso - não, Atsumu definitivamente não quer lamber o suco do canto de sua mandíbula afiada.

Sua disputa é doce e curta. Atsumu enche suas mãos de melancia, mirando no rosto estupidamente bonito de Kiyoomi, já Kiyoomi parece se divertir esmagando a fruta contra Atsumu de perto. Eles se escondem atrás de móveis, usando couro caro e madeira recentemente polida como seus escudos.

Atsumu não consegue parar de rir, lágrimas da risada enchem seus olhos castanhos o deixando com a visão embaçada de Kiyoomi - ok, talvez essa lua-de-mel não vá ser tão chata.

Quando eles terminam, eles conseguiram causar uma carnificina. A cozinha inteira e uma parte da sala conectada estão com a parte vermelha da melancia.

Atsumu ainda está rindo tanto que ele não consegue respirar e não consegue pensar direito e a lateral da sua barriga dói e - E o problema da respiração fica muito mais difícil quando Kiyoomi olha para ele e está, de todas as coisas, sorrindo.

Porque uou, ele estar tão bem coberto pelos interiores de uma melancia é absolutamente insano e ele está sorrindo e seu sorriso é tão bonito, lábios que parecem macios e brilhantes. E puta que pariu, Atsumu meio que quer muito beijar ele porque se eles realmente fossem um casal e não só fingindo ser um para as câmeras, esse seria o tipo de momento que Atsumu o beijaria intensamente e passaria lingue sobre seus lábios e sentiria sua doçura e-

E Kiyoomi muda sua expressão o mais rápido que é humanamente possível. Atsumu gostaria de conseguir fazer a mesma coisa com seu coração.

"Puta merda você sorriu," Atsumu aponta o óbvio - ele não precisa esperar pela resposta de Kiyoomi para saber o quão rápido e duramente ele vai negar a tal acusação, mas ele sente que só dessa vez vale a pena.

"Eu não estava," rápido.Inflexível.

"Não, você 'tava eu vi. Não minta pra mim," Atsumu avisa o príncipe bonito, resistindo a tentação de esticar a mão e limpar os restos de fruta dos seus lábios - eles parecem tão macios, ele já disse isso?- Se Atsumu fosse um homem mais fraco, ele o teria feito. "Você não precisa ficar com vergonha Omi. 'Cê tem um sorriso lindo."

Atsumu sabe exatamente o efeito que vai causar, que é o porquê ele está tão inclinado a continuar - mano, brincar com Kiyoomi Sakusa é tão mais divertido que a sua vida normal monótona. E pensar que ele estava preocupado que isso seria chato.

"Não me chame de Omi, e vai tomar um banho. Você está coberto de melancia," Kiyoomi se vira de costas - Atsumu tem uma suspeita de que seja para esconder outro sorriso, mas ele não faria tais hipóteses sem base, então ele temporariamente reserva seu julgamento para si mesmo. "Eu também vou tomar um, então se você me contaminar com a sua higiene questionável, eu vou te matar.Literalmente."

"Omi, que escândalo, 'cê quer tomar um banho comigo?" Atsumu vê a chance então ele a usa - ei, foi meio que o momento perfeito, você pode culpa-lo?

"Tem múltiplos chuveiros nessa casa " Kiyoomi Sakusa usa todas as palavras perfeitamente o que deixa tudo muito mais divertido para Atsumu.

"Ei. Valeu a tentativa."

"É, bem, tente alguma coisa assim de novo e você vai receber um soco no meio da sua cara."

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"Omi, quer assistir um filme comigo?" Você sabe que, se essa é sua lua de mel, a única que ele possivelmente vai ter, então ele vai passa-lá muito bem como ele mesmo quiser. Demoraram três horas para limpar toda a melancia dos móveis (graças a deus o chão é de madeira). Atsumu quer fazer algo divertido.

O olhar na cara de Kiyoomi diz para Atsumu que não a minima possibilidade de eles compartilharem a mesma opinião.

"Quê? Eu não disse nada. Eu só 'tô tentando fazer algo divertido em vez de...ler..."

Ele da a volta por trás de Kiyoomi, se inclinando na cadeira que ele está sentado da mesa da sala de jantar. Ele franze o nariz instintivamente ao ver o formato familiar do artigo de notícias na tela do computador de Kiyoomi.

"...Artigos em política global? Omi que porra é essa?"

Kiyoomi nem se dá ao trabalho de olhar em sua direção, óculos se apoiando na ponta de seu nariz - ele realmente fica maravilhoso de óculos. Atsumu não consegue entender o por quê de ele não os usar mais.

"Isso é o que nós deveríamos estar fazendo.Não é como se nós estivéssemos em uma lua-de-mel de verdade. Nosso trabalho é estar atualizado em eventos recentes."

Ele não está errado sobre isso, mas Atsumu solta um longo suspiro - não tem literalmente nada mais chato que política, não em sua não-tão-humilde opinião. É uma merda que ele tenha nascido em uma famíla em que ele não tem escolha mas fazer parte dela.

 E oh, ele sabe que Kiyoomi leva suas responsabilidades seriamente como o membro de qualquer outro de família real deveria, mas Osamu pegou essa parte (vantagens de se ter um irmão gêmeo). Atsumu está livre para ser um idiota pelo resto de seus dias - não que ele vá ser. Ele sempre gostou da ideia de ser um jogador de volêi, até recebeu uma proposta para um time profissional assim que acabou o ensino médio. Mas sua mãe disse não, ele têm responsabilidades.

(Aparentemente, príncipes não são destinados a ser atletas profissionais. Atsumu diria que é tudo idiotice, mas o que ele sabe? Ele é o irmão burro.)

O maior desapontamento da sua vida, outro de ter que se casar com Omi.

"Mas isso é chato," ele reclama, voz irritante e petulante como ele sempre é."E nós estamos numa lua-de-mel de verdade só porque a gente se odeia não deixa de ser verdade. Nós deveríamos estar fazendo coisas de lua-de-mel. Coisas divertidas-"

Kiyoomi o manda um olhar afiado que Atsumu deduz que quer dizer vá embora em termos não gentis. Mas Atsumu sempre odiou seguir ordens - assim como se é de esperar quando tudo na sua vida é transformado em um comando para ser executado sem reclamações, Atsumu tem construido por toda sua vida uma aversão a ser ordenado.

"Minhas desculpas, você quer ficar bêbado e fazer sexo em uma banheira?" Kiyoomi deixa tudo tão fácil.

"Na verdade sim, parece uma ideia bem-"

E aí tem uma mão que cheira a baunilha e lavanda colidindo com sua cara, o empurrando com uma força surpreendente - atraente, mas Atsumu guarda esse pensamento para outra hora. Ele segura o impulso infantil de laber a palma de Kiyoomi. Sempre funciona com Osamu, mas ele tem a sensação que Kiyoomi não vai levar a brincadeira muito bem.

"Ah cala a boca e me deixa em paz. Eu te odeio," Atsumu não duvida disso. Atsumu se sentiria do mesmo jeito se não fosse um sadista desgraçado.

"Eu tava zoando com você," ele se inclina para pegar sua carteira do bar, tirando uma nota de dentro e a batendo na mesa perto de Kiyoomi. Atsumu é um filho da puta sarcástico, se você ainda não percebeu. "Aqui, pra você comprar um senso de humor."

Ele está prestes a fazer a sua saída triunfal, fazendo seu caminho para o sofá, quando ele sente a nota que ele acabou de dar para seu "marido" o acertar na cabeça, agora amassada.

Quando Atsumu se vira, Kiyoomi ainda está olhando para o computador sem ter tirado o olhar um centímetro do lugar para olhar para onde estava jogando. Atsumu vai admitir, Kiyoomi tem uma mira impressionante sem que precisasse realmente olhar o que (ou quem) ele estava querendo acertar. É quase assustador (ele poderia infligir dano real com uma habilidade dessa).

"Uou, 'cê jogou sem olhar?" Atsumu pode até ser teimoso pra porra, mas talento assim precisa pelo menos receber um comentário. Kiyoomi não olha para ele ou mostra qualquer sinal de orgulho em ter sua habilidade reconhecida. Na verdade, ele parece se enraivecer um pouco como se Atsumu o estivesse lembrando de um punimento.

"Aulas de arquearia forçadas. Piores três horas do meu dia até eu ter catorze."

Atsumu está dividido entre se sentir mal por lembra-lo e querer saber ainda mais - quem diria que Kiyoomi Sakusa teria camadas?

Por agora, ele se contenta por descobrir o talento secreto de Kiyoomi e vai assistir Godzilla pela nona vez. Ele vai ter tempo o bastante para explorar o homem que se esconde por baixo do exterior que é tão bonito quanto frio. Mas depois. Agora ele quer assistir a um lagarto enorme destruir/proteger uma cidade.

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Atsumu caiu no sono no sofá a meia noite e meia, o filme ainda tocando no fundo. Kiyoomi o manda um olhar afiado por dormir em lugar ambos indigno e impróprio - Atsumu nunca vai ver, mas o traz segurança saber que sua baixa opinião de seu "marido" ainda está muito bem intacta.

Por um breve momento, Kiyoomi considera rir dele por ser fraco - cair no sono à meia noite? Fraco. Mas ele percebe o peso sobre seus olhos e vários bocejos que ele ignorou nos últimos minutos (talvez ele seja fraco também).

Com relutância, ele fecha o laptop, a ausência de luz azul cobrindo a sala por escuridão salva pelos créditos que estão passando na tela da televisão. Ele esfrega os olhos - ele deveria ter considerado se deixar relaxar um pouco? Talvez, mas ele se recusa a aceitar Atsumu e ele definitivamente não vai admitir que seus olhos ardem de encarar a tela do computador por tanto tempo. Atsumu teria o melhor dia de sua vida.

Kiyoomi se questiona se valeria a pena o esforço de fazer um chá agora - ele acaba decidindo que não vale, mas só porque a ideia de esperar pela água ferver agora soa como tortura.

Andando pelo sofá, seus olhos vão sem permissão para Atsumu jogado preguiçosamente pelo sofá. Kiyoomi para de andar não intencionalmente - como quando você vê uma flor bonita no lado da estrada, seu corpo para todas as funções não-essenciais para processar sua beleza.

O corpo do príncipe Miya está esticado na posição provavelmente mais desconfortável que um humano poderia dormir - no seu estômago com seu pescoço erguido para o lado (ele vai ter uma dor horrível quando acordar), um pé apoiado para cima em um dos braços do sofá.

E sua cara não está tranquila como a da maioria das pessoas quando dormem, não tem paz presente, Suas sobrancelhas estão franzidas, o seu lábio inferior está para baixo como se estivesse reclamando, seu cabelo escuro está espalhado e bagunçado. Ele parece irritante como sempre. É adorável.

Ele até que é bonito quando não está sendo irritante

Espera- não, merda.

O corpo de Kiyoomi volta a se mover. Ele está experienciando um daqueles momentos em que você deseja mais que sua vida poder retirar, rebobinar para uma hora em que seu detestável "marido" era feio e abominável.

Tá tudo bem, ele diz para si mesmo enquanto ele desliza para o primeiro quarto que ele se lembra da porta. Kiyoomi sempre foi bom em suprimir seus pensamentos. Isso é ok.

Isso vai ter que ir para a lista de coisas que ele nunca vai contar para ninguém sobre, uma lista que contém apenas dois itens além desse.

(O primeiro sendo o momento na sua formatura de ensino fundamental em que ele disse para sua acompanhante, Marissa, que ele estava bêbado para evitar mencionar o fato de ele ser gay. O segundo sendo a vez em que ele bateu a cara numa porta de vidro quando foi para o apartamento de um amigo. Todo mundo tem uma lista dessas. Isso é ok.)

Enquanto Kiyoomi se troca para seus pijamas e passa pela sua limpeza dentária meticulosa e rotina de skincare, ele junta todas as razões lógicas para sua atenção repentina para o Atsumu adormecido em uma lista mental bem formatada.

Ele está cansado, pessoas acham pessoas que elas odeiam atraentes toda hora, atração física é uma reação biológica puramente superficial, dopamina só está tentando achar um jeito de o incomodar.

Ele decide parar de ficar remoendo sobre isso quando ele chega na parte de skincare (tem algumas partes que se ele não tomar cuidado podem machucar seus olhos, e Atsumu não é alguém que vale a pena ficar cego). E o momento quase está completamente fora de sua mente quando ele cai deselegantemente em uma cama (graças a deus) livre de Atsumu.

Deus, é tão bom ter todo esse espaço. Todos em todos os lugares do mundo deveriam dormir completamente sozinhos em suas pequenas ilhas de lençóis e travesseiros. Na não-tão-humilde opinião de Kiyoomi, não tem nada mais satisfatório do que se jogar em uma cama que é completamente e somente sua.

Você tem todo o controle sobre seu local de sono, mesmo que seja só por algumas horas. Kiyoomi particularmente nunca ligou para a ideia de ser rei, o jeito que ele vai atingir isso deixa tudo bem mais desanimador. Mas tem algo sobre ser rei de sua própria ilha de relaxamento que o faz sorrir (por dentro, é claro).

Ele está quase dormindo quando a imagem da perna de Atsumu caindo do sofá vai para sua mente. Ele não está com um cobertor. Ele vai congelar.

Os olhos de Kiyoomi se abrem instantaneamente com o pensamento e encara o teto, direcionando seu ressentimento pelo olhar.

Eu não ligo, ele diz para o seu cérebro.

An, na verdade a gente liga sim, seu cérebro grita de volta.

Todo mundo quer ser uma boa pessoa, e Kiyoomi acha que todo mundo deveria querer ser uma boa pessoa. Mas no fundo, ele é um grande hipócrita pois ele acha muito mais fácil ser uma pessoa ruim e deixar todo o resto tentar arrumar um jeito de fazer a sociedade funcionar.

Foda-se ser uma pessoa boa. Atsumu pode congelar.

Depois de um momento de perambular por seus pensamentos, Kiyoomi arranca os lençóis sedosos com ódio, murmurando palavrões baixos enquanto faz seu caminho para a sala onde Atsumu continua dormindo como uma pedra. Seus pés que estão para fora do sofá estão congelando contra o piso frio de madeira, ele xinga baixo o tempo todo como se sua petulância fizesse alguma diferença.

Ele não vai nem perceber ou ligar, ele se lembra ressentidamente enquanto pega uma coberta macia da gaveta de baixo de um pequeno armário.

Isso é uma ação desnecessária e você está gastando sua energia, é o que ele se diz ao rapidamente passar a coberta por cima da figura adormecida de Atsumu. Ela desliza levemente de seu pé e Kiyoomi solta um suspiro longo e sofrido.

Não vai lá de novo, é só uma coberta. Ele nem vai te agradecer por isso, ele se repreende mas mesmo assim dá a volta para arrumar a coberta sobre o pé exposto de Atsumu - olha, acordar com um pé frio e um quente é uma sensação nojenta.

O ajuste causa o material macio escorregar do ombro de Atsumu e Kiyoomi fecha os olhos, chamando o controle próprio para apenas ir e deixar seu leve TOC e apenas deixar daquele jeito.

Ok, já chega. Falando sério, agora basta. Eu vou para a cama agora e vou dormir e ele só vai ter que lidar com o fato de ter um ombro quente e outro não.

Ele volta para arrumar a coberta sobre o ombro de Atsumu.

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