Foco meus olhos em meu reflexo, minhas órbitas escuras me julgam através do espelho, já tive noites piores, mas nada que vá mudar o resultado na manhã seguinte, as olheiras são sempre fundas, pele pálida, lábios secos e cabelo bagunçado. Mesmo que eu tome vários banhos frios não irão surgir qualquer efeito, apoio minhas mãos na pia tentando manter meu equilíbrio. Isso tudo é uma grande merda. As noites sem dormir, as garrafas de bebidas espalhados pelo meu quarto, tudo isso é um inferno. Porquê o vazio ainda não foi preenchido a lacuna ainda está aqui, zombando da minha cara.
Jogo água no rosto e sem olhar novamente no espelho, saio do banheiro indo ao meu quarto, tudo está revirado, enquanto caminho ouço os sons dos cacos de vidro na sola do sapato. Pego uma jaqueta que está pendurada perto da porta e saio, o corredor está silencioso, provavelmente meus pais ainda não chegaram de viagem. O que agradeço aos céus, a dor que vejo em seus olhos quando me descontrolo com a bebida é perturbadora.
Do lado de fora vejo minha moto tombada, levanto ela sem me importar com os estragos em sua lataria. Não são os primeiros e nem serão os últimos.
O caminho para a faculdade foi tão torturante quantos nos outros dias, não sei se consigo passar a manhã toda sem definhar — mesmo que hoje seja o último dia de aula antes das férias — parece que tem uma galera punk dentro da minha cabeça. Sei que tudo vai passar assim que eu colocar os olhos naquele pequeno anjo: Milla Turner. Os seus cabelos loiros, a boca pequena, olhos escuros, pele clara que parece ser tão macia. Inferno. Quero tanto tocar aquela pele, sentir o cheiro dela. Porém, a garota é tão certinha que tenho medo de me aproximar.

Deixo minha moto no lugar de sempre, bem em frente a entrada do campus, logo uma Ford F-150 Lightning estaciona ao meu lado, os irmãos Jason e Elijah saem do carro gargalhando alto antes de me cumprimentarem, são os meus melhores amigos.

— Será que é isso mesmo, senhoras e senhores? Benjamin estava esperando seus melhores amigos? — reviro os olhos violentamente quando Elijah começa com suas provocações.

— Você sabe muito bem que ele estava esperando a virgem Maria. Sabe que nosso amigo aqui, é doido por aquele rabo de saia — Eliot rebate os comentários do irmão mais novo.

— Vocês são uns idiotas, sabiam? — tento parecer indiferente, mas é quase impossível quando vejo meu pequeno anjo caminhando apressadamente para a entrada da faculdade, com sua saia pouco abaixo do joelho e blusa de alças grossas, seus cabelos dourados estão balançando conforme ela caminha rapidamente, até uma buzina super alta quase assustar a todos que estão do lado de fora, inclusive meu pequeno anjo, que parece travar no chão com os olhos fechados, observo o carro parado próximo da gente, um Audi preto com vidros escuros, quase impossível de ver quem está do lado de dentro, mas posso notar os cabelos escuros e quase tão curtos quanto o meu. Quem é esse, cara?

Milla começa caminhar na direção do carro e isso me deixa com raiva, o que ela está fazendo indo até aquele, cara? Será seu namorado? Não. Ela não tem namorado. Tenho certeza disso, ou será que tem? Quando ela chega perto do Audi o vidro abaixa um pouco para que somente ela consiga ver quem está do lado de dentro, mas ainda consigo ouvir um pouco do que ela diz.

— Você pode por favor, para de me envergonhar, Z? Estão todos olhando — quem diabos é Z? Sinto meus pulmões se inflarem quando ela ri tão abertamente com a resposta do tal Z — Tudo bem, te vejo na saída. Te amo e se cuida, por favor, Z não se meta em encrenca de novo.

Porra. Que merda é essa? Quando Milla se afasta do carro ela passa quase do nosso lado, seus olhos escuros encontram os meus e vejo suas bochechas corando antes de desviar o olhar para frente.

— Uau, parece que a virgem Maria não é tão Maria assim — Elijah ri alto antes de me encarar e calar aquela porra de boca — Foi mal, talvez ela ainda seja sua virgem Maria.

Respiro fundo tentando me controlar para não socar esse idiota. Afinal, eu só quero socar é esse tal de Z.

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