Capítulo 23 - Eu sei, senhorita kim
Vanessa estacionou em frente ao prédio da empresa que herdou. Ela suspirou e ficou olhando para frente, criando coragem para sair. As mãos grudadas ao volante e os olhos semicerrados diziam tudo e Gustavo Mark entendeu.
- Está tudo bem? - falou, tocando na mão dela.
A coreana o fitou. O olhar dele estava repleto de ternura, e o meio sorriso a tranquilizou um pouco. O rosto angelical, a forma como a fitava, a mão em cima da sua, na tentativa de tranquilizá-la. Tudo junto fez Vanessa sentir vontade de chorar.
- Vanessa? O que houv...
- Pensei que você não ia querer me ver nunca mais... - sussurrou, tentando engolir o choro.
- Por quê?
- Você sabe... olha o que fiz com você. Agora tem um braço enfaixado e... Acho que se estivesse no seu lugar, não ia perdoar tão... fácil.
- Então acha que foi fácil? - arqueou a sobrancelha.
Ela continuou calada.
- Perdoar não é fácil. Mas ter ódio no coração é muito cansativo e doloroso.
Ele passou a mão livre pelo pescoço da coreana e a puxou para um abraço. Em seguida, encostou a testa na dela e continuou:
- Eu prefiro viver a promessa a ter que ficar longe de você, Jagiya. Não sei o porquê de você fugir do Brasil naquele dia, mas deve ter seus motivos. Tentei pensar em uma pra sua mudança repentina de Vanessa Kim boazinha para a vilã louca sem coração e...
- Ya! - ela reclamou.
Ele riu.
- Só estou dizendo que nunca acreditei naquela versão má - ele voltou a sentar direito no banco.
- Obrigada por me perdoar - falou, emotiva. - Me esforcei pra te deixar livre naquela época, mas sou ambiciosa demais pra te ver com outra mulher. Então a cada dia, ficava cambaleando entre a saudade e a mágoa que te causei. Ai eu sonhei com nossa família no céu, e isso me quebrou, Gustavo. - ele sorriu. - Mas agora entendo que isso só era mais um dos milhares dos sinais que Deus me dava pra entender que posso contar com você e Ele. Sinto muito por te magoar com aquelas palavras, mas obrigada por me amar a ponto de escolher deixar tudo pra trás, sei que deve ter sido doloroso sair do Brasil e...
Gustavo alisou a franja dela, a fazendo parar de falar. Em seguida, ele deu um beijo no seu rosto.
- Eu sei o que quer dizer, está tudo bem.
Eles estavam prestes a se beijar quando Jeong-ho bateu na janela do carro. Ele silabou um "Temos que ir" e Vanessa revirou os olhos, lembrando que ainda tinha que encontrar os membros da ORGANIZAÇÃO.
Enfim, saíram do carro. Na frente ao suntuoso prédio, estava a secretária do falecido Yeong-gi preparada para recebê-los. Vanessa fez uma oração curta e direta, dizendo:
Appa, me ajude...
Quando o holandês parou ao lado de Vanessa, passou os olhos pelo edifício e se surpreendeu com a arquitetura. O prédio era enorme, e um letreiro grande dizia o nome da Empresa, chamada de Coreia e Mundo. A estrutura quadrada, em tons de metal, se destacava no meio de outros prédios pequenos. Tudo ali, até a fachada e o uniforme dos funcionários davam o recado: somos poderosos.
- Estou aqui... - ele disse, olhando-a. Em seguida, uniu sua mão com a dela e deu um meio sorriso.
A secretária arregalou os olhos e abaixou a cabeça nesse momento, pois ninguém sabia que o verdadeiro namorado de Vanessa não era o filho do presidente da Coreia do Sul, mas um jovem médico estrangeiro. Vanessa percebeu a reação dela, a ignorou e retribuiu o sorriso a ele. Em seguida, soltou o ar pela boca, ajeitou o corpo, apertou a mão dele e se preparou para andar, sendo seguida por dois policiais, Dali e Jeong-ho.
A passos firmes e elegantes, Vanessa adentrou no prédio.
Secretários, advogados e acionistas que iam participar da reunião estavam enfileirados lado a lado, deixando um espaço largo no meio para que Vanessa passasse. Quando seus olhos bateram na herdeira que entrava pela porta, curvam o corpo fazendo uma reverência longa, levantando somente quando ela já estava subindo na escada rolante do térreo.
- Por que eles... - Gustavo comentou, olhando para trás.
- Começou com meu avô. Quando criou a empresa, ele queria ser recebido pelos funcionários todos os dias desse jeito e assim ficou até hoje... - respondeu, dando de ombros, como se fosse a coisa mais normal do mundo.
- Por aqui, por favor - a secretária disse saindo da escada rolante, e apontou com as duas mãos o caminho para a sala de reuniões.
Os dois seguiram a secretária e pararam em frente a uma porta enorme. Dali e Jeong-ho acompanharam-nos e pararam ao lado dos dois médicos.
- Por favor, - A coreana disse, no "pé" do ouvido da secretária. - Informe aos policiais que preciso de dez minutos antes do show começar. Diga que ele pode entrar depois do tempo...
A mulher curvou o tronco e saiu de cena, deixando os quatro médicos parados em frente a porta.
- O que você está planejando? - Dali perguntou, olhando para Vanessa ao mesmo tempo que segurava Jeong-ho pelo braço.
- Você verá...
Assim que acabou de falar, a pequena coreana abriu a porta.
Quando entrou pela sala enorme, viu a mesa grande e redonda no centro do cômodo. Vinte e seis cadeiras estavam posicionadas uma do lado da outra. Em frente a elas, em cima da mesa, haviam pastas pretas, taças com água e um microfone para cada acionista. Vanessa olhou para a cadeira que o pai sentava e respirou fundo, depois a puxou e sentou.
Dali e Jeong-ho foram para seus assentos, pois seus pais eram acionistas da empresa e eles foram convocados a fim de representá-los. Já Gustavo sentou em uma cadeira distante da mesa, onde os secretários mais importantes ficaram.
Não demorou muito até que os acionistas, um a um, entraram na sala. Eles sabiam que as coisas estavam prestes a mudar e também tinham mexido os pauzinhos para derrubar Vanessa do poder, mas eles a subestimaram. Os dois últimos a chegar foram a mãe e o tio da coreana. Assim que todos estavam devidamente acomodados, Vanessa tirou da bolsa que carregava uma pasta preta.
- Meus sentimentos, senhorita Kim... - um dos acionistas disse, fazendo uma reverência.
Todos da sala fizeram o mesmo.
- Nee... - respondeu, sem olhá-los, enquanto ajeitava a pasta em cima da mesa.
- O que pretende fazer com a empresa? - O senhor Mim, tio de Vanessa, perguntou.
Vanessa balançou a cabeça, desprezando a fala do tio.
- Imagino que sua curiosidade esteja te matando... - disse, o fitando.
- Não diga isso, sobrinha, estou apenas perguntando.
- Nee, nee.
Cinco dos acionistas sentados participavam da ORGANIZAÇÃO. Na verdade, além de possuírem uma pequena porcentagem da empresa de Yeong-gi, eles também gerenciam seus próprios negócios bilionários. Seu tio e mãe eram acionistas que mais tinham poder sobre a empresa, abaixo de Yeong-gi. Agora, era Vanessa Kim que possuía esse poder, mas ela não fazia a mínima questão de usá-lo para pisar nos mais fracos, como eles andavam fazendo.
- Já que todos estão aqui, podemos começar... - a coreana falou, levantando-se. Ela recebeu da secretaria um controle para usar com o projetor.
No centro da mesa, que era aberta, apareceu um holograma em tons de azul. Era um vídeo de um acidente, e isso foi suficiente para fazer os membros da ORGANIZAÇÃO arregalar os olhos. Vanessa sorriu de canto, vendo o desespero deles.
- Devem estar se perguntando porque eu coloquei isso, certo?
- Nós sabemos que isso foi realmente trágico! - o tio de Vanessa começou a falar, depois de coçar a garganta. - Mas não vejo motivos para colocar isso em uma reunião tão séria. Aliás, sobrinha, você precisa ter respeito com os falecidos desse acidente, alguns de seus familiares nem deixaram de ficar em luto. Tenha mais consideração...
- Aigo, aigoo, vejam como ele está muito comovido pelos falecidos... - a coreana retrucou, balançando a cabeça negativamente.
- Nari... - Mi-Suk disse. - Não estamos aqui para brigar, por favor. Devemos decidir quem será o novo CEO da empresa já que Yeong-gi não pode mais.
- E falando nisso... - o tio de Vanessa completou, estendendo a mão para que seu secretário lhe entregasse uma pasta preta. Depois de estar com ela em mãos, ele continuou: - Vejo que você era a acionista majoritária, mas queria sobrinha, isso não é verdade. Agora possuo quarenta por cento das ações da empresa.
Vanessa respirou fundo e caminhou até ele para ler o que estava escrito nos documentos. Após passar os olhos por algumas palavras, entendeu que a mãe e mais três acionistas tinham vendido as ações para o tio, deixando os dois "empatados" nos números. Ou seja, os dois tinham poderes igualitários dentro da empresa.
- Surpresa! - Min comemorou, rindo alto. - Veja bem, você pode deixar o tio aqui ser o CEO da empresa enquanto continua com o trabalho naqueles hospitais do seu pai. Agora você pode cuidar de quantos doentes quiser, sem preocupação!
Vanessa não esboçou nenhuma surpresa, afinal, já esperava que o tio e mãe fizessem movimentos com aquele.
- Há um versículo na bíblia que diz: E os piores inimigos de qualquer pessoa são os próprios parentes. - rebateu, olhando para a mãe e tio.
- Não seja assim, Nari... - Mi-Suk a repreendeu. - Não fique chateada com seu tio. Estamos pensando no seu bem, você não deve nos considerar como inimigos.
- Claro, vocês são bem piores do que os vilões de K-drama! - Vanessa explodiu, jogando a pasta que o tio lhe entregou em cima da mesa. - Mas o fim de vocês está bem próximo!
- O que está dizendo? - senhor Min quis saber.
- Senhoras e senhores, já ouviram falar de uma tal ORGANIZAÇÃO?
Os membros da ORGANIZAÇÃO se olharam apavorados.
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